sábado, 17 de outubro de 2009

Maitê Proença e a Gafe Histórica




D. João VI reinvadiu nosso território trazendo na sua esquadra real milhares de parasitas da Corte. Aqui chegando, desalojou o povo de sua moradia, sem direito a indenização, o que resultou no primeiro movimento brasileiro dos sem-teto. Daí foi um pulo para ser formado o MST e, um pouco adiante, a CGT. A CUT veio bem depois.

Além de comer e beber de graça, Sua Majestade Real e comitiva viviam na maior esbórnia, usando e abusando dos mancebos e mancebas a serviço da realeza. Sua Rainha Real, Dona Carlota Joaquina, além de abusada, insultou nossos brios patrióticos no seu retorno a Portugal: jogou ao mar, do convés do navio, a areia dos seus sapatos para não ter que levar nenhuma lembrança da terra que eles fizeram de gato e sapato. Mas todo mundo se calou e a ralé ainda aplaudiu.

O americano, antes de mostrar o branco massacrando o índio em seus faroestes épicos, mostra o índio atacando uma caravana indefesa e raptando criancinhas, aflorando o sentimento de justiça no tele-espectador. Assim, nunca vemos o branco norte-americano como o invasor, mas como o mocinho; automaticamente o índio se transforma no inimigo que deve ser varrido da face da terra. Filme de guerra também é a mesma coisa. Só mostra os episódios que o americano leva vantagem.

Nesse contar de vantagem, achamos que o americano é melhor em tudo, até mesmo na sua indecência. Já houve governante que disse: “O que é bom pros Estados Unidos, é bom para o Brasil”. Assim, paulatinamente, nosso cotidiano vai sendo pautado pelo uso e costume americano e o anglicismo é uma triste realidade que está a merecer atenção do Congresso Nacional. Até no arraial do Junco, cujas notícias chegam em lombo de jegue, já se aderiu à moda e dizem que o halloween deste ano será o maior sucesso.

Todo dia o homem come peixe e ninguém diz nada. No dia que o peixe como o homem, há um verdadeiro rebu e se decreta o fim dos cardumes. Foi o que aconteceu com Maitê Proença no dia que se meteu a gravar em terras lusitanas. Sentindo-se no dever de afrontar Carlota Joaquina e reparar toda nossa humilhação e dilapidação históricas causadas pelos conquistadores, confundiu alho com bugalhos, meteu os pés pelas mãos, e, numa crise de delírio novelístico global, sentou a pua no povo da antiga Corte, achando que a arte imita a vida. Literalmente. E mexeu com os brios patrióticos da moçada d’além-mar, que declarou guerra eletrônica aos descendentes de Tomé de Sousa e os donatários das capitanias hereditárias, mesmo sendo a nação brasileira signatária da ONU e tendo um povo pacífico, quase um cordeiro de Deus.

A brincadeira debochada e inoportuna de tão ilustre personagem midiática para o programa “Saia Justa”, da GNT, por pouco não causa uma crise diplomática entre os dois países e, ante a pressão da indignação pública e dos meios de comunicação de Portugal, a nossa querida atriz, escritora, e agora dublê de estrela do Youtube, sentiu-se no dever de se desculpar pelo apagão mental, cuja psicopatia delirante nem Freud conseguiria explicar as causas, muito menos os efeitos.

Pelo rufar ufano dos tambores, seremos os principais atores da fábula “O lobo e o cordeiro”, de La Fontaine, e quando nos faltar argumentos para provarmos que não turvamos a límpida água do rio nem que nada temos com os delírios da Maitê Proença, seremos dizimados pela ficção de George Lucas, adaptada para guerra das estrelas, cujo episódio só poderá ser “O Império contra-ataca”.

Assim, como até agora só vi mensagens intolerantes e vídeos no Youtube de deixar neonazista português parecendo sacristão, colocando todo o brasileiro na vala comum do preconceito histórico aflorado na alma lusitana, fico cá com as minhas divagações cépticas sobre se o tão cantado avanço civilizatório do século vinte e um conseguiu adentrar a Portucália ou se algum dia eles tiveram consciência de que não são mais uma nação de conquistadores e que há mais de dois séculos o Brasil não é mais colônia de Portugal.

Que a Maitê Proença se excedeu, não há como negar e a própria, ao pedir desculpas, reconheceu seu excesso. Mas querer culpar todos os brasileiros pelo que ela falou, ou culpá-la pelas anedotas de português que se conta aos montes em cada pedaço de chão desse Brasilzão, é passar atestado de inépcia total e dar razão ao anedotário popular.

Principalmente porque o tal vídeo foi produzido quatro anos atrás.





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