sábado, 7 de março de 2009

Deu No Jornal CALILA NOTÍCIAS, de Conceição do Coité



(Copiado do jornal on line www.calilanotícias.com) [Removidas as imagens de violência]

03/03/2009 10:56:28
CALILA NOTÍCIAS

População de Sátiro Dias vive com medo

Um novo delegado foi designado para tentar conter a onda de violência que assusta os moradores

Quem vive em Sátiro Dias (BA), vive com medo. "A violência está demais. Um absurdo! Do jeito que está não dá não", reclama uma moça. "É crime, é muito crime em Sátiro Dias", enfatiza um rapaz. "É violência demais", resume outra moça. Todos com medo não quiseram se identificar.

A última ocorrência foi no domingo á noite (01/03) quando um lavrador foi encontrado morto com requinte de crueldade - Esmeraldo Oliveira da Costa, 47 anos, residente na Fazenda Varões, 08 km da sede, foi encontrado morto em uma estrada vicinal, próximo da comunidade onde mora.

Estava semi-nu, com a orelha dilacerada, a princípio por dentada, em um ambiente como houvesse luta corporal e próximo ao corpo, um par de sapatos, outros de sandálias, dois litros de aguardente e uma bicicleta ranger.

As primeiras informações que teria morrido de traumatismo craneano, com um corte a altura do pescoço. Esta confirmação está sendo aguardada pela policia depois dos resultados dos exames efetuados no IML de Alagoinhas.

Para Raimundo Oliveira da Costa, 37 anos, irmão de Esmeraldo Oliveira, conhecido por Lauro, garante que a bicicleta encontrada perto do corpo, não é do irmão. "Ele tem uma monark antiga e toda quebrada, que deixou no bar Antonio de Bela". Não sabe sobre os sapatos e as sandálias.

Lauro saiu de casa ás 15h de domingo, segundo Matilde Oliveira da Costa, 76 anos, mãe da vitima. Na casa de Dona Matilde, morava ela, o filho e um neto. "Quando ele saiu de casa, disse que voltava logo, pois ia trocar a roupa e ir para rua (cidade). Esperei e nada. Escureceu e só hoje (segunda-feira), fiquei sabendo do ocorrido" lamenta.

A aposentada confirmou a informação que a bicicleta de Lauro ficou no Bar de Antonio de Bela, na fazenda Riachão. Disse que a encontrada era do companheiro dele conhecido com Valderino, filho do finado Antonio de Ana, que é primo dele e "eu acredito que não faria mal a meu filho", lamenta mais uma vez.

Dona Matilde garante que "Lauro saiu de sandália, portanto o sapato é do companheiro". Enquanto o repórter Valdemi de Assis conversava com a mãe da vitima, um lavrador que não quis se identificar, afirmava que conversou com a esposa de Valderino e na versão contada pro ele, os dois quando voltavam, para casa sofreram uma tentativa de assalto.

O marido fugiu e Lauro lutou com os ladrões. "Ela disse que depois disso, ele não sabe mais nada".

Procurado, Valdemiro não foi encontrado, pois estava trabalhando em uma roça longe de casa, falou uma vizinha que não viu ele durante o dia.

Até ás 18h de segunda-feira, a delegacia não tinha registrado o fato e a vitima era desconhecida. O corpo foi neclopciado no IML de Alagoinhas e sepultado na terça-feira (03), em Sátiro Dias.

Sátiro Dias, distante 90 km de Conceição do Coité, situa-se no litoral norte baiano, nordeste da micro-região de Alagoinhas, fazendo divisa, ao norte, com Tucano, Nova Soure e Olindina; ao sul, com Água Fria e Inhambupe; ao leste, com Olindina e Inhambupe e a oeste com Biritinga e Araci, sendo que seu principal acesso se dá pela BA-233, que liga a sede do município à BR-110, ao norte de Inhambupe.

A cidade vem vivendo nos últimos meses um clima de muita insegurança, com assaltos, assim como a presença de usuários de drogas.

A comunidade teme o crescimento desenfreado da violência. ‘Temos além do homicidio de domingo, várias histórias de assaltos e agressões que ocorreram nos últimos dias, a exemplo do assalto ao Bar do Sr. José Alves da Costa, residente no Povoado de Jurema, a 10 km da cidade. Esta violência esta acontecendo na zona rural e na zona urbana’, disse a estudante Ana Paula Santos, 22 anos, moradora no povoado de Bela Vista.

Uma equipe do CN, integrada pelo repórter Valdemi de Assis e o fotografo Raimundo Mascarenhas, estiveram segunda-feira (02), na cidade, e encontrou José Alves da Costa, 50 anos, comerciante na comunidade de Jurema, ele estava na delegacia pra prestar queixa do assalto que sofreu e foi atingido por dois tiros.

Contou ao CN que na quinta-feira (26), por volta das 19h, estava com quatro clientes no bar, quando três homens chegaram atirando e anunciando o assalto. "Foi uma verdadeira agonia. Fui logo ferido no braço, os clientes deitaram no chão, os bandidos demonstravam muito nervosos, eles fugiram levando apenas um facão. Insatisfeito, eles voltaram atirar em mim, ferindo na perna", conta o comerciante. " Eram escuros, baixos, média de 27 anos", concluiu Zé Alves.

Município com pouco mais de vinte mil habitantes, cerca de 700 Km². Além da sede, tem dois povoados de médio porto, Mimoso e Bela Vista, ambas com população estimada entre 1.500 a 2000 habitantes, chegou a ter um efetivo de cinco policiais militares diariamente por guarnição, hoje apenas dois, sob o comando do Tenente Lima. Na Policia Civil, além do delegado Luiz Filgeurias, o município tem dois agentes, que revezam plantão a cada sete dias. É comarca de primeira entrância presidida pelo juiz Marcos Vinicius e no ministério público, o promotor substituto João Paulo, titular de Olindina.

Delegado assumiu há trinta dias - Luiz Filgueiras, assumiu a um mês delegacia, vindo de Crisópoles, onde ainda responde até que chegue o substituto, sabia, antes de assumir, a onda de violência que o município estava vivendo, "não ao ponto de ser nada preocupante", disse.

Sabia de alguns furtos, assalto aos idosos no começo do mês, período de pagamento aos aposentados. Ele disse que encontrou alguns registros de ocorrências e estão sendo investigados, inclusive, como base em uma linha de raciocínio, estão sendo identificados e logos serão presos. "São casos que tem haver um com outro e outros, casos isolados", falou Filgueiras.

"Nossa dificuldade é estrutural, falta de policiamento e a população que não colabora com informações" desabafa.

O delegado acredita que possa trabalhar com mais rapidez, pois o juiz Marcos Vinicius que estava afastado por problemas de saúde, retornou as atividades na segunda-feira

(02) e “com relação a alguns pedidos de prisão solicitados pela delegada anterior estão sem analisar e agora acredito que estão na pauta e vão andar”, desabafa.

Cidade não tem muita droga - Com referencia as drogas, o delegado tranqüiliza que não é grande volume. "Existem alguns usuários, desconheço ponto de vendas, mais faremos um trabalho que ela não se alastre", garante.

Dr. Filgueira não descarta a hipóteses destes roubos que estão acontecendo no município tenham, a haver com os usuários de drogas, que roubam para comprar o produto.

Prefeito assumiu o município com muitos problemas - Joaquim Neto (PR) reconhece que recebeu o município com muitos problemas, em todas as áreas. Os carros não funcionavam, um divida assustadora com INSS, escolas necessitando de reformas e a segurança, um problema emergencial. O prefeito vai reformular a guarda municipal, equipando e dando melhores condições de trabalho. Esteve reunido na tarde de segunda-feira com o delegado e esta marcando uma audiência com o secretário de segurança pública para reivindicar o aumento do efetivo, tanto na Policia Militar, quanto a Civil.

"Peço paciência, pois a situação que encontramos a Prefeitura foi desastrosa, mais iremos enfrentar o problema de segurança de frente e sei que vou contar com o Governo", declarou Joaquim.

Por: Valdemí de Assis. Fotos: Raimundo Mascarenhas e Foto Santo Antonio



quarta-feira, 4 de março de 2009

DIA INTERNACIONAL DA MULHER I


Hoje é moleza ser feminista, segurar o mastro da bandeira nas passeatas com algumas reivindicações justas e legítimas, como o direito amplo e irrestrito ao orgasmo contínuo e múltiplo; algumas reivindicam demandas infundadas e absurdas, como a divisão das tarefas domésticas com os homens. Outras bandeiras denotam certo desprezo pela Criação e desfraldam um radicalismo exacerbado, lembrando os antigos camaradas xiitas do PT, na tentativa de moldar o mundo segundo suas convicções político-dogmáticas: simplesmente querem inverter a posição na cama, e o ativo passa a ser o passivo, seguindo o princípio oracional de São Francisco: é melhor dar do que receber.


Devagar com o andor que o santo é de barro. Voltando aos tempos do poder patriarcal dos senhores de engenho ou dos barões do café, as ditas feministas de hoje vacilariam frente a esses senhores que dominavam a economia, a política, a cultura, a vida e a alma dos brasileiros e que se casavam apenas para ter uma mulher para dar porrada, fazer filhos e tomar conta das mucamas. Eles podiam tudo, inclusive estuprar e matar as metidas a feministas.


Em 1789, tomada pelos ventos libertários, a Assembléia Nacional francesa aprovou a Declaração dos Direitos do Homem. Em 1791, embalada pelo lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” cravado na bandeira do ideário revolucionário, a escritora francesa Marie Olympe Gouze (Olympe de Gouges) lançou também o seu manifesto “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”. Pegos de calças-curtas, os nobres revolucionários acharam tal manifesto uma afronta à moral e aos bons costumes. Que significava aquilo? Revolução das calcinhas dentro da grande revolução dos cuecões? Lugar de mulher era na cozinha e assim deveria continuar. Quem lavaria a louça? Quem trataria do javali antes de ir à panela?


Olympe de Gourges, a primeira feminista da história, foi a julgamento em um tribunal predominantemente machista. O circo estava armado e ela foi condenada à pena capital, sob a acusação de “ter querido ser um homem de Estado e ter esquecido as virtudes próprias do seu sexo.” Foi guilhotinada em 1793 sem que nenhuma outra mulher tenha saído em sua defesa.


Desta maneira, ó simpáticas feministas burocráticas enclausuradas em amplas salas refrigeradas deste imenso gigante adormecido, dêem-me notícias das 129 tecelãs de Nova Iorque, vítimas da arrogância e da prepotência do poder econômico! Vós, que colocais o termostato do condicionador de ar no máximo para poder vestir o casaco de vison, talvez não saibais que o 8 de março não foi escolhido aleatoriamente para ser o dia internacional da mulher, apesar de que, neste solo pátrio, todo dia é dia de luta da mulher para ocupar um lugar ao sol. Saibam, ilustres senhoras, que esta data foi escrita com sangue e fogo.


No dia 8 de março de 1857, 129 tecelãs em Nova Iorque se cansaram da exploração patronal e se uniram em um movimento reivindicatório, exigindo redução da jornada diária do trabalho, de 16, para 10 horas. Além de trabalharem mais, ganhavam apenas quarenta por cento do salário dos homens. Quando chegavam a casa, exaustas, encontravam uma pilha de pratos a serem lavados, comida a ser feita, filho para amamentar e beira do rio para lavar roupa, pois lavanderia era coisa a ser inventada. Não era justo tamanha exploração. Cruzaram os braços e saíram à rua a fazer barulho, sendo que encontraram uma forte e violenta repressão policial. Voltaram à fábrica achando ser um abrigo seguro. Os patrões e a polícia trancaram as portas e atearam fogo na fábrica, matando-as na imensa fogueira formada.


Em 1910, na II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada na Dinamarca, a alemã Clara Zetkin propôs o dia oito de março como o dia Internacional da Mulher, em homenagem àquelas 129 mártires de Nova Iorque. A proposta foi aceita e nesse dia as mulheres do mundo todo se dão as mãos em busca de fortificar o movimento feminista, propondo o fim da hegemonia político-econômico-administrativa masculina, seguindo o lema dos compositores mineiros Beto Guedes e Ronaldo Bastos quando dizem “Vamos precisar de todo mundo / um mais um é sempre mais que dois”, se bem que esses versos foram escritos bem depois, o que não invalida o grito de guerra “Mulheres / unidas / jamais serão vencidas!” que encerrou a II Conferência na Dinamarca.


Proposições justas, por sinal, porém o movimento reivindicatório esbarra na própria instabilidade da vaidade feminina quando passa batom nos lábios frente a um espelho, no dia seguinte, e nos 364 que se sucedem até o próximo 8 de março; elas (as feministas e não as mulheres em si) são incapazes de se olhar fraternalmente como companheiras de luta e seguir um propósito comum; em vez disso, engalfinham-se feito onças-de-unhas-pintadas disputando um território selvagem, inaptas em abraçar a causa libertária e tornar suas reivindicações numa bandeira ideológica permanente.


Fala mais alto a vaidade histórica e cada uma mira-se no espelho com a desconfiança aguda de quem encara uma rival.






terça-feira, 3 de março de 2009

O arraial do Junco e a violência urbana



A primeira vez que ouvi falar em maconha foi nos preparativos de mudança do arraial do Junco para Alagoinhas. O povo falava à minha mãe para ter muito cuidado com a cidade onde se dizia que a maconha rolava solta e os assaltos eram useiros e vezeiros por causa da erva maldita.

Entretanto essas conversas ao pé do fogão a lenha eram totalmente equivocadas sobre o uso da cannabis sativa. Diziam que os meliantes fumavam a maconha para fazer o povo dormir e assim eles tinham livre acesso ao patrimônio alheio. O medo de então não era o de ver os filhos enveredar pelo mundo devastador da dependência química, mas pelo simples fato de se ser roubado devido ao “boa noite, Cinderela” supostamente contido na maconha.

Eram os tempos da inocência plena. A violência no arraial do Junco limitava-se apenas a alguma briga de bêbado às segundas-feiras, dia de feira. Eram brigas verbais e raramente se chegava às vias de fato. Dos presos e perturbadores da ordem pública, o único que me lembro foi um batedor de carteira que apareceu por ocasião da festa da Padroeira. Pego no flagrante, levou tantos bolos do delegado João Vieira que, anos depois, devia chorar quando se lembrava da surra. Como naqueles tempos não havia direitos humanos, o infeliz foi exibido na festa como um troféu do delegado.

Outro preso de destaque foi um motorista da Petrobrás que buzinou o carro ao passar por um cavaleiro na Ladeira do Cruzeiro. O cavalo se assustou, empinou e derrubou seu montador. Nada teria acontecido se o dito cavaleiro não fosse o delegado da cidade, que, mais tarde, deu voz de prisão ao petroleiro para ele aprender a não sair buzinando a torto e a direito. O infeliz passou dois dias preso, porém não apanhou como o batedor de carteira.

Curiosamente nos anos oitenta um rapazinho roubou um cavalo na roça e foi vender na feira. Teve o azar de oferecer ao próprio dono do cavalo que, surpreso, chamou a polícia.

Bons tempos aqueles em que se comprava fiado em qualquer bodega. Depois veio a modernidade, os supermercados, a televisão, as parabólicas e, com eles, a corrupção, a ladroagem política, a favelização e a miséria passou a rondar a periferia da cidade. As verbas públicas tiveram destinações privadas, o desvio de função pública se tornou dever de ofício, o povo aprendeu a trocar o voto por migalhas e o que se vê, hoje, é uma cidade sitiada pelo medo da violência e pelo terror das drogas. Do ano passado para cá, oito pessoas morreram vítimas da violência bestializada, gratuita, onde até um velhinho foi assassinado a golpes de machado para ter sua aposentadoria roubada. Ora pois, o que seria o sossego da velhice, está sendo o objeto do medo.

O arraial do Junco, que figura na rabada do IDH, se tornou a terra do sem porvir risonho: governos corruptos e impunes, desemprego crônico, jovens sem perspectivas no futuro, velhos desassistidos e crianças sem ocupação lúdica. Como diz o velho ditado: “Mente vazia é oficina do Diabo”. Quem elege o corrupto pensando tirar proveito, se esquece que está deixando atrás de si uma hoste de miseráveis. E a miséria conduz à violência. E a violência é sinônima de dor. E a dor não tem cor, ideologia ou status social. O corrompido um dia tornar-se-á vítima de sua própria esperteza.

Sumiram com as verbas da habitação popular e teve gente que achou interessante, pois era mais um novo-rico que surgia do nada, como aconteceu nos últimos tempos. Isso gerou o processo de favelização da cidade e a conseqüente degradação moral, com o tráfico de drogas rolando solto a desafiar a Lei e a Ordem. Antes do carnaval mataram um; essa semana que passou, dois. E assim caminhamos para a banalização da violência e a perda total da capacidade de indignação até o dia em que, ao abrirmos a porta da casa, esteja lá um corpo estendido na calçada apontando seu dedo frio e rígido como a dizer que poderemos ser o próximo da lista.