sábado, 3 de julho de 2010

Em Frente ao Espelho - Eduardo Proffa




- Não! Não! Não!

Negarei três vezes que não choro por mim... Que não choro pelo fim, ou pelo novo recomeçar...

Choro pelo trajeto de catástrofes naturais que ocorreram nestes últimos meses...

Choro pela falta de consciência política...

Choro pelo grande índice de analfabetismo...

Choro pelo pífio salário que recebemos...

Choro pelas drogas, mortes, estupros, prostituição infantil, pedofilia...

Choro por uma equipe palpável, e que com toda certeza tinha todas as condições de conquistar o hexa-campeonato...

Choro por tanta coisa, porém choro pelas perspectivas latentes que existiam em um “zilhão” de brasileiros...

Acredito que fizemos o nosso melhor e não posso entender que um locutor, ou comentarista que tenha condutas tão negligentes interfiram em nossos conceitos...

Execro pessoas que torçam contra seu país, seus irmãos e seus pares...

Nosso mundo cego e medieval ainda é conduzido por regras definidas pela oligarquia e clero constituído, porém não podemos nos deixar levar. Existem coisas mais importantes:

Nosso filho que vai nascer...

Nosso cônjuge e família...

Nosso trabalho...

Nosso amanhecer...

Nosso entardecer...

Nossos amigos...

Nossa poesia de viver...

Conduzir o barco no maremoto é que são elas!

Na vida tudo é mais importante do que tudo, é questão de prioridade... Então, levanta sacode a poeira e dá a volta por cima...

Pensando direitinho: terça, tenho que trabalhar o dia inteiro...

Putz! Fazer o quê? Quem mandou acreditar em personagem de contos de fada... E, ainda tinha o pé frio do Mick Jagger...


Nota do Blog: Eduardo Proffa é poeta, compositor, cantor e professor de Educação Física na rede pública do estado das Alagoas.



quarta-feira, 30 de junho de 2010

Das Artimanhas do Torto - Cineas Santos




De Roseane e a dinheirama

É perceptível o extraordinário esforço que a Santa Madre Igreja vem fazendo no sentido de reabilitar a figura do Diabo. Por favor, não me tomem por herege. Explico tudo: Bento XVI, homem de vasta sabença, já se deu conta de que, sem a presença do mal, o bem se esvaece. Urge, pois, reabilitar o Tinhoso antes que se comece a duvidar da existência de Deus. Há quem afirme que a derrocada do Demo se iniciou no dia em que São Paulo (Coelho) desistiu de apostar nele. Antes de acharem que exagerei na dose do chá, um refresco para os desmemoriados. Em 1982, Paulo Coelho publicou, pela Shogum Editora, Arquivos do Inferno, livrinho sobre o qual se derramou conveniente silêncio. Com um pouco de sorte, é possível encontrar algum exemplar perdido nos sebos do mundo. A partir daí, o Mago bandeou-se para o partido do Altíssimo e, embora continue cometendo os mesmos erros gramaticais, tornou-se o maior vendedor de livros do mundo. Sua meta é provar que “Deus escreve certo por linhas tortas”. Mas isso já é outra história.

Como autêntico sertanejo que sou, nunca duvidei da existência do Troncho. Certa feita, ouvi de uma irmã catequista uma advertência que me marcaria profundamente: “O Demônio é um cão raivoso preso a uma corrente de aço. Para não ser mordido por ele, basta manter prudente distância”. A piedosa freirinha só se esqueceu de um detalhe: estipular a extensão exata da corrente. Volta e meia, ainda me pergunto, apavorado: Não estarei muito próximo? Quase sempre estou.

Um exemplo: certa feita, em 1992, fui procurado por um cidadão falante, maneiroso, que, sem motivo aparente, resolveu brindar-me com uma garrafa de “Dom José”, vinho do Porto de boa safra. Puxou conversa, falou de poesia, de música e revelou em mim qualidades que eu nem suspeitava que existissem... Finalmente, exibiu as presas: “Caro mestre, venho lhe fazer uma proposta irrecusável”. Tremi nos tamancos: sempre que me apresentam propostas irrecusáveis, fico alguns centavos mais pobre. Intrépido, prosseguiu: “Como o senhor já deve saber, a governadora Roseana Sarney desponta como o ‘fato novo’ na corrida pela presidência da República. Eis a proposta: sou editor de uma revista política e vou lançá-la, nacionalmente, com a Roseana na capa”. Até aí, nada de extraordinário. O desfecho: “Com essa edição, pretendo faturar, no mínimo, meio milhão de reais”. Diante do meu espanto, arrematou: “Cada inserção de uma mensagem de apoio de um município maranhense custará cinco mil reais. Que prefeito se recusará a participar dessa campanha, levando-se em conta o fato de a governadora ainda ter dois anos de mandato? Venho propor ao senhor uma parceria: racharemos despesas e receitas, meio a meio”. Quando lhe perguntei o porquê de ter sido eu o escolhido, tentou fisgar-me com o anzol da vaidade: “O senhor é um homem sério, tem o respeito de todos”. Atordoado com a possibilidade de enriquecer subitamente, pedi um tempinho para refletir. Ele aquiesceu, com a advertência: “Duas semanas, professor. Lembre-se de que estamos correndo contra o tempo!”. Ao retirar-se, senti no ar um inexplicável cheiro de enxofre.

Antes do prazo que me fora concedido, estourou o escândalo da dinheirama encontrada no escritório da governadora. O balão murchou. Não tive dúvida: aquele moço blandicioso era a reencarnação do Tinhoso. Vade retro, Satanás!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Torcida Até Debaixo d'Água - Luiz Alberto Machado





De Palmares - PE



Gentamiga, uma tragédia! E a casa caiu!
Choveu tanto que até os sapos, como diz meu conterrâneo Ascenso Ferreira, pediram aos céus clemência.

O meu povo pernambucalagoano viu a catástrofe nesses últimos dias: cidades completamente alagadas, moradias destruídas, gente desabrigada.

Na minha terra de Hermilo Borba Filho não deu nem para ficar balançando as pernas do alto do sino da igreja da matriz, não sobrando nem minha casa que restou só escombros com a desolação geral de outros tantos sem lar.

O Rio Una se juntou ao Pirangi e tomaram conta da situação por lá. Como também transbordaram muitos rios nos dois estados, só deixando os estragos pelas inundações. Um desmantelo dos grandes mesmo.

No meio dessa consternação toda, o jogo mesmo não deu pra ver. Só pude brechar pescadores de geladeira e brebotes boiando, canoeiros solidários, correria da muita de nego até de um olho só e muito oh e chororô.

Mas aprumando o papo da torcida na copa do mundo, o negócio ainda anda devagar, quase parando. Soube que ganhou, mas não convenceu. Até o timeco que ganhamos apertado na primeira rodada, sofreu uma lavagem de 7 de Portugal. Pode? Estão colocando a culpa na jabulani. Ou no juiz que deixou arriar a lenha, da gente ver que pros tanques da Costa do Marfim, do pescoço pra baixo tudo é canela. Foi cada solada de chegar a ver o Elano de cambitos torados. Afora as cipoadas que foram distribuídas a granel do juiz francês deixar rolar. Um vitupério!
Também, não adianta falar nada, a coisa está mais pra gente ter um treco, ou sair troncho com chiliques mais azoados. Por que não convocam emergencialmente a Marta pra desmoralizar os paspalhos?

Pra mim essa seleção de bem comportados está feito o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica Federal: só tem alarde e quando a gente vai ver a coisa é mais precária que merece ser taxada de esculhambação de quinta categoria. Não tem o mínimo respeito pelo cidadão consumidor.

Vamos empurrar o jipe. Se o mandú não pega, minha fia, não tem outro jeito! Tem que empurrar o troço e segurar o pipoco dos peidos pra ver se vai no tranco. Se todo mundo num fizer força, aí acho que a coisa vai empenar de vez. Quem bota fé?

As previsões continuam. Até uma equipe de pesquisadores do Centro de Estudos do Risco (CER) do Departamento de Estatística da UFScar, já sapecou o campeonato para Alemanha (27,5%), ficando a Holanda em segundo (17,05%), Brasil, em terceiro (10,78%) e Argentina (7,86%), em quarto. Nem mesmo a gente aqui acredita que a gente chegue lá. Só o economista Jim O Néill da Goldmann Sachs que nas pesquisas dele acha que o Brasil ganha, seguido da Espanha, Alemanha e Inglaterra.

Enfim, entre mortos e feridos, até agora escaparam todos. Vou colocar a solidariedade em dia e ajudar a minha gente das cidades desoladas. E vamos que vamos capengando embaixo da chuva rumo ao hexa em 2014 e cantando o frevo da Folia Caeté.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Discussão - Luís Pimentel






– Para onde vocês vão?
– Vou levar o Júnior ao estádio.
– Que estádio?
– De futebol, claro.
– Futebol, Arlindo?
– Por que o espanto, Clarinha?
– Logo hoje?!
– O que tem hoje?
– Hoje é domingo.
– Exatamente. É dia de jogo.
– Combinei de levar o Júnior ao teatro.
– Combinou com o próprio Júnior?
– Com uma amiga, que também vai levar o filho dela.
– Ele prefere futebol.
– Teatro é mais legal.
– O menino gosta de futebol, Clarinha.
– O menino ou o pai do menino?
– Os dois.
– Ele vai ao teatro e pronto.
– Escuta, que tal perguntar ao garoto o que ele prefere fazer?
– Boa idéia. Vou perguntar.
– Isso. Faça isso. Mas se ele preferir essa droga de Flamengo de novo, você me paga.