sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Cineas Santos - Aula de Mestre

Com um pouquinho de atraso (antes tarde do que nunca) a Globo resolveu brindar os sem-humor inteligente com uma aula de bom humor ministrada por um experto : Chico Anísio. Como se sabe, além de bastante adoentado, o humorista vem sendo conservado em geladeira de luxo pela Vênus Platinada. A Globo já não precisa dele, mas não o libera por medo de vê-lo brilhar numa das concorrentes. O tipo de humor que o Chico faz já não se enquadra na nova “filosofia” da emissora, que fez sua opção preferencial por Zorra Total e assemelhados. Segundo um cronista irreverente, “A burrice vende fácil”. Falta-me autoridade para contestá-lo.

O certo é que, no domingo passado (dia 2), a molecada ,com menos de 20 anos, pôde conhecer parte da galeria de personagens criados e interpretados pelo maior humorista brasileiro de todos os tempos. A exemplo dos heterônimos de Fernando Pessoa, cada personagem do Chico (são mais de cem) tem história, conduta, personalidade reconhecíveis. Alguns, de tão patéticos e tão humanos, poderiam estar agora entre nós, ou melhor, poderiam ser um de nós. Como a Globo já está engatilhando o Big Brother Brasil 11, pôs os personagens do Chico numa espécie de reality show ao lado das ex-bbbs Priscila, Angélica, Cacau e caterva, tendo como apresentador Milton Gonçalves. Em pouco mais de trinta minutos, desfilaram pela telinha: Pantaleão, Popó, Salomé, Professor Raimundo, Painho, Bozó, Haroldo, Tavares, Azambuja, Silva, Quem-Quem, Nazareno, Tavares, Coalhada, Gastão, Justo Veríssimo, Santelmo e o histriônico e canastrão Alberto Roberto. O que se viu, a despeito do roteiro pobre, foi uma aula magistral de interpretação. De quebra, Chico Anísio, com voz cansada, ainda nos brindou com daqueles causos que só ele é capaz de contar com picardia e graça.

País curioso o Brasil: com tanta gente talentosa que sabe cantar, dançar, interpretar, os produtores de TV preferem apostar todas as fichas no que há de mais pobre, mais abjeto, mais vulgar em matéria de entretenimento. A tônica parece ser: “quanto pior, melhor”. Particularmente, acho que se trata de um processo galopante de emburrecimento do público jovem, notadamente daquela faixa – a maioria - que não tem acesso a outros meio de comunicação que não o rádio e a TV. Paradoxalmente, a imprensa graúda vive reclamando da “péssima qualidade” da educação brasileira como se os meios de comunicação de massa não tivessem nada a ver com o problema. Como os políticos se borram de medo de exigir o cumprimento do artigo 221 da Constituição Federal, o rádio e a TV correm de rédeas soltas sem prestar contas a ninguém. Só num cenário como este a ausência de um humorista da estatura de Chico Anísio nos programas de humor pode ser entendida. Como diria Gonzaguinha, “E a plateia ainda aplaude/ ainda pede bis”. A burrice, acreditem, é contagiosa.

Nota do blog: esta crônica era pra ser publicada no mês passado, mas, por motivo de viagem deste blogueiro, não foi possível levar ao ar, o que faço agora, pois o tema não perdeu a validade.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Edna Lopes - Viagem e viagens...

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... Esperança...
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...
A Canção do Dia de Sempre - Mário Quintana


Há um tempo para tudo –verdade incontestável- e o tempo das férias de 2011 acabou. No mês de fevereiro recomeça mais um ano de trabalho, de desafios, de sonhos que esperam para serem realizados e, de minha parte, a disposição de sempre.

Todos os anos era hábito tirar uns dias para viajar e o restante ficar por aqui, recebendo parentes e amigos, aproveitando o que a cidade de Maceió e seu entorno nos oferecia. Visitar parentes e amigos, descansar, por a leitura em dia, sair sem compromisso, ver filmes, dormir até mais tarde sempre foi meu padrão de férias perfeitas. Este ano, família de comum acordo, resolvemos “ciganear” um pouco.

Somos o que somos e nenhum cenário muda isso ou ainda como me lembrou nosso cronista José Cláudio Cacá citando Vandré “A vida não muda só com a gente mudando de lugar”. Gente é o que me interessa mais e não as paisagens e monumentos por mais belos que sejam, então, mesmo de férias, meu olhar de educadora registrou como pode o que viu e ressignificou cada momento vivido e cada cenário visto.

Devo dizer que, embora tenha viajado cerca de 4.500 km, me encantado com paisagens paradisíacas, exóticas, inusitadas, lamentado por algumas cenas e cenários, revisto com prazer lugares e pessoas queridas, a viagem maior sempre foi a interior.

E, por óbvio, nem tudo funcionou como num roteiro de filme. Há que se registrar também as intempéries de qualquer travessia: pequenos aborrecimentos, contratempos, crise alérgica, insônia, pés inchados, dores lombares, calundus, TPM, saudades...

Não dirijo e agradeço a disposição do meu companheiro para cumprir o roteiro programado quase que na sua totalidade. Ao final, o cansaço e a vontade de voltar para casa falaram mais alto e deixamos um trecho para fazer qualquer dia desses.Garanto que me esforcei para ser uma “co-piloto” razoável: câmera na mão para não perder nenhum detalhe especial da paisagem, cantarolando as musicas que tocavam no mp3 do carro para espantar o sono, oferecendo água, lanche...

O mais importante e o registro principal é o da alegria: a Bahia é sempre um encanto e como foi bom rever e conhecer pessoas tão especiais e queridas, como foi bom rever e conhecer lugares eivados de história, encher os olhos com a beleza de cada paisagem, como foi bom constatar com nossos próprios olhos o quanto este país mudou para melhor, ao longo desses anos.

E, certamente, muito mais do que para os adultos, para os adolescentes (Vinícius, meu filho, e Marx, um amigo seu que nos acompanhou), essa será uma inesquecível viagem de férias. Quantos lugares, pessoas, curiosidades, namoricos, imagens não guardarão, para sempre, em suas lembranças de juventude?

Muito do que vi certamente será mencionado nas reflexões que fiz e farei, ao longo do ano que, de fato, agora se inicia, como por exemplo, minhas impressões sobre as cidades visitadas, as histórias que ouvi, os personagens que conheci...

Mas isso já será outra crônica...


domingo, 30 de janeiro de 2011

Leila Barros - Metro-o-quê?

Com essa história, que anda solta pela mídia, de Novo Homem que precisa soltar sua porção mulher para ser mais feliz eu me lembrei do Rodolfo Augusto (que inspiração a mãe dele teve para lhe dar esse nome, hein?!). E lembrei também, por tabela, da Jô, sua esposa.

A Jô se queixava de que o Rodolfo era muito machista, muito individualista e workaholic, só ficava lendo a Gazeta Mercantil. Eles só faziam amor nos finais de semana. Aliás, sexo apenas. E ela sentia nesses momentos como se ele estivesse guardando documentos em sua pasta executiva. Nada mais, um tédio! dizia ela.

Depois o teor da queixa mudou um pouco.

- O Rodolfo anda meio estranho, ultimamente – se queixava - Anda em salão de cabeleireiro, vive falando em limpeza de pele, em combinar os tons do sofá com as cortinas, falou até em fazer compras comigo no shopping... eu hein! Está lendo umas coisas esquisitas de um tal Mark Simpson, vive cantarolando a música do Pepeu Gomes: “Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino...”

- Outro dia eu o peguei dançando uma música do Abba na sala, enquanto nosso gato olhava para ele com uma cara muito esquisita! E, pior ainda, estava usando os meus cremes hidratantes e o meu quimono de seda! Fiquei uma fera! Imagine! Usar meus cremes importados naquela cara barbada, de homem! Deixar meu quimono com cheiro de homem!

Para meu "espasmo", ela continuou:

- Sabe, amiga, eu não gostava da fase anterior do Rodolfo, mas essa fase atual está me preocupando. Eu queria um homem mais sensível e atencioso realmente, mas essa versão Pepeu-cósmico-Gilberto-Gil, está me deixando maluca! Afinal eu casei com um homem, de peito cabeludo e tudo o mais!

E o Rodolfo Augusto prosseguia em seu aparente e iminente comportamento modificado. As colegas do banco multinacional em que ele trabalhava estavam prestando mais atenção nele e convidando-o para almoços e happy hours com mais frequência. Ele estava adorando.

E a coisa não parou por aí. Ele mudou seu guarda-roupa quase todo, trocando os ternos "politicamente corretos e em tons moderados" para ternos bem cortados, arrojados e até camisa cor-de-rosa passou a usar.

Sua mulher decidiu chamá-lo para uma conversa mais profunda.

- Então Rodolfo, o que é está acontecendo com você? Você anda tão diferente, modificado... Está estressado?

E ele calmamente respondeu:

- Jô, eu agora sou metrossexual! Mudei porque achei que precisava liberar meu lado feminino, para ser mais feliz. Você não se queixava que eu vivia mergulhado no meu mundo masculino?

E ela retrucou:

- "Metro" o quê, Rodolfo?

- Metrossexual, Jô! O homem da nova era, engajado com o estilo de vida moderno, um homem que se cuida e que não tem vergonha de explorar seu lado Ying! Um novo ser pleno e cósmico!

De olhos arregalados e boquiaberta, Jô deduziu que o marido estava ficando maluco ou virando gay.

Ele estava cada dia mais radiante, fazia novos amigos, saía para dançar, enquanto ela vivia cismada, inconformada e sempre muito estressada com o novo padrão de vida dele.

- Eu casei com um homem e agora vivo com um metrossexual, que até os pelos do peito resolveu depilar! - lamentava.

Um dia ela precisou chamar um pedreiro para trocar o chuveiro queimado, porque o Rodolfo Augusto não queria mais se submeter a esse tipo de trabalho rude. Fazia calor e o pedreiro estava com a camisa aberta, mostrando o peito cabeludo. Ela ficou maluca, ofereceu limonada, bolo e até um almoço no dia seguinte.

Entre um conserto e outro, ela virou para o tal pedreiro e perguntou se ele sabia o que era "metrossexual". Ele, com os olhos esbugalhados, respondeu:

- Olha Dona Jô, na minha casa meu pai disse que se tivesse filho com esse "pobrema" ele botava fora de casa!

Hoje ela vive com o tal pedreiro em uma casinha lá perto da estrada da Pedreira. O Rodolfo Augusto atualmente ministra palestras sobre esse tão famigerado tema do Homem Novo,  tendo como fundo a música do Pepeu: “Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino... “