sábado, 20 de agosto de 2016

Balada de uma geração perdida

Sou de uma geração que se caçava mariposas ambulantes. Não havia motel e, mesmo que houvesse, de nada adiantava, pois faltava o cabral e nossos pais sequer sonhavam que praticávamos o pecado original no despertar da adolescência. Então, surgia outro tipo de caça: encontrar um moitel ou uma rua deserta nas noites silenciosas e úmidas de Alagoinhas, onde qualquer sussurro mal controlado tornava-se som amplificado. Às vezes a gente invadia os vagões vazios de trens de carga na Estação São Francisco, mas um dia alguém dormiu depois do ora-veja e, ao acordar, estava na cidade de Aramari, trinta quilômetros adiante no sentido Oeste. Hoje, com tanto acesso, facilidades e mariposas globalizadas, em vez de se caçar a sublimação metafísica, os jovens perdem-se na procura de Pokémon.

Já não se faz mais adolescente como antigamente, diria o meu pai, se vivo fosse.

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