quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Professora

Uma professora confessou-se indignada por causa dos dicionaristas tecerem loas ao professor (o homem) e não dar o mesmo tratamento honroso à professora (a mulher). Indignação justa, por sinal, pois, enquanto dão muito destaque ao masculino, a coitada da professorinha é tratada no cacete lexical. O Aurélio e o Houaiss afirmam com todos os efes e erres que o verbete "professora" é "prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual". Isso no Nordeste, destacam. O Caldas Aulete dá um refresco na pauleira: "A que ensina instrução primária e as prendas próprias do seu sexo: Professora de corte, de costura."

A gente nunca presta atenção em certos detalhes nos dicionários, pois só recorremos a eles no masculino. E nos damos por satisfeito. É o caso dessa palavra tão erroneamente execrada pelos coxinhas: "Presidenta". Aí misturam com "estudanta" e outros termos que esqueço no momento. Só porque vamos aos dicionários e procuramos no masculino. Se nos dermos ao trabalho de procurar no feminino, veremos que elefante não é dono de circo. E que a anta não é a presidenta.

Voltando ao começo da história, pesquisei em mil puteiros virtuais de onde se originou essa acepção pejorativa para as coitadas das professoras, e não soube de notícia de nada. É como a desonestidade de Lula: por mais que o juiz Moro procure, não encontra nada.

Confesso a vocês que a minha iniciação sexual se deu com uma professora. Uma estagiária, a bem dizer. Ela era tão provocante que tive que antecipar o meu aprendizado sobre masturbação. Mas tenho a mais absoluta certeza de que não foi isso que ocasionou a conotação depreciativa pelos dicionaristas. Mesmo porque sempre trouxe esse segredo guardado a sete chaves, nem mesmo ao padre confessor da minha primeira comunhão eu ousei contar tão íntimo segredo.

Pesquisando por aí, encontrei que na Grécia antiga a iniciação sexual dos meninos era feita por um homem mais velho, chamado pedagogo. Ele ensinava as manhas do sexo aos adolescentes para não fazerem vergonha na noite de núpcias, tal qual ensinou o meu avô a um seu irmão, apesar de nunca ter ouvido falar dos costumes dessa tal Grécia antiga:

- Não tem como errar. É um lugar cabeludo. Pode ir que é tiro e queda.

O meu tio-avô não contou conversa na hora do ora-veja. Apagou o candeeiro e caiu em cima da minha tia-avó, que aguardava ansiosa no colchão de capim seco. Depois de coberta pelo macho, ela chiou meio decepcionada:

- Aiiiii!... Aí é o meu sovaco!

(Não, não! Esse caso não serve para justificar o que fizeram com a “professora”. Mas mata a pau o “professor”.)

Em algumas tribos norte-americanas o rito de iniciação sexual se dá através da penetração anal feita por um tio. Acham que, com o rabo cheio de sêmen, os garotos serão homens férteis. Ainda bem que nasci bem longe dessas tribos, mas conheço gente que adoraria ter nascido lá.

Lá no Junco, berço da humanidade sertaneja, a iniciação se dá pela prática de se encostar a jumenta no barranco e mandar brasa. Vez ou outra o dono da jega dá flagrante e obriga o pai do garoto a pagar um saco de milho. Ou até mais.

Mas há lugares no Nordeste em que o menino só vira homem depois que molha o pavio em uma fêmea. Quando o garoto entra na puberdade, o pai o leva para o puteiro, para aprender o bem-bom da vida. Como se trata de um aprendizado prático, com aula cem por cento presencial, talvez venha daí a alcunha de “professora” para as mulheres de vida fácil, que de fácil não tem nada. Tal qual a vida das professoras.

Não sei se servirá de consolo à indignação da pessoa em tela, mas no sertão nordestino o jumento também é chamado de professor. Só não sei se é pela imensidão fálica ou pela teimosia quando empaca.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Duas Notas Musicais - Luís Pimentel


A ilusão de que ser homem bastaria

          “Gilberto Gil estava hospedado na casa de Caetano Veloso no Rio de Janeiro, quando, um dia, o anfitrião chegou entusiasmado com Super-Homem (Superman), um filme que acabara de assistir, com Christopher Reeve no papel de herói. Então, Gil “viu o filme” através da narrativa de Caetano e naquela noite não conseguiu dormir. Ficara tão impressionado com a imagem do Super-homem fazendo a terra girar ao contrário em seu movimento de rotação, a fim de voltar a tempo e salvar a mulher, que acabou pulando da cama para compor Super-Homem – a canção em apenas uma hora, o que contraria seu método habitual de trabalho”.
(Relato dos escritores e pesquisadores Jairo Severiano e Zuza Homem de Melo, em A Canção no Tempo, volume 2. Editora 34, 1998)

      Diz a bela canção de Gil:

Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
(...)
Quem sabe o Super-Homem venha nos restituir a glória
Mudando com Deus o rumo da História
Por causa da mulher...

To go back to Bahia, de Caetano a Richão

          Expulso do país, juntamente com o parceiro e amigo Gilberto Gil – acusados de subversão – o cantor e compositor Caetano Veloso desembarcou no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro no dia 11 de janeiro de 1972, retornando do exílio político na Inglaterra. 

     Pouco depois fez um show histórico no Teatro João Caetano, antes de embarcar para a boa terra. Neste show, revelou para o Brasil inteiro um genial compositor baiano chamado Riachão, interpretando um samba de sua autoria que tinha uns versos assim: “Chô, Chuá, cada macaco no seu galho/Chô, Chuá, eu não me canso de falar/Chô, Chuá, o meu galho é na Bahia/Chô, Chuá, o seu é em outro lugar”.

     Aos 95 anos Riachão (Clementino Rodrigues, 1921) é um compositor moderníssimo. Prova disto é que a moderna Cássia Eller regravou, lindamente, a super-modernosa Vá morar com o diabo, uma canção que diz assim: “Ai, meu Deus, ai, meu Deus, o que é que há?/A nega lá em casa não quer trabalhar/Se a panela ta suja, ela não quer lavar/Quer comer engordurado, não quer trabalhar (...)/Ela quer me ver bem mal/Vá morar com o diabo que é imortal”.