domingo, 28 de fevereiro de 2016

Flores Mitológicas

No início do novo milênio achei eu de andar por esses grupos de literatura, que, à época, eram os canais sociais dos pseudo-escritores. Havia muita gente boa, gente mais ou menos, e muitos que se achavam o bam-bam-bam do pedaço, mas com o incrível defeito do "eu só me basto". Foi num desses grupos que Mário Prata escreveu o livro "Os anjos de Badaró". Ou melhor, escreveram para ele.
Um desses "metidos" resolveu atravessar o meu caminho, numa "metidez" sem limites, então lhe respondi em forma de poesia:




FLORES MITOLÓGICAS

Para os caçadores de métrica e bajuladores de riqueza vocabular
Em detrimento da dialética platônica e da singeleza melódica da poesia.
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Que queres tu, ególatra e mitológica criatura,
Que por mim indagas sem o querer saber?
Refutas servil antes da pergunta acontecer
Avocando o inepto direito da brilhantura.

Como os hematófagos habitantes das cavernas
Tramando o golpe às suas vítimas inocentes,
No anonimato da noite limam os seus dentes
Em generosos pescoços e suas veias externas.

Assim é teu proceder na traição aos teus pares
Na arrogância nefasta aos morcegos outorgada
Anomalia soturna na cintilante noite aviltada,
Por salivas e presas de palavreados vulgares.

Ó, Narciso, ao teu umbigo não ousas olhar!
O espelho é a tua fascinação mais íntima;
Aos amigos, a mudez das palavras ínfimas
E o lúgubre refrão “só vivo para me amar”.

De Baudelaire, envio-te as flores do mal,
De Ginsberg, presenteio-te um sonoro uivo.
Tu, que recusas olhar para o próprio umbigo,
Deixo-te Dante com sua viagem infernal.

Oferto-te um buquê de rosas rubras dialéticas
Cingidas em chumbo das balas dos canhoneiros
No último combate dos corsários aventureiros,
Dissimulados no silêncio da amplidão internética.

Dou-te o cravo vermelho usado na lapela
Do teu fétido e infecto paletó mortal,
Compondo as flores do teu vil funeral
De carpideiras mordazes de tez amarela.

Ofertarei uma moeda de bronze por esmola
Quando o esquife em cortejo por mim passar
Assim poderás ao barqueiro do Hades pagar
A lúgubre travessia levando-te, de vez, embora.

As veredas que deixaste não importam mais,
Nem as flores dos Guimarães por ora maltratadas,
Rosas silvestres, melancolicamente despetaladas,
Orquidácias negras remanescentes das Gerais.

Este é o meu réquiem embalando tua catatonia,
Confortando tua negra alma no barco de Caronte
Antes do encontro final com diabos monocerontes
A quem prestarás contas das arrogantes vilanias.