segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Quem é seu herói de hoje?



Nós não precisamos de heróis. Precisamos, sim, de homens públicos que trabalhem para e pela coletividade.

A nossa colonização não foi lá das melhores. Nem pra se dizer “dá pro gasto” e se contentar com o pouco. Nosso primitivismo europeu não passou da escória portuguesa, ladrões, deletérios, proxenetas, vigaristas e até mesmo assassinos condenados ao degredo na colônia. A elite que veio nas esquadras colonizadoras foi a elite sanguessuga, preguiçosa, escravocrata, assentada no bem-bom do litoral brasileiro. Somente os traficantes de índios e capitães do mato adentravam o interior. Os sertões, então, nem se fala. Povoado de índios expulsos do litoral pelos tupis, somente os negros fujões e os brancos foragidos da justiça se arriscavam caatinga adentro. E os jesuítas, em busca da escravidão sem rebeldia em suas reduções catequéticas.

Já no Brasil Império, quando o brasileiro firmava o conceito de pátria em seu caráter, D. Pedro II resolveu dar ares aristocráticos ao interior brasileiro importando a elite falida e caloteira de Portugal. Se a nossa colonização já não foi lá essa Coca-Cola toda, a elitização do interior não foi nenhuma Brastemp.

Bom, como dizem que o homem é produto do meio, não podemos reclamar do nosso aleijão de caráter, em alguns mais, em outros, menos, mas sempre tendemos e torcemos pelos escrotos. É isso que acontece quando passamos a mão na cabeça dos mensaleiros, petistas ou tucanos, e votamos maciçamente em candidatos corruptos baseado no axioma da ladinice “rouba, mas faz”.

Depois de tornar Paulo Maluf o deputado mais votado do Brasil, uma amiga paulista me ligou para perguntar se a gente, os alagoanos, não tinha vergonha de eleger Collor. Um roto falando do mal vestido. Um sujo falando do mal lavado. E com a desculpa de que o errado é sempre o outro, conscientemente enchemos um dos três poderes da República de ratos.

Os pseudos justiceiros da moralidade de plantão lançaram um Batman paraguaio para Presidente da República, um cidadão com síndrome de Narciso e que, pelo que se viu na semana passada, a vaidade não o deixa olhar além do próprio umbigo. Felizmente o Coringa tirou a máscara do nosso herói e os eleitores da Gotham City descobriram que o homem-rato não passava de um reles ratinho de esgoto e que facilmente seria apanhado por qualquer gato modorrento.

Pois bem, no velho Junco, a minha terra, certo alcaide encasquetou com a profecia de Antonio Conselheiro de que o Sertão ia virar mar. Canalizou rios de dinheiro para transformar um velho açude em praia, embora grande parte da população nunca tenha visto um rio de verdade. O açude, construído pelo Governo Federal em priscas eras, perdeu sua principal função: amenizar a sede do gado em período de seca. Enquanto isso, a população se via desassistida de Saúde, Segurança e Educação, mas não reclamava porque os puxa-sacos do prefeito – e o mesmo – diziam que a praia ia ser mais frequentada do que Copacabana, com lindos bumbuns de fio dental a banhar-se em suas águas barrentas. Mas quis o destino que, antes de se concluir a grande obra, a seca assolasse os sertões e o povo descobriu que o rei estava nu quando ficou sem sua praia e o gado sem poder matar a sede. Por azar do alcaide, era ano de eleição e o povo se vingou votando no candidato da oposição, elegendo um franco-atirador de plantão, um candidato que, no início da campanha, só tinha meia dúzia de votos e ninguém dava nada por ele.

E foi esse cidadão, que começou sua campanha batendo de porta em porta montado em um jeguinho, que está revolucionando a maneira de administrar a cidade. Na semana passada ele inaugurou o primeiro hospital municipal da região, construído com recursos próprios, equipado para atendimento de urgência e emergência. Só não sei dizer de quantos leitos dispõe, se tem unidade de terapia intensiva, quantos profissionais de saúde prestam serviço e nem quanto custou.

Liguei várias vezes e em vários dias para o pessoal que poderia me dar essas informações, mas, infelizmente, ninguém atendeu as ligações. Oxalá seja apenas um defeito nas comunicações.

Mas, com obra de tamanha envergadura, quem vai querer saber de simples detalhes, né, mesmo?