sábado, 25 de outubro de 2008
PEQUENA CRÔNICA A AIMÊE
APENAS UM SIMPLES PRESENTE



sexta-feira, 24 de outubro de 2008
- Vai Ter Rebu no Mangue

Ao indeferir a liminar que pedia a anulação das eleições indiretas no arraial do Junco, o juiz de Olindina jogou um caminhão de água gelada na relação incestuosa da Prefeitura com os fornecedores durante o período eleitoral, onde se escancarou acintosamente a corrupção e o apadrinhamento político.
Zé Martins deverá ter noites e noites de insônia. E pesadelos, quando conseguir abraçar Morfeu. Como vai se safar dessa? deve se indagar incessantemente. Muita gente vendeu no crediário confiando na vitória de Antonio ou que a Prefeitura fosse honrar a dívida, ainda que escusa, nos poucos meses que faltam para o término do exercício atual. Muitos também fizeram “pindura” achando que continuariam a receber da viúva sem dar um prego na barra de sabão. Outros se candidataram, se comprometeram, (ou melhor: comprometeram o dinheiro da viúva) e agora estão com a corda no pescoço. Essa liminar era a última esperança que agora morre deixando centenas de órfãos em rios de lágrimas.
A população do arraial do Junco é composta, em sua maioria, de gente decente e por isso somente os filhotinhos de marajás estão a reclamar. Ou aqueles que, de uma forma ou de outra, se locupletavam com o manequim de prefeito. Até entrar na Justiça os comissionados comem quietos entraram, pensando legitimar a ilegalidade praticada no apagar das luzes do governo Martins. Quebraram a cara. Cara de pau, diga-se de passagem. Ganhavam sem trabalhar e ainda queriam continuar mamando.
Mas a imoralidade não pára por aí. Os concursados da Prefeitura, eleitores declarados de Antonio, recebiam gratificação para fazer extra com politicagem ou ameaçar os contrários. Diziam-se os salvadores da pátria enquanto metiam a mão na cumbuca. Mas, de uma canetada só, Givaldo acabou a farra das gratificações, algumas até poderiam ser justas e merecidas, mas, estranhamente, só as tinha quem votava no candidato do prefeito. E agora o que não falta é gente chorando pelos cantos, blasfemando contra a democracia e maldizendo os eleitores do velho e sofrido arraial do Junco que votaram contra esse estado de coisa.
Não havendo mais como sangrar os cofres públicos, com certeza hoje vai ter rebu no mangue.
E Agora, José?
Respondendo a Jânio Sobre o Apartheid

UMA (JUSTA) HOMENAGEM AOS ESQUECIDOS


1 NOSSA CRUZ DE TODO DIA

I
De braços abertos eu te protejo
E te abraço em férreos braços...
Purifico-te em banhos de cheiro.
Cheiro de alecrim, cheiro de açucena,
E afasto o perigo com o espinho do calumbi.
Estarei sempre alerta a te proteger
Como a mãe protege o seu rebento;
E lúcido para te guiar pelos labirintos do mundo
Como se fosse a mão de Deus
Conduzindo invisível Seus filhos desgarrados.
Quando te sentires forte o suficiente
Para guiar teus próprios passos
Por este mudo errante,
Uma vez partido e decidido teu destino,
Peço-te que não radicalizes
Como o Tempo que anda sem olhar para trás
E sem esperar por ninguém...
Não tenhas mágoas do teu passado,
Pois ele será sempre o teu presente
E estará presente aonde quer que vás.
E se um dia,
A solidão diáfana te abraçar
E não mais saberes por onde seguir,
Peço-te que voltes, mesmo trôpego,
Trazendo na mala uma medida do Bonfim
E amarre-a no meu corpo para ti desnudado,
Antes de te ajoelhar e de te benzer,
Antes mesmo de depositar os teus presentes
No meu carcomido pé;
Depois me abrace, me afague,
Possua-me como se eu fosse tua última amante
Ao qual darias o teu último beijo.
Talvez assim
A minha solidão contundente
Não mais me ferirá
Como te feriu um dia
O espinho do calumbi.
2 A CIDADE

II
O Junco descansa placidamente
No seu leito profundo, secular.
Os fantasmas passeiam calmamente
Pelo vazio das ruas dormentes.
A igreja repica os sinos
Em sons invisíveis e inaudíveis
Que só os fantasmas ousam escutar.
Fantasmas da miséria,
Fantasmas da maldição,
Fantasmas duma cidade fantasma
Que acalentam os sonhos
E anseios de quem nasceu insone.
O padre, indiferente, prega a missa
Em tristes orações de funerais...
Orações e rezas de quem partiu
Para não mais voltar.
E os fantasmas, uníssonos,
Entoam o réquiem.
3 OS FANTASMAS DA PRAÇA

III
Uma praça,
Uma rua...
Pessoas são como cães que vagam
Perdidos na solidão do existir.
O canto do acauã,
O estridente assobio da cigarra...
Formigas trabalhando de sol-a-sol
À espera do inverno que tarda.
Postes desafiam o infinito
Iluminando além da praça
Despovoada de gente
E de calor humano.
Inumanas são as árvores
Sombreando o cálido chão
E acalentando os fantasmas.
4 PAU-DE-ARARA E ARARA NO PAU

IV
Em cima de borrachas infladas
E de tábuas duras quanto a própria sorte,
Reina o sonho e a esperança
Em cálidos rostos tracejados pela dor
De homens que vivem sem norte
Cujo destino se chama Sul.
Pau-de-arara,
Paus-de-araras!
Sua cama, sua vida,
Sua alma enraizada
No cheiro da caatinga,
No ronco do motor!
A minha sorte maior
Foi ter nascido poeta
No ápice da guerra
Do homem com a Natureza.
Só assim
Poderei condecorar
Os heróis anônimos nacionais
Que partiram do seu povo
Desfraldando a bandeira da necessidade
E que perderam sua identidade
Nas rodas do caminhão.
Mas quem devolverá
A vergonha dessa gente
Que partiu do seu povo
Para se exilar no seu próprio país?
5 O MERCADO PERSA

V
Aqui não se vende esperança,
Nem afago, nem aconchego;
Vende-se camisa de casimira
Para se ir à missa aos domingos
Ou pano para tecer mortalhas
Dos que sucumbem ao peso da vida.
Vende-se sandálias macias
Para não machucar o chão
No pisar bruto de pés calejados
Da labuta abrasadora.
Sandálias de pescador,
Casa de mercador...
Dentro, tem de tudo um pouco:
Mel de abelha de urucu,
Rosário de ouricuri,
Mangaba do tabuleiro
E fruta de mandacaru.
Tem também a fome
Dos que se encostam nas paredes
A escutar amargurados
O arrastar pachorrento do tempo
Que vive sem pressa de chegar
E chega sem pressa de passar,
Sem pressa de mudar o destino
Ou a fome de quem já não a sente.
6 MORTE E VIDA SEVERINA

VI
A morte aqui não vinga
Como não vinga a plantação.
Aqui as pessoas nascem
Segurando a alça do caixão.
As lágrimas já não descem
De pétreos olhos humanos,
Pois o cotidiano da morte
Está presente em todos os cantos
E em certos lugares se tornou
Na última esperança que morre.
Mas quem morreu
Sem ter vivido?
Quem jamais ousaria olvidar
Da sorte nefasta do infeliz sertanejo:
Curtido do sol, mergulhado em prantos de amarguras,
Secando no tempo suas mágoas e desventuras...
Enterrando seus mortos no silêncio da dor
E rezando calado para que a morte não tarde.
7 O CAMINHO SEM VOLTA

VII
Mais duro que o pétreo chão,
Mais fatigante que a inclemência solar,
É a dureza dos corações
Na cadência fúnebre da marcha forçada.
Quem devolverá
A vergonha dessa gente
Secadas pelo sol
E o terror inclemente
De enterrar seus mortos
Fazendo mutirão?
E de tanto versejar
Catástrofe e horror
A sua alma sofrida
De miséria calejou...
E o azar,
Mesmo chegando sem dó,
Sempre será
A sua sorte maior.