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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eu era feliz e não sabia




Depois de assistir ao constrangimento de Roberto Carlos cantando e dançando “Ai, se eu te pego!” no seu tão badalado programa, pensei cá com meus botões: “Deus do Céu, a que vexame vestiram o rei!”

Já não bastava o “segura peão!” de outros programas. Nem a Banda Apocalipse. Ou Marília Pera interpretar suas canções. Era preciso chegar ao fundo do mau gosto para provar quem mandava no pedaço. “Que rei sou eu, afinal?” deve ter pensado Roberto Carlos em algum momento de lucidez. Era visível o seu mal estar nos gestos obscenos que a poética da música pedia.

Bebi um gole d’água e pensei: “No segundo bloco ele se safa.” Mas qual o quê?! Simplesmente ridículo seu ensaio no camarim das Empreguetes. Diria a minha mãe: “Sem jeito mandou lembranças!” Ele sorria amarelo, talvez mais surpreso do que eu com a peça que lhe pregaram. O rei do iê-iê-iê, o rei do ritmo, o rei da jovem guarda, o rei da juventude, o rei dos reis, de repente mais um título usurpado de Odair José: o rei das empreguetes.

Triste fim de carreira. Nem mesmo a pirataria de DVD levou fé nesse especial de fim de ano. Sem mais coragem para ver o que vinha pela frente, desliguei a televisão. Não há nada mais constrangedor para um súdito do que ver seu rei com cara de bobo da corte.

“O que é que falta acontecer agora?”, pensei enquanto contava carneirinhos. Não demorei muito para saber.  “Escola de samba homenageará um cavalo”, foi a chamada do noticiário do dia seguinte. Deve ser o cavalo de Tróia, pensei. Engano. É mesmo um presente de grego que a Beija-Flor dará aos seus passistas e simpatizantes. Em vez de samba no pé, trotes e coices. O tema é “Amigo Fiel”, que não é o cão, Jesus Cristo e nem Erasmo Carlos. É o cavalo Manga-larga marchador. Só não sei dizer se o ritmo será em “samba de enredo” ou em “galope de enredo”.

Depois que o Estado tomou conta das favelas cariocas, as escolas de samba andam numa pindaíba só. Meio mundo de bicheiros e traficantes na cadeia, a ordem é “salve-se quem puder!” Das doze escolas do grupo especial, nove receberam ajuda de governos estaduais, paises ou de empresas. Vai se cantar a Alemanha, Coreia do Sul, homem do campo, Revistas de fofocas de famosos, Cuiabá, novelas da Globo e até mesmo o Rock in Rio virou tema de enredo.

Samba de uma nota só é Moraes Moreira cantando “Bestetu” com os Novos Baianos. Besta somos nós. Esse “desconjuro” das escolas de samba cariocas está fazendo Sérgio Porto revolver-se em seu túmulo tentando reescrever seu samba do crioulo doido.

Fui consolado por um amigo que me ligou de Salvador para dizer que estava me enviando um cd com as músicas que iriam “bombar” no carnaval baiano. Coisa boa, nada a ver com a mesmice dos parangos e parangolés. Abri um sorriso de orelha a orelha. Finalmente uma notícia venturosa. Deixei de frequentar o carnaval da minha terra por causa da baixaria musical dos últimos anos. Credita-se a mediocridade musical à axé music, mas um dia parei para observar e vi que não tem nada a ver. A axé music, invenção de Luiz Caldas, foi concebida com ritmo, harmonia e letra dentro dos padrões carnavalescos. Eram melodias trabalhadas, afinadas, dançantes, mas depois que os próprios artistas passaram a controlar as gravadoras e a mídia, se esqueceram do que era a música. Qualquer coisa que fizessem, bastava tocar no rádio, aparecer na tevê, que era sucesso garantido. Foi assim que a bunda da Karla Perez sobreviveu a tantos carnavais.

Finalmente chegamos aos finalmentes. Antes do ano novo recebi o cd de música carnavalesca baiana, tão cantado em prosa e verso. Reuni a família na sala para ouvir o novo ritmo que estava “bobando”, segundo um amigo. Devo confessar que coloquei o cd no aparelho sem a curiosidade de olhar a track-list, e, por causa desse pequeno descuido, os vizinhos chamaram a polícia mal acabara de ouvir a primeira música.

Cito aqui o nome de algumas músicas que estão bombando na minha terra: “Dança do enfia o dedo”, “largar de barriga”, “tchu, tchu, baranga”, “aquecimento do bumbum”, “po... po... popozão”, “as magrinhas que fazem gostoso” e “pegando a tua irmã”.

Fiz planos em passar o carnaval em Salvador, mas, diante desses clássicos musicais, tive que desarrumar minha mala das ilusões, agravado também pela beleza que será o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Pensei alto: “Vou ter que passar o carnaval fora do Brasil. Vou pra Sergipe!”

– Sergipe é no Brasil, mané! – disse minha cara metade, que tem o dom de ler meus pensamentos.

– Então vou pra Aracajú!

MORAL DA HISTÓRIA: Nunca pensei que um dia sentiria saudades de Luiz Caldas no carnaval da Bahia.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Os carnavais do carnaval de Salvador

"Ah, imagina só/que loucura essa mistura/alegria, alegria é o estado que chamamos Bahia/de todos os santos, encantos e axé/sagrado e profano, o baiano é carnaval... ”

Por Edna Lopes

De Carlos Pitta e suas backs


De No Campo Grande, no Trio de Carlos Pitta


De Há carnaval pra todo mundo


De Na pipoca de Moraes Moreira


De Entrevista ao A Tarde


De O retorno triunfal de Moraes Moreira



De Na pipoca de Moraes Moreira


Que me perdoem os “não foliões”, os que acham que carnaval é também o ópio do povo, os “donos da verdade de plantão” e os que se acham no direito que dizer que apenas o seu jeito de "curtir" feriados é o certo, mas, quem como eu vem ao carnaval de Salvador, sente os acordes da guitarra de Armandinho, ouve André Macedo ou Moraes Moreira cantar este hino e não se emociona, não siga a “antiga” ou a “nova” fubica porque já morreu.

Que me perdoem os que não gostam do bom samba que arrasta multidões, do povo cantando a plenos pulmões desde um partido alto a um samba enredo, um samba de roda ou um samba reggae. Impossível ficar impassível diante de alguém que puxa as palmas e canta “... Tu não faz como o passarinho/Que fez o ninho e avoou/Voou, voou, voou, voou/Mas eu fiquei sozinho/Sem teu carinho/Sem teu amor...*

Que me perdoem os que não aprenderam a cantar “... Tenha a fé no azul que tá no frevo/Que azul é a cor da alegria/Um cavalo mambembe sem relevo/No galope de Olinda pra Bahia...” e não arriscam uns passos de frevo. Quem desce as ladeiras do Pelô ao som do impagável “Vassourinhas” ou cantando “Bandeira Branca” e não se sente também em Olinda e no Recife antigo.

Que me perdoem os que nunca viram o tapete branco dos Filhos de Gandhi descendo a Castro Alves, os que nunca viram o Ilê aiê passar, pois não precisaram cantar “Ilê aiê, como você é bonito de se ver...” não viram o Araketu, o Olodum e tantos, tantos outros maravilhosos afoxés e cortejos que enchem meus olhos de cores, o coração e alma de ritmos afros, garantindo o reencontro com a minha ancestralidade.

Que me perdoem os que nunca provaram do prato quente da diversidade do bloco “Mudança do Garcia”... A alma das instituições e comunidades soteropolitanas em estado de pura alegria e bom humor, fazendo troça de situações do cotidiano do povo brasileiro, que verga , mas não quebra.

Que me perdoem os que fazem opção para ver e ouvir o carnaval de um único bloco, da varanda de um camarote ou ainda os que se contentam com o que a mídia seleciona e divulga. Definitivamente, não é o meu tipo de carnaval.

Que me perdoem os que acham que o carnaval de Salvador se faz apenas de axezeiros e pagodeiros, de letras tatibitates que depreciam a mulher, de lobos maus e mal fadadas chapeuzinhos, de beijo na boca em bocas qualquer, de musas fabricadas por canais de TV ou gravadoras, de camarotes para “Vips” que recebem cachês.

Ó, quer saber? Não me perdoe, “Não me pegue não me toque, por favor, não me provoque eu só quero ver o Ilê passar"... e outras - muito outras - cositas más. Os bons carnavais do carnaval de Salvador já deu seus primeiros (e tantos!) acordes! E eu, graças a Deus, ainda estou de férias.

Nos veremos por aí?

sábado, 23 de janeiro de 2010

Aos mestres-salas, porta-bandeiras, pierrôs e colombinas

Carnaval em Salvador

Interrompo minhas férias literárias para escrever aos navegantes foliões que, por uma feliz casualidade ou propositado planejamento, irão passar o carnaval em Salvador, capital dos baianos e das baianas, quer sejam como estreantes, quer sejam como veteranos, mas que ainda não conhecem todos os prazeres momescos atrás, ao lado, ou à frente do trio elétrico. Sabendo se conduzir no meio da multidão, o carnaval baiano é o mais tranqüilo e seguro do mundo.

A folia é dividida em três circuitos: Batatinha, Dodô e Osmar. O circuito Batatinha envolve o Centro Histórico (Praça Castro Alves, Praça Tomé de Sousa - onde fica a parte alta do Elevador Lacerda – até o Largo do Pelourinho); O circuito Osmar é o do Campo Grande e o Dodô do Farol da Barra a Ondina. Para quem não sabe, Batatinha foi um compositor baiano muito ligado a ACM e talvez por isso seja o grande homenageado; Dodô e Osmar foram os inventores do trio elétrico e é mais do que justo terem seus nomes eternizados na folia. Mas já há uma corrente muito forte defendendo a mudança para Ivete Sangalo e Chiclete Com Banana.

O circuito Batatinha é indicado para quem gosta do carnaval das antigas e existem várias opções, do frevo ao reggae, do samba à axé music. A Praça Castro Alves, a partir deste ano, será a desconcentração, o fim de linha dos blocos do circuito Osmar, cujo início se dá no Campo Grande e descem a Avenida Sete de Setembro. Nesse ponto fica o camarote do Olodum, a preços módicos, porém sem nenhuma regalia, a não ser o privilégio de se ver todos os eventos desse circuito que são obrigados a iniciar, passar ou terminar na Praça Castro Alves. Também há barracas de bebidas instaladas mais acima, onde trios elétricos fixos animam os foliões.

Na Praça Tomé de Sousa (topo do Elevador Lacerda) há palco fixo em frente à Prefeitura, com revezamento de atrações individuais e bandas; no Pelourinho, bandinhas de frevo e marchinhas animam o carnaval, circulando do Largo do Pelô (onde fica a Fundação Casa de Jorge Amado) ao Terreiro de Jesus. No ano passado aconteceu uma coisa interessante: Edna e eu brincamos atrás de uma bandinha que tocava um frevo muito gostoso. Depois descobrimos que era um bloco de evangélicos. Na Praça da Sé há palco para o reggae e o samba e também apresentações avulsas, não oficiais. No Terreiro de Jesus há várias barracas de bebidas e petiscos à disposição do folião, mas o preço cobrado no Pelourinho é sempre maior que nos outros lugares. No carnaval passado a latinha de cerveja custava dois reais, enquanto que, ao lado, na Praça da Sé, podia se comprar por um real.

No final da tarde da segunda-feira, no palco montado em frente à Prefeitura, na Praça Tomé de Sousa, acontecem o desfile e concurso de fantasia gay. Para aqueles que saem de casa e deixam o preconceito atrás da porta, é uma boa distração enquanto se descansa os pés e molha a garganta numa loira suada nas inúmeras barracas ao longo da praça. Ainda se tem uma visão privilegiada da Baía de Todos os Santos e a opção de descer o Elevador Lacerda e visitar o Mercado Modelo. Se não quiser enfrentar a fila de subida, que pode levar mais de hora, o ponto de ônibus fica em frente à Capitania dos Portos, cem metros adiante, e, por dois reais, você escolhe descer no Campo Grande, Barra ou Ondina. Ou voltar pra casa ou hotel.

O circuito Osmar é o principal do carnaval. A abertura se dá na quinta-feira, com a entrega simbólica da chave da cidade ao Rei Momo, cerimônia acompanhada pelo trio elétrico de Armandinho (o Dodô e Osmar). De quinta a sábado acontece o carnaval dos chamados blocos alternativos, que estão ficando cada vez mais concorridos, tanto pela acessibilidade financeira quanto pelas atrações. Armandinho, Dudu Nobre, Jorge Aragão, Gerônimo, Lazzo, Beth Carvalho, Ara Ketu, Olodum, Ilê Aiyê, etc., etc., etc. Foi assim no ano passado. Esperamos que este ano seja melhor ainda.

No domingo, às 11 horas, desfila o Apaxe de Itororó, seguido de blocos infantis e de cadeirantes. A partir das 13 horas, começa o carnaval oficial. O primeiro a desfilar é Os Internacionais; depois, Os Corujas, seguido do Camaleão, do Eva, das Muquiranas e tantos outros, capitaneados pelas atrações do “Axé Music “, que não vou citar quem são. Por volta das vinte horas acaba o desfile de blocos de trio e começa o de afoxés e afros, que leva a noite toda.

O desfile consiste em passar pela passarela do Campo Grande, se apresentar em quarenta minutos, e ganhar a Avenida Sete até a Praça Castro Alves. São quatro quilômetros do início ao fim, percorridos em marcha de baiano, em até cinco horas, caso não haja engarrafamento de trios na Avenida.

Enquanto o Rei Momo abre o carnaval na Avenida, no circuito Dodô acontece o chamado carnaval alternativo, onde a nata da axé music se faz presente. Como essas estrelas, de domingo a terça, desfilam no Campo Grande, durante o dia, o carnaval da Barra fica desfalcado de seus ídolos e somente depois das dez horas da noite é que começa a melhorar com a canja de alguns, subindo nos trios alheios ou puxando seus próprios blocos. O início se dá no Farol da Barra e o cortejo segue até Ondina, onde acontece a dispersão. São quatro quilômetros, percorridos entre três a quatro horas.

Na segunda-feira vale a pena sair no Mudança do Garcia, um bloco fundado pela esquerda dos anos setenta, e que continua irreverente e crítico político tal qual seus primeiros anos. Ele sai às 14 horas do início da Rua Leovegildo Filgueira (paralela ao Teatro Castro Alves), fim de linha do Garcia, e se dispersa logo depois de atravessar a passarela do Campo Grande. Não há cordas, nem trio elétrico, nem carro de apoio. Há apenas carroças e bandinhas de frevos, marchinhas e grupos de samba, alguns em mini-trios.

Quem sai em bloco só vê o carnaval do seu bloco. Ou seja: quase nada. O bom é curtir um pouco de tudo, seguir ao sabor dos acontecimentos, parar um pouco em cada canto. Tanto se pode ver o cavaquinho endiabrado de Armandinho, como o frevo de Moraes Moreira na Praça Castro Alves. Ou pegar quarenta minutos de show de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Margareth Menezes em cima de um trio. Mesmo porque, brincar em bloco custa caro e os mais procurados por causa de suas estrelas são os mais enrolados no custo/benefício. Esses cantores e cantoras só se esmeram quando enxergam uma câmera de tevê. Longe delas, enrolam o quanto podem, principalmente os muito famosos. No ano passado eu cronometrei uma delas: em quarenta minutos só cantou duas músicas. O resto foi só falação.

Todo o circuito é coberto por câmeras monitoradas pela polícia, mas mesmo assim evite sair sozinho, transitar por locais ermos e ruas escuras. O lugar mais violento do carnaval é o final do circuito em Ondina, talvez porque os blocos só chegam lá quando é de madrugada e o folião está cansado e com reflexos reduzidos. Não saia com documento original, relógio, talão de cheque, cartão de crédito, telefone celular e divida o dinheiro em vários bolsos, para não chamar a atenção. Se o ladrão roubar um, sempre restará algum. Evite também o empurra-empurra dos blocos, principalmente os que arrastam multidões de foliões pipocas por causa do ritmo pesado, tais quais Chiclete com Banana, Harmonia do Samba e Psirico.

No mais, se você for pra lá e não for sair atrás do Chiclete ou Psirico, há uma grande chance da gente se encontrar.