domingo, 25 de novembro de 2012

POR ENQUANTO SÓ MATARAM O CÃO


Nos anos sessenta e setenta do século passado, o poeta Eduardo Alves da Costa abalou as estruturas da Censura da ditadura com o poema “Caminhando com Maiakovski”, cuja autoria se atribuiu erroneamente ao poeta russo, o que poupou o pescoço do poeta fluminense de ir para a guilhotina. Ou de “suicidar-se” com trinta tiros de fuzil depois de enforcado.

O trecho que trago à baila era refrão obrigatório em todo movimento de protesto contra o regime ditatorial da época e também o poema preferido de dez a cada nove estudantes universitários. Hoje, com o advento da Democracia, achava-se que não seria mais preciso clamar pelo poeta bolchevique, um revolucionário que também se “suicidou” frente a um pelotão de fuzilamento (apesar de a história oficial negar esse fato, mas quem acredita em história oficial de ditadores, ainda mais um carniceiro como Stalin?), mas, aqui nas Alagoas, tudo continua como Dante(s) (Alighieri) no quartel de Abrantes desde quando os alagoanos escolheram um filhote da Ditadura para ser governador.

“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer mais nada.”

Edécio Lopes, o radialista mais ouvido das Alagoas, tinha um programa na Rádio Educativa FM onde mesclava entrevistas com a nossa MPB. Conhecia de cor e salteado a história de cada música que tocava. Um dia, exatamente um ano depois de ser homenageado pela direção da Rádio pelos 50 anos do programa, ele caiu na besteira de entrevistar o prefeito, à época, adversário político do governador. A retaliação veio a jato: o programa saiu do ar e o radialista foi demitido sumariamente. Passou por um processo de fritura, isolamento e angústia, que culminou com sua morte um ano depois. Como prêmio de consolação – ou o famoso “cala-boca” – o Instituto Zumbi dos Palmares deixa os filhos do Edécio Lopes alimentar a vaidade, fazendo um programa semana antes do carnaval.

Depois da demissão do grande radialista - segundo alguns profissionais do Instituto Zumbi dos Palmares, que abriga a rádio e a tevê Educativa - a linha dura foi instalada e vários jornalistas foram perseguidos (só não foram demitidos porque eram concursados, mas tentaram, abrindo os tais “inquéritos administrativos”).

Tempos recentes, o governo, além de ignorar o sindicato dos trabalhadores em educação como entidade de classe, conseguiu na Justiça uma proeza que nem a Ditadura foi capaz de tamanha aberração: a proibição de o referido sindicato fazer greve. Seis anos sem dar aumento aos professores, agora se sente livre, leve e solto para não dar mais nenhum, vez que o direito constitucional do trabalhador foi relegado a segundo plano pela Justiça alagoana, essa mesma Justiça que, de vez em quando, a gente vê nos noticiários nada elogiosos.

Não satisfeito com a truculência autoritária do seu governo, esta semana o governador publicou um decreto destituindo a presidente do Conselho Estadual de Educação e nomeando o secretário da pasta como o presidente. Ora, se os conselhos são considerados órgãos reguladores da sociedade aos órgãos públicos, como um regulado vai regular a si mesmo sem que isso não crie uma situação conflitante?

Além de uma atitude inconstitucional, é antiético e, acima de tudo, IMORAL.  Se a sociedade alagoana se calar, é sinal de que já nos arrancaram a voz da garganta.