O Coronel fora chamado a Brasília para uma reunião extraordinária com o Ministro do Exército. Havia a possibilidade de ele assumir uma diretoria em uma estatal, recompensa pelos mais de trinta anos dedicados ao verde-oliva. Sua dileta esposa arrumou as malas e o acompanhou até o Planalto Central. Enquanto ele tratava de negócios com o Ministro, ela colocaria as fofocas em dia com a amiga virtual Emilly Sepol. Melhor oportunidade não havia para um tête-à-tête.
Na primeira noite do Coronel e a esposa em Brasília, Emilly Sepol saiu mais cedo da universidade onde assinava ponto e passou no hotel para pegar o casal para uma girada pelos bares da cidade, uma das duas coisas interessantes que existem no Distrito Federal. A outra é a passagem de volta.
O Coronel declinou o convite e preferiu ficar no hotel. Estava cansado da viagem e teria um longo dia pela frente, na manhã seguinte. Ademais, não queria beber naquela noite para não falar com o Ministro exalando bafo de leão.
As duas sacerdotisas de Dionísio, embaladas pela emoção do encontro, chaparam todas e mais algumas, sem dar bolas para o azar. Falaram dos filhos, dos maridos, das sogras, dos vizinhos barulhentos e até do mensalão do DEM. Quando a madrugada se anunciava, resolveram voltar para casa, uma mais bêbada do que a outra.
– Laurinha, cuidado que ali na frente tem um baita de um buraco! (hic!) – alertou Emilly Sepol, conhecedora dos mínimos detalhes da rua de Brasília.
– Cuidado o quê!? (hic!) Quem está dirigindo é você!
Caíram na gargalhada. Cantaram “te amo, Brasília” e na última estrofe Emilly Sepol falou:
– Xiiiii! Tou morrendo de vontade de fazer xixi!
– Eu também!
Emilly Sepol diminuiu a velocidade do carro, procurando um local deserto para desafogar a bexiga. Avistou o cemitério. Estacionou atravessado e desceu correndo para regar o terreno dos mortos. Laurinha correu atrás. Era uma questão de vida ou morte. Do jeito que despejaram a bica, haveria uma farra no Além. Puro malte e cachaça mineira. Das boas.
Aliviada a bexiga, uma se lembrou de que não tinha nada para se enxugar. Pegou a calcinha, se enxugou e jogou fora. A outra resolveu tatear no escuro até encontrar a fita de uma coroa de flores e se secou. Depois as duas saíram abraçadas e cantando Cartola, felizes da vida: “... solte o seu som da madeira / eu você e a companheira / à madrugada iremos pra caaaasa / cantandoooo.”
No dia seguinte, antes da conversa com o Ministro do Exército, o Coronel passou na casa da Emilly Sepol,. Chamou o marido a um canto e falou baixinho para que as crianças não ouvissem:
– Meu camarada, nós temos que ficar de olho nessas duas. Andaram aprontando por aí. A Laurinha chegou de madrugada, completamente bêbada, e sem calcinha. Não faz a mínima ideia de onde deixou ou por que tirou.
– Coronel, se foi só isso você teve sorte! – retrucou o marido brasiliense passando a mão na cabeça – A minha mulher também chegou caindo de bêbada e com uma faixa presa na bunda, escrita assim: “saudades eternas”. Sabe-se lá o que essas duas andaram aprontando ontem à noite! Sabe-se, lá, Coronel!