quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Edna Lopes - O crime compensa

Toda estória tem sempre algum vilão
Que no final se dá é bem
Novela de televisão, livro e cinema
O crime é a maior diversão
O crime compensa e recompensa
                           O crime compensa - Léo Jaime

Peço desculpas, meu Filho. Jamais ouvirá de sua mãe e de seu pai que O CRIME COMPENSA, mas 265 deputados federais disseram que sim ao negarem o pedido de cassação da deputada Jaqueline Roriz do DEM do DF, mesmo flagrada recebendo dinheiro do mensalão.

Peço desculpas, meu Filho, por esses 265 representantes do povo (?) afirmarem com sua ação conivente e criminosa que ter um mandato político é ter salvo conduto para a desonestidade, para a bandidagem de colarinho (nesse caso, quem sabe, gola rolê) branco. 

Peço desculpas pela defesa esfarrapada, o argumento pífio para justificar o ato desonesto proferido pelo advogado: "Ato praticado fora do exercício parlamentar não tem poder de configurar um ato atentatório ao decoro e à ética parlamentar”

Disse Rui Barbosa em discurso no senado em 1914: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

Jamais terei vergonha de ser honesta, de lutar pelo que é correto e justo, meu Filho. Não tenha também! Que as palavras do poeta Agostinho Neto encontrem eco no seu coração assim como encontra no meu:

"Não basta que seja pura e justa
a nossa causa.
É necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós."

Ps. Quem dera pudesse escrever só cartas de amor...


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Maurício Melo - A César o que é de César

O folclore político mineiro está repleto de historinhas do genial José Maria Alkmin. Político de longo curso, mais estrada tinha nas tiradas sempre bem humoradas. É dele um lema que constantemente adoto: “Reunião não resolve nada. A gente primeira decide depois se reúne”. No entanto sua frase talvez mais famosa, por conta dos ares filosofais, diz que “não importa os fatos, mas a versão dos fatos”.

Conta-se que um dia Gustavo Capanema teria cobrado de Alkmin a autoria da frase. E ele implacável: “Você pode ter dito lá nas grotas, no interior, mas aqui na capital fui eu quem disse primeiro, o que só confirma a verdade de nossa frase.” Tá explicado.

Esse negócio de autoria é sempre um complicador. Que o diga Gustavo Krause. Denunciado pelo seriíssimo hebdomadário Papa-Figo, do Recife, como proprietário de um certo Bank Krause sediado na Alemanha, o ex-ministro não perdeu a pose. Telefonou para Bione, proprietário, redator e office-boy do tal jornal, para oferecer empréstimos e outras vantagens financeiras. O repórter negou-se a receber qualquer propina do suposto banqueiro. E voltou a denunciá-lo no jornal, como qualquer jornalista probo, impoluto, cônscio de seu ofício.

Gustavo, boêmio assumido, sem nada de banqueiro, tem alma de poeta. Por isso acreditei ser de sua autoria uma frase belíssima. Depois de passar pelo Ministério do Meio Ambiente no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, foi convidado para continuar na equipe de ministros que estava se armando para o segundo mandato do sociólogo. Recusou o convite e provocado por um jornalista foi taxativo em dizer que não gostaria de morar em Brasília, pois “na terra em que o mar não bate, não bate meu coração”. Uma maravilha de frase.

Passei a repetir a frase citando o suposto autor. Tempos depois, ouvindo o primeiro LP de Gilberto Gil, Louvação, lançado em 1967, remasterizado em CD, estava lá uma impecável canção, Beira-Mar, com música de Gil sobre poema de Caetano Veloso, e logo no primeiro verso “na terra em que o mar…”
Engoli em seco. Sem qualquer autorização de Gustavo, creditava a ele um verso de Caetano. Essa minha mania de falar pelos cotovelos criava-me mais uma complicação, enfim.

Esta não foi minha única, nem certamente será a última confusão em creditar autorias. Às vezes confundo autores, digo de um histórias acontecidas com outro, uma confusão danada, um inesgotável repertório de equívocos, mas tudo em nome de uma boa conversa, tudo por conta de confiar numa memória que não é lá tão generosa. Por conta disso, desconfiado de mim mesmo, também escondo algumas descobertas e evito o constrangimento de passar por mentiroso.

Deu-se um fato desses quando, profundamente impactado pela leitura do Romance d’A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, isso lá pelo início da década de 1980. Durante semanas, eu, já um monotemático empedernido, só falava do livro. O sujeito contava de futebol e eu inventava como seria um partida com Quaderna, um outro dizia de política e eu salientava que o pior tinha se dado no sertão de Pernambuco. A obsessão era tanta que até Orlando Tejo perdeu a paciência e me encarou: “Maurício vou pedir ao Ariano para escrever outro romance, pois só assim você muda de assunto.”

Mudei, mas fiquei ruminando calado um erro desgraçado que tinha no livro. Domando meus impulsos, guardei segredo por anos. 

O diabo quando não vem manda o secretário, ensina o povo. Pois bem, o poeta Marcus Accioly fazia uma visita à casa de minha rapariga. Explico. Eu alugava uma sala onde guardava meus livros e dizia ser ali a casa de minha amante, pois somente me dava prazer e grandes baixas na conta bancária, como, aliás, acontece até hoje.

Voltando à visita, Marcus aponta o romance de Ariano e pergunta se eu tinha percebido o erro das mãos postas. Percebera sim.

Tiro o trecho da página 79 da quinta edição: “Em seguida, José Viera pega um filho de dez anos, coloca-o na Pedra dos Sacrifícios e decepa-lhe o braço do primeiro golpe. A vítima, ajoelhando-se, bradava-lhe, de mãos postas: ‘Meu Pai, você não dizia que me queria tanto bem?’”. Essa história do filho, com o braço decepado, rogar de mãos postas incomodava-me e eu não tinha coragem de falar do assunto até que apareceu o poeta, mas logo voltei ao meu silêncio.

O alívio só veio quando li Folk-Lore Pernambucano, de Pereira da Costa. Está lá a crônica de um autor anônimo sobre a Pedra do Reino com o famigerado trecho do braço decepado e das mãos postas.
Agora danou-se, seria Ariano um plagiário? Voltei ao romance. Antes de contar toda a saga, pela voz do narrador Quaderna, o mestre conta que para falar do episódio sangrento recorrera a outros autores, inclusive Pereira da Costa. Ou seja, tudo não passou de uma desatenção deste mau leitor que vos escreve.

Cada dia que passa convenço-me mais ainda que devo voltar urgentemente a reler a Bíblia. Moacyr Scliar dizia que ali que pescou muitas das histórias que contou, mas esta não seria minha motivação. Também não me estimula seus conceitos religiosos. Buscaria no livro o fantástico ensinamento de vida que encerra cada uma de suas páginas.

E também é lá que a gente aprende, enfim, a dar a César o que é de César.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O vento do mar [Ledo Ivo]


De Ledo Ivo - O vento do mar


O VENTO DO MAR - Por Fábio Coutinho 
"Como costuma dizer o jornalista Elio Gaspari, há um grande livro na praça. Pesquisado, selecionado e organizado pelas mãos competentes e caprichosas de Monique Cordeiro Figueiredo Mendes, O VENTO DO MAR reúne as memórias literárias e pessoais de Lêdo Ivo, o poeta, contista, romancista e ensaísta alagoano radicado no Rio de Janeiro desde 1943. A edição, belíssima, é resultado de uma feliz parceria da Contra Capa com a Academia Brasileira de Letras, para a qual Lêdo foi eleito, por unanimidade, em 1986.
Além da primorosa seleção de textos em prosa e verso, a obra expõe um rico acervo iconográfico, refletindo as incontáveis andanças do escritor pelo Brasil e pelo mundo, viajante culto, curioso e incansável que sempre foi. As capas de seus inúmeros livros, traduzidos em vários países e nos mais diversos idiomas, também figuram na edição, permitindo ao leitor percorrer um fascinante itinerário editorial, revelador do interesse alienígena por um dos nomes centrais de nossas letras contemporâneas.
Os perfis de confrades e amigos falecidos são simplesmente irretocáveis, confirmando a sentença irrecorrível de Antonio Candido, que certa feita advertiu que "Lêdo Ivo escreve num dos estilos mais belos e originais que possuímos". A seleta de ensaios (CARTILHA DE PASÁRGADA) sobre a poesia de Manuel Bandeira justificaria um livro à parte, assim como registro especial merece a história de amor vivida pelo poeta com Lêda, companheira de mais de meio século e mãe de seus três filhos, e a respeito de quem o marido eternamente apaixonado declara: "Eu a amei desde o primeiro instante em que a vi."
Há, ainda, uma antologia poética de tirar o chapéu, intitulada OS SINOS DE MACEIÓ, justa e incontida celebração da terra natal do grande vate. Nela, estão presentes o mar e os navios, o vento e as ruas tortas, o farol desaparecido e os caranguejos dos mangues, os morcegos e o mormaço, o porto e as lagunas. E, nas palavras do próprio Lêdo Ivo, "(...) um tesouro que não está escondido nas dunas: a nossa alagoanidade, a nossa maneira de ser e estar, amar e odiar, viver e morrer. E guardamos um segredo, um mistério, um encantamento, uma alegria e uma dor que são nossos, exclusivamente nossos, de quem nasceu em nossas terras moles ou junto às nossas águas. E o nosso emblema é o vento do mar."
Da generosa varanda de seu apartamento carioca da Rua Fernando Ferrari, contemplando a indescritível enseada de Botafogo, o colossal bardo alagoano ainda aspira, décadas após a partida sem volta, o vento do mar de Maceió."

Fabio de Sousa Coutinho, advogado e bibliófilo, é membro titular do PEN Clube do Brasil e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

VENTO DO MAR, O
Formato: Livro
Autor: IVO, LEDO
Organizador: MENDES, MONIQUE CORDEIRO FIGUEIREDO
Editora: CONTRA CAPA
Assunto: BIOGRAFIAS/AUTOBIOGRAFIAS/DIÁRIOS/MEMÓRIAS/CARTAS
ISBN: 8577400964
ISBN-13: 9788577400966
Idioma: Livro em português
Encadernação: Brochura
Dimensão: 22,5 x 16 cm
Peso: 0,930 kg
Edição: 1ª
Ano de Lançamento: 2011
Número de páginas: 312
Preço: 52 reais.