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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Edna Lopes - A quem escreve*



"A poesia se embrenhou nos meus modos viventes.
Não é mais só minha matéria-prima, é minha matéria-imã,
minha matéria-irmã, minha matéria-mãe."
Elisa Lucinda

“Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas
com a lixa do verso.”(...)
Maiakovski

Ao escrever, deixa que a alma diga sua dor, sua alegria, seu amor, seu louvor, sua paixão, sua afeição. É preciso viver cada emoção, mesmo as que não são da tua vida, da ordem do teu dia. É preciso “aprender” ser do lugar do outro, do lugar do prazer ou do sofrer do personagem que escolhes.

Ao escrever, junta ao que escreves o teu baú de lembranças, a asa de anjo e a tesoura de jardineiro. Serão úteis para a construção do mundo da poesia, do sonho, da palavra como afirmação de vida. Lembra-te que és o arquiteto desse universo prenhe de vida.

Ao escrever, escreve na alma. O tempo e as intempéries destruirão o papel ou a madeira, transformarão a pedra em areia e pó, mas o texto que encanta, que emociona o coração e a alma de quem entra em contato com ele, é eterno.

(Edna Lopes in: Poesia viva, poesia vida!)

*Minha homenagem a quem que escreve alegrias no olhar, ternuras na alma e canções de amor nos corações de quem o lê. Meu agradecimento a quem escreve e partilha o pão do conhecimento, da sabedoria. Obrigada!! 


domingo, 18 de março de 2012

Edna Lopes - As calçadas de Maceió

Cada habitante de uma cidade ou de um aglomerado urbano é, em algum momento de seu dia ou de sua vida, um pedestre. Na visão geral de uma cidade, o pedestre assume uma posição importante como meio de locomoção, já que por vários motivos, muitas viagens são feitas a pé. Na integração dos meios de transporte, os deslocamentos a pé são numerosos e sem eles esta integração não seria possível.
A Calçada e o Pedestre
Maria da Penha N. C. Boucinhas (SP 30/10/81 NT 075/81)


Cada vez mais me dou conta que lei nesse país, nesse estado e nessa cidade é feito corda esticada que alguém passa por cima ou passa por baixo ou então, contorna. Para corroborar o que digo, primeiro destaco o CÓDIGO DE POSTURAS DO MUNICÍPIO DE MACEIÓ – Lei nº 3.538, 23 de dezembro de 1985, com 449 artigos que “tem por objetivo definir as normas que disciplinam a vida social urbana e os deveres dos cidadãos em relação à comunidade e a administração pública municipal.”

Segundo, destaco o art.160 do tal código: “ART. 160 - A Prefeitura assegurará, permanentemente, a defesa paisagística e estética da cidade.” E se a prefeitura, cumprisse a lei começaria por notificar os moradores e solicitar que cuidassem de suas calçadas, que colocam em risco quem precisa transitar por elas.

Vejam só o que diz esse recorte de post da jornalista Fátima Almeida da gazetaweb: “Andar nas calçadas de Maceió é tarefa difícil. Irregulares, desniveladas, elas apresentam problemas diversos da falta de planejamento urbano e ganham, pela falta de consciência coletiva, uma série de outros obstáculos, às vezes intransponíveis, provocados pelos proprietários de imóveis, comerciantes e até pelo poder público, que obstruem o passeio público, levando o pedestre, inclusive crianças, idosos e portadores de deficiência, a andarem pelas ruas, numa exposição constante e perigosa aos riscos de acidente.”

Pensei nisso quando li que Maceió foi escolhida uma das orlas mais belas do país e eu sei bem disso quando saio a cada dia para trabalhar e olho o mar azul lindo de doer e digam, se quiserem, que sou “estraga prazer”, mas meu olho também enxerga a “língua” da sujeira do esgoto a céu aberto, o lixo que transborda da encosta em dia de chuva e comerciantes sem escrúpulos “canalizando” água suja pro mar. Dá pra se orgulhar disso?

Com relação às calçadas, para não achar que estou de má vontade, convido-os/as para um pequeno passeio na avenida Gen. Hermes, Cambona, só um trechinho de um ponto de ônibus a outro, não mais que isso. É o percurso que faço para chegar ao trabalho. Há anos que só piora e nunca vi “poder público” nenhum sequer passando por lá. Vejam e saibam que existe uma secretaria de Convívio Urbano, que deve fiscalizar, advertir, punir quem não cumpre a lei. Vejam e imaginem como se sente quem cumpre a lei, que paga seus impostos em dia.

Saibam que uma cidade como Maceió, com quase um milhão de habitantes, não se resume a orla e apesar de morar ouvindo o barulho das ondas na praia sei que quem mora fora dela também paga imposto e merece respeito.


quinta-feira, 1 de março de 2012

Edna Lopes - Mulher: um olhar sobre nosso corpo

A Igreja diz: O corpo é uma culpa.
A Ciência diz: O corpo é uma máquina.
A Publicidade diz: O corpo é um negócio.
O corpo diz: Eu sou uma festa.
                                  Eduardo Galeano

Durante as férias de janeiro agendei os exames periódicos que a medicina recomenda a todas as mulheres.  Colposcopia, mamografia, ultrassonografia das mamas e da pélvis. Não é a experiência mais relaxante que vivemos e seria um ato simples e corriqueiro se, primeiro tivéssemos atendimento público e de qualidade garantido e, segundo, se a relação com nosso corpo fosse outra.

Cansei de ouvir histórias de mulheres que procuram ginecologista, não para a prevenção, mas para buscar a cura de alguma doença, o que na maioria das vezes já é tarde para se fazer qualquer coisa.

Enquanto entrava e saía de várias antessalas e salas, conheci uma simpática senhora de aparentemente 70 anos, entre copos e copos de água, aguardando a vez do ultrassom da pélvis. Ela tremia e se justificava com uma moça bem mais nova, sobrinha, como fiquei sabendo depois, que não havia conseguido fazer a coposcopia e não faria o ultrassom da pélvis, porque não conseguia sequer pensar que alguém pudesse ver e tocar em suas partes íntimas.

Percebi que a mocinha se impacientava, sem convencer a tia e me meti na conversa argumentando que ela poderia fazer os exames tranquila, visto que as médicas que nos atendiam ali eram profissionais experientes, competentes e éticas e estavam acostumadas a lidar com este tipo de situação, que aqueles exames salvava nossas vidas.

Nada. Nenhuma palavra da mocinha ou minha convenceram-na do contrário. “Não gosto de ser assim”, disse. “Fui criada desse jeito e morro de vergonha de me mostrar em qualquer situação, até numa dessas que eu sei não ter nada demais, eu não consigo”.

E lá se foi a senhora sem fazer exame algum. Fiquei pensando no que poderia reverter uma situação daquela e refletindo quantas de nós já não morreram e ainda vão morrer por adiar um exame de prevenção. Educação rigorosa, convicções religiosas e desinformação matam lentamente mulheres que carregam a culpa do “corpo em pecado”.

Noutra ponta, o culto desenfreado ao “corpo perfeito”, exposição sem sentido associada à busca da eterna juventude também tem escravizado e vitimizado muitas de nós. Dia desses me vi estupefata diante da notícia da mãe que presenteou a filha de sete anos com um “vale lipoaspiração”.

 Fiquei pensando em tantas que não conhecem o próprio corpo, que evitam se tocar para não tirar disso algum prazer, que acham pecaminoso, constrangedor se despir diante de uma igual, mesmo que seja por razões de saúde e lamentei que nossa educação tivesse feito tão pouco por elas.
Nosso corpo merece cuidados e atenção, assim como nossa sensibilidade e consciência. Que o bom senso prevaleça. Espero e torço para que as novas gerações de mulheres tão expostas a tanta exploração do corpo, ao culto a eterna beleza juvenil, daqui a alguns anos não evite fazer os exames preventivos para não expor a flacidez dos seios, celulites e estrias, marcas da vida e do tempo para toda mulher.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Edna Lopes - Vai uma exploraçãozinha aí?

Olhando a imensidão do mar, uma das moradas do Deus em que acredito, com o coração pleno de alegria, agradeço ao ano que se inicia. Filho em férias e eu me desvencilhando de uns e outros compromissos firmados ainda no ano que passou, para finalmente entrar em férias, casa lotada com enteados e neto, nora, amigos e parentes que chegam para reencontrá-los.

Não há como não pensar que a vida é uma festa e que devemos celebrá-la todos os dias, agradecer pelas pequenas e grandes alegrias que vivemos. Não há como não aproveitar momentos assim, em família e com amigos, para rever lugares e pessoas especiais. Melhor tempo não há para rever, com outro olhar, espaços da cidade que no nosso cotidiano de trabalho não frequentamos com regularidade.

Maceió é um dos destinos do verão no nordeste. A cidade está lotada, colorida, uma babel de sotaques e falares de vários lugares. Gosto imensamente de estar em espaços que permitam o convívio, as interações com diversas culturas, diversos falares do país e do mundo e aproveito bem esses momentos de receber parentes e amigos para circular pela cidade e por municípios do entorno. Eu revejo, eles conhecem, nós nos divertimos.

Essa é a ideia. Gosto de fazer isso em minha cidade porque é um bom motivo de levá-los a conhecer um pouco dos costumes, da culinária local, um pouco do nosso jeito alagoano de ser, mas por gostar de receber, de sair e fazer as honras da casa às pessoas que nos visitam, tenho me policiado para não me aborrecer com o tratamento dispensado em bares, em restaurantes e até nos quiosques de tapioca, sorvete e água de coco, points que todos querem conhecer e aproveitar no verão. Os preços dobram, o atendimento é péssimo, enfim, a exploração é acintosa.

Pergunto sempre a quem quer ir a uma praia mais badalada: Gosta de muvuca? De vendedor lhe empurrando todo tipo de produto de 02 em 02 minutos? De bares que vão lhe cobrar o dobro por qualquer tipo de prato em tempos normais? Gosta de atravessar um “mar de gente” até chegar à água?

Então vamos...

Desculpem começar o ano destilando indignação, mas gostaria que os comerciantes de todos os ramos aqui da minha terra tratassem com respeito quem lhes garante o sustento, que não quisessem lucrar no mês o que não conseguem o resto do ano.

Desculpem por achar que as belezas naturais, o calor humano, a simpatia e a receptividade de minha gente pudessem minimizar a péssima imagem que fazem de nós pelos índices divulgados de analfabetismo, de violência, de escândalos ligados à corrupção, mas pelo andar da carruagem, muitos sairão daqui achando que conheceram também o paraíso dos exploradores.

Desculpem a chatice assumida. Certamente sabem que explorar o turismo não é o mesmo que explorar o turista, mas não custa relembrar.


sábado, 24 de dezembro de 2011

Edna Lopes - Dos Natais idos e vividos

De Edna Lopes

Natal é todo dia. Basta abrir-se ao outro e à estrela que, acima das mazelas deste mundo, acende a esperança de um futuro melhor. Frei Beto


Era a abertura oficial do Natal da cidade e o Sinteal Em Cantos juntamente com a Camerata Instrumental e as representações de mais sete coros regidos pelo Maestro Gustavo Campos Lima com quase cem coralistas, ocupavam o palco da praça multieventos. Meu olhar buscou a platéia e vi crianças correndo e seus pais atentos, preocupados em acompanhá-los. Lembrei dos natais de minha infância e da linda lapinha da igreja que tanto me encantava e que seria capaz de ficar horas olhando aquela cena que traduzia a simplicidade e a beleza do nascimento de Jesus. Pena que a modernidade tenha subsumido a tradição das lapinhas!

Enquanto entoávamos cânticos tradicionais do Natal, lembrei também do tempo que subia ao palco para dançar o pastoril, dança tradicional das festas natalinas em que se canta e dança em homenagem ao Deus Menino. Por anos fui a borboleta e, de roupinha verde, de asas e antenas prateadas, era uma alegria participar daqueles momentos.O Natal tinha a pureza e a singeleza daqueles cantos que pareciam hinos celestiais.

Morando desde adolescente numa cidade, minha alma de menina da roça sempre se incomodou com esse Natal puramente comercial, vendido a qualquer preço e em qualquer lugar. Lamento porém que, em especial as crianças, vivenciem apenas esse Natal superficial. A cobrança, quase exigência, do presente, a ida tumultuada ao comércio, aos shoppings, lição do consumo desenfreado incentivada pela mídia e absorvida em sua maioria por pais e avós.

Na contramão desse pensamento consumista, graças a Deus, mesmo quando nos nossos Natais só havia motivo para chorar minha família jamais deixou de se reunir para agradecer e celebrar a alegria de sermos uma família.Esse Natal sempre me bastou!

Também este ano, desde o início de dezembro o Sinteal Em Cantos tem cumprido uma agenda de apresentações para saudar o Natal e louvar o Deus Menino em diversos espaços e tenho feito um esforço enorme para cumprir parte dela, mas nem sempre os compromissos de trabalho permitem. Além da atividade que já citei, destaco duas em especial que foi a celebração para as crianças da comunidade do entorno da sede do sindicato e uma apresentação numa casa de saúde e hospital psiquiátrico. Ver aquelas pessoas tão carentes de respeito e dignidade, ver a emoção dos familiares lado a lado, cantando conosco me emocionou demais e agradeci pelo presente que foi participar de momentos assim.

Nesse período em que tantos aproveitam para refletir qual o seu papel na construção de um mundo mais justo quero afirmar meu compromisso com a vida, com o bom e com o belo que essa mesma vida produz e se algum dia tiver que traduzir o espírito desse natal direi que é o natal do agradecimento, da alegria pelas pequenas coisas, da doação.

Em retribuição por tanta alegria, por tantas bênçãos recebidas quero muito agradecer pelo dom da vida, pela saúde e felicidade de todos e de cada um dos meus afetos mais caros. Nestas singelas trovas repetidas por violeiros e trovadores em tantos lugares, meu abraço especial e meu desejo sincero de que sempre tenhamos muito mel para doar! Boas Festas, FELIZ NATAL!


"A defesa é natural;
Cada qual para o que nasce;
Cada qual com a sua classe;
Seus estilos de agradar.

Um nasce para trabalhar;
Outro nasce para brigar;
Outro vive de intrigar;
E outro de negociar.

Outro vive de enganar;
O mundo só presta assim;
É um bom, outro ruim;
E eu não tenho jeito para dar.

Para acabar de completar;
Quem tem o mel, dá o mel;
Quem tem o fel, dá o fel;
Quem nada tem, nada dá."

Boas festas a todos e a cada um que, tão generosamente,
dedicou minutos de suas preciosas vidas a ler o que escrevo.
Que o amor e a esperança transbordem em cada coração!
Obrigada! Edna Lopes

domingo, 18 de dezembro de 2011

Edna Lopes - Cenas de Cinema - Conto em Gotas de Luís Pimentel

De Cenas de Cinema Luís Pimentel

Para quem gosta de contar boas histórias, qualquer motivo é pretexto para contá-las, desde as tiradas de um filósofo de botequim, imagens de meninos que vendem sonhos, impressões de homens comuns que encontram vida no sexo de quem o vende barato, juras ao luar de casais de namorados e até lembranças de infância que jamais nos abandonam.
Para quem sabe contar boas histórias, um olhar, um objeto, um personagem, uma vida, uma cena qualquer a qualquer hora e em qualquer lugar se transforma em arte. E quem há de negar que é pura arte a vida, o sonho, as nossas melhores lembranças de infâncias, nossa visão de mundo?

Para quem gosta de ler e/ou ouvir boas histórias o livrinho (no tamanho) Cenas de Cinema – Conto em Gotas do baiano mais carioca do planeta Brasil, Luís Pimentel, é um livrão (na envergadura) recheado de vários tipos encantadores, em estado de desespero, no melhor da falta de sorte de quem precisa ler um horóscopo ou na pureza das várias histórias de meninos.

Para quem gosta de boas histórias vai gostar muito desse livrinho livrão. As cenas são de vida, mas são também da arte que imita a vida, que imita a arte. Cenas que caberiam num filme, mas são das pequenas grandes tragédias humanas que só um olhar sensível e amorosamente humano, pode captar e traduzir em gotas de bom humor, de esperança, de inconformismo com algumas cenas que somos obrigados a presenciar, viver.

Para quem gosta de escrever, contar, ler, ouvir histórias e ainda esteja no Rio de Janeiro, esse amigo querido lança o seu livrinho livrão cheio de encantadoras histórias no dia 20/12/2011, das 19 ÀS 22h na Livraria do Museu da República, Rua do Catete, 153, Rio de Janeiro.

Para quem gosta de contar, ler e ouvir boas histórias como eu e a turma aqui de casa, o livrinho livrão do querido amigo Luis Pimentel foi/é um lindo presente de Natal que recomendo. Deixo aqui uma das gotas do olhar sensível do autor.

ESQUECIMENTO


Debaixo do chuveiro, a água morna quase quente deslizando pelo corpo coberto de sabão, os olhos vermelhos quase brasa, ela esperava espantar naquele banho todas as manchas que os golpes, as baforadas e o suor dos músculos dele deixaram em suas veias.

Então começou pelos cabelos, disputados, o pescoço recheado de cinza e hematomas, o ventre murcho e exaustivamente palmeado, o sexo ávido, as mãos em concha sobre o sexo em sede, a esponja engordurada de xampu, as lâminas do creme rasgando o sexo, a saudade, a lembrança, a gosma e o sexo em fogo, a herança do sexo agora limpo e novamente sedado, condenado ao esquecimento.

Ao desligar o chuveiro, já tinha em mente o plano quase morte: ligar para ele novamente.

PIMENTEL, Luís. Cenas de Cinema – Conto em gotas, pág. 22 e 23


Sobre o autor

Baiano do sertão de Itiúba, onde nasceu em 1953, Pimentel chegou ao Rio para estudar teatro e acabou se tornando jornalista e escritor. Como jornalista, trabalhou no Pasquim (1976/77), Pasquim21 (2002), na edição brasileira da revista americana de humor MAD, na Rio-Gráfica e Editora e no jornal Última Hora. Foi articulista do jornal carioca O Dia e colunista do virtual Jornal de Copacabana, entre outras colaborações. Com várias dezenas de livros publicados, entre infantis, de humor (Entre Sem Bater: o Humor na Imprensa Brasileira), biografias (Wilson Batista, Luiz Gonzaga), contos (Contos para Ler Ouvindo Música), poesia e ficção, Pimentel coleciona prêmios literários. Entre eles, o Prêmio Cruz e Sousa, por Grande Homem Mais ou Menos, e o Prêmio Jorge de Lima, com as poesias de As Miudezas da Velha. Pimentel também escreveu roteiros para programas humorísticos de TV, como Escolinha do Professor Raymundo e Zorra Total. Seu mais recente trabalho na área editorial é a coordenação da edição de Paixão e Ficção – Contos e Causos de Futebol, do qual participa ainda com um dos textos, ao lado de Aldir Blanc, Armando Nogueira, Mário Filho, Renato Maurício Prado e Zico. No livro Zico, conta como foi o dia em que Ronaldo teve uma convulsão, na Copa da França. A produção tão profícua do escritor não supera em dedicação o amante da MPB. Razão pela qual ele mantém no ar, com dificuldades, mas com vontade, a revista Música Brasileira.



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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Edna Lopes - Rearrumando a vida

o mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda!
Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!!
(Clarice Lispector - Una propuesta de Vida Creativa)

Ontem foi o dia de escutar meu Pássaro da Alma* pois cada vez que se aproxima um final de ano, o cansaço, uma ponta de impaciência se instá-la diante da montoeira de papeis e livros que utilizo em meu trabalho e sinto que preciso de um tempo para arrumar meus armários e gavetas sob pena de não mais conseguir me achar em meio a pilhas de pastas, livros, jornais e revistas.

Uma aventura remexer meu baú de espantos, pois espanto-me sim quando me dou conta do por que guardei e guardo tanta coisa que não tem utilidade imediata nem pra mim nem pra ninguém. Será apenas o hábito de relembrar, de manter um pouco mais a sensação, o prazer e alegria que tal objeto seja lá de que tipo for, me causou? Dr.Freud me socorra!

Remexendo pastas e gavetas vi minha vida, a parte de mim que pesa e pondera, durante todo este ano. Cartões de embarque, prestações de conta das viagens, pautas de reuniões, cópias de relatórios, cópias e mais cópias de leis, de textos sobre os mais diversos assuntos da educação e da cultura, convites e crachás de eventos, cópias de e-mails confirmando reservas de hotel...Tudo isso me deu a noção exata do quanto caminhei, do quanto estou cansada e necessitando mesmo de férias, de priorizar a saúde física.

Desfazendo as pastas e as gavetas, reencontro também a parte de mim que delira. Um desfile de maravilhosas inutilidades afetivas. Canhotos de ingressos de shows e peças teatrais, convites para festas, cartões de restaurantes, letras de música com arranjo para coros, rascunhos de poemas em guardanapos de papel, mapas dos lugares por onde andei, trabalhei, sonhei... Tudo isso me dá a noção exata de que não descuidei de minha alma, de meu coração nem da minha saúde metal. Tudo isso foi e é importante para manter a sanidade, o equilíbrio.

Abrindo empoeiradas caixas e envelopes em pastas e gavetas, reencontrei fotografias, recortes de jornais, livros, poemas, cartas... Em cada um desses objetos, a minha alegria, a alegria das pessoas com quem estive, os amigos e amigas que fiz, as pessoas queridas que reencontrei, os momentos felizes ou tristes que vivi.

Revolvendo pastas e gavetas, não pude deixar de entristecer quando reencontrei objetos e relembrei pessoas que não mais encontrarei nessa dimensão. Não evitei a onda de saudades e fiz uma prece por cada uma delas, embora saiba que essa sensação de vazio permanecerá até quando as feridas na alma cicatrizarem. Sei que jamais as esquecerei.

Desfazendo-me das roupas, sapatos e bolsas, lembrei-me de uma amiga que teve sua cidade, sua casa e sua vida invadida por uma enchente. Disse-me ela: “Eu tão vaidosa, tão cheia de caprichos e cuidados com minha aparência me vi apenas com a roupa do corpo. Mas tive família e amigos para recompor minha vida e vi tantos que estavam sem nada e sem ninguém. Pensei comigo mesma: não tenho o direito de me lamentar, estou viva, tenho meu trabalho, minha família, meus amigos. O que mais uma pessoa pode precisar para ser feliz?”

Então, cada vez que rearrumo meus espaços e separo roupas, calçados, brinquedos, livros penso que muitos precisam daquilo para manter a dignidade e ser feliz e fico feliz em poder ajudar, em poder, de alguma forma, ser útil.

Arrumar armários, gavetas e pastas é também exercício de meditação, de silêncio, de reencontro comigo. Tudo aquilo que passa pelos meus olhos para ser jogado fora ou reorganizado para uso num futuro próximo teve ou tem importância segundo critérios que eu mesma estabeleci. Não dá para guardar tudo e isso talvez seja mais um motivo para a saudade.

Remexer pastas e gavetas me dá um prazer especial pois embora não tenha muito tempo para fazer isso rotineiramente, gosto muito de fazê-lo porque me faz arrumar algumas delas dentro de mim mesma. Assim, relembrei passagens que me deixaram triste, indignada mas também relembrei outras que quase não coube em mim de alegria, de felicidade.

Revolver aspectos da minha vida me faz refletir o quanto viver é maravilhoso justamente por não ser preciso, exato. O inusitado, o inesperado será sempre bem vindo. “Navegar é preciso, viver não e preciso”, lembram?

Arrumar pastas, gavetas e armários tanto me dá um sentido de realidade quanto me faz sonhar com um tempo novinho em folha que vou viver. Então a tristeza pelas perdas, a saudade dos ausentes e as alegrias do caminho se misturam e eu sinto que mais uma vez é tempo de esperança, de viver o que me cabe, de ser muito, muito feliz, sempre!

Arrumar pastas, gavetas e armários me dá a oportunidade de agradecer a todos/as e a cada um/a que esteve e está comigo, o bem que cada um/a na sua inteireza me faz. Obrigada! Namastê!

*"Por isso vale a pena talvez tarde, pela noite, quando o silêncio nos rodeia, escutar o pássaro da alma que mora dentro de nós, no fundo, lá bem no fundo do corpo."

 
Pássaro da Alma: A relação entre a nossa alma e nós mesmos é explicada de forma delicada e poética neste livro. Vale a pena ler!


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Edna Lopes - Quem deve proteger a infância de nossas crianças?

Há situações que vivo em meu ofício de educadora que foge completamente do meu entendimento, da minha compreensão como mãe e cidadã que assumiu e assume uma postura de luta pela garantia e conquista de direitos, com a responsabilidade de quem cumpre o seu dever e nele se pauta para afirmar minhas obrigações como profissional.

Como presidenta de um Conselho de Direitos que é o Conselho de Educação de Maceió, faz parte das minhas responsabilidades responder a consultas sobre os assuntos da educação do município no que concernem às questões que envolvem a legislação e a regulamentação da vida escolar dos estudantes e das escolas.

É comum o conselho ser procurado para orientar procedimentos e encaminhá-los caso seja assunto da nossa jurisdição e competência legal. Pais e mães, diretores de escolas, conselheiros tutelares, professores, jornalistas e quem mais precisar nos consultar são e serão sempre bem vindos no espaço dos conselhos.

Dias atrás recebi uma visita que provocou minha perplexidade. Nada demais, a princípio, apenas mais um pai querendo tirar umas dúvidas e se certificar da legislação sobre a data de corte de acesso ao ensino fundamental (seis anos completados até 31 de Março), pois procurava uma escola para sua filha para o ano de 2012. Acessei uma pasta sobre o assunto e apontei o parecer do Conselho Nacional de Educação, mostrei pareceres anteriores e a farta argumentação pedagógica sobre a decisão do CNE. Afirmei a ele que resoluções e decisões do CNE não têm força de lei, mas são bases para as orientações que os sistemas de ensino encaminham às suas escolas.

O pai relatou que já havia ido a várias escolas (todas da rede privada) e não concordava como posicionamento do CNE e menos ainda com o agrupamento que elas adotavam, pois isso atrasaria sua criança e isso ele não iria permitir; que ia entrar na justiça questionando a orientação do CNE e o modo com que as escolas agrupavam as crianças. Perguntei a idade de sua filha e não consegui esconder minha surpresa: a criança faria (fará) DOIS ANOS em abril de 2012!

Argumentei que a criança ainda era um bebê e que não entendia qual era de fato a sua preocupação e ele me respondeu que sua criança era muito inteligente e evoluída e não aceitava que ela ficasse no grupo de 02 anos, mas queria que já fosse incluída no grupo de 03 anos.

E não adiantou nenhum dos meus argumentos, todos eles fundamentados nos estudos dos mais sérios pesquisadores e na resolução e parecer sobre a questão. O pai se mostrou irredutível! Alegava que se sua filha se “atrasasse” na entrada do fundamental, se atrasaria (pasmem!) para fazer o ENEM daqui a quinze anos!

E mesmo que chamasse sua atenção ao exagero da preocupação (quem pode afirmar qual será a forma de acesso à universidade daqui a quinze anos?), que alertasse para o perigo da escolarização tão cedo, percebi que já havia definido uma posição e que não abriria mão dela.

“O mundo é dos que chegam primeiro. Dos que têm condições de competir”, afirmava. Por várias vezes deixei bem claro que, ainda bem, essa visão de mundo fundamentada no deus mercado, na competição desenfreada por postos de trabalho não era a visão defendida por mim e por muitos (as) educadores (as) que defendiam o direito de infância das crianças.

Fico perplexa também quando procuradores fazem proposições para derrubar o parecer do CNE e quando um juiz, sob força de liminar, defende que crianças assumam responsabilidades sem a maturidade que a etapa exige, pois é isso que vai acontecer por aí.

A lógica do mercado têm prevalecido nas decisões judiciais, mas a pressa por ler, escrever e contar não pode ser o critério determinante para negar o direito da criança de ter infância, de viver cada etapa da vida sem a pressão da competição de ir buscar “um lugar ao sol”.

Para além das polêmicas jurídicas, pedagogicamente, a defesa do direito das crianças a uma infância saudável se confronta com o exagero da escolarização precoce. Infelizmente paira entre nós uma mentalidade estreita e mal informada que acha que a criança só está aprendendo quando está em contato com letras e números e esquece que é através do brincar que a criança atribui sentido e significado a tudo que a rodeia.

Pais e mães mais do que ninguém deveriam e devem querer que a infância dos seus filhos e filhas seja vivida plenamente. Que prevaleça o bom senso! A idade mínima, a data de corte, são critérios talvez mais palpáveis para que não matemos o pouco que ainda resta de infância das nossas crianças, infância essa já tão violentada pela falta de valores éticos, pela falta de limites e pela falta de referência que muitos pais e mães tiveram em suas infâncias.

Depois que o pai foi embora com cara de poucos amigos, mas garantindo que ia ler tudo que lhe indiquei, fiz um pensamento positivo por essa criança, tão bebê, mas já com o peso da responsabilidade de ser mais um rosto nos outdoors das instituições que fazem disso chamariz para novos “clientes”.



domingo, 6 de novembro de 2011

Edna Lopes - E agora, José?

Obrigações de genro é dívida em dobro. Negar algo a sogra é negar duplamente, pois nem a sogra nem a filha (no caso, a esposa) perdoam uma desatenção nesse nível e por isso ele concordou em pedir ao chefe para ser liberado naquela tarde. Tinha que levar sua santa sogrinha ao médico.

Na hora combinada liga para a esposa e pega as duas na porta do prédio, recebendo as coordenadas de onde e como seria a maratona da tarde: consulta, depois laboratório e na volta, farmácia.

No carro, a conversa amena, com rádio ligado baixinho para não incomodar Dona Júlia, a pessoa mais teimosa que ele já havia conhecido. Quando cismava com algo, infernizava tanto a vida da família que acabava ganhando “no grito” qualquer discussão.

Já havia dirigido um tanto quando percebeu algo junto ao pedal do freio: um sapato de mulher!

Culpa é mesmo um sentimento perverso e José Alberto, que não era nenhum santo, gelou! Se a “Federal” visse aquilo ele estava frito e mal pago! Disfarçou um sorriso amarelo, pegou a “prova” de sua culpa e descartou pela janela. Por sorte, mulher e sogra olhavam as vitrines no lado oposto.

Estacionou na porta da clínica. Enquanto a esposa descia, abriu a porta para ajudar a sogra a descer do automóvel.

D. Júlia , desesperada, jurava à filha que não estava doida, que havia calçado os dois pés do sapato quando saíram de casa.


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Edna Lopes - O crime compensa

Toda estória tem sempre algum vilão
Que no final se dá é bem
Novela de televisão, livro e cinema
O crime é a maior diversão
O crime compensa e recompensa
                           O crime compensa - Léo Jaime

Peço desculpas, meu Filho. Jamais ouvirá de sua mãe e de seu pai que O CRIME COMPENSA, mas 265 deputados federais disseram que sim ao negarem o pedido de cassação da deputada Jaqueline Roriz do DEM do DF, mesmo flagrada recebendo dinheiro do mensalão.

Peço desculpas, meu Filho, por esses 265 representantes do povo (?) afirmarem com sua ação conivente e criminosa que ter um mandato político é ter salvo conduto para a desonestidade, para a bandidagem de colarinho (nesse caso, quem sabe, gola rolê) branco. 

Peço desculpas pela defesa esfarrapada, o argumento pífio para justificar o ato desonesto proferido pelo advogado: "Ato praticado fora do exercício parlamentar não tem poder de configurar um ato atentatório ao decoro e à ética parlamentar”

Disse Rui Barbosa em discurso no senado em 1914: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

Jamais terei vergonha de ser honesta, de lutar pelo que é correto e justo, meu Filho. Não tenha também! Que as palavras do poeta Agostinho Neto encontrem eco no seu coração assim como encontra no meu:

"Não basta que seja pura e justa
a nossa causa.
É necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós."

Ps. Quem dera pudesse escrever só cartas de amor...


sábado, 23 de julho de 2011

Edna Lopes - O chão de Graciliano


O chão de Graciliano é também o meu chão, não apenas porque nasci nas terras da Fazenda Serra Grande, no município de Quebrangulo, estado das Alagoas, mas porque é o chão dos meus afetos mais caros, da minha raiz brasileira.

O chão de Graciliano se estende para além das fronteiras do chão em que nasceu o Mestre. É o chão da nordestina adversidade, uma terra castigada por um sol inclemente, mas também abençoada com chuvas que fazem esse mesmo chão que racha, virar um tapete de flores.

O chão de Graciliano é um livro especial e deve ser lido com os cinco sentidos e o li assim. Li com os dedos ansiosos pela próxima página, pela próxima fotografia, pelo próximo relato do autor das palavras. Li com a sensação da traquinagem dos banhos escondidos numa cachoeira do Rio Paraíba.

Li com o ouvido da alma atento às lembranças do canto da acauã, do alvorecer entre cacarejos e mugidos, do bater das asas da garça nos açudes,  entre o entardecer de silêncio e solidão, na vermelhidão da boca da noite.

Li com os olhos encantados e às vezes tristes, pelas imagens tão cruas, tão reais, tão duras, mas ainda assim esperançosas, como a fé que anima os viventes das Alagoas, Fabianos e Sá Vitórias de vida severina, com seus corações de acolher o mundo.

Li com o coração saudoso do cheiro das primeiras gotas de chuva na terra ressequida, do cheiro do café torrado e moído por meu pai, do cheiro de estrume e leite fresco, do tacho de doce de leite e de queijo, no fogão de lenha.

Li com a mesma saudade do gosto desse doce e desse queijo, do vapor do milho cozido e da caneca de leite fresco na beira do curral, guardados como “comidas da alma”, na memória afetiva das lembranças mais caras e saborosas.

O chão de Graciliano é um livro especial não só por tudo que me fez sentir e lembrar, mas também por ter sido presente do autor dos textos, o jornalista e escritor Audálio Dantas, que juntamente com sua esposa e jornalista Vanira Dantas, amigos queridos, estiveram comigo no dia do meu aniversário, no dia de Santo Antonio, em São Paulo.
Vale à pena ler e se encantar com os detalhes desse Chão.

Serviço:
O livro de arte-reportagem, “O Chão de Graciliano”, editado pela Tempo d’Imagem, mostra, em texto de Audálio Dantas e fotografias de Tiago Santana, presidente do iFoto, a região de nascimento e criação literária de Graciliano Ramos.

O livro, com versão em inglês e espanhol, é o resultado de várias viagens ao sertão de Alagoas e Pernambuco, a partir de 2002, quando foi feito o primeiro ensaio fotográfico para a exposição “O Chão de Graciliano”, em 2003 (Sesc Pompéia, em São Paulo), considerada a mais importante até hoje realizada sobre a vida e a obra do escritor. O evento, com projeto e curadoria de Audálio Dantas, marcou a passagem dos 110 anos de nascimento de Graciliano e os 70 anos da publicação de seu primeiro romance, “Caetés”, e percorreu várias cidades, entre as quais Maceió (AL), Fortaleza (CE) e em Recife (PE), na Fundação Joaquim Nabuco, com palestra de abertura de Ariano Suassuna.

Os autores e o Chão

Os autores do livro têm em comum a origem nordestina. O jornalista Audálio Dantas nasceu na pequena cidade de Tanque d’Arca, Alagoas, a poucos quilômetros de Quebrangulo, terra natal de Graciliano. Seu texto, uma reportagem literária, registra o tempo e o espaço do escritor em sua região, o passado e o presente muitas vezes se confundem, pois em muitos aspectos as condições do homem que nela vive permanecem praticamente as mesmas.

Cearense do Crato, o fotógrafo Tiago Santana, cresceu vendo os romeiros que buscavam milagres em Juazeiro, cidade do Padre Cícero, ali perto.

Como a obra de Graciliano, o ensaio fotográfico de Tiago é centrado na figura do homem, tendo a paisagem como mero pano de fundo. Na apresentação do livro, o jornalista (também nordestino) Joel Silveira afirma: “O chão percorrido pelo fotógrafo é o mesmo sobre o qual Graciliano construiu a sua literatura, mas não é a paisagem, a terra quase sempre dura e seca, que Tiago recolhe em sua câmera; o que ele registra é o homem que nela vive, sobrevive ou dela se retira quando de todo perde a esperança – eterno Fabiano”.

O Chão de Graciliano é um projeto da Audálio Dantas Comunicação e Projetos Culturais e da Editora Tempo d’Imagem, com incentivo da Lei Rouanet (...)