sábado, 7 de julho de 2012

Antonio Torres - Amado Jorge


                  Recordo aqui o mestre na arte de fazer amigos, apresentar pessoas umas às outras, de recebê-las em sua bela casa na Rua Alagoinhas, 33, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador da Bahia, e nos seus endereços do Rio de Janeiro e de Paris. Missivista incansável, ele sempre dava um jeito de encontrar tempo para ler e responder as cartas que recebia de todo o mundo, numa disponibilidade impressionante em se tratando de um escritor com dedicação exclusiva ao seu ofício, e ao mesmo tempo figura pública frequentemente envolta em múltiplas solicitações. As mais de cem mil páginas guardadas num acervo isolado na fundação que leva o seu nome, na capital do seu estado natal, comprovam o quanto ele dialogou intensamente por via postal. Não foram poucos os ilustres desconhecidos, promissores ou não, que no início de suas carreiras literárias mereceram dele amáveis palavras de incentivo, a serem guardadas como um troféu pelos destinatários mais discretos, ou divulgadas triunfalmente – pelos mais afoitos. 

O autor destas linhas foi um desses felizardos. E de forma tão surpreendente quanto inesquecível, para um voraz leitor de seus livros, e desde a adolescência, quando um deles lhe caiu às mãos. E que o tinha na conta de uma figura inatingível, já que se tratava do romancista brasileiro mais lido, mais traduzido, mais viajado, mais cortejado, mais popular – sua popularidade jamais fora igualada por qualquer outro escritor brasileiro do seu tempo, ou de antes dele, ainda que a crítica, sobretudo a acadêmica, lhe torcesse o nariz. Portanto, este que agora vos escreve não contava com aquele seu gesto, imprevisível, desprendido, atencioso, melhor dizendo, de uma generosidade inimaginável. 

Eis a história:
                       
Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1972.

Já estava aprontando a mala, para uma rápida viagem a São Paulo. Motivo: o lançamento do meu primeiro livro lá, programado para a inauguração de uma livraria no Largo do Arouche, no centro da cidade.

 O telefone tocou. Ao atendê-lo, reconheci a voz de um amigo paulista, que tinha duas notícias, uma boa e outra ruim.

  Pedi-lhe que começasse pela ruim.

  E ele:

  - Para o seu azar, Jorge Amado vai fazer a noite de autógrafos de Tereza Batista cansada de guerra aqui em São Paulo, hoje, no mesmo horário da sua. Como qualquer lançamento dele dá enchente, o seu pode ficar às moscas.   
                     
    Por essa eu não esperava. A coincidência dos dois lançamentos, no mesmo horário, era mesmo preocupante. Mas, fazer o que, se estava tudo marcado e, àquela hora, não dava mais para propor outra data? 

    - Agora conta a boa...
    - Leia “O Estado de São Paulo” de hoje. 

     Claro que, ao chegar ao aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, corri à livraria para comprar o “Estadão”. E lá estava, na página 10 do primeiro caderno, uma matéria de boníssimo tamanho sobre os dois lançamentos, com as capas dos respectivos livros em destaque, o do baiano universalmente consagrado e o do estreante já devidamente avisado de que se preparasse para ser esmagado pelo peso do nome do seu ilustre conterrâneo. No entanto, ao se encaminhar para o avião, o tal estreante já estava mais otimista, achando que de modo algum aquela seria uma viagem perdida. A julgar pelo espaço que lhe coubera no poderoso “Estadão”, e junto logo de quem, a ganhara por antecipação. Só por isso já se sentia no lucro.                                
                         
       São Paulo, 12 de dezembro de 1972.
       Fim de tarde.

       Chego à livraria alguns minutos antes da hora marcada e me dirijo ao balcão, para me apresentar. Um rapaz me cumprimenta, se desmanchando em mesuras. E logo revela a razão do seu entusiasmo: Jorge Amado acabava de sair dali.

       E aí é que vinha a surpresa. Antes de ir para a livraria onde estaria autografando seu novo romance, dali a pouco, e certamente para uma multidão, Jorge Amado passara naquela outra, na qual comprara o livro do estreante, que deixou com o vendedor, pedindo-lhe para enviá-lo ao hotel em que estava hospedado, devidamente autografado. Como se isso fosse pouco, deixou uma cartinha com simpáticas saudações ao novo autor, e dando-lhe seu endereço e telefone, para que o procurasse, quando fosse à Bahia. Seria isso algo normal no mundo das letras, ou somente em se tratando de um cavalheiro chamado Jorge Amado? A praxe deveria ser outra: o estreante envidar esforços para descobrir como enviar seu livro para o escritor consagrado, escrever para ele para saber se o havia recebido, se tivera tempo de lê-lo, o que achara etc, tentar uma aproximação através de um amigo que tivesse um amigo que por sua vez era amigo... Não era mais ou menos assim a via crucis em busca de reconhecimento, por caminhos mais longos do que no admirável novo mundo-ego inaugurado pela web? Enfim, para o destinatário daquela cartinha escrita de próprio punho em 12 de dezembro de 1972, Jorge Amado parecia haver descido do topo da montanha em que fora colocado pela força da sua obra para dar uma mão a um mocinho sem currículo recém-chegado à planície das letras.

   Ainda ia haver mais.

    Poucos meses depois, o telefone toca, e era ele próprio no outro lado da linha, convidando para dois dedos de prosa em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro. Perguntou se podia convidar também o artista plástico Calazans Neto, seu grande amigo, capista e ilustrador de alguns dos seus livros. Ora, ora, como não? E lá me fui. Para conhecê-lo pessoalmente, assim como à sua mulher, a escritora Zélia Gattai, e o “mestre Calá”, um conviva espirituoso, encantador, cujo senso de humor preenchia o vazio que ficava na sala toda vez que o telefone tocava e dona Zélia se levantava para atendê-lo. O que acontecia a todo instante. Eram ligações dos jornais, das TVs, dos embaixadores dos mais diversos países. Jorge pedia licença, ia e vinha, se desculpava pelas interrupções à conversa. 

    - Eu queria mesmo era ficar conversando contigo. Mas não me deixam. Vá à Bahia. Quem sabe lá dê para a gente conversar?

     Doce ilusão. Baiano, mas vivendo fora do estado desde cedo, finalmente eu iria ser apresentado a praticamente todo o meio literário local - por Jorge Amado! E isso em torno dos comes e bebes de um almoço de domingo, com os cheiros, cores e sabores carregados da sensualidade que impregnavam as suas páginas. 

      – Chegue cedo, para a gente poder conversar. 

     Só que uma equipe da TV argentina chegou antes, para entrevistá-lo. Sua sala de visitas estava completamente tomada por câmaras, cabos, refletores, que o seguiam por quartos, escritório, cozinha, tudo. E a produção pedia-lhe para trocar de roupa, nas mudanças dos sets de gravação. E ele, tendo nas mãos uma camisa estampada, de cores vivas, bem ao gosto de turista norte-americano no Hawai: - Zélia, esta fica bem?

      Isso não foi tudo: a campainha tocava o tempo todo. E lá ia ele para a porta de casa, para ser fotografado, ora por japoneses, ora por turistas paulistas que chegavam aos bandos, enquanto o convidado que atendera ao seu pedido de chegar cedo se perguntava como ele agüentava esse tranco e ainda era capaz de escrever com tanta regularidade.   

      Voltaria a visitá-lo, na Bahia, no Rio, em Paris. Às vezes – raras vezes - com sorte de encontrá-lo sem o desassossego que o acompanhava em toda parte. E não foram poucas as cartas que recebi dele, enviadas de Salvador, Londres, Lisboa, Martinica... Ou seja, pela vida afora ele acompanhava com interesse o destino do escritor estreante que em São Paulo o levara a fazer um desvio de caminho para comprar o seu livro, naquele fim de tarde de 12 de dezembro de 1972.
        
                                      ***
      Agora recordo a iniciação de um leitor à obra de Jorge Amado. Foi através do Mar morto, no qual navegaria em duas noites, para desembarcar ao raiar de um dia com o mesmo arrebatamento com que já havia lido um célebre vate, e ícone do romantismo no Brasil, o também baiano Antônio de Castro Alves. De tão poético, o romance de Jorge Amado parecia uma versão contemporânea, em prosa, da lira flamejante, libertária, daquele que tanto colocou a sua pena a serviço de um mundo mais justo, comprometida com a construção de uma nova ordem social, e com a causa republicana e abolicionista, quanto também arrebatava os corações como o grande poeta do amor e da melancolia do século XIX. (“Por que Castro Alves e Jorge Amado estão ainda por merecer estudos analíticos mais amplos e mais profundos”? – pergunta o escritor e crítico literário Hélio Pólvora, num ensaio intitulado Jorge Amado e o romance do mar. E responde: “Justamente porque expõem sentimentos comuns, ânsias comuns, esperanças disseminadas. E, sobretudo, porque são eloquentes: exprimem logo o essencial sem o recurso ao debate de ideias, dispensam os mistérios do texto. Dizem verdades essenciais – e isso, como ficou bem dito de Máximo Gorki, é uma arte do coração”). Mar morto seria então uma comprovação disso, embora não tenham sido poucos os críticos que o combateram, chegando-se até a acusá-lo de sentimentalismo quase pueril, amontoado de lugares comuns e banalidades que de modo algum poderiam ser elevadas à categoria de poesia. 

        O leitor aqui recordado ainda não lia os críticos. Era um adolescente mais chegado à poesia do que à prosa. Ainda assim já havia lido com interesse um romance de Machado de Assis, outro de Graciliano Ramos, alguns contos de Monteiro Lobato, e de uma série de antologias intitulada Maravilhas do conto (hispano-americano, russo, norte-americano etc). Mar morto o conquistara definitivamente para a prosa de ficção. Ponto para o poder de sedução da humaníssima fala baiana que Jorge Amado tão bem sabia captar para a linguagem escrita, trazendo à literatura brasileira um colorido encantador, até, ou principalmente, para um leitorzinho baiano como o que aqui se rememora, pois, sendo natural do interior do estado e nele ainda vivendo, desconhecia a vida e as lendas do mar, os cenários míticos amadianos, pintados pelo seu viés sincrético, a retratar uma deslumbrante visão utópica de mundo.

           E a descoberta desse mundo fabuloso deveu-se a um professor – de Geografia! -, que chegara, procedente do Rio de Janeiro, para dar aulas no único ginásio da cidade, surpreendendo os seus alunos com seus vastos conhecimentos de serras, mares, rios, lagos, pontos culminantes, continentes, capitais, países. Aos poucos, ele revelaria outros domínios, que abrangiam da Matemática à Literatura. Esse mestre de nome estranho – chamava-se Carloman, por extenso, Carloman Carlos Borges -, fora das salas de aulas empenhava-se em falar de livros e autores jamais falados naquele estabelecimento de ensino, parado no tempo do Romantismo. Para o professor Carloman, compreenderíamos melhor o país em que vivíamos, se lêssemos a literatura brasileira moderna, muito bem representada pelos romancistas do Nordeste, que, com a cearense Rachel de Queiroz, o alagoano Graciliano Ramos, o paraibano José Lins do Rego e o baiano Jorge Amado haviam inaugurado o mais poderoso ciclo literário nacional, no século XX, o do “romance de 30” – ou seja, da década de 1930. – Para começar a gostar da obra de Jorge Amado, leia este – ele disse, ao me emprestar o Mar morto.  Quando se começa a ler Jorge Amado, não se para mais. 

          Estávamos na segunda metade da década de 1950, numa cidade de 50 mil habitantes, luzes verdes, sonhos dourados, e vida cultural limitada. Nosso imaginário era povoado pelos personagens interpretados pelos astros e estrelas de Hollywood, e nós, os rapazes, ora saíamos do cinema andando como um cowboy que acabava de apear do cavalo, ora  iríamos passar horas e horas diante de um espelho, caprichando num pimpão que nos deixasse parecidos com o Elvis Presley. Nos bailes, porém, só sabíamos dançar mesmo era o bolero. Aquele que ousou os primeiros requebros do rock and roll foi aplaudido de pé, como um herói. Ler Jorge Amado significou descobrir um outro heroísmo. 

           Começando o Mar morto em tom de conversa pessoal, íntima, de pé do ouvido, ele seduz o leitor desde a primeira linha - Agora eu quero contar as histórias da beira do cais da Bahia -, e daí por diante leva-o em ondas, deixando-o completamente envolvido pelas dores das labutas dos seus marinheiros, tanto quanto pelo prazer de um texto amoroso, memorável: Vinde ouvir estas histórias e estas canções. Vinde ouvir a história de Guma e Lívia que é a história da vida e do amor no mar. Uma história de aventura e de liberdade, de mitos oriundos de tradições culturais tão próximas e tão desconhecidas daquele leitorzinho interiorano:
                       
                        Estrela matutina. No cais o velho Francisco balança a cabeça. Uma vez, quando fez o que nenhum mestre de saveiro faria, ele viu Iemanjá, a dona do mar. E não é ela quem vai agora de pé no Paquete Voador? Não é ela? É ela, sim. É Iemanjá quem vai ali. E o velho Francisco grita para outros no cais:
                         - Vejam! Vejam! É Janaína.
                         Olharam e viram. Dona Dulce olhou também da janela da escola. Viu uma mulher forte que lutava. A luta era seu milagre. Começava a se realizar. No cais os marítimos viam Iemanjá, a dos cinco nomes. O velho Francisco gritava, era a segunda vez que ele a via.
                           Assim contam na beira do cais. 

       “De todos os mitos que sustentam os romances amadianos e lhes dão a profunda ressonância da fatalidade, nenhum é tão amplamente utilizado quanto o de Iemanjá que empresta a Mar morto a sua estrutura, o seu sopro poético e a sua força dramática. A história de Guma é, em certas ocasiões, tão comovente quanto a de Édipo. O sistema das relações entre os personagens se reproduz graças à presença mediadora do mito afro-brasileiro, o velho esquema da ficção grega que nada mais é, talvez, do que a expressão das relações inerentes a todos os grupos humanos desde sempre”.
Salah, Jacques. O cenário mítico em Mar morto. In: Colóquio Jorge Amado – 70 anos de Mar morto. Salvador: Casa de Palavras, 2008.
                                                           
                       Fim de uma história. Começo de outra. Com a seguinte epígrafe: Buscaba el amanecer/ y el amanecer no era. Foi a primeira vez que este leitor bateu os olhos no nome de Federico Garcia Lorca, que, descoberto via Jorge Amado, um dia iria lhe inspirar o romance Balada da infância perdida.   
                                                     ***

                       Salve, salve, capitão de longo curso:
                       
             Recordo-o em O país do carnaval: “Fica-se vivendo a tragédia de fazer ironias”. Pois não deixa de ser irônico que o mundo acadêmico, que costumava jogá-lo num saco de gatos, para malhá-lo como a um Judas, esteja fazendo uma reavaliação da sua obra. Chega a parecer que agora você “era o herói” (copyright para Chico Buarque), o herói popular ao qual alguns círculos eruditos fazem justiça, ainda que tardia. Seja como for, não custa recordar que essa virada começou em 2010, quando duas venerandas instituições do ensino superior, uma de São Paulo e a outra da Bahia, realizaram um seminário em torno do seu nome, e com auditórios lotados. Agora se descobre que “ainda há terrenos férteis a serem explorados” em sua obra, como a homossexualidade em alguns de seus romances, e “o grande potencial da literatura amadiana para a pesquisa histórica”, conforme avaliação acadêmica feita em recente edição da bela Revista da Biblioteca Mário de Andrade, também de São Paulo. Era agora que você iria se perguntar: “Mudou a universidade brasileira ou mudei eu”? E são tantos os workshops em torno dos seus livros – e da sua vida - pelo país afora, e tantas as homenagens a você around the world, neste seu centenário, que o espaço aqui ficou pequeno para dar conta de tudo, até porque não poderia encerrar estas mal-traçadas linhas sem repassar um recado da Bahia. Nosso conterrâneo Aleilton Fonseca, doutor em Letras e escritor, manda dizer que na sua obra, Jorge, “somos nós que estamos representados, com a nossa cultura mestiça, nossas marcas étnicas e sociais, e os diversos aspectos da nossa formação”. E que ela revela “a nossa experiência particular do mundo”. Assino embaixo. Saudades eternas, 

    Antônio Torres

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Audálio Dantas na Globo News

Se você é daqueles que passou a vida política em brancas nuvens, eis a oportunidade de entender um pouco o que foi a ditadura militar.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Luís Pimentel - O camelo e as alpercatas

O avô parecia um camelo,
com a corcova nas costas
e aquele nariz imenso,
sempre apontando para o sol. 

Madrugava montado nas alpercatas,
acordando as pedras e os tocos da estrada
que lhe diziam bom-dia,
ensinando acordes às cigarras. 

E pelo mato adentro o avô ficava
cochichando com o tempo,
desnudando nuvens e fumaças
que deixavam seu bigode amarelo.

E era sempre noite quando o avô chegava,
fedendo a suor, a cigarro e a queimada,
com seu abraço segredando a melodia
que nenhuma cigarra daquelas imaginava.

domingo, 1 de julho de 2012

Cineas Santos - O décimo degrau


Pode parecer estranho, mas não é força de expressão: realizar a 10ª edição do SALIPI está sendo mais complicado do que foi fazer a primeira. Explica-se: em 2003, tínhamos apenas a vontade e a coragem de ousar. Sem qualquer experiência, sem dinheiro, sem o apoio de grandes grupos empresariais, decidimos dar um passo maior que as pernas. O salão poderia ter morrido no nascedouro sem maiores consequências. Teria sido apenas mais uma das muitas tentativas que não vingaram. Hoje, ninguém mais se lembraria do natimorto.

            O problema é que o SALIPI, para surpresa até dos organizadores, deu certo. O povo do Piauí adonou-se dele, não nos deixando outra opção a não ser continuar. Se o projeto deu certo, qual é o problema? Bem, pra começo de conversa, não podemos continuar oferecendo ao público uma réplica do que se fez na experiência inicial. O público, certamente, quer e merece sempre muito mais. Aí reside o problema: oferecer mais tem custo, e as fontes mantenedoras do Salão continuam as mesmas. Implica dizer: aumentaram as despesas sem o correspondente crescimento das receitas. O SALIPI, sucesso de público e crítica, sempre trabalhou no vermelho. Ao final de cada edição, o velho pesadelo: como pagar as contas? Enquanto estive à frente da Fundação Quixote, muitas vezes tive de tirar os magros caraminguás do próprio bolso para pagar despesas inadiáveis. O prof. Luiz Romero, em mais de uma oportunidade, fez a mesma coisa.

            Nessa altura da conversa, os que torcem contra o SALIPI (e não são poucos) dirão, com um sorrisinho cínico: “Se fosse tão ruim, os donos já teriam desistido”. Esse é o problema: os donos, ou seja, os piauienses que querem o salão vivo. O SALIPI não é propriedade da Fundação Quixote, não é emprego nem “um negócio rentável” para quem o dirige. É um serviço realizado por quem não encara a vida como um simples exercício contábil.

            É escusado afirmar que, sem a ajuda do governo do Estado, da Prefeitura de Teresina e de um punhado de parceiros, o Salão não se realizaria. Mas os que planejam e executam o SALIPI o fazem por amor. Como explicar, por exemplo, o gesto do Dr. Gisleno Feitosa que, durante a realização do evento, abandona sua clínica para dar plantão no SALIPI? Como explicar o desprendimento da professora Jasmine Malta que interrompe o seu doutorado para vir cuidar da molecada? Como explicar a atitude do prof. Kássio Gomes que deixa o seu município de origem – Valença – para assumir a direção da Fundação Quixote? Amor à causa, irmãos. Nada além.

            Por tudo isso e muito mais, só nos resta uma saída: continuar fazendo o Salão do Livro do Piauí, evento que, ao longo de dez anos, já mudou o perfil do leitor piauiense. Decididamente, não podemos desistir. Longa vida ao SALIPI!