sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Comer ou se envenenar? Bem vindo ao agrotóxico ao molho

Não só peixe morre pela boca. Nem Nelson Jobim. O viajante solitário perguntou à caveira recostada na pedra, sob um sol causticante:

- Caveira, quem te mandou?
- Foi a boca, meu senhor!

Pois é. Documentário de Sílvio Tendler coloca à mesa o veneno nosso de cada dia. A cada garfada dada na mesa, um dia a menos na nossa vida. Mas não deixe de comer só por causa disso. Como dizia o poeta, "Que me perdoem os famintos, mas comer é fundamental".

Sílvio Tendler teve a coragem de denunciar; tenha você a coragem de ver e divulgar.







terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cineas Santos - Sanfonas no sertão

Graças ao talento e à competência do Sivuca, o Piauí perdeu um péssimo sanfoneiro: eu. Menino, a exemplo dos outros moleques da minha aldeia, eu tinha um sonho recorrente: ir a São Paulo, ganhar um dinheiro graúdo, comprar uma sanfona vistosa e voltar para o sertão. Por amor à verdade, devo confessar que não era exatamente a música que me atraía. Vogava entre nós a crença de que o caminho mais curto entre um homem e o coração de uma mulher era o toque de uma sanfona. Havia, contudo, um problema a ser resolvido: superar a minha indeclinável vocação para pedra, herança do velho Liberato. Assim, foram-se irmãos, primos, tios, amigos... Alguns voltaram com suas sanfonas escandalosas, ostentando dentes de ouro, anéis de rubi, sapatos bicolores; outros se converteram em notícias tristes. Quanto a mim, fui ficando, ficando... Um dia, o irmão mais velho regressou, trazendo uma Scandalli vermelha, de 120 baixos. Durante alguns meses, judiei do instrumento e o máximo que consegui foi rascunhar um bolero de contagiante tristura. Uma noite, ouvi no rádio, uma entrevista com o Sivuca. Quando lhe perguntaram se tocar daquele jeito era fácil ou difícil, o endiabrado sanfoneiro respondeu: “Ou é fácil ou impossível”. Entendi o recado: desisti de tornar-me sanfoneiro. Não deixei,contudo, de gostar de sanfona.

Mas toda essa arenga é apenas para dizer da minha satisfação por estar contribuindo, ainda que minimamente, para a realização do 1º Festival de Sanfona de São Raimundo Nonato, que acontecerá, entre os dias 25 e 28 de agosto do ano em curso, na sede do município. A iniciativa não poderia ser mais oportuna. Existem na região dezenas de sanfoneiros, alguns muito bons. No município de Dom Inocêncio, por exemplo, de cada dez garotos, nove aprendem a tocar sanfona. O décimo se faz zabumbeiro ou “cobrador de cota”. Entre as atrações que já confirmaram presença no festival, destacam-se: João Cláudio Moreno, Vagner Ribeiro e o Valor de PI, Ivan Silva e Josué Costa. Estamos negociando a vinda do Adelson Viana, um dos mais completos instrumentistas do Brasil. Durante o evento, haverá palestras, oficinas e workshops com as feras do acordeom. Dividido em duas categorias – amador e profissional – o festival tem como principal objetivo propiciar aos jovens sanfoneiros um estímulo para que possam dar continuidade a uma tradição que, a despeito das dificuldades, tem resistido bravamente. 

É louvável, sob todos os aspectos, a iniciativa da Prefeitura de São Raimundo Nonato ao estimular uma atividade que nunca deixou de ser praticada pelos catingueiros da região. Longa vida ao nosso Festival.


Nem tudo foi cordel encantado