sábado, 10 de julho de 2010

O Casamento da Rosinha - Ronaldo Torres








PANIS ET CIRCENSE
S

“É preciso repensar o São João de Sátiro Dias”, assim se expressou o prefeito do arraial do Junco, um pequeno ponto no mapa das carências, a esse escriba que vos fala, numa manhã chuvosa de Alagoinhas, antevéspera do são João.

– Estou gastando trezentos mil reais com a contratação de duas bandas, fora as exigências de contrato.

“Pelo preço, deve ser Chiclete Com Banana”, pensei cá com meus botões. Não era. Tratava-se dessas bandas de forró eletrônico chamadas “oxent-music” que proliferam no Nordeste e ninguém sabe a diferença de uma para outra.

– Trezentos mil... esse dinheiro daria pra construir quantas casas, prefeito?
– Mas é o povo que quer.

O povo quer comida, saúde, escola para os filhos.

– Aqui em Alagoinhas, quando o prefeito Joseildo acabou com a farra dessas bandas e empregou o dinheiro na cidade, o povo reclamou no primeiro ano; no segundo, todo mundo lhe deu razão e ele foi reeleito com mais de setenta por cento dos votos.
– Ah! Mas o povo de lá não pensa assim não.

Quem não conhece, pensa que o arraial do Junco é uma cidade rica, que tem dinheiro sobrando e pode se dar ao luxo de promover mega eventos por pura vaidade. Não. O IDH é um dos mais baixos do Brasil, o desemprego é alto, o que força o êxodo, a Saúde é precária, Educação, idem, Segurança Pública inexiste e a zona rural é desassistida e em alguns povoados o povo bebe água salobra porque a Prefeitura alega falta de verba para consertar as bombas d’água que bombeariam a água dos poços artesianos. Mas, faça-se justiça: o prefeito tem conseguido um grande avanço na melhoria da qualidade de vida da população.

Como não sou afeito a esses agouros que a linda juventude chama de música, torci o nariz para a programação junina que a Prefeitura do arraial do Junco promoveu até as vésperas do São João. Viajei no dia 24, dia do Casamento da Rosinha, uma invenção do meu primo Arizio para tirar o povo do marasmo e que deu certo. A cidade e a roça se mobilizam em torno desse evento e durante todo o dia a diversão é garantida ao som do autêntico forró pé de serra, banda de pífano, bumba-meu-boi e o desfile de bonecos gigantes. A multidão acompanha o cortejo a pé, de carro, de cavalo, de jegue ou de carroça pelos becos e ruas da cidade, parando na Praça central onde acontece o dito “casamento”. Este ano, completou o 31º desfile.

Cheguei ao Junco na certeza de que o povo irradiava felicidade por conta das atrações tão cantadas nos jornais da Bahia, mas o quê! Só ouvi reclamação, principalmente pela ideia um tanto estranha de se contratar banda de reggae para tocar em noite de São João numa cidade em que o povo é genuinamente forrozeiro. Uma das bandas do cachê exorbitante fora rebatizada para “Dejafui”, em referência ao nome “Dejavú”.

A minha leitura é pouca para entender os notáveis da terrinha. Nesse preço, e sem agradar nem a gregos nem a baianos, dou razão ao prefeito quando ele diz que é necessário repensar os festejos juninos principalmente depois que lhe fiz outra pergunta, ainda em Alagoinhas:

– Quanto a Prefeitura destinou para o Casamento da Rosinha?

Ele alargou um sorriso de satisfação, daqueles de quem pratica o grande ato da Suprema Bondade, o realizador de sonhos impossíveis, o patrocinador das grandes causas, cuja falta de ajuda não seria possível se realizar.

– Dei um mil reais pro Casamento da Rosinha.
– !?!?!?


O Piauí é logo ali... - Cineas Santos



De Barra de São Miguel


De Praia do Francês


1994: ainda ressoava no ar o grito dos tetracampeões. Por sorte, à época, ainda não existia vuvuzela, ou melhor, ainda não havia a palavra, quase tão chata quanto o ruído produzido por essas malditas cornetas de plástico. O país voltava à normalidade e já sobrava algum tempo para que se contassem os mortos por acidentes de carro, cachaça, brigas, enfartos, etc. Aproveitando uma semana de férias, resolvi conhecer Alagoas, estado que, segundo Graciliano Ramos, com seu humor rascante, deveria ser transformado num imenso golfo. Por oportuno, vale lembrar: o velho Graça era alagoano.

Vista do alto, Maceió me pareceu um navio encalhado entre o verde dos canaviais e o azul do mar. Mas, mesmo com o cheiro nauseabundo do Collor em cada esquina, a cidade é bela e acolhedora. As praias de Maceió são famosas, uma delas, a do Francês, é o reduto preferido dos turistas europeus. Pois bem: depois de visitar a Barra do São Miguel, onde os índios caetés comeram, perdão, devoraram o bispo Sardinho, resolvi conhecer a mais famosa praia da cidade. Com algum sacrifício, encontrei uma nesguinha de sombra (minha cota de sol já curti toda no sertão do Caracol) sob uma barraquinha de lona. Mal me aboletei, já me apareceu a primeira dupla de violeiros cantando loas às belezas das Alagoas (a rima é intencional). Depois vieram os cegos sanfoneiros, as ciganas, os meninos vendedores de queijo assado na brasa (uma delícia), de amendoim, de água de coco, de picolé, de protetores solar, de bonés, de pipas... E, por toda parte, os gringos, às centenas, vermelhos como camarões, encharcando-se de caipirinha e espichando os olhos no rumo das belas nativas... Aquilo me pareceu a Feira de São Cristóvão, com o mar bramindo por perto. Em pouco tempo, bati em retirada: excesso de barulho para um catingueiro do meu naipe.

Na hora de pegar o carro no estacionamento, uma cena que pagou a viagem. Com enorme desenvoltura, lobrigando entre os automóveis, um garotinho sarará, entanguido, recoberto de sardas, recolhia os caraminguás que os turistas lhe davam e agradecia em todos os idiomas conhecidos, inclusive em aramaico. De repente, um argentino, meio bêbado, deu-lhe una platita novinha. O garoto exibiu o seu melhor sorriso e agradeceu em portunhol: “Gracias, sinhô! Os miró é Romário e Maradona”. A simples menção do nome de são Maradona fez o argentino derreter-se de felicidade. Eu, que a tudo assistira, não me contive e comecei a sorrir. De repente, o garoto virou-se para mim e disparou: “E usted?”. Ainda sorrindo, respondi: Piauí, meu filho! O sararazinho ficou sério, concentrou-se por uns segundos e sapecou: “Já sei: Piauí é ali bem pertinho do México”. Acertou em cheio! Por essas e outras, viajo pouco, mas sou forçado a admitir: viajar é ilustrar-se...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Viagem - Luís Pimentel



De Pau de arara



O rapaz entrou em casa como quem entra no bar. Sentou em uma cadeira e estirou as pernas sobre o tamborete. Pegou a garrafa de cachaça no móvel ao lado da mesa e um copo na bandeja cheia de copos que ficava ao lado da garrafa. Serviu-se e tomou duas doses, uma seguida da outra, depois acendeu um cigarro. A sala estava na penumbra, iluminada apenas pela luz azulada da televisão que o pai assistia. O clarão do palito de fósforo iluminou o rosto do rapaz e o pai observou que ele tinha a barba por fazer.

O pai viu que os sapatos do rapaz estavam sujos, largando tufos de terra sobre o tamborete, mas não reclamou. Apenas perguntou você vai mesmo e ele disse vou.
O pai quis saber se ele estava aborrecido com alguma coisa e ele disse que não. O pai então perguntou por que resolvera partir assim, tão de repente? Ele respondeu que era para não perder a oportunidade, o caminhão alugado pela empresa sairia de manhã bem cedo, levando todos os candidatos ao emprego. Queria aproveitar para não ser obrigado a ir depois, sozinho, ainda tendo que pagar a passagem.

Que tipo de trabalho é esse, meu filho?, o pai quis saber.

O rapaz não respondeu e amarrou a cara. E se serviu de mais uma dose.

O pai insistiu, me diga ao menos onde é. Respondeu que era na capital. A contragosto. O pai perguntou ao filho se já tinha separado todos os documentos, sem esquecer identidade e carteira profissional, e ouviu um muxoxo como resposta: não sou abestalhado, meu pai. O pai disse eu sei, filho, é só uma preocupação.

Está levando algum dinheiro?
Estou. O pouco que tenho.
Precisa de uma ajuda?
De jeito nenhum. Guarde suas economias, para as necessidades.

O pai perguntou se o filho sabia quanto ia ganhar e ele respondeu que não. Sabia ao menos se o ganho seria suficiente para as despesas? Ele respondeu que sim. Derramou mais uma dose de cachaça no copo e o pai disse pare de beber, vá se alimentar. Vá fazer essa barba e tomar um banho. Depois descansar, de manhã cedo precisa estar preparado para encarar a estrada.
Não sou eu quem vai dirigindo, reagiu o rapaz.
Mesmo assim, disse o pai.

O rapaz perguntou pela mãe e o pai respondeu que estava no quarto, onde mais estaria? Melhora nenhuma?, perguntou. Melhora nenhuma, foi a resposta. O pai disse vá se despedir dela, já que você vai sair bem cedo, e o rapaz disse que preferia não se despedir. Disse não quero olhar para a mãe daquele jeito que ela está. O pai disse você é quem sabe e reparou que o filho tinha os olhos molhados. O pai se levantou para desligar a televisão e o filho observou que ele também tinha os olhos molhados.

O pai disse vou dormir e já estava até mesmo de pijama. O rapaz desejou um bom sono. Pode aguardar que mandarei notícias. E não se preocupe com nada. O pai disse me despeço de você amanhã. O rapaz respondeu que ia madrugar.

Não tinha importância. O pai estaria acordado.

Bem cedo estava em pé diante do fogão, preparando café e esquentando na chapa umas bolachas que tirava do saco de papel. O rapaz acabava de colocar as roupas na sacola e penteava o cabelo diante do espelho do banheiro. O pai apontou o corte abaixo do queixo e o filho disse que fora gilete cega. O pai ofereceu uma loção pós-barba. Gosto mais de passar álcool mesmo, disse o rapaz, mas dessa vez sem qualquer impaciência.

Quer ovos quentes, para forrar bem o estômago?, o pai quis saber. O rapaz disse que não era preciso. Aí o pai lembrou que talvez ele não conseguisse comer nada tão cedo e o rapaz disse deixe, pai, que eu me ajeito. O deixe, pai soou de maneira carinhosa. E foi com mais carinho ainda que o pai acabou de esquentar as bolachas.

O pai ficou olhando para o filho, enquanto ele tomava café, acendia o cigarro, entrava e saía do banheiro, conferia as peças de roupas na sacola, olhava para o quarto da mãe, parecia entrar no quarto, se afastava, bebia água do filtro que estava no canto, ao lado do fogão, olhava para o quintal e depois para as paredes, assoviava para o passarinho, coçava a cabeça do cachorro.

O pai ficou olhando para o filho enquanto ele fechava o zíper da sacola, dizia até breve, pai, fique com deus e se afastava.

E assim o homem desconhecido que bateu na porta dois dias depois encontrou o pai. Era um fim de tarde e ele tomava uma cachaça no copo que o filho gostava de usar, olhando ora para a porta por onde o filho saiu e ora para o quarto onde o filho não entrou para se despedir da mãe.

O moço perguntou o senhor é o pai dele? Falou calmamente do acidente com o caminhão, como foi e como não foi, quem teve culpa e quem não teve, que o motorista da carreta é que descia a ladeira dirigindo desembestado, e foi falando tanta coisa que o pai não conseguia mais ouvir nem entender.

Por fim o moço disse como o pai deveria proceder para retirar o corpo, as roupas e os documentos do filho do instituto médico legal de não sei onde. Que outro caminhão da empresa estava à disposição para trazer todos os corpos de volta, mas que o pai tinha que ir até lá tal dia e tal hora, para aproveitar o carreto.

E do jeito que entrou, o moço saiu. Falando sem parar, agora já dizendo coisas como meus sentimentos, isso acontece, é da vida, descansou, deus chamou, era um rapaz tão jovem, tão forte, tão bom e outras falas que o pai já não conseguia ouvir, pois só queria que ele fosse logo embora, para entrar no quarto escuro e abafado da doente e dar de uma vez por todas a notícia que estava para dar há quarenta e oito horas: o nosso filho viajou.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Policarpo Quaresma para jovens - Antônio Torres


“O primeiro contato com um clássico, na infância e na adolescência, não precisa ser com o original. O ideal mesmo é uma adaptação bem feita e atraente”. É o que ensina a escritora Ana Maria Machado em seu livro Como e por que ler os clássicos universais desde cedo, publicado em 2002, pela Objetiva. Trata-se de um guia precioso para a educação literária e sentimental de crianças, jovens, e também de adultos, no qual ficamos sabendo que o Brasil é um país bem servido de adaptações. “A começar pela genialidade de Monteiro Lobato, que instituiu uma via de mão dupla entre o Sítio do Picapau Amarelo e a Grécia Antiga, criando assim uma excelente forma de iniciação infantil a esse universo”, ela nos recorda, acrescentando: “Poucos países tiveram tanta sorte em ter um privilégio destes”. Mas, o que significa exatamente adaptar uma obra clássica? Torná-la mais acessível a um universo de leitores ainda em formação, de qualquer idade, condensando-se a narrativa e, por vezes, se recriando a história em linguagem mais coloquial. Não têm sido poucas as iniciativas editoriais nesse sentido. E bem sucedidas. Basta lembrar uma antiga coleção de bolso da Ediouro, sempre a cargo de grandes nomes das nossas letras, entre eles Carlos Heitor Cony, que para tanto se valeu do seu múltiplo talento de romancista, cronista e autor de livros infanto-juvenis. Haveria, então, a necessidade de se adaptar também alguns clássicos nacionais, mesmo que sua distância no tempo nem de longe possa se comparar aos três mil anos dos mitológicos gregos, ou mesmo aos quatro séculos de um Dom Quixote? Uma resposta afirmativa acaba de ser dada pelo professor Arnaldo Niskier, figura pública na área da educação, membro da ABL, da qual já foi presidente, e autor de livros para crianças. Depois da sua adaptação da história do engenhoso fidalgo da Mancha, e, antes, de O alienista, de Machado de Assis, ele apresenta agora uma edição para jovens de O triste fim de Policarpo Quaresma, o célebre romance de Lima Barreto, pela editora Consultor, com ilustrações de Mário Mendonça.
Ao contrário de uma posposta anterior, visando a levar o livro mais conhecido de Lima Barreto às salas de aula, da Companhia Editora Nacional (Série Lazuli Clássicos), com texto integral, mas com anotações e comentários de Nivaldo Carvalho, o educador Arnaldo Niskier evitou as notas de pé de página, optando por uma adaptação de certos trechos do livro, reescrevendo-os de maneira simplificada, e por uma atualização ortográfica, o que inclui as grafias que caíram em desuso (cousa = coisa, por exemplo). Seja como for, adaptado ou em versão original, O triste fim de Policarpo Quaresma é para ser lido e relido, em qualquer tempo e lugar, e por qualquer tipo de leitor. Ambientado no Rio de Janeiro da virada do século 19 para o 20, e marcado por dois acontecimentos decisivos do país (a abolição da escravatura e a proclamação da República), o romance mais conhecido de Lima Barreto é uma sátira a uma visão romântica da pátria e ao nacionalismo retumbante da Primeira República, sobretudo no governo do marechal Floriano Peixoto. Dividido em três partes, Policarpo Quaresma conta a história de um modesto funcionário público, em diferentes momentos de sua vida. Primeiro: o seu dia-a-dia burocrático. Segundo: sua mudança para a vida no campo, como proprietário rural. Terceiro: seu engajamento como soldado voluntário das tropas de Floriano Peixoto, na luta contra a Revolta da Armada, de 1893, ou seja, bem nos primórdios da República. Cada um desses períodos o leva a uma confrontação de suas idealizações com o país real, até mergulhar, com irônica e trágica lucidez, no desfecho patético de seu destino: A pátria que quisera ter era um mito, era um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, existe. A releitura do Policarpo Quaresma agora, na oportuna adaptação do professor Arnaldo Niskier, traz à lembrança um ensinamento do escritor inglês George Orwell, aqui encaminhado a mestres e alunos: “Aquele que tem o controle do passado, tem o do futuro”.

domingo, 4 de julho de 2010

Crônica da Tragédia Anunciada - Ronaldo Torres

De Dunga e os 11 anões



“Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou!” (Hino Oficial da Seleção Brasileira na era Dunga e os onze anões)

Chegou ao fim, melancolicamente, a Era Dunga, assim como aconteceu com a Era Parreira, Lazzaroni e, antes que acontecesse com o Capitão Coutinho, um militar linha dura a serviço da Ditadura e que só jogava bola quadrada, ele se antecipou e nos deu o título de campeão moral, que deve servir tanto o quanto o de Campeão da Copa das Confederações.

Mas há males que vêm pra bem. Em copa do mundo de futebol o brasileiro se entorpece com as palavras de Galvão Bueno e libera geral, sem dar bola pro azar, desde que o azar não dê bola pra bola a nosso favor. Assim, enquanto todo mundo ficava de olho na televisão procurando novidades da seleção brasileira, alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, o Tinhoso STF, passavam a rasteira na lei do ficha limpa, liberando alguns sacripantas dos rigores da Lei.

Felipe Melo era a crônica da tragédia anunciada e não vi novidade alguma no que ele fez ou deixou de fazer. Ele era aquilo, só sabia fazer aquilo, mas mesmo assim estava lá, ao vivo e a cores, servindo de boi de piranha. Ele não pediu pra ser convocado, não pediu pra jogar, mas a arrogância do técnico Dunga sobrepujou a sapiência e a inteligência do povo varonil do nosso Brasil.

Acreditava que na Copa do Mundo se convocava os melhores jogadores, mas não foi o que se viu. Vários atletas, que no Brasil ficariam no banco de reserva do Íbis de Pernambuco, o pior time do mundo, estavam a posar de heróis nacionais só porque eram artilheiros na Arábia Saudita e Kuzequistão. Kaká foi convocado doente, com a promessa de ficar bom, não ficou e também não perdeu a condição de titular. Enquanto isso, dezenas de jogadores vendendo saúde foram jogadas na sarjeta, com a desculpa de que não tinham experiência na seleção. Culpados? Somos todos nós que sempre damos um voto de confiança e quando a casa cai nos conformamos com o já desgastado bordão: “daqui a quatro anos tem mais”.

Em verdade, em verdade vos digo: quem jogou um futebol chifrin diante de um time chamado Azeibarjão e amarelou com os amarelos da Coréia do Norte, não merece passar das oitavas de final. Seleção que quem faz gol é um lateral, quem arma as jogadas é um beque central, não merece chegar as quartas de final. E chegamos, não por mérito, mas pelo medo estampado na cara da seleção chilena que entrou em campo disposta a não levar goleada. Como todos nós brasileiros, eles também acreditaram em Galvão Bueno.

E o Presidente Lula, do alto de sua importância política, vem nos consolar com palavras sábias de filósofo de botequim: “Dunga acertou mais que errou”. Errado, Senhor Presidente. O objeto de cobiça dos brasileiros é a Taça da FIFA, e não a Copa América; o objetivo dos quatro anos de treinamento é a Copa do Mundo e não a Copa das Confederações. O que adianta nadar, nadar, nadar e morrer afogado na praia? Para que serviu dar cinco a zero em Portugal, em jogo amistoso, e faltar futebol na hora da cobra fumar?

Senhor Presidente, em vez de sair por aí falando besteiras e criando novo título de campeão moral, junte-se à nação futebolística num grito único de protesto:

– Cala a boca, Galvão Bueno!