As
caricaturas de Maomé se transformaram num rastilho de pólvora através do mundo.
Porque
o riso é a face mais subversiva da
humanidade. O único animal que ri é o
único que encara sua mortalidade. Faz sentido.
O homem inventou passado, futuro e descobriu a morte. Vendeu o paraíso
pelas lentilhas do conhecimento, Adão de terno e gravata, o rei nu de Roma, o
rato roeu sua roupa.
Em nome de deuses ele mata e morre, se leva tão a
sério, pobre poeira de estrelas perdido num estúpido dodecaedro entre mil
galáxias indiferentes. Somos o que mesmo? Muçulmanos, cristãos, budistas, nossa
religião é a intolerância. Só o riso nos salva, reduz tudo ao ridículo
necessário, nos livra da importância - é por aqui, ali ou sei lá onde, tem algum
lugar sempre melhor do que onde estamos.
O paraíso perdido?
Celebremos Dionísio, carpediemos porque amanhã não
existe, ontem foi ilusão e não somos o animal mais perfeito da criação.
O riso nos redime, o bobo da corte salva o rei, diz
a verdade escondida, olha de frente o dragão e ele é drag queen. A princesa tem
calos, pé chato e chulé. O rei é Momo, é Baco, viva a uva que Ivo nem viu
porque estava ocupado ouvindo a vovó. Como nossos pais.
Viva o jogral, o andarilho, o que não tem
compromisso com verdades, o alegre destruidor de mitos, o iconoclasta. O que
nunca matará por uma ilusão.
Abaixo as damas, os reis, os valetes e os paus.
Abaixo as copas (exceto de árvores) os ouros e as espadas.
E viva o coringa que não tem morada fixa, castelo
ou religião.
Na mesma máscara negra, hoje é carnaval.