sábado, 24 de abril de 2010

Abre Alas para a Poesia do Pós Marginal

Hoje o blog abre alas para a poesia dos amigos Salgado Maranhão e Tanussi Cardoso, na belíssima entrevista de ontem à noite na Globo News. Abaixo, texto de apresentação no site da Globo News:

“Salgado Maranhão e Tanussi Cardoso surgiram no final dos anos 70, mas logo se destacaram de outros poetas da chamada “geração marginal”, ao mesclarem a linguagem coloquial tão comum à época com elementos da rica tradição poética brasileira.

Salgado está lançando sua obra completa com o livro "A cor da palavra" e Tanussi reúne na coleção "50 poemas escolhidos pelo autor", alguns de seus melhores textos. Os dois são os entrevistados do Espaço Aberto Literatura desta semana.”






quinta-feira, 22 de abril de 2010

Entre os deuses, o mais nobre - Cláudio Canuto

“Eu odeio todos os deuses;
eles são meus subordinados e
deles sofro um tratamento iníquo”.

Ésquilo, em Prometeu Acorrentado.

Por Cláudio Canuto


De Prometeu Acorrentado



Cada cultura, cada povo e cada época abraçam o deus que lhes convêm. Dificilmente encontra uma resposta efetiva. O nosso Deus católico é considerado onipresente, isto é, assim, como está em todos os lugares, paradoxalmente não está em lugar nenhum. Conscientemente não se conhece nenhuma intervenção divina sobre a maneira como devemos nos comportar e seus mandamentos são sucessivamente violados sem que ele tome qualquer providência, e o livre arbítrio é apenas uma justificativa para o fato de que ele nos deixou entregues ao nosso próprio destino.

Falsos profetas abundavam em uma época em que o Messias era esperado com fervor. Quando os autoproclamados filhos de Deus não tinham uma retórica convincente ou de alguma forma não convenciam a população da sinceridade de seus propósitos e da legitimidade de seus poderes que os vinculava ao Deus-Pai, eram impiedosamente apedrejados. Jesus Cristo, não. Agrupou um monte de aliados e enfrentou com galhardia toda a opressão do Império Romano, até finalmente ser esmagado, tendo o mesmo destino dos falsos profetas de outrora: humilhado, arrastado pelas ruas a chicotadas e finalmente sofrendo o doloroso martírio da cruz, onde supostamente questionara se seu próprio pai o abandonara.

Cristo levantou problemas superiores à sua capacidade de resolução. Foi um revolucionário que com um exército de maltrapilhos e movido praticamente apenas por uma retórica exemplar, ousou enfrentar um Império impiedoso, politeísta e antropomórfico. Ironicamente, este Império fundou uma concepção religiosa baseada nos princípios daquele que humilhara. O Imperador Augusto, deus dos deuses, inicia enfim o período cristão, iniciando o monoteísmo apostólico.

Cristo é considerado pelos católicos como a única intervenção direta de Deus na Terra, se acreditamos que os argumentos em que se fundamentava eram realmente emanados de uma orientação celestial.

Depois disto, parece que o Celestial esqueceu-se – ou desapontou-se – com aquilo que havia criado e não mais atendeu a nenhuma solicitação a Ele direcionada, quer do ponto de vista coletivo, quer do ponto de vista individual. O mundo passou a ser organizado segundo os mais torpes defeitos humanos: ambição, inveja, luxúria, pedofilia, assassinatos, adultério, roubos, individualismo, desrespeito ao próximo etc., onde os 10 Mandamentos são sistematicamente violados, humilhados e desconsiderados.

Canalhas vão às missas freqüentemente, perdem perdão por seus pecados intencionais e voltam a pecar sem desfaçatez. O cristianismo é uma concepção religiosa alicerçada no martírio do seu principal porta-voz, é erigida na culpa da atitude pecaminosa original, onde todos devem pagar, expiando seus pecados.

Hoje, dividida internamente, dilacerada em grupelhos, alguns com atividades claramente criminosas, usando o nome divino em vão, abusando da irresistível vocação ao transcendental inerente aos homens para enriquecimento individual, o catolicismo experimenta um declínio ascendente que o atual Papa Bento XVI só faz acentuar, distanciando a fé da realidade cotidiana, exigindo dos católicos um comportamento religioso absolutamente incompatível com a realidade das ruas, pois ele exige praticamente um retorno ao período mais sombrio da igreja.

Deus, manifesto pelo comportamento dos seus representantes eclesiásticos, foi por eles transfigurado. Talvez por desencanto, afastou-se deixando-nos abandonados ao comportamento selvagem e hostil do mundo dos negócios, do modo capitalista de produção. É um fenômeno que merece explicação: um grupo restrito de pessoas diz-se seu representante e uma multidão sem fim acredita sem restrições. Assim, esta dissociação indisfarçável entre a prática religiosa e os preceitos papais. Por isso, talvez, o abandono: os carneiros entregues à sanha dos lobos.

Bem este artigo seria para falar sobre Prometeu, a quem considero, dentre a mitologia (inclusive a cristã), o mais nobre dos deuses, o único que teve de fato uma preocupação com a frágil condição humana e por ela sofreu os mais horríveis martírios. Percebendo a obscuridade em que vivíamos e cônscio de seus poderes e de sua condição divina, voltou-se para os mortais. Éramos trevas, escuridão. Prometeu, em um inédito gesto de humildade, nos trouxe o fogo, a claridade, a luz. Por conta desta piedade para com os mortais, os outros deuses, impiedosos, amarraram-no a um precipício, condenando-o a ter seu fígado – que crescia incessantemente - comido por uma águia.

Porém isso é um outro assunto, mas só Deus sabe para quando.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Antonio Torres no Pajuçara Especial


Por ocasião da II Bienal do Livro de Maceió, em 2005, o escritor Antonio Torres deu uma das suas mais brilhantes entrevistas ao jornalista Ricardo Mota, no extinto programa Pajuçara Especial, da Tevê Pajuçara, à época, afiliada do SBT (hoje faz parte da Rede Record).

Em um bate-papo descontraído, entrevistador e entrevistado pareciam conversar à mesa de um boteco, falando de passado, de política, literatura e outros temas, sem cair na mesmice. A entrevista comove sem ser piegas.

São aproximadamente cinquenta minutos divididos em 5 partes, porque o Youtube só hospeda, no máximo, dez minutos de vídeo. Esta entrevista foi exibida quatro vezes, a pedido dos telespectadores alagoanos. Em conversa com Ricardo Mota, ele me disse:

- Tom, em quinze anos de programa nunca vi caso igual. São centenas de telefonemas, e-mails e cartas, pedindo pra reprisar.

Eis então que vos apresento essa antológica entrevista.









domingo, 18 de abril de 2010

Rubem Fonseca aos 80 - Antonio Torres



Do livro de crônicas "Sobre Pessoas", do escritor Antonio Torres


De Rubem Fonseca 1



Meninos, consegui realizar uma proeza, certamente almejada por muitos de vocês: entrevistar Rubem Fonseca. Foi uma entrevista-relâmpago, é verdade. E o pior, digo, o melhor, é que demos muitas risadas e acabei esquecendo o que era mesmo que eu queria lhe perguntar. Coisas assim: "Sabeis vós que sois o escritor que mais influência exerce sobre os jovens que estão se iniciando na literatura? Isso vos causa algum incômodo ou é um presente para os vossos oitenta anos? Tendes algum conselho para a rapeize? Como vedes o mundo, depois da queda do Muro de Berlim, o que aliás presenciastes, in loco?"

Não dá para ser pomposo, ou grave, ou pedante com o Rubem Nosso Bem, como o chamamos aqui em casa. Ele não faz o gênero sabichão, sempre a tirar da cartola uma declaração prêt-à-porter, que vá influir nos destinos da humanidade. Quem quiser saber qual é a sua visão desse nosso tempo que leia os seus livros e pronto. A mim, o que mais impressiona em Rubem Fonseca é a poda que ele faz na "última flor do Lácio," extirpando-lhe os caules vocabulares de seus barrocos galhos lusitanos que impregnaram a retórica dos escribas-comendadores. Mas, se um dia me pedirem para apontar apenas uma de suas virtudes, diria, na bucha: "É um homem que sabe rir." Quando lhe perguntei como estava se sentindo ao fazer 80 anos, ele respondeu, ágil como sempre foi: "O segredo é não ligar para isso. Dane-se a idade. Veja o exemplo do Oscar Niemeyer, que já passou dos 90, e está aí, inteirão." Ele também.

Só o vi fora de forma uma vez. Foi em Santiago de Cuba, quando participamos do júri do Prêmio Casa de las Américas, em 1983. Zé Rubem apareceu à mesa do café da manhã de farol baixo, e cheio de olheiras. "Que aconteceu, homem?"

Então soubemos. Um casal, em sua noite de núpcias, hospedara-se numa cabana parede a parede com a dele, fazendo-o perder o sono.

Imaginem o constrangimento de quem teve que ouvir, pela madrugada afora, uma nubente a uivar, sem surdina: "No, no, papito... Si, si, papito... No, no, papito..."

Ele contou isso transformando o seu drama em comédia. Impagável Rubem Fonseca: saúde, sucesso e... risadas! Rir não é o melhor remédio?