sábado, 20 de abril de 2013

Luís Pimentel - No centenário de Cyro Monteiro



     Ele estaria fazendo cem anos redondinhos em maio (dia 28) de 2013. O grande cantor que nos deixou há quarenta anos (também redondos, em 13 de julho de 1973), jamais deixou de ser lembrado: por quem o viu cantar, por muitos que só conheceram sua voz bem depois, das gravações, e também pelos jovens intérpretes de samba – os que perseguem a linhagem nobre dos belos intérpretes, onde Cyro  (aqui no traço de Amorim) pontificou depois seguido por nomes como Roberto Silva, Roberto Ribeiro, Walter Alfaiate, Emílio Santiago e tantos outros bons canários da terra.

     O Formigão – apelido que ganhou dos amigos e que carregou pela vida inteira – virou cantor por influência de um tio, o maestro Nonô, e o primeiro sucesso pipocou em 1938, quando gravou Se acaso você chegasse (que ele chamava de “meu hino nacional”), criação imortal de um compositor gaúcho também iniciante chamado Lupicínio Rodrigues.  A voz suave e encorpada, cheia de ginga, bailando na síncope musical, caiu feito uma luva para os compositores de sambas. Daí em diante vieram gravações espetaculares de obras de Roberto Martins, Mário Rossi, Ary Monteiro, Wilson Batista e Cyro Monteiro conquistou definitivamente o Brasil em 1942, com a gravação do samba Falsa baiana , do mangueirense Geraldo Pereira, compositor de quem veio a gravar depois inúmeros sucessos, sendo o maior deles o malandríssimo Escurinho.

     Flamenguista dos mais apaixonados, Cyro Monteiro tinha o hábito de presentear com uma camisetinha do clube do coração cada filho de amigo que nascia. E sentia prazer especial no gesto quando o pai torcia por outro time do Rio de Janeiro, como foi o caso do compositor Chico Buarque. Torcedor do Fluminense, Chico foi presenteado com o manto sagrado do Mengão quando nasceu sua primeira filha e devolveu o mimo a Ciro com um samba lindo, chamado Receita para virar casaca de neném (“Amigo Ciro/Muito te admiro/Meu chapéu te tiro/Muito humildemente. Minha petiza/Agradece a camisa/Que lhe deste à guisa/De gentil presente/Mas, caro nego/Um pano rubro-negro/É presente de grego/Não de um bom irmão...”).
      Boêmio de boa estirpe e carioca em tempo integral, Cyro gravou obras-primas como Beija-me (Roberto Martins e Mário Rossi, 1943), Botões de laranjeira (Pedro Caetano), Meu pandeiro (Luiz Gonzaga e Ary Monteiro), Rosa Morena (Dorival Caymmi), O amor e a rosa (Pernambuco e Antonio Maria), A mesma rosa amarela (Capiba e Carlos Pena Filho), Emília (Wilson Batista e Haroldo Lobo), Filosofia (Noel Rosa), Izaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti), Jura (Sinhô) e Rugas (Nelson Cavaquinho, Augusto Garcez e Ary Monteiro.

     Como escreveu um dia Vinicius de Moraes, Cyro, homem de muitas e boas camaradagens, tinha “a vocação da amizade”. Por isso vive até hoje na memória de seus amigos; inclusive daqueles (que nem eu) que nem sequer o conheceram.