sexta-feira, 10 de junho de 2011

Mesmo com fama não deita na cama

Fotos de tanquedarca

Por volta de meio-dia de ontem passava eu em frente à Secretaria de Educação do Estado e, na calçada do estacionamento, duas senhoras esperavam alguém. Ao me aproximar das duas, vi um crachá pendurado no pescoço identificando o município de origem. Certamente eram professoras que participavam dalgum evento na Secretaria, pensei. Parei e puxei conversa:

– Com licença, moças... Vocês são de Tanque d’Arca?
– Somos – responderam olhando para o crachá, como a indagar: não sabe ler não?
– Você também é de lá? – perguntou uma delas que não sei identificar aqui qual das duas. Nem seus nomes perguntei. Como vivente do interior que fui, sei que o povo desses lugares é tímido e muito desconfiado, principalmente as mulheres.
– Não. É que tenho um amigo que é de lá e estou planejando levar um povo, também amigo dele, pra conhecer a cidade e gostaria de saber alguns detalhes do itinerário. O nome do conterrâneo de vocês que conheço é Audálio Dantas. Vocês já ouviram falar dele, né?

As duas perscrutaram a memória e a mais velha respondeu:

– Audálio, Audálio, Audálio... Nunca ouvi falar.
– Ele é jornalista, escritor, e nos tempos de chumbo enfrentou as baionetas com o brado do sindicato dos jornalistas.
– E ele mora em Tanque d’Arca?
– Não. Desde os anos sessenta que ele mora em São Paulo.
– Conhecemos não. – reafirmou a mais nova – Pra falar a verdade não conheço ninguém com esse sobrenome, muito menos com esse nome.

Infelizmente há um descaso injustificável da administração pública dos municípios interioranos no tocante às personalidades da terra que honram ou honraram o seu povo. Alguns políticos parecem temer que o brilho de alguns ofusque suas realizações.

Perto de Tanque d’Arca, Palmeira dos Índios e Quebrangulo, o Mestre Graça é um famoso desconhecido da população. Em Quebrangulo poucos são os que conhecem e a metade desse pouco chegou a ler algum livro do conterrâneo famoso. Já em Palmeira dos Índios somente agora, com a chegada da escola técnica federal, é que se começa a se discutir a importância de Graciliano para o lugar.

Em Feira de Santana, às portas da capital baiana, o grande poeta Eurico Boaventura viveu e morreu no anonimato e foi preciso a UEFS resgatar a sua história e o colocar no pedestal dos grandes intelectuais baianos, dois anos atrás, no advento do seu centenário. Até então ele não passava de um ilustre desconhecido.

Porto Calvo, Norte de Alagoas, palco histórico da guerra contra os holandeses e tão cantado em versos e prosas da dramaturgia brasileira, tem um personagem emblemático na discussão acadêmica do patriotismo, porém é de total desconhecimento da população local. Duas amigas retornavam de Recife e, ao passarem pela cidade, uma se lembrou de certo episódio dessa guerra:

– Não foi aqui que Calabar foi enforcado?
– Foi.
– Vamos visitar o local? Talvez haja algum memorial ou museu.

Na praça, pararam próximo a uns senhores que pareciam matar o tempo jogando conversa fora. 

– Por favor, senhores, alguém pode nos dizer onde é que fica o local em que Calabar foi enforcado?

Os nativos fizeram uma cara de surpresa. Entreolharam-se e o que parecia mais esperto dirigiu-se ao carro onde as duas permaneciam:

– Moça, a senhora tem certeza de que esse Calabar foi enforcado aqui?! Não estamos sabendo de nenhum enforcamento não. Que dia foi? Foi esta semana?

Para honra e glória do Brasil, há exceções nesse desconhecimento coletivo interiorano. Poucas, mas há. O arraial do Junco é uma delas. Segundo o último Censo do IBGE, o município tem uma população que passa dos dezoito mil habitantes, porém a população itinerante, os nômades do lugar, ultrapassa, com folga, os vinte mil. Como os que saem adquirem uma visão diferenciada, terminam influenciando os que ficam. É por isso que o escritor Antonio Torres é conhecido nos quatro cantos de sua terra e um grande movimento cultural fervilha em torno do seu nome. Não há uma só pessoa que não diga sentir orgulho de Totinha de Irineu, nome de infância que carrega até hoje junto aos mais velhos. Ao completar 70 anos, em 2010, o escritor foi homenageado pelo prefeito, pela Câmara de Vereadores, e por alunos e professores da rede pública, além de outros alunos e professores das cidades circunvizinhas que compareceram à festa. A visita dos alunos à biblioteca pública, cujo patrono é Antonio Torres, é obrigatória, como também é obrigatório se conhecer a biografia e a obra do autor. 

Mas voltemos ao episódio de ontem, pois Tanque d’Arca é logo ali, a 95 Km da capital, segundo me informaram as tanquenses. Talvez um dia faça parte da Região Metropolitana de Maceió. Com pouco mais de 6 mil habitantes, deve ser duro para o administrador municipal e operadores da Cultura local propagar no município o nome daqueles que levam a cidade a ser conhecida além de suas fronteiras. Essa omissão, maliciosa ou não, cria a falsa ilusão na gente comum ao discernir entre heróis e espertalhões. 

Ao longo da conversa fiquei sabendo que as duas senhoras participavam de um evento ligado à segurança alimentar. Podiam ser merendeiras, nutricionistas, integrantes do conselho escolar ou simplesmente secretárias dalguma coisa ou ser tudo ao mesmo tempo. 

– No jornal Gazeta de Alagoas de ontem saiu uma matéria falando de Tanque d’Arca e do Audálio. – comentei a título de deixá-las orgulhosas. E deixei.
– Sério?! – perguntou a mais velha, que parecia ser alguém importante na cidade, talvez a primeira-dama ou alguém muito ligada a ela. Em algumas cidades o topo da pirâmide social é assim: em cima, a mulher do prefeito; embaixo, o prefeito e o delegado; mais embaixo, o motorista de ônibus, o cobrador e o padre.
– Então esse Audálio é importante mesmo. Vou ver se encontro esse jornal. – concluiu a mais nova.
– Se não achar, procurem no Google o blog Onde Canta a Acauã que também foi publicado lá.
– Ah! Tá certo! Mas me diga uma coisa: você conhece o nosso prefeito?
– Não.
– Mas como não?! Você conhece esse Audálio que ninguém conhece e não conhece nosso prefeito que é o melhor prefeito do mundo?! Isso é um absurdo! 

Diante de tão sincera indignação, recolhi-me à minha insignificância, peguei meu boné e pedi licença pra me retirar. Realmente: como eu poderia conhecer o Audálio Dantas e não conhecer o prefeito da cidade, o melhor do mundo? Simplesmente um grande ato falho, um absurdo dos absurdos. 

Antes de dobrar a esquina olhei para trás e tive a certeza de haver tirado duas pessoas das trevas medievais.




quinta-feira, 9 de junho de 2011

Joaldo Cavalcante* - O Chão de Audálio Dantas

De 4ª Bienal do Livro de Alagoas

– Você está sabendo que Tanque d’Arca vai aparecer na mídia nacional?
– É mesmo? Já não era sem tempo. Finalmente vão fazer justiça àquele pedaço de chão.

A reação bem-humorada é do jornalista Audálio Dantas, ao ser informado por mim que o apresentador global Luciano Huck acabara de aterrissar em sua terra, em companhia do figurinista Alexandre Herchcovitch. O resultado da visita das celebridades irá em breve ao ar.

Mas o pequenino lugarejo, que um dia serviu para os almocreves descansarem à sombra de oitizeiros, tem muito do que se orgulhar, com a importância e o respeito que seu filho ilustre, Audálio Dantas, desfruta no Brasil.

No próximo mês de outubro, Audálio desembarca em Alagoas como patrono da 5ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Entre tantas homenagens recebidas pelo País afora, esta terá sabor especial, pois acontecerá em seu torrão natal. E olha que elas se sucedem pelos Estados brasileiros.

A mais recente vem em forma de artigo escrito por outro honrado alagoano, o jornalista, professor e escritor José Marques de Melo. Pelas páginas da revista Imprensa, discorre acerca da trajetória de Audálio. Assim como outros nordestinos, este enfrentou as adversidades da vida, desbravou caminhos e ocupou seu espaço com dignidade.

Desde a saudosa revista Realidade até a condição de líder dos jornalistas de São Paulo, ao assumir a presidência da categoria numa etapa tenebrosa da ditadura militar, quando, em pleno governo do general Ernesto Geisel, assassinaram covardemente, no calabouço do regime, o jornalista Wladimir Herzog, preso sem processo e morto sob tortura. Agora, prepara narrativa sobre a vida de Herzog.

Audálio conduziu a categoria de maneira corajosa, enfrentando as pressões, mas sem recuar e deixar de protestar. Pela sua conduta, alcançou a presidência da Federação Nacional dos Jornalistas. O povo paulista reconheceu a liderança do alagoano, conferindo-o mandato de deputado federal, que foi cumprido de maneira destacada.

Apesar de distante de suas raízes, nunca perdeu a referência nem o contato com a legião de amigos alagoanos. Os vínculos estão simbolizados na publicação “O chão de Graciliano”, que virou exposição e circulou com sucesso pelo Brasil.

No texto de abertura, faz viagem pelo interior de Alagoas, descrevendo em minúcias as regiões, como o morro do Pão-Sem-Miolo, adjacente à cidade de Viçosa. Faço, portanto, este registro para fazer justiça a tantos filhos da terra que contribuíram ou contribuem para inserir positivamente Alagoas na pauta nacional.

(*) É jornalista.

Nota do Blog: este artigo foi publicado na Gazeta de Alagoas do dia 08 de junho de 2011, e publicado aqui em homenagem ao amigo Audálio Dantas, leitor confesso deste blog e um ser humano justo, idealista e mais humano do que o perdão. A cidade em tela, Tanque d'Arca, fica a menos de cem quilômetros de Maceió e é um tantinho menor do que o arraial do Junco.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Luís Nassif - Antonio Torres, o escritor e seu ofício

O grande escritor é ele e seu ofício solitário, ele com ele. Não ambiciona riqueza ou poder. Sua ambição é o reconhecimento dos leitores e dos iguais, os demais escritores. Muitos escrevem pensando apenas no reconhecimento posterior; outros ambicionam o reconhecimento imediato. Mas seu mote, sua seiva vital é o reconhecimento de seus pares.

Um grande escritor não nasce, é construído ao longo de décadas e de livros, de personagens que cria, de tramas que tece, de sentimentos que explora, na solidão intermitente de seu quarto, raras vezes nos salões dos poderosos. Explora novas formas de conhecimento, a atualização permanente da leitura e da análise de pessoas e circunstâncias.

Não busca a popularidade fácil dos jornalistas, a exploração do factual, do imediato, o atendimento da catarse dos leitores. O grande escritor ambiciona a eternidade. Para os de família quatrocentona, a eternidade pode ser um mausoléu no Cemitério da Consolidação; para os muitos ricos letrados, uma fundação que leve seu nome; para o provincianismo brasileiro, um nome de rua.

Para o grande escritor, deveria ser a Academia Brasileira de Letras (ABL). Mas não é.

A ABL, a casa de Machado de Assis, que deveria ser a guardiã implacável dos valores da literatura, a defensora intransigente da meritocracia, a defensora dos escritores, o selo de qualidade, o passaporte final para a posteridade, é uma casa menor, em alguns momentos parecendo mais uma cloaca de fazenda do que um lugar de luzes e de letras.
Ao preterir o escritor Antônio Torres em favor do jornalista Merval Pereira, a ABL demonstrou a pequenez não propriamente dela, mas de uma certa elite superficial brasileira, provinciana, atrasada.

De pouco adiantou o fato de que os livros de Torres ajudaram o Brasil a ser mais conhecido por leitores da Itália, Argentina, México, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Bélgica, Holanda, Israel, Bulgária. Ou o fato de dois livros seus – Um táxi para Viena D’Áustria e Essa Terra - traduzidos na França, terem levado o governo francês, em 1999, a lhe conferir o título de "Cavaleiro das Artes e das Letras”.

Merval tem a visibilidade e o poder proporcionados pela Rede Globo. Tem moeda de troca – o espaço na Globo, podendo abastecer o ego de seus pares e as demandas da ABL. Poderia até ganhar prêmios jornalísticos, jamais a maior condecoração da literatura brasileira.

Tem apenas dois livros, um de 1979, feito a quatro mãos, outro mais recente, mera compilação de artigos que escreve para o jornal “O Globo”.

Mas representa poder – no caso, a mídia -, assim como, em outros tempos, o poder era o general Lyra Tavares, Getúlio Vargas, Roberto Marinho, ao quais também se curvou a ABL.
De Merval, duas declarações de endosso. Da indescritível Nelida Piñon, enaltecendo seu... cavalheirismo. E a informação de que, dos acadêmicos, conhece apenas João Ubaldo Ribeiro – colunista de “O Globo”.

Nota do blog: Publicado, originalmente, no site www.luisnassif.com.br em 06/06/2011


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Conversa de Botequim


– Garçom, dois “chopiisss”!
– O meu sem colarinho branco.
– Tudo bem com você? Faz um tempão que não lhe vejo.
– Ando sumido do mapa mesmo. Depois que terminei os estudos voltei a morar no interior, com meus pais. Queria fugir do caos urbano, mas quem disse?! Lá tá pior do que aqui. Uma barulheira infernal, traficante andando pra cima e pra baixo na maior tranquilidade e o pau comendo no couro da população.
– A minha cidade também está assim, por isso nem me arrisco a pôr os pés lá. Depois que a droga se globalizou não tem essa de lugar pequeno não ter viciado não. É maconha, é crack... só não tem cocaína porque custa caro e o povo de lá vive eternamente duro.
– É justamente pela dureza que tudo descamba pra violência, pro roubo, pro latrocínio. Virou moda se roubar ou até mesmo matar os velhinhos no dia do pagamento da aposentadoria.
– Pior é que não tem polícia. E, quando tem, os policiais também estão envolvidos no ilícito. Todo dia a gente vê na tevê policial sendo preso.
– Também não adianta prender porque logo, logo um juiz manda soltar. Viu aquele jornalista que matou a namorada? Réu confesso, foi julgado, condenado, e somente doze anos depois foi preso.
– Isso é que dói. Lembra daquela mãe que pegou dois anos só porque roubou uma lata de leite pra dar pro filho faminto? Ainda continua presa.
– A Justiça no Brasil não é justa. Mas mudemos de assunto: e o resto da turma? Nunca mais tive notícias de ninguém.
– De vez em quando encontro um e outro vagando por aí. Alguns seguiram em frente com os estudos, outros estão trabalhando na informalidade e outros arriscam a sorte grande, como o Machado. Lembra dele?
– Como não haveria de me lembrar do Machadinho? Certa vez queria brigar porque eu disse que ele não podia ver um pau em pé.
– E você queria o quê? Chama o cara de viado...
– Não foi isso. Quem é que corta pau? O machado. Levei séculos explicando isso a ele.
– Ah! Sim.
– Ele vivia dizendo que ia se dar bem na vida.
– E parece que vai. Da última vez que o encontrei, ele me disse que estava empenhado em entrar para Academia Brasileira de Letras.
– Brasileira de quê?!
– Letras! Aquele lugar onde deram uma condecoração a Wanderley Luxemburgo e Ronaldinho Gaúcho.
– Ah! A CBF...
– Não, jumento! Vai pro interior e esquece tudo. A ABL. Aquela casa que reúne os melhores escritores do país.
– E Ronaldinho Gaúcho escreveu um livro?
– Não escreveu e nem vai escrever. Aliás, ele mesmo disse que nunca leu um livro. Mas disseram que um escritor famoso lá da academia morreu e era fã de Ronaldinho Gaúcho. Aí lhe fizeram essa homenagem póstuma. Mas eu acho que os escritores da tal academia queriam mesmo era ficar bem na fita depois que andaram falando mal de um livro sem terem lido o livro.
– Oxente! E escritor agora é adepto do “não li e não gostei”? Quem falava assim era uma tia minha, que se achava muito importante. Já o meu avô dizia que não devíamos falar daquilo que não conhecemos. Nem falar bem, nem falar mal. O que não se conhece, desconhecido é, dizia ele.
– Pois é. Nem todos de lá tiveram um avô sábio igual ao seu. E a academia ficou numa situação vexatória. Aí inventaram essa de condecorar um cara que nunca leu um livro.
– Isso me lembra o Machado. Desde quando ele virou escritor? Nunca soube que tivesse escrito um livro. Aliás, ele sempre tirou nota baixa em Redação.
– E ele não escreveu livro nenhum.
– Como que não?! E como é que ele quer entrar pra essa tal de ABL? Não tem que ser escritor pra entrar pra lá?
– Aí é que tá: o critério deveria ser esse. Mas não é assim que funciona. Hoje, o principal critério é ser funcionário da Rede Globo e o Machado já conseguiu espetar um crachá dessa empresa no peito.
– Deus do Céu! Garçom, passa a régua rapidinho que vou voltar pro interior!


domingo, 5 de junho de 2011

Edna Lopes - Academia Brasileira de Quê?

Sempre que sei por ler ou por ouvir dizer de alguma notícia que alguém recebeu de uma UNIVERSIDADE o título de Doutor Honoris Causa, atribuído a personalidades que tenham se distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos, fico feliz pelo reconhecimento que aquela instituição faz, mesmo in memoriam, a quem de alguma forma se destacou ou se destaca em algum campo do conhecimento humano.

Sempre que sei por ler ou por ouvir dizer de alguma notícia que alguém recebeu de uma ACADEMIA DE LETRAS o título de imortal, fico me perguntando na minha vã mortalidade o que de relevante aquele alguém contribui ou contribuiu para a literatura daquele lugar, estado ou país.

Houve um tempo em que a minha vã mortalidade e santa ingenuidade de leitora achava que os critérios, ou ao menos, dois critérios para a escolha fosse uma presumida (confirmada, óbvio) produção literária e a tal relevância levada a serio pelos tais que faziam a escolha.

Bastou dar uma olhada com mais atenção para as ACADEMIAS DE LETRAS de vários estados, bastou tropeçar em gente tão sem expressão nas letras, que minha ilusão de seriedade caiu por terra, pois encontrei devidamente imortalizados políticos que tenho lá minhas dúvidas se escreveram seus discursos.

Houve um tempo em que a minha vã mortalidade e minha santa credulidade de leitora olhava a ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS com alguma sacralidade. Acreditava piamente que lá estava o Crème de La Crème (desculpem a presunção) da produção literária do Brasil. Acreditava também que uma instituição como aquela estaria acima de interesses politiqueiros, acima do desejo mesquinho da fama a qualquer custo.

A eleição do jornalista, comentarista da rádio CBN, do canal Globonews e colunista de "O Globo" Merval Pereira com “dois livros publicados (uma reunião de artigos, sozinho, e uma série de reportagens, em coautoria) que venceu com folga (25 votos a 13) o escritor Antônio Torres, 17 obras publicadas, entre romances, contos e crônicas”( Fabio Victor, folha.com) . Fábio sintetiza e não menciona os prêmios de Torres todos ligados a sua produção literária mas ilustra muito bem, a meu ver, a equivocada linha de atuação que o atual presidente da ABL, Marcos Vilaça vem adotando.

Basta dar uma olhada com mais atenção para a lista dos IMORTAIS para ver quantos acadêmicos são de outras áreas que não das LETRAS. Não que eu advogue o purismo, não que não defenda que mereçam honrarias, mas entendo que há um exagero nessa “abertura”.

Minha vã mortalidade só espera que tanta ampliação e abertura não signifique que mais dia menos dia não haja mais representantes da escrita literária naquela casa, pois aí sim, a pergunta “Academia Brasileira de Quê?” fará total sentido.
*subtítulo de reportagem da Folha de S. Paulo de 04 de junho de 2011;
** Os grifos são meus, para que fique bem ACESO o que destaco, o que penso e digo.