sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Arrependei-vos, Jesus está chegando!

O porteiro do cafofo onde habito me interfonou e disse que Jesus viria me visitar na parte da tarde, que eu o aguardasse de espírito acolhedor. Não só acolhi meu espírito, mas também comprei velas, incenso, pão para distribuir com os pobres, e até fiz doação para o criança esperança. Comprei um galo para cantar de madrugada, mas me disseram que um galo sozinho não tece a manhã cristã. Fiz uma relação dos meus pecados que pediria para serem perdoados ou transformados em penas alternativas e, de lambuja, um adesivo colorido para colocar no meu Camaro conversível com os dizeres: "Presente de Deus". Também preparei uma buchada de bode legítimo, do sertão de Uauá, que é um lugar mais seco que a Palestina. Ele devia gostar dessas comidas exóticas.

O tempo passou, passou, passou e... nada! E eu com fome, querendo comer, e os beatos que fizeram fila na minha porta diziam que seria heresia comer antes d'Ele. Tenha paciência, espere mais um pouco, diziam.

Lá pras tantas a campainha tocou. Aleluia! Era Ele. Só podia ser Ele. Corri para o abraço. Ele recuou uns passos, temeroso. Com razão, depois daquela facada, todo cuidado é pouco. Ele enfeitou seu rosto com o mais lindo sorriso e me entregou um santinho de político. Era Jesus, o borracheiro do bairro, pedindo voto para Renan Calheiros e Collor de Mello.

A minha loucura de todos os dias

Um dia a minha mãe me perguntou:

- Meu filho, quando é que você vai criar juízo?

Olhei para ela com todo o respeito que um filho deve ter à mãe e respondi:

- Minha mãe, se um dia a senhora me vir com juízo, pode me internar que eu estou doido!

Fábula-enredo por uma democracia em farrapos

Cinderela perdeu seu lindo sapatinho de cristal-néon na fuga para a carruagem inglesa em formato de abóbora. No dia seguinte, que em inglês se diz "day after", o gari do palácio o encontrou (ou como se diz na minha terra "encontrou ele") perto da escada e o entregou ao seu chefe imediato. Imediatamente o chefe imediato o passou ao encarregado que se encarregou de fazer um relatório à supervisora. Esta, tremenda puxa-saco real, entregou o sapatinho ao príncipe encantado dizendo que ela havia achado embaixo da escada do palácio e que devia ser de alguma princesa bêbada e irresponsável, pois só uma maluca calçaria sapato de cristal para ir a um baile de carnaval. O príncipe encantado ficou encantado com o brilho da luz néon e deu de presente à sua avó, mãe da rainha, que havia perdido uma perna em acidente da carruagem real. A avó real, por causa do forte cheiro de chulé não real, mandou lavar o sapatinho de cristal-néon. A criada real assustou-se quando a água causou um curto no circuito da luz néon e deixou o sapato cair, fazendo um estrondo de estilhaços de cristais. Então a avó real pegou a sua bengala real de ouro com madrepérolas no cabo e quebrou na cabeça da criada desastrada, causando um sulco entre a fronte e a nuca.
Moral da história: seremos milhões de criadas com a cabeça partida se não cuidarmos do sapatinho de cristal chamado DEMOCRACIA.