segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MORRE O ÚLTIMO MATADOR ALAGOANO



Morreu Moacyr, o Matador, o folclórico garçom do Sindicato dos Biriteiros. Morreu do jeito que sempre pediu a Deus para morrer: de cara cheia de cachaça. Não se sabe de quê. Apenas que dormiu bêbado e quando acordou estava morto. Deve ter morrido feliz.

Uma vez, ele se queixando de umas dores no peito, eu perguntei:
- Por que não procura um médico?
- E o senhor tá doido, seu Tom!? E se o médico descobrir que estou doente?

Gostava de frequentar os inferninhos do Centro de Maceió. Foi roubado várias vezes, levou muitas porradas, mas não deixava de marcar ponto toda segunda-feira, dia de sua folga. Orgulhava-se de ter duas namoradas, cada uma em um puteiro. Um dia, esperando o ônibus de madrugada para voltar, parou uma viatura da polícia e o levou para a Delegacia de Plantão. Ao Chegar lá, o delegado perguntou aos policiais:

- O que foi que ele fez?
- É suspeito de ser assaltante de taxista.

Ele encarou o delegado e falou indignado:

- Olhe, seu delegado, se eu fosse assaltante de taxista estava num ponto de táxi, e não, no de ônibus!

O delegado concordou:

- Ele tem razão. Deixem esse bêbado ir embora.
- Ir embora não! Vocês me pegaram lá e agora vão ter que me levar de volta!

E foram.

Da mesma forma que era simples, era atrapalhado. Um cliente pediu uma cachaça misturada de canela. Ele levou de tangerina. O cliente bebeu assim mesmo e depois falou:

- Moacyr, eu pedi de canela e você trouxe de tangerina. Agora, pra se redimir, traga de canela.
- Eu rir do senhor, seu Marcão?! Quem sou eu... O senhor é que rir de mim.

Orgulhava-se de sua macheza e queria matar quem dissesse que ele era heterossexual.

- Então você é homossexual?
- Com muito orgulho.
- E pederasta?
- Sou sim, pois ando muito a pé.

Não tinha jeito. Um jumento talvez tivesse um QI mais alto.

- Moacyr, o Bacharel! – falei, pensando que ele ia gostar.
- Seu Tom, pare de me ofender!
- Então você é o Baixo Astral!
- Aí, sim! Sou isso mesmo. Com muito orgulho!

Um cliente chegou pilotando uma motocicleta. Como Moacyr estava próximo da gente, perguntei:

- Moacyr, qual é mais perigoso: andar de moto ou queimar a rosca sem camisinha?

Ele respondeu sem titubeio:

- Não sei, seu Tom! Nunca andei de moto!

Para ele tudo era mais simples que a soma de dois mais dois. Depois de entregar o cardápio, o cliente perguntou:

- Tem tudo que está no cardápio?
- Não.
- E como eu sei o que tem?
- É fácil. O senhor vai lendo alto. O que tiver, eu digo “tem”; o que não tiver, eu digo “não tem”.

Quem frequentou o Sindicato dos Biriteiros muito se divertiu com as proezas de Moacyr, o Matador. Agora ele deve andar fazendo rir o povo lá de cima. Isto é, se já ficou bom da cachaça.