Na segunda Flimar (Festa Literária de Marechal Deodoro) aconteceu de tudo, inclusive nada, como foi a cantada e decantada palestra sobre Arnon de Mello, o pai do nosso grandioso estadista Fernando Collor de Mello, no segundo dia do evento: simplesmente os palestrantes não deram o ar de sua graça, para deleite do público. Melhor para o Coral Em Cantos, do Sinteal (Sindicato dos Trabalhadores de Educação em Alagoas) que pôde se apresentar dentro do horário previsto.
A abertura oficial da festa começou pelo inusitado: atraso de duas horas para se esperar que sua excelência, o prefeito, acabasse de inaugurar uma rua ali perto. Depois, devido ao avançado das horas, o justo cochilo do homenageado, Ledo Ivo, que não resistiu à monotonia da leitura acadêmica do conferencista. O auditório também não resistiu à erudição da fala e o cansaço manifesto dos ouvintes tornou-se em ronco coletivo explícito.
Os dias subsequentes às palestras foram marcados pelo atraso fenomenal, algumas, em até uma hora. E como não bastasse isso, quando o prefeito queria marcar presença, o atraso se fazia maior, em até duas horas, levando o púbico à exaustão. Infelizmente, nas Alagoas, o provincianismo ainda reina como nos velhos tempos d’el-rey. Queriam até esvaziar o auditório para que se reservassem lugares a algumas eminências pardas do judiciário alagoano no show do ícone da poesia matuta Jessier Quirino. Como ia pegar mal porque a imprensa estava a postos, desistiram da ideia arrogante típica dos senhores de engenho, porém o público teve que esperar mais de uma hora pela presença do Sr. Prefeito. Não foi à toa que o filme “O Bem Amado” foi rodado nessa cidade. Sentimo-nos uns autênticos sucupiranos.
Tão sucupiranos que houve autor pernambucano lamentando não ter seu único livro dramatizado por um ator famoso. “Fiquei decepcionado quando vi que era um atorzinho pedindo pra dramatizar meu livro, e não um ator famoso”, disse o palestrante, esquecido de que um dramaturgo famoso não beberia da fonte da ralé insolente.
Por outro lado, Jessier Quirino foi de um profissionalismo exemplar. Além de ter que esperar pacientemente pela presença do prefeito, faltou energia elétrica na hora de sua apresentação. Terminou o seu show à luz de candeeiro, sem reclamar ou demonstrar arrogância.
Excelente a mediação de Maurício Melo Júnior, fazendo intervenções precisas e colocações inteligentes. Habituado a entrevistar personalidades literárias no seu programa “Leituras”, da TV Senado, sentiu-se entre amigos nas mesas que mediou.
A frustração maior ficou por conta dos fãs da Marina Colassanti. Apesar de o seu nome constar na programação oficial fazendo dobradinha com o marido, ela não deu o ar de sua graça e a plateia teve que se contentar em ouvir Afonso Romano em monofonia. Marina fora falar para o povo estrangeiro, segundo disse seu marido.
A cidade de Marechal Deodoro fica a menos de quarenta quilômetros de Maceió e foi a primeira capital das Alagoas nos tempos em que se chamava de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul. Com um pouco mais de 45 mil habitantes e de considerável fluxo turístico, é uma cidade sem nenhuma infraestrutura hoteleira, escasso serviço de transporte e ausência de um boteco onde se possa ao menos se matar a fome com um churrasquinho de gato. Por causa disso, a tão badalada festa literária fica a desejar nos serviços periféricos, e os autores e o público participante são obrigados a se deslocar até a praia do Francês para se alimentar e dormir. Mas, se passar das dez horas da noite, tem que escolher um banco da praça para pernoitar, pois não há transporte funcionando depois desse horário. A cidade ainda vive nos tempos da diligência.
Apesar de a festa ter sido ímpar nas atrações, o público local não prestigiou, talvez intimidado com a presença de tantas estrelas da literatura brasileira e até mesmo internacional, o que não justifica a total ausência das outras secretarias do município, principalmente a da Educação. O prefeito só apareceu para discursar e no show de Jessier Quirino. A Universidade Federal de Alagoas, que no próximo mês organiza a 5ª Bienal do Livro, e a classe autoral alagoana, afora os envolvidos no evento ou algumas raras exceções, lá não pisaram os pés ou se fizeram representar, sabe lá Deus os motivos. É certo que há momentos que a vaidade fala mais alto e o ego grita lá dentro:
– Eu só me basto!
ABERTURA E PALESTRAS