sábado, 25 de setembro de 2010

Pra não dizer que não falei de eleições - Edna Lopes


De STF



Sou do tipo que vê o guia eleitoral embora não decida meu voto por ele. Vejo porque me ajuda a confirmar EM QUEM NÃO VOTARIA JAMAIS.Mas quando vejo meu filho de 13 anos assistindo interessado, curioso, aprendendo a analisar os “discursos”, questionando posicionamentos, vejo que tem a sua utilidade.

Debates na TV e no rádio

Francamente, quando termina fico com raiva de mim mesma porque sabotei minhas horas de sono ouvindo troca de insultos. Lamento que desperdicem um tempo precioso que seria para divulgar minimamente programas de governo, aos menos nas áreas mais cruciais para o desenvolvimento de um país, de um estado: Saúde, educação, segurança, abastecimento, cultura...

Lixo eletrônico

Certamente que nenhum contato meu, amigo/a, colega de trabalho, familiares, pessoas que me conhecem apenas pelo que escrevo ou que de algum modo mantêm contato comigo recebeu ou receberá nenhuma mensagem desrespeitosa que deprecie com piada, com insultos e ofensas QUEM QUER QUE SEJA! Lamento quando abro emails de pessoas que sei que são sérias, responsáveis, repassando textos eivados de intolerância, de preconceito e de maldade. Fico imaginando se a energia e o tempo gastos com esse tipo de coisa não poderiam ser canalizados para algo realmente construtivo. Ah, concordo com você: sou uma chata!Respeito quem tem posicionamento contrário ao meu mas, não sou obrigada a gostar de baixaria, venha de onde vier.

Senso crítico

Posso parecer simplória, ingênua ou até equivocada em questões que não são do meu interesse, mas não sou alienada nem “Maria vai com as outras”. Não sou filiada a nenhum partido, mas respeito muito quem o é por convicção ideológica. Minha militância é pela vida.Tenho posicionamento, opinião e exercerei meu direito de eleitora coerente com o que penso e o que faço.Não voto em branco, não voto nulo, faço minhas escolhas consciente e meu voto não é moeda de troca. Está tudo muito bom? NÃO! Está tudo muito bem? Também NÃO! Mas não sou do tipo que acha que “pior não fica”. Fica sim e não será com a minha aquiescência e conivencia. Concluo minhas simplórias opiniões com um fragmento do poema Aos que hesitam, de Bertolt Brecht.

“Daquilo que dissemos, o que agora é falso?
Tudo ou alguma coisa?
Com quem contamos ainda? Somos o que restou,
Lançados fora
Da corrente viva?Ficaremos para trás
Por ninguém compreendidos e a ninguém compreendendo?
Precisamos ter sorte?
Isto você pergunta. Não espere
Nenhuma resposta senão a sua.”

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Antonio Torres: setenta anos de estrada

O mês de setembro, na Bahia, é tempo de se homenagear os Ibejis, representados na religião católica pelos gêmeos São Cosme e São Damião. Assim, católicos e iorubaianos se unem (e se reúnem) à mesma mesa de caruru, que deve ser acompanhado de vatapá, arroz branco, xinxim de galinha, feijão fradinho, pipoca, rapadura e rolete de cana. E muita cerveja e foguetório.

O mês de setembro, nas Alagoas, começou com um visitante ilustre que veio participar da primeira festa literária da cidade histórica de Marechal Deodoro, primeira capital das Alagoas, quando ainda tinha o nome de Vila de Santa Madalena da Lagoa do Sul: o escritor junquês Antonio Torres. Chegou aqui na tarde de sexta-feira, participou da Flimar no sábado à tarde, e, no domingo, cedo da manhã, pegamos estrada rumo à terra do Senhor do Bonfim.

Na Bahia, quem nasce em setembro comemora o aniversário à base do azeite de dendê, mas Antonio Torres não teve tempo de parar sequer numa birosca e abocanhar o pirão suculento duma moqueca apimentada, tantas foram as homenagens recebidas ao longo do caminho. Também, eu dirigindo e ele abstêmio, ficava difícil sentir o gosto duma loira gelada.

Chegado a tempo do almoço na casa do mano Raimundo, em Alagoinhas, depois de uns dedos de prosa, visitamos alguns parentes e amigos. Poucos. Os amigos dele, a maioria, morreu; os meus, fizeram como eu: debandaram da cidade. Na segunda-feira, véspera do feriado de sete de setembro, o carro não resistiu à buraqueira e os quebra-molas da estrada e “morri” na troca dos amortecedores e mais a ribombeta da parafuseta da direção. O jeito foi apelar para a solidariedade de Raimundo, que nos levou até o arraial do Junco em seu carro, depois de deixar meu velho fusquinha na concessionária da Fiat.

Queria chegar ao Junco em alto estilo, soltando fogos na Ladeira Grande, mas, na pressa, deixei os rojões na mala do carro. O jeito foi chegar discreto, como uma pessoa comum, sem alarde nem anunciação. Fomos direto para a Rádio Felicidade FM, onde estava agendada uma entrevista com o grande apresentador e campeão de audiência Arizio Torres.

Era dia de feira, muito vai-e-vem das pessoas e muitos bêbados nos botecos. Dia de segunda-feira é o único dia que vale a pena se ir ao Junco. Nos demais, é só solidão e suicídio. Alguns, insólitos, como o de sêo Bronzino que saiu de casa batendo a porta, desgostoso da vida, decidido a amarrar uma pedra no pescoço e se atirar no açude, depois de um pega pra capar com a mulher. Ao molhar a mão pra se benzer antes de cair n’água, gritou apavorado: “Vixe, Maria, mãe do Céu! Acabei de tomar café quente e ia me molhar nessa água fria!” E sêo Bronzino morreu de velhice, trinta anos depois.

Após a entrevista na Rádio Felicidade FM, procurei um balcão para molhar a garganta e jogar conversa fora com os da terra. Parei no bar de Luiz de Rouxinho, onde os pinguços da roça marcam presença. Raimundo e Tote foram forrar o estômago na casa de Nininho, onde Rita e João, outros irmãos, os esperavam. Já Nininho fez o sacrifício de me acompanhar na rodada etílica.

À tarde, Antonio Torres falou para alunos e professores no Grupo Escolar Prof. Edgard Santos, colégio onde levei muitos bolos de palmatória da Professora Serafina. Mas aprendi a ler, principalmente, escrever. A teoria da citada professora dizia o seguinte: ao bater na palma da mão, a gente gritava. Gritando, ativava a circulação. Ativando a circulação, irrigava o cérebro e assim a gente aprendia mais facilmente. Antonio Torres também estudou lá, com esta mesma professora, só que ele era cdf (lê-se: “cedêéfe) e, em vez de lapada no couro, recitava Castro Alves e Olavo Bilac.

A palestra foi mediada pela professora e poetisa Cristiana Alves, mestranda da Uneb, em Alagoinhas. Inhambupe mandou um caminhão de representantes, talvez em penitência de arrependimento pelas pedradas que recebíamos quando passávamos por lá, pongados em paus-de-arara. Foram tantas, que o Governo Federal teve que intervir, construindo um desvio da BR-110, retirando a passagem obrigatória por dentro da cidade.

À noite, muito fria por sinal, o Sr. Secretário das Finanças, Dr. Luiz Eudes, atuante nas Artes e nas Letras, promoveu um jantar em seu sítio, onde compareceram o prefeito, alguns vereadores e o presidente da Câmara, que, por um acaso, é o sogro do anfitrião. Também havia muitas loiras. Geladas, oxigenadas e naturais. Divinas e belas, “parecia que eu estava em Ipanema”, disse o escritor ao repórter do jornal A Tarde, dois dias depois, em entrevista na UEFS. Ipanema ou não, só sobrou pra nós a loira gelada servida em copo de cristal.

O escritor recebeu placa da Câmara de Vereadores, placa oferecida pelo prefeito e sua esposa, e placa da Prefeitura, em agradecimento do povo da terra ao seu filho mais ilustre. O Sr. Secretário da Educação fez um discurso emocionante, o prefeito, idem, e a cidade dormiu em berço esplêndido, sonhando com um porvir risonho. Mal o sol raiou, Luiz Eudes nos levou de volta a Alagoinhas, pois Raimundo precisou retornar no mesmo dia para pegar meu carro na oficina.

Quando chegamos na terra da laranja, era sete de setembro, dia de festa cívica na cidade. A população para nas calçadas das ruas centrais para assistir ao desfile infanto-juvenil das escolas. E do Exército e PM. E voluntários da pátria, LBV, Rotary e Clube dos Bêbados e Ligeiramente Bêbados. O último desfile que “não” assisti, foi aos dezenove anos, quando desfilei garbosamente na farda verde-oliva.
Disseram-me, antes de pôr os pés na rua para ver a banda passar, que a festa continuava brilhante tal qual nos velhos tempos; disseram-me, ao voltar desapontado, que foi o pior desfile de todos os tempos.

À tarde, carro aparentemente novo, pegamos estrada para Feira de Santana, onde o escritor passou dois dias sendo homenageado pelo povo de lá, via Universidade Estadual de Feira de Santana, a UEFS. Na garupa, Cristiana Alves, que falaria ao povo de Feira sobre os autores da sua terra e, ao voltar, daria testemunho de como o Junco é popular além da Ladeira Grande.

Mas aí já é uma outra história.



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Atendendo a inúmeros pedidos do povo do arraial do Junco, posto aqui, na íntegra, a entrevista de Antonio Torres À Arizio Torres, que foi ao ar pelas antenas da Rádio Felicidade FM, no dia 06 de setembro de 2010. Você, caro leitor deste blog, que não é do arraial do Junco, mas gosta do referido escritor, conheça mais sobre a vida deste que saiu de uma cidade que não constava no mapa do Brasil para entrar com glamour no mapa do mundo.


















Antonio Torres é homenageado no Junco.

Durante jantar na casa de Luiz Eudes, o escritor Antonio Torres recebeu homenagem da Câmara de Vereadores e da Prefeitura Municipal de Sátiro Dias, o velho arraial do Junco. O prefeito Joaquim Neto e sua esposa Vaitsa também lhe prestaram homenagem.




Antonio Torres na Roda de Prosa “O trabalho pedagógico com o livro e a leitura”, na Flimar, promovida pelas professoras Edna Lopes e Cláudia Pimentel.




Introdução da oficina de Antonio Torres na I Feira Literária de Marechal Deodoro.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Crônica de uma cidade - Maria Olímpia Melo

De Colagens



O Jornal O Globo não é vendido em Lavras. Uma inacreditável história de dívidas e birra. As dívidas ficam por conta do representante do jornal em Lavras, que não pagou o que devia e ainda deu no pé. A birra fica por conta do jornal que considerou a dívida como sendo da cidade e não do indivíduo. E bloqueou a venda do jornal enquanto a dívida não for paga. Como o negócio não é assim tão interessante ninguém também se interessa por pagar essa dívida. E como nem assinatura pode ser feita, praticamente ninguém em Lavras lê o jornal.

Eu havia lido a notícia pela net. Eu já sabia da história. Todas as pessoas que vivem ou viveram nas cercanias de Andrelândia sabem dessa história. Os detalhes podem ser diferentes, mas a essência é a mesma. E eu vivi em Arantina, nas cercanias de Andrelândia e estudei lá por dois anos e meio, no colégio das freiras.

Minha irmã trouxe para minha mãe ler. Minha mãe é desse tempo e conhece melhor a história do que eu. Foi publicada na revista O Globo de 15 de agosto passado.

Antes de entrar no assunto, uma curiosidade: Andrelândia é a única cidade do mundo onde a família se orgulha de ter um filho veado. Porque a família é toda constituída de veados. Homens e mulheres e crianças, todos são veados.

A primeira vez que ouvi falar disso eu havia acabado de chegar no colégio e me preparava para fazer os exames finais do quarto ano primário. Em Arantina não tínhamos o quarto ano, só até o terceiro em classe multisseriada. Era a primeira vez que eu saía para passear pelas ruas da cidade, muito bem cuidada por sinal. Mas, em uma das ruas por onde passamos, rua calçada, próxima a Matriz, vi que em frente de uma casa não havia calçamento, so um retângulo de terra. Perguntei: por que na frente dessa casa não existe calçamento? Não posso garantir qual foi a resposta exata que ouvi, mas foi uma ou outra. É que essa casa pertence a um veado. Ou a um caranguejo. Isso realmente eu não me lembro. Mas garanto que foi uma ou outra. E tive aí minha primeira lição sobre a política em Andrelândia. Porque ainda hoje, nessa simpática cidadezinha, vigora o bipartidarismo: ou você é veado ou é caranguejo. Os partidos oficiais não existem, ou melhor, existem, mas são subjugados pelos outros.

Entre tapas e beijos é a chamada para a reportagem de capa que mostra a fotografia de um casal – o primeiro a ter autorização para um casamento misto. Um caranguejo macho se unia a uma veadinha. O ano, 1932. Viveram juntos por 75 anos e multiplicaram os veados pela cidade. Porque sim, foi o lado dela que assumiu o poder. Mas isso foi um acontecimento raríssimo, uma aberração. A segregação continuou por décadas.E lá aquela história ainda bem comum em nossas cidades, a história do eu faço você desfaz, ou eu fiz e você desmanchou era levada aos extremos. Outro fato interessante: hoje em dia casamentos mistos são comuns. É possível a um veado amar um caranguejo. Mas se amar é possível, votar, nunca.

A reportagem é cheia de detalhes interessantes . Detalhes que eu desconhecia. Por exemplo, hoje os veados são adeptos do PMDB e os caranguejos, acostumados a pertencerem a fauna, são tucanos.

É claro, não vou copiar nem repetir aqui as histórias dentro dessa história que o jornal conta.São frutos de pesquisa, de um trabalho jornalístico muito bom feito pelo repórter Renato Grandelle. Mas ele deu uma informaçãozinha com a qual me deliciei – é sobre o Botafogo ser o time de futebol mais popular da região. Eu não sabia que isso atingia Andrelândia mas em Arantina eu sei que é. Eu venho de uma família de arantinenses botafoguenses e mesmo os que hoje se transferiram para outros times, principalmente o Cruzeiro, continuam a dizer que são botafoguenses de família.


Nota do blog: No arraial do Junco a briga santa é entre caranguejos e tranca-ruas. Os veados foram mortos durante a povoação.




segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Seminário Antonio Torres: Luís Pimentel é homenageado

O escritor Antonio Torres começou a segunda parte de sua oficina, na Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, homenageando um poeta e escritor feirense que dispensa apresentação por parte deste escriba: Luís Pimentel. A crônica, lida por Roberto Seidel e Roberval Pereyr, encontra-se publicada neste blog. 





domingo, 19 de setembro de 2010

À sombra do imperador - Cineas Santos

De Ipês no Centro de Teresina


A exemplo das crianças que, em dezembro, tentam vãmente encurtar os dias para apressar a chegada do Natal, mal se inicia agosto e já começo a espichar os olhos pela vastidão da Chapada à procura dos esplendentes ipês amarelos. Não seria exagero afirmar que uma das razões que me fizeram sentar praça em Teresina foi justamente os ipês; a outra,as mulheres... Com exceção dos recém-plantados (transplantados) pela Prefeitura de Teresina, sei a localização de cada um deles. Vou um pouco além: lembro-me até de alguns que nem existem mais. Para citar apenas um exemplo, ainda sinto saudades de um ipê frondoso no cruzamento das avenidas Pernambuco com 1º de Maio, no bairro Primavera. Cortaram-no para construir um conjunto habitacional pavoroso que, ironicamente, foi batizado com o nome de “Condomínio Ipê” como se o rótulo pudesse substituir a árvore.

Certa feita, depois de uma palestra para estudantes de uma escola pública, na periferia da cidade, um dos moleques me perguntou: “O que posso fazer para melhorar minha cidade?”. Respondi de batepronto: Plante um ipê, meu filho. Hoje, daria a mesma resposta, com mais ênfase. Se, em vez de fícus, algodoeiro, acácia, neem e outras plantas exóticas, cada teresinense plantasse um ipê, Teresina, nesta época do ano, seria a cidade mais bela do mundo, a custo zero!
Mas há, entre os ipês que iluminam a cidade, um que, por sua localização e generosidade, merece referência (leia-se reverência) especial. Trata-se do Imperador da Chapada, título por mim conferido ao ipê plantado pelo prof. Carlos Pires Rebelo, de saudosa memória, no cruzamento das ruas Coelho Rodrigues com 1º de Maio, no centro de Teresina. Árvore relativamente nova – tem menos de 40 anos de idade, parece que sempre esteve ali, oferecendo beleza aos olhos dos transeuntes. Já a fotografei dezenas de vezes. Como quem presta reverência à própria Natureza. Todos os anos, sento-me à sua sombra para ser acariciado pelas flores que caem.

Numa dessas ocasiões, testemunhei um incidente que me deixou profundamente triste. Cumpria meu ritual, quando uma manada de estudantes passou pelo local. Eram rapazes e moças, alegres e ruidosos. Trotando como búfalos, passaram pelo tapete de ouro que cobria a calçada com selvagem indiferença. Nenhuma das meninas agachou-se para pegar uma flor e enfeitar o cabelo. Desencantado, escrevi uma crônica denominada Os Novos Bárbaros. Em contrapartida, domingo passado, prestava minha reverência ao Imperador, quando presenciei uma cena que me encheu de alegria e esperança. Uma jovem mãe chegou com sua filha, uns três anos de idade, sentou-a no tapete amarelo e passou a fotografá-la. Compenetrada, a menininha fazia poses engraçadas. Para não as perturbar, retirei-me silenciosamente. Não tenho dúvida: tendo a sensibilidade adubada com generosas porções de beleza, aquela criança poderá crescer mais atenta ao que a vida nos oferece graciosamente. Assim seja.