terça-feira, 6 de outubro de 2009

OS PLAGIADORES NOSSOS DE CADA DIA


O leitor eventual ou contumaz dos sites literários que proliferam Internet afora, e que com eles não mantém nenhum vínculo ou cumplicidade literária, sequer imagina que, por trás da frieza translúcida do monitor de vídeo, existe um mundo à parte, cheio de intrigas, fofocas, vaidades, amor, traição, ódio, e que muitos casamentos podem ser feitos ou desfeitos na mesma velocidade em que o raciocínio acompanha as letras opacas dos textos. Amizades se constroem e amigos se destroem no mais leve toque de tecla nos chamados e-groups e sites literários, muito mais rápido do que no acionamento da tecla “delete”.

Para alguns desses escritores de sites e e-groups, a maior invenção do mundo foram os atalhos de teclado “control+c” e “control+v”. Copiar e colar. Copia-se de tudo. Cola-se tudo, sem o menor pudor e escrúpulo. Há até comentário copiado e colado em autores diversos sem que o colador sinta o menor constrangimento em ser flagrado em sua deslealdade ponderativa.

Que se esperar de um autor incapaz de rabiscar umas linhas em atenção a um texto e que usa comentário padrão na visita aos seus pares? Um escritor inapto na leitura, inapto no escrever um comentário, deve ser também incapaz de produzir seus próprios textos. Usa deliberadamente o “copiar-colar”, troca algumas palavras, inverte a posição de outras, assina embaixo e se diz dono da criação alheia.

Uma vez recebi um comunicado de um site que um determinado texto meu estava concorrendo a um prêmio. Fiz uma visita para conferir e constatei que o segundo colocado era um plágio grosseiro de um causo contado no livro “Alexandre e Outros Heróis”. Imediatamente denunciei o meliante aos responsáveis e descobri que eles também eram um bando de copiadores.

O plágio é um furto de propriedade intelectual devidamente qualificado no Código Civil. Uma imoralidade criminosa, embora muita gente famosa ande plagiando a torto e a direito. Pantaleão, personagem criado por Chico Anísio nos anos 70 para o programa Chico City, foi um plágio de “Alexandre e Outros Heróis”, do mestre Graciliano Ramos. Roberto Carlos foi condenado por plágio em dois processos. W. Bush, o filho, plagiou os grandes conquistadores.

Gêmeos não são cópia nem clone. Lula garante que não é cópia de FHC e nos últimos dias esperneia para provar que não é plágio de Fernandinho da Casa da Dinda, o ex-marido da Rosane; esta, um plágio defeituoso da boneca Barbie. O PFL, agora DEM, plagia o PT de antigamente que plagia o PSDB. Zé Dirceu tinha convicção de que era Mussolini.

Fernando Henrique Cardoso plagiou John Lennon na hora de passar a faixa presidencial:

- O sonho acabou! – sussurrou ao ouvido de Lula. Ninguém até hoje sabe se ele se referia à globalização do seu governo ou ao fim do encantamento utópico na era PT.

Já Enéas era um plágio mal feito de Monga, a mulher-macaco.

ACM era um plagiador insatisfeito. Um dia, acordou de mau humor e se achou o próprio Diabo. Depois de reinar por muitos anos segurando o tridente, descobriu que o Diabo não tinha esses poderes todos. Reuniu seus secretários de Estado, os puxa-sacos e cabos eleitorais, e anunciou em rede local de rádio, jornal e televisão:

- Agora sou Deus! – e a Rede Globo acreditou.

Maiakovski saiu do seu túmulo para plagiar um brasileiro, embora sequer tivesse escrito o tal plágio. Creditava-se a ele o poema “No caminho com Maiakovski”, do poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, que, por muitos anos, algumas estrofes foram o mote revolucionário da nossa Esquerda.

Certa vez a minha amiga Maria Helena Bandeira, cuja filha é militante dos movimentos de proteção aos animais, me enviou um texto querendo ajuda para descobrir o autor, pois sua filha queria usá-lo em seu blog. Por coincidência, era um texto de minha autoria, escrito para um site especializado na questão felina, e tinha como título “Porque não devemos atirar o pau no gato”. Apesar de, no site, estar devidamente identificado, o texto rolava mundo afora sem nenhuma autoria.

Como se vê (ou se lê), original mesmo só o Homem de Neanderthal.

Mas voltemos aos sites, onde a generosidade dos deuses da Literatura nos brinda com seus escritos sem cobrar cachê ou direitos autorais. Mas devo alertá-lo, caro leitor, que enquanto você está lendo este texto, centenas de outros estão sendo plagiados por pessoas inescrupulosas, parasitas intelectuais que se nutrem da criação alheia. É bem capaz de que, mesmo antes de você chegar ao parágrafo final, este texto já tenha sido plagiado por umas dez pessoas.

Conheço várias mentes profícuas que despejam toneladas de poesias diariamente nos sites e grupos literários que pululam neste vasto mundo virtual, como se não fizessem mais nada na vida a não ser comer, beber e respirar poesia. Ante a constatação de que os grandes poetas levavam anos para escrever um livro, começo a achar que havia alguma coisa errada com eles. João Cabral de Melo Neto levou aproximadamente três anos para escrever Morte e Vida Severina. Igual tempo gastou Nietzsche em “Assim Falou Zaratustra”.

Castro Alves, o Príncipe dos Poetas, em toda sua vida escreveu apenas um livro. Como ele, centenas de outros bons autores. Então, de onde vem toda essa proficiência intelectual dos nossos poetas das mil e uma obras diárias? Não sei. Se não copiam ou se copiam, acharam a pedra filosofal das Letras. Tudo que toca, vira literatura.

Ou então, nossos grandes escritores não eram tão grandes assim.


domingo, 4 de outubro de 2009

Eu quero te namorar!



Por Leila Barros



Eu quero te namorar!

Como adolescente, quero ficar, fazer rolo e sentir teu abraço e teu amasso.

Quero esperar teu telefonema à noite e rir, escutar tua risada e ter sonhos azuis.

Desejo desejar, sentir paixão e sentir calma, ficar confusa e me sentir uma pluma.

Quero namorar sem pressa, vendo filmes e comendo pipoca.

Anseio ser chamada de namorada, de amada e ver o contorno de seu sorriso quando fala marotamente assim.

Quero velejar nos sentimentos, andar no parque de diversões, comer algodão doce e te esperar descer da roda-gigante...

Quero namoro e amizade, quero tudo e maçã-do-amor na praça do interior.

Quero te namorar sem que eu mesma saiba e sem ausências e nem cercados.

Desejo a tua presença e também a tua ausência segura, como uma pétala invisível guardada no livro de poemas...

Quero comer milho cozido e cachorro quente no meio da rua e rir quando nos olharem como dois insanos.

Desejo tomar chuva e caminhar na areia morna, ver vários tipos de pôr-de-sol e ver a lua roída aparecendo de mansinho.

Quero ficar meio sóbria e meio serotonina, mas sempre com pelo menos um pé no chão, aquele pé de valsa.

Quero tuas poesias e os meus textos, quero as descobertas infinitas e rotineiras, quero a chama e o luar inteiro.

Ah! Como eu quero te namorar!




PIRATARIA DE PSEUDÔNIMO


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Passeando por alguns sítios de literatura dei de cara com uma inusitada pergunta de um cidadão: ele queria saber dos internautas se havia algum tipo de proibição para pirataria de pseudônimo. Colocava-se ele na condição de usurpado, pois aparecera outro autor assinando com igual onomatópose naquele site.
Existem as leis de direito de propriedade, a tal patente, e as leis de direito intelectual, ou direitos autorais. Em que lei se enquadra o pseudônimo? No Capítulo II, Art. 19, Dos Direitos à Personalidade, do nosso Código Civil, lógico. Sendo uma designação patronímica, personalista, toda e qualquer pessoa tem o direito irrenunciável de usar o nome que lhe bem convier, independente de quantos existam por aí, desde que não se fira o direito de alguém. Ressalve-se, porém, que isso não significa que devamos nos passar por outra pessoa em proveito próprio ou com fim de prejudicar o homônimo. Neste caso, o Código Civil explicita em seu Art. 12. “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.”
Não confundamos, também, alônimos com “marca registrada”. Isso só vale para brecar a concorrência, espionagem ou fraude comercial ou industrial. A Mercedes Benz pode proibir qualquer marca comercial ou industrial com esse nome, mas não pode impedir ninguém de colocar esse nome em seu filho. Ninguém pode usar o nome “Pelé” com outro fim, a não ser o de designação pessoal. Nada me impede de usar um pseudônimo “Coca-cola”, apesar de ser uma das marcas registradas mais poderosas do planeta.
Xuxa é uma marca registrada. Ela descobriu que havia uma birosca no Rio de Janeiro que se chamava “Bar do Xuxa”. Entrou na justiça querendo indenização. O tiro saiu pela culatra: perdeu a causa e ainda teve que indenizar o cidadão, que se chamava Xuxa. Neste caso, por ser um estabelecimento comercial, valeu o princípio da anterioridade.
Não sei se por cisma, sofisma ou numerologia, quando nasci, a minha mãe sentenciou com a máxima sabedoria de mãe:
– Esse menino tem a cara de Tonho de Lisboa! Vai se chamar Tonho de Lisboa!
– Esse nome não, mamãe! - protestou meu irmão mais velho. Jornalista conceituado no sul maravilha, não ficava bem ser irmão de um Tonho de Lisboa.
– Vai se chamar Ronaldo. Ele tem um ar misterioso. Além disso homenageio um amigo meu, médico lá em São Paulo.
– Mas... e a promessa que fiz pra Santotonho de Lisboa?!
– Nesse caso, bote Ronaldo Antonio, pra não contrariar o santo. E chamemo-lo de Toninho.
A minha mãe aceitou os argumentos do seu primogênito. Disse que realmente eu tinha um ar enigmático. Altivamente dissimulado, como deveria ser um “Ronaldo”, que quer dizer, “o que governa com mistério”. E assim foi feito. Cresci com esse nome e com ele escreverão meu epitáfio. Mas, apesar de devidamente registrado no livro gigante do cartório de registro civil e assinado por Maricas Coxeba, a qual deu fé, não me sinto proprietário desse nome. Já me deparei com centenas deles por aí. Gente séria, gente honesta, gente esculhambada. Velhos proxenetas. Escritores até. Ainda não soube de ninguém reclamando da coincidência nominal. Ou que tenha se sentido prejudicado.
Nossas produções intelectuais são personalíssimas e cada um tente se identificar pelo fio da escrita, preocupando-se mais com o estilo e estética literária do que com nomes e pseudônimos. Sejamos homônimos paronímicos, com vertente para a paronomásia, onde nem tudo que parece, é. Ou, como diz o ditado: parecer não é ser. Afinal, mais vale o homem pela sua arte do que pelo nome que carrega. O Tempo, senhor e dono da razão, haverá de imortalizar a obra, e não o autor.