sábado, 12 de maio de 2012

Ligações Perigosas - O crime organizado e a Revista Veja

O depoimento do delegado da Polícia Federal, Matheus Mela Rodrigues, à CPI foi um dos mais importantes até o momento. A revista Carta Capital publicada nesta sexta-feira mostra que o delegado falou sobre a relação de Cachoeira com a imprensa. Rodrigues afirmou que o diretor da revista Veja em Brasília, Policarpo Junior, sabia das ligações entre o contraventor e o senador Demóstenes Torres. Mesmo assim, a Veja exibia o parlamentar como uma referência ética no Senado. A Carta Capital destaca ainda o fato de Policarpo ser o único jornalista da grande imprensa que aparece sistematicamente nas gravações. 

Cineas Santos - Dos pequenos milagres

Decididamente, não sou o que se possa chamar de um cidadão religioso, místico ou espiritualizado, para usar a expressão da moda. Sou, a exemplo de milhões de brasileiros, um católico relapso que só se lembra do Criador quando a torniquete aperta um pouquinho além do suportável. É certo que fui batizado, crismado e frequentei aulas de catecismo onde aprendi a gaguejar a “Salve-Rainha”. Na meninice, com a cumplicidade das irmãs, andei até celebrando missas nas quais tentava fazer com que bolacha Maria e vinagre Tapajós se transubstanciassem em corpo e sangue do Cordeiro. Em boa hora, descobri que, nas celebrações religiosas, o que me atraía era o ritual e não a essência. Só as alegorias me fascinavam. Depois da Primeira Comunhão, afastei-me da Igreja, mas sempre me faltou coragem e competência para me tornar um ateu. 


O fato de não seguir o figurino do bom cristão não me impede de observar alguns preceitos básicos do Cristianismo: não desonrei pai nem mãe; não prestei falso testemunho; não matei e nunca furtei nada de ninguém. Em relação à mulher do próximo, sempre mantive prudente distância. Quando muito, espicho os olhos na direção da mulher do distante... Mas de que é mesmo que pretendo falar? Ah, dos pequenos milagres! Paciência, irmãos: a velhice é irreversível. 


Aos fatos: crio cachorros desde sempre. Não passo sem uns dois ou três vira-latas no quintal. Há coisa de uns cinco anos, eu tinha três cães: Igor, uma pastor-alemão de boa cepa; Tina, uma vira-lata bandoleira, e Tião, um pincher enxerido. Os três viviam em suportável desarmonia. Vai que uma noite, por volta das 23 horas, meu filho chegou à nossa casa, entrou e, inadvertidamente, deixou o portão aberto. Por volta da meia-noite, percebi o problema. Como um alucinado, saí à caça dos fujões. O meu receio era de que o pastor atacasse alguém. Como moro bem próximo da UFPI, comecei a percorrer as ruas, uma por uma, da Nossa Senhora de Fátima à Kennedy , subindo e descendo, parando e olhando. Vi cães de todas as raças e procedências, menos os meus. Comecei, então, um novo percurso: da N. S. de Fátima à Raul Lopes. Nada. 


Por voltas das três da manhã, extenuado, aflito, desanimado, resolvi refazer o antigo percurso. De repente, ao passar em frente ao Colégio Madre Savina, na Av. Jóquei Clube, resolvi, sem qualquer convicção, recorrer àquela freirinha de aspecto doce e angelical. Madre Savina, me ajude a encontrar esses malditos vira-latas! Acreditem se quiser, ao chegar à N. S. de Fátima, por onde já passara dezenas de vezes, lá estavam os três vadiando alegremente. Sem maiores sacrifícios, levei-os para casa. 


 A partir daquela noite passei a prestar atenção nos pequenos milagres que me acontecem todos os dias. Não me tornei um cristão melhor, mas alguém mais atento. O velho poeta tem razão: “Quando nada estiver acontecendo, é porque um milagre já aconteceu”. 


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Luís Pimentel - Ciro Monteiro, um carioca em tempo integral

Ele faria 99 anos neste maio de 2012. Ano que vem tem centenário, e esperamos que as comemorações sejam mesmo de primeira linha, como merece este artista que foi um dos maiores cantores brasileiros – no gênero samba, foi seguramente o melhor entre os melhores, aí destacando-se Roberto Silva, Jorge Veiga, Blecaute e Noite Ilustrada. 

Ciro Monteiro, conhecido no meio artístico e entre os amigos como Formigão, foi um carioca em tempo integral, nascido no bairro do Rocha, no Rio de Janeiro, cidade onde morreu 60 anos depois. Virou cantor por influência de um tio, o maestro Nonô, e o primeiro sucesso pipocou em 1938, quando gravou Se acaso você chegasse (que ele chamava de “meu hino nacional”), criação imortal de um compositor gaúcho também iniciante chamado Lupicínio Rodrigues. 

A voz suave e encorpada, cheia de ginga, bailando na síncope musical, caiu feito uma luva para os compositores de sambas. Daí para frente, vieram gravações espetaculares de obras de Roberto Martins, Mário Rossi, Ary Monteiro e Wilson Batista, fazendo com que Ciro conquistasse definitivamente o Brasil em 1942, com a gravação do samba Falsa baiana, do mangueirense Geraldo Pereira. Tornou-se quase que intérprete oficial de Geraldo, gravando também o grande sucesso Escurinho. 

Flamenguista dos mais apaixonados, o Formigão tinha o hábito de presentear com uma camisetinha do clube do coração cada filho de amigo que nascia. E sentia prazer especial no gesto quando o pai torcia por outro time do Rio de Janeiro, como foi o caso do compositor Chico Buarque. Torcedor fanático do Fluminense, Chico foi presenteado com o manto sagrado do Mengão quando nasceu sua primeira filha e devolveu o mimo a Ciro com um samba lindo, chamado Receita para virar casaca de neném (“Amigo Ciro/Muito te admiro/Meu chapéu te tiro/Muito humildemente. Minha petiza/Agradece a camisa/Que lhe deste à guisa/De gentil presente/Mas, caro nego/Um pano rubro-negro/É presente de grego/Não de um bom irmão...”).

Ciro Monteiro gravou ainda obras-primas como Beija-me (Roberto Martins e Mário Rossi, 1943), Botões de laranjeira (Pedro Caetano), Meu pandeiro (Luiz Gonzaga e Ary Monteiro), Rosa Morena (Dorival Caymmi), O amor e a rosa (Pernambuco e Antonio Maria), A mesma rosa amarela (Capiba e Carlos Pena Filho), Emília (Wilson Batista e Haroldo Lobo), Filosofia (Noel Rosa), Izaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti), Jura (Sinhô) e Rugas (Nelson Cavaquinho, Augusto Garcez e Ary Monteiro. 


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Caiu a máscara de certos jornalistas éticos

Vai dia, vem dia, e a Editora Abril não se cansa de me mandar cartas ou de telefonar na tentativa de me fazer voltar a assinar a Revista Veja, cancelada na primeira eleição de Lula, em 1988. Hoje mesmo recebi uma, com abatimento de 50% no preço da assinatura. Apelam para o sentimental, lembram que desde os anos 70 eu era assinante e patati e patatá.

A Veja era uma revista que merecia confiança, mas quando se meteu na política partidária deixou a ética de lado e passou a usar do sectarismo partidário. Agora ficou comprovado que eu tive meus motivos para desconfiar da neutralidade de suas manchetes. Os grampos do Carlinhos Cachoeira mostram que era o mafioso goiano quem fazia a pauta semanal da revista. Vejam esta reportagem de Afonso Mônaco para o Domingo Espetacular, da Record. É de arrepiar a relação da revista com o homem que está causando o maior escândalo nas hostes políticas e deixando o Brasil boquiaberto com as relações perigosas do crime organizado com os três poderes da República e agora, com a imprensa. Não deixe de assistir.




terça-feira, 8 de maio de 2012

As duplas de dois de nossa música

A minha ignorância musical virou tema em mesa de boteco. Os meus amigos não me perdoam por eu não saber, até a semana passada, da existência de uma dupla sertaneja chamada Pedro Leonardo. Agora, depois do acidente com o garoto que não sei se é o Pedro ou se é o Leonardo (seria apenas mais um acidente automobilístico se não fosse ele uma dupla sertaneja), confesso que fiquei expert nessa modalidade musical, porém continuo sem conhecer a rica discografia de tão afamada dupla.

Não se trata de preconceito tipo a do DEM que queria embranquecer as universidades. Para a extrema direita brasileira, o voto do branco vale dois votos do preto, porque, apesar de ser a maioria, o preto não vota no branco. Nem em branco. E no DEM só tem sangue azul. Demóstenes Torres é o seu maior exemplo.

Em matéria de música sertaneja, sou ignorante mesmo. Tão ignorante que somente no ano passado fiquei sabendo que Sandy é uma garota e Júnior é um garoto. Uma dupla de dois. Tinha certeza de que era um nome só: Sandy Jr. Conheci apenas a primeira dupla, os pais, Chitãozinho e Xororó, porque, quando eles começaram a cantar, Sílvio Santos lhes deu uma canja em um programa aos sábados na TVS, chamado “Sertanejo”, e não havia como escapar do chororô, dos trêmulos e vibratos da dupla: o sábado era o dia de almoçar com uma tia e ela só sentava à mesa assistindo a esse programa. A opção para não assistir era ficar com fome, mas quem se arriscava?

Enquanto o rádio nos legou gente da estirpe de Ary Barroso, Orlando Silva, Almirante, Noel Rosa e tudo de bom que aconteceu na chamada música popular brasileira, o mesmo não podemos dizer da popularização da televisão, principalmente nas últimas décadas. Até as duplas de dois da era do rádio eram coisas decentes, como Tonico e Tinoco, Jararaca e Ratinho, Irmãs Galvão, Duo Ciriema e até a dupla chinesa Milionário e José Rico. Essa dupla era um sucesso na China, mas como na China de Mao Tsé Tung o capital não mandava, o cachê era pago com um “Deus lhe pague”. Por pouco eles não mudaram o nome da dupla para Miserê e Pé Rapado.

No início da era das micro-ondas da televisão até tivemos ótimos festivais de música, de onde saíram a maior parte do que se salva hoje, embora os milicos tenham deixado muitas gargantas em silêncio. Com o passar das décadas, a televisão passou a usar o processo de idiotização do povo e a vender jabá para as gravadoras e com isso enterrou de vez a música popular brasileira e em seu lugar surgiram as joelmas, psiricos e michéis telós no nosso dia a dia.

Antigamente até as novelas ordinárias se esmeravam para apresentar uma trilha sonora de qualidade. Hoje, além da indiscutível falta de conteúdo no enredo, a banalização do mau gosto musical contamina a nossa parca erudição no intervalo entre o entretenimento e o noticiário.

Até na novela das oito, o chamado “horário nobre”, o refinamento foi para o espaço e a excentricidade musical dos novos dramaturgos deixa-nos a suspirar de saudades de Janete Clair e Dias Gomes.

Mas, voltando ao acidente no começo da conversa, no mesmo dia que a dupla Pedro Leonardo se acidentou, um juiz alagoano decretou a prisão, entre outros, de dois coronéis da PM, um capitão, um delegado tido como incorruptível, e – pasmem! – um General de Exército, todos eles acusados de corrupção e improbidade administrativa na Secretaria de Segurança Pública das Alagoas. Diante de tantos peixes graúdos detrás das grades, a imprensa nacional não deu um pio a respeito, nem mesmo notícia de rodapé. Mostrar o povo rezando ou garoto entregando bilhete aos parentes do acidentado tem mais a ver com a cor da nossa imprensa. O governo alagoano é do PSDB e o general em questão um filiado do DEM baiano, onde serviu fielmente aos interesses escusos do carlismo e onde colecionou uma longa lista de processos do Ministério Público da Bahia. Tanto lá quanto cá, ele foi secretário de Segurança Pública e baixou o índice de criminalidade escondendo os corpos debaixo do tapete, mas isso é coisa sem importância para uma imprensa que usa pena de tucano como caneta-tinteiro. 


Ibys Maceioh no Sr. Brasil

Demorou, mas saiu. É que, ao contrário do que afirmou Fernando Henrique Cardoso, o trabalhador brasileiro trabalha mais quando pendura as chuteiras do que quando está na ativa. Se há uma conta a pagar... chama o aposentado. Se não tem ninguém pra dirigir... chama o aposentado. Se a fila tá grande... chama o aposentado. Pra levar o filho na escola... chama o aposentado. Pra levar alguém da família ao médico... chama o aposentado. Finalmente hoje pude sentar sem pressa ao computador e editar o programa Sr. Brasil, de Rolando Boldrin, onde o amigo Ibys Maceioh fez uma excelente apresentação. Agora, se você viu na tevê, reveja. Se não viu, eis a oportunidade de ver.