terça-feira, 8 de maio de 2012

As duplas de dois de nossa música

A minha ignorância musical virou tema em mesa de boteco. Os meus amigos não me perdoam por eu não saber, até a semana passada, da existência de uma dupla sertaneja chamada Pedro Leonardo. Agora, depois do acidente com o garoto que não sei se é o Pedro ou se é o Leonardo (seria apenas mais um acidente automobilístico se não fosse ele uma dupla sertaneja), confesso que fiquei expert nessa modalidade musical, porém continuo sem conhecer a rica discografia de tão afamada dupla.

Não se trata de preconceito tipo a do DEM que queria embranquecer as universidades. Para a extrema direita brasileira, o voto do branco vale dois votos do preto, porque, apesar de ser a maioria, o preto não vota no branco. Nem em branco. E no DEM só tem sangue azul. Demóstenes Torres é o seu maior exemplo.

Em matéria de música sertaneja, sou ignorante mesmo. Tão ignorante que somente no ano passado fiquei sabendo que Sandy é uma garota e Júnior é um garoto. Uma dupla de dois. Tinha certeza de que era um nome só: Sandy Jr. Conheci apenas a primeira dupla, os pais, Chitãozinho e Xororó, porque, quando eles começaram a cantar, Sílvio Santos lhes deu uma canja em um programa aos sábados na TVS, chamado “Sertanejo”, e não havia como escapar do chororô, dos trêmulos e vibratos da dupla: o sábado era o dia de almoçar com uma tia e ela só sentava à mesa assistindo a esse programa. A opção para não assistir era ficar com fome, mas quem se arriscava?

Enquanto o rádio nos legou gente da estirpe de Ary Barroso, Orlando Silva, Almirante, Noel Rosa e tudo de bom que aconteceu na chamada música popular brasileira, o mesmo não podemos dizer da popularização da televisão, principalmente nas últimas décadas. Até as duplas de dois da era do rádio eram coisas decentes, como Tonico e Tinoco, Jararaca e Ratinho, Irmãs Galvão, Duo Ciriema e até a dupla chinesa Milionário e José Rico. Essa dupla era um sucesso na China, mas como na China de Mao Tsé Tung o capital não mandava, o cachê era pago com um “Deus lhe pague”. Por pouco eles não mudaram o nome da dupla para Miserê e Pé Rapado.

No início da era das micro-ondas da televisão até tivemos ótimos festivais de música, de onde saíram a maior parte do que se salva hoje, embora os milicos tenham deixado muitas gargantas em silêncio. Com o passar das décadas, a televisão passou a usar o processo de idiotização do povo e a vender jabá para as gravadoras e com isso enterrou de vez a música popular brasileira e em seu lugar surgiram as joelmas, psiricos e michéis telós no nosso dia a dia.

Antigamente até as novelas ordinárias se esmeravam para apresentar uma trilha sonora de qualidade. Hoje, além da indiscutível falta de conteúdo no enredo, a banalização do mau gosto musical contamina a nossa parca erudição no intervalo entre o entretenimento e o noticiário.

Até na novela das oito, o chamado “horário nobre”, o refinamento foi para o espaço e a excentricidade musical dos novos dramaturgos deixa-nos a suspirar de saudades de Janete Clair e Dias Gomes.

Mas, voltando ao acidente no começo da conversa, no mesmo dia que a dupla Pedro Leonardo se acidentou, um juiz alagoano decretou a prisão, entre outros, de dois coronéis da PM, um capitão, um delegado tido como incorruptível, e – pasmem! – um General de Exército, todos eles acusados de corrupção e improbidade administrativa na Secretaria de Segurança Pública das Alagoas. Diante de tantos peixes graúdos detrás das grades, a imprensa nacional não deu um pio a respeito, nem mesmo notícia de rodapé. Mostrar o povo rezando ou garoto entregando bilhete aos parentes do acidentado tem mais a ver com a cor da nossa imprensa. O governo alagoano é do PSDB e o general em questão um filiado do DEM baiano, onde serviu fielmente aos interesses escusos do carlismo e onde colecionou uma longa lista de processos do Ministério Público da Bahia. Tanto lá quanto cá, ele foi secretário de Segurança Pública e baixou o índice de criminalidade escondendo os corpos debaixo do tapete, mas isso é coisa sem importância para uma imprensa que usa pena de tucano como caneta-tinteiro. 


Um comentário:

Toninho disse...

Otima cronica amigo,com criticas perfeitas à imbecilidade reinante no país que vai fazer a Copa.
Meu abraço.