sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Antonio Torres - Flimar: o gol de letra do velho Capita


Foi bonita, simpática, leve, divertida e, sobretudo, inteligentíssima, a terceira edição da Flimar, a Festa Literária de Marechal Deodoro, criada, organizada e animada pelo secretário de Cultura dessa cidade, o admirável homem de letras Carlito Lima, o velho Capita, assim chamado, carinhosamente, por ter sido capitão do exército brasileiro.

Graças ao seu esforço e competência, hoje Marechal Deodoro está inserida na agenda nacional de eventos literários - feiras, bienais, festas e jornadas, realizadas regularmente de Passo Fundo, no Rio Grande Sul, a Manaus; e de Macapá, no extremo-norte, a Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira.

Acontecida do dia 28/11 a 1/12, a 3ª Flimar contou com uma variada programação de palestras, oficinas, saraus de poesia, concertos musicais, numa alegre e significativa festa da cultura.

 Frequentador de todas as suas edições até agora, este velho escriba assistiu em todas elas a palestras memoráveis, como as de Marina Colasanti, Ignácio de Loyola Brandão, Luiz Ruffato, Luís Pimentel, Affonso Romano de Sant’ Anna, Salgado Maranhão, etc., etc. No ano passado, porém, o maior destaque da Flimar foi ter o poeta e imortal Lêdo Ivo como o seu autor homenageado. Neste 2012, a honraria se estendeu a dois nomes: o do  folclorista alagoano Théo Brandão - rememorado pelo já citado Lêdo Ivo, assim como pelo jornalista Luiz Rosenberg e outros palestrantes -, e o do baiano que vos escreve, saudado pela professora Vanúsia Amorim, que, em nome de 1.700 alunos do IFAL de Palmeira dos Índios, e a três vozes (com os atores Chico de Assis e Paulo Poeta), leu um poema (Juncomigo) do estudante Lucas Rosendo, proporcionando um dos momentos mais emocionantes da festa.

 Além de Théo Brandão, Monteiro Lobato, Jorge Amado e Luiz Gonzaga, o rei do baião, também foram (bem) lembrados.

 Entre os que contribuíram para o brilho da Flimar 2012 figuram os nomes de Janaína Amado, Maurício Melo Júnior, Miriam Salles, Marília Arnaud, Ovídio Polli Júnior, Valéria Martins, Carla Nobre, Ricardo Cravo Albin, Ricardo Cabus... e o impagável Sebastião Nery – com o devido pedido de desculpas aos não lembrados aqui.          

Que a Flimar entre definitivamente no calendário cultural de Alagoas, para o bem de todos e felicidade geral da nação letrada.

 E palmas para o seu o comandante-em-chefe Carlito Lima, capitão das letras e das artes, semeador de cultura, cultor de amizades. 

 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Luís Pimentel - O ano em que perdemos Altamiro Carrilho

 
     Fluminense de Santo Antônio de Pádua e carioca de coração e de harmonia, o maior flautista de todos os tempos, gênio absoluto do seu instrumento, nasceu num mês de dezembro (dia 21), no ano de 1924. Com os sopros que encantaram pelo menos duas gerações de admiradores e de músicos brasileiros (boa parte deles solando canções de sua própria autoria), Altamiro reinou soberano nas melodias e nos arranjos até o dia 15 de agosto deste ano, quando complicações pulmonares encerraram a sua linda e duradoura carreira.

      Irmão do também flautista Álvaro e tio do genial violonista Maurício Carrilho, mestre Altamiro gravou quase uma centena de discos, deixou pelo menos duzentas obras autorais e esteve à altura de Pixinguinha como executor, mentor e divulgador do choro, no Brasil e no mundo inteiro. Artista de seu tempo, em tempo integral,  jamais parou de trabalhar. Em uma de suas últimas entrevistas, declarou:

      "Nem penso em parar. Ainda dependo do trabalho para sobreviver. Aposentadoria de músico é muito baixa. E eu também não soube guardar dinheiro quando tocava com frequência no exterior", admitiu, para logo emendar no estilo de quem sempre levou a vida com jovialidade e picardia: "Mas também não me arrependo, porque a vida é para ser vivida".

      Em 2009, a gravadora Biscoito Fino lançou a caixa de discos Poesia do Choro, com três CDs de Altamiro Carrilho. Foi um sucesso e aproximou o mestre de um público mais jovem, que ainda não conhecia sua obra. O surgimento ou ressurgimento, nos últimos anos, de experiências como a Escola Portátil de Música, no Rio, têm valorizado a produção de altíssimo nível que o pai da flauta deixou.

      Por ter convivido com a música desde muito pequeno, tocando tarol na banda Lira de Arion, em sua cidade, Altamiro ligou seu nome e existência, também, a choros seminais de outros compositores, como Pixinguinha (Carinhoso), Radamés Gnatalli (Rio antigo) e João de Barro (Urubu malandro),  que nos acordes de sua flauta ganharam roupagem e personalidade.

      Estará para sempre na pequena galeria composta por aqueles músicos que a música jamais esquecerá.

 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Quem sabe faz a hora




“Um mais um é sempre mais que dois”. Beto Guedes.

Quem participou do Fórum Nacional de Cultura sabe o quão difícil é se fazer cultura sem o apoio oficial e sem um bom mecenas a financiar a arte e as letras dos desprovidos de dinheiro para bancar o jabá midiático, tão comum hoje em dia.

Em Alagoas havia uma grita geral da classe artística local, principalmente dos músicos e compositores, a maioria com bons trabalhos gravados, mas sem a oportunidade de serem divulgados. Na seara das Letras, nem é bom se falar. Poucos, bem poucos, raros amigos do poder (ou do “quem indicou”), conseguiam publicação pelos órgãos competentes, verdadeiras máquinas de se misturar dinheiro público com o compadrio.

Em Palmeira dos Índios, cidade no sertão alagoano, na contramão dos contratempos está surgindo um movimento de escritores juvenis no Ifal (antiga Escola Técnica), capitaneado pela competente e dedicada professora de Literatura Vanúsia Amorim. Graças a esse movimento os estudantes estão tendo voz e vez na literatura local, apadrinhados pelo escritor baiano Antônio Torres, ídolo da garotada palmeirense.

Pelas bandas da minha terra, o arraial do Junco, existe outro “mecenas” da classe estudantil, uma professora, voz isolada dentro das quatro paredes que delimitam o espaço físico da escola. Mestra em Crítica Cultural pela UNEB, em Alagoinhas, não deixa passar em brancas nuvens os eventos culturais promovidos pelo aparelho estatal (e que são muitos, diga-se de passagem), principalmente os de cunho competitivo. Recentemente ela esteve envolvida no Primeiro Encontro Estudantil de Ciência, Arte e Cultura, cuja etapa final se deu na Praça das Artes, no Pelourinho, Salvador, Bahia.  Dez alunos de sua escola foram selecionados, mas nem todos puderam comparecer por motivos alheios à sua vontade.

Foram vários dias de integração da comitiva junquesa a outras da imensa Bahia, sem se falar no deslumbramento de se conhecer a velha capital pela primeira vez. Dormiam e acordavam vendo a Baía de Todos os Santos através da janela do hotel em que se hospedaram no Farol da Barra. A partir desse evento, seus olhares nunca mais serão os mesmos.

Vale dizer que, a ajuda do governo estadual com transporte, hospedagem e alimentação foi tão-somente no trajeto Alagoinhas-Salvador-Alagoinhas. Os alunos envolvidos no projeto só puderam completar o trajeto graças ao apoio das boas almas dos viventes intramuros da escola. O município, que gasta milhões com obras sem nenhum sentido ou com bandas de reboleichô-chô, não investe um centavo na promoção cultural nem no potencial estudantil em ebulição. Aliás, a atual gestão conseguiu uma grande mágica, daquelas de botar Mister-M no chinelo: fez sumir tudo aquilo que foi construído na área cultural ao longo das décadas. Para os operadores e observadores da área, esta foi uma gestão de terra arrasada. Literalmente.

Vanúsia em Palmeira dos Índios, Cristiana Alves no velho Junco, duas mulheres na vanguarda dos acontecimentos além dos limites de suas possibilidades, contando apenas com a cooperação dos colegas e o esforço dos seus alunos que, na maioria das vezes, são movidos apenas pelo desejo em dar a volta por cima de suas carências.

Por essas duas grandes mestras que fazem a diferença na terra dos desiguais, parabenizo a todos aqueles e aquelas que acreditam poder fazer a hora sem a agonia da espera.