segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Quem sabe faz a hora




“Um mais um é sempre mais que dois”. Beto Guedes.

Quem participou do Fórum Nacional de Cultura sabe o quão difícil é se fazer cultura sem o apoio oficial e sem um bom mecenas a financiar a arte e as letras dos desprovidos de dinheiro para bancar o jabá midiático, tão comum hoje em dia.

Em Alagoas havia uma grita geral da classe artística local, principalmente dos músicos e compositores, a maioria com bons trabalhos gravados, mas sem a oportunidade de serem divulgados. Na seara das Letras, nem é bom se falar. Poucos, bem poucos, raros amigos do poder (ou do “quem indicou”), conseguiam publicação pelos órgãos competentes, verdadeiras máquinas de se misturar dinheiro público com o compadrio.

Em Palmeira dos Índios, cidade no sertão alagoano, na contramão dos contratempos está surgindo um movimento de escritores juvenis no Ifal (antiga Escola Técnica), capitaneado pela competente e dedicada professora de Literatura Vanúsia Amorim. Graças a esse movimento os estudantes estão tendo voz e vez na literatura local, apadrinhados pelo escritor baiano Antônio Torres, ídolo da garotada palmeirense.

Pelas bandas da minha terra, o arraial do Junco, existe outro “mecenas” da classe estudantil, uma professora, voz isolada dentro das quatro paredes que delimitam o espaço físico da escola. Mestra em Crítica Cultural pela UNEB, em Alagoinhas, não deixa passar em brancas nuvens os eventos culturais promovidos pelo aparelho estatal (e que são muitos, diga-se de passagem), principalmente os de cunho competitivo. Recentemente ela esteve envolvida no Primeiro Encontro Estudantil de Ciência, Arte e Cultura, cuja etapa final se deu na Praça das Artes, no Pelourinho, Salvador, Bahia.  Dez alunos de sua escola foram selecionados, mas nem todos puderam comparecer por motivos alheios à sua vontade.

Foram vários dias de integração da comitiva junquesa a outras da imensa Bahia, sem se falar no deslumbramento de se conhecer a velha capital pela primeira vez. Dormiam e acordavam vendo a Baía de Todos os Santos através da janela do hotel em que se hospedaram no Farol da Barra. A partir desse evento, seus olhares nunca mais serão os mesmos.

Vale dizer que, a ajuda do governo estadual com transporte, hospedagem e alimentação foi tão-somente no trajeto Alagoinhas-Salvador-Alagoinhas. Os alunos envolvidos no projeto só puderam completar o trajeto graças ao apoio das boas almas dos viventes intramuros da escola. O município, que gasta milhões com obras sem nenhum sentido ou com bandas de reboleichô-chô, não investe um centavo na promoção cultural nem no potencial estudantil em ebulição. Aliás, a atual gestão conseguiu uma grande mágica, daquelas de botar Mister-M no chinelo: fez sumir tudo aquilo que foi construído na área cultural ao longo das décadas. Para os operadores e observadores da área, esta foi uma gestão de terra arrasada. Literalmente.

Vanúsia em Palmeira dos Índios, Cristiana Alves no velho Junco, duas mulheres na vanguarda dos acontecimentos além dos limites de suas possibilidades, contando apenas com a cooperação dos colegas e o esforço dos seus alunos que, na maioria das vezes, são movidos apenas pelo desejo em dar a volta por cima de suas carências.

Por essas duas grandes mestras que fazem a diferença na terra dos desiguais, parabenizo a todos aqueles e aquelas que acreditam poder fazer a hora sem a agonia da espera.

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