“Um
mais um é sempre mais que dois”. Beto Guedes.
Quem
participou do Fórum Nacional de Cultura sabe o quão difícil é se fazer cultura sem
o apoio oficial e sem um bom mecenas a financiar a arte e as letras dos
desprovidos de dinheiro para bancar o jabá midiático, tão comum hoje em dia.
Em
Alagoas havia uma grita geral da classe artística local, principalmente dos
músicos e compositores, a maioria com bons trabalhos gravados, mas sem a
oportunidade de serem divulgados. Na seara das Letras, nem é bom se falar.
Poucos, bem poucos, raros amigos do poder (ou do “quem indicou”), conseguiam
publicação pelos órgãos competentes, verdadeiras máquinas de se misturar dinheiro
público com o compadrio.
Em
Palmeira dos Índios, cidade no sertão alagoano, na contramão dos contratempos
está surgindo um movimento de escritores juvenis no Ifal (antiga Escola
Técnica), capitaneado pela competente e dedicada professora de Literatura
Vanúsia Amorim. Graças a esse movimento os estudantes estão tendo voz e vez na
literatura local, apadrinhados pelo escritor baiano Antônio Torres, ídolo da
garotada palmeirense.
Pelas
bandas da minha terra, o arraial do Junco, existe outro “mecenas” da classe
estudantil, uma professora, voz isolada dentro das quatro paredes que delimitam
o espaço físico da escola. Mestra em Crítica Cultural pela UNEB, em Alagoinhas,
não deixa passar em brancas nuvens os eventos culturais promovidos pelo
aparelho estatal (e que são muitos, diga-se de passagem), principalmente os de
cunho competitivo. Recentemente ela esteve envolvida no Primeiro Encontro
Estudantil de Ciência, Arte e Cultura, cuja etapa final se deu na Praça das
Artes, no Pelourinho, Salvador, Bahia. Dez
alunos de sua escola foram selecionados, mas nem todos puderam comparecer por
motivos alheios à sua vontade.
Foram
vários dias de integração da comitiva junquesa a outras da imensa Bahia, sem se
falar no deslumbramento de se conhecer a velha capital pela primeira vez.
Dormiam e acordavam vendo a Baía de Todos os Santos através da janela do hotel
em que se hospedaram no Farol da Barra. A partir desse evento, seus olhares
nunca mais serão os mesmos.
Vale
dizer que, a ajuda do governo estadual com transporte, hospedagem e alimentação
foi tão-somente no trajeto Alagoinhas-Salvador-Alagoinhas. Os alunos envolvidos
no projeto só puderam completar o trajeto graças ao apoio das boas almas dos
viventes intramuros da escola. O município, que gasta milhões com obras sem
nenhum sentido ou com bandas de reboleichô-chô, não investe um centavo na
promoção cultural nem no potencial estudantil em ebulição. Aliás, a atual
gestão conseguiu uma grande mágica, daquelas de botar Mister-M no chinelo: fez
sumir tudo aquilo que foi construído na área cultural ao longo das décadas.
Para os operadores e observadores da área, esta foi uma gestão de terra
arrasada. Literalmente.
Vanúsia
em Palmeira dos Índios, Cristiana Alves no velho Junco, duas mulheres na
vanguarda dos acontecimentos além dos limites de suas possibilidades, contando
apenas com a cooperação dos colegas e o esforço dos seus alunos que, na maioria
das vezes, são movidos apenas pelo desejo em dar a volta por cima de suas carências.
Por
essas duas grandes mestras que fazem a diferença na terra dos desiguais,
parabenizo a todos aqueles e aquelas que acreditam poder fazer a hora sem a
agonia da espera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário