quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Luís Pimentel - O ano em que perdemos Altamiro Carrilho

 
     Fluminense de Santo Antônio de Pádua e carioca de coração e de harmonia, o maior flautista de todos os tempos, gênio absoluto do seu instrumento, nasceu num mês de dezembro (dia 21), no ano de 1924. Com os sopros que encantaram pelo menos duas gerações de admiradores e de músicos brasileiros (boa parte deles solando canções de sua própria autoria), Altamiro reinou soberano nas melodias e nos arranjos até o dia 15 de agosto deste ano, quando complicações pulmonares encerraram a sua linda e duradoura carreira.

      Irmão do também flautista Álvaro e tio do genial violonista Maurício Carrilho, mestre Altamiro gravou quase uma centena de discos, deixou pelo menos duzentas obras autorais e esteve à altura de Pixinguinha como executor, mentor e divulgador do choro, no Brasil e no mundo inteiro. Artista de seu tempo, em tempo integral,  jamais parou de trabalhar. Em uma de suas últimas entrevistas, declarou:

      "Nem penso em parar. Ainda dependo do trabalho para sobreviver. Aposentadoria de músico é muito baixa. E eu também não soube guardar dinheiro quando tocava com frequência no exterior", admitiu, para logo emendar no estilo de quem sempre levou a vida com jovialidade e picardia: "Mas também não me arrependo, porque a vida é para ser vivida".

      Em 2009, a gravadora Biscoito Fino lançou a caixa de discos Poesia do Choro, com três CDs de Altamiro Carrilho. Foi um sucesso e aproximou o mestre de um público mais jovem, que ainda não conhecia sua obra. O surgimento ou ressurgimento, nos últimos anos, de experiências como a Escola Portátil de Música, no Rio, têm valorizado a produção de altíssimo nível que o pai da flauta deixou.

      Por ter convivido com a música desde muito pequeno, tocando tarol na banda Lira de Arion, em sua cidade, Altamiro ligou seu nome e existência, também, a choros seminais de outros compositores, como Pixinguinha (Carinhoso), Radamés Gnatalli (Rio antigo) e João de Barro (Urubu malandro),  que nos acordes de sua flauta ganharam roupagem e personalidade.

      Estará para sempre na pequena galeria composta por aqueles músicos que a música jamais esquecerá.

 

Nenhum comentário: