Por Cineas Santos
De O menino que descobriu as palavras |
De O menino que descobriu as palavras 2 |
Numa dessas tardes de outubro que transformam Teresina numa cidade quase insuportável, no Instituto Dom Barreto, fui procurado pela profa. Bernadete Farias. Queria uma sugestão: como trabalhar rimas com crianças recém-alfabetizadas. Indiquei-lhe alguns poemas de Bandeira, Cecília e Quintana, poetas capazes de sensibilizar crianças de todas as idades, até mesmo aquelas que, como eu, já nem se lembram que, um dia, foram crianças. Nisso, aparece o prof. Marcílio Rangel que, sem ser consultado, resolveu apresentar sua sugestão: “Trabalhar rimas com crianças é muito fácil. Basta dizer: bom-dia/ como foi seu dia/comendo melancia...” Não me contive: Que diabo é isso, dom Marcílio? Está parecendo coisa do Zé Limeira! Com a delicadeza que o caracterizava, desafiou-me: “Se você não gostou, faça algo melhor”. Mesmo sabendo tratar-se de uma brincadeira, saí do colégio com o firme propósito de fazer algo aceitável. A primeira ideia era escrever um cordelzinho lírico, numa linguagem acessível. Mal iniciei a empreitada, me dei conta de que, para uma criança pequena, as rimas alternadas nas estrofes de seis versos não seriam facilmente perceptíveis. Optei por rimas paralelas em estrofes de dois versos apenas. Escrevi versos de sete sílabas (heptassílabos), musicais e muito comuns no cancioneiro popular. Narrei a história de um menino que, bem pequeno, descobre, maravilhado, a beleza e a magia das palavras. Nascia ali O Menino que descobriu as palavras, poeminha despretensioso, com finalidade puramente didática.
Um dia, Gabriel Archanjo, meu irmão querido, viu o texto e, por sua conta e risco, resolveu ilustrá-lo. Quando me mostrou o resultado, quase não acreditei: o texto ganhara vida, cor, beleza e magia. Estava tudo tão bem resolvido que parecia ter sido concebido e realizado uma única pessoa. Entusiasmado, fui procurar o Marcílio com o projeto na mão. Provinciano, com os pés e os olhos em minha aldeia, sugeri-lhe uma pequena edição destinada aos alunos do Dom Barreto. Marcílio não se conteve: “Que Dom Barreto que nada. Vamos fazer uma edição nacional!”. E, sem me dar tempo para pensar, mandou providenciar duas passagens para São Paulo. Com o projeto debaixo do braço, bati à porta da Editora Ática que, sem alterar uma vírgula, editou o livrinho. O mais é sabido: a primeira edição do Menino já vendeu 44 mil exemplares. Você não leu errado. É isso mesmo: quarenta e quatro mil exemplares. No ano passado, eu e meu irmão decidimos dar um banho de cor na nossa cria. O resultado não poderia ter ficado melhor: o Menino, mais alegre e mais colorido, já está nas livrarias em edição caprichadíssima. Para quem teve origem tão modesta, esse moleque já chegou muito longe. E, pelo ar compenetrado, não parece satisfeito: quer conquistar novos amiguinhos.
Assim seja!
Um comentário:
Taí, gostei. Se achar esse livro por aqui 9provavelmente acharei, temos boas livrarias) vou comprar.Gosto de literatura infantil e muita criança para ganhar um livro de presente (depois que eu ler)
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