quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Cineas Santos - As descobertas do outro Colombo

De Colombo

Aos 12 anos de idade, na cidade de Sobral (CE), o garoto Francisco Diogo da Silva, por influência da mãe, decidiu tornar-se músico. O único instrumento disponível na casa era um banjo. Sem outra opção, fez-se banjoísta. Aos 14, trocou o banjo pela manola, “uma espécie de cavaquinho italiano”. Em curto espaço de tempo, passou a acompanhar os sanfoneiros de sua terra pelos sertões do Ceará. “Por medo de ser convocado para a guerra, casei-me aos 16 anos; aos 17, já era pai. Aí, tive de largar os estudos e cair na noite para sustentar a família”, afirma sorrindo o mestre Colombo, um dos músicos mais completos que já vi. Antes que me perguntem onde o velho instrumentista entra nessa história, concedo-lhe a palavra: “Quando fui servir o exército, eu já era guitarrista e usava uma cabeleira de roqueiro. Foi aí que o sargento me viu e gritou: ‘Tu aí, com cara de Cristóvão Colombo, como é o teu nome?’ A partir daquele momento, passei a me chamar Colombo. Hoje, já nem me lembro se um dia fui Francisco”. Coisas da vida.

Em 1958, Colombo veio a Teresina pela primeira vez e se fez amigo da fina flor da boemia teresinense: Totó Barbosa, Ângelo Campelo, Paulo Vieira e Clemílton Silva, entre outros. No início dos anos 60, já era um dos músicos mais requisitados de Fortaleza. Não por acaso, integrava o conjunto do saxofonista Ivanildo do Sax. Em 65, mudou-se de mala e cuia para Teresina, contratado pelo proprietário da Boite Coelho. Na companhia de Barbosa, Orion, Toinho e outras feras, integrou o conjunto Barbosa Show Bossa, a banda que tocava para os bem-nascidos nas “tertúlias” do Clube dos Diários. Depois, participou do conjunto Sambrasa, um dos grupos mais famosos de Teresina. Nesse ínterim, foi contratado para tocar surdo na Banda 16 de Agosto, da Prefeitura de Teresina. Um dia, o maestro reclamou a ausência de um trompista para dar harmonia à banda. Colombo não se fez de rogado: pegou uma trompa velha e, seis meses depois, o problema estava resolvido. Sua trajetória tem sido assim: toca o instrumento que lhe cai às mãos. No grupo Trombone & Cia, por exemplo, passou a tocar bandolim como se nunca tivesse feito outra coisa na vida. O que mais impressiona nesse multiinstrumentista é a simplicidade. Colombo não se exibe para a plateia; põe sua competência a serviço da música.

Em duas oportunidades, tive a satisfação de homenageá-lo. A última delas, no dia 19 do mês em curso, na Oficina da Palavra. Com a participação de um punhado de músicos da melhor qualidade (José Willians, Josué Costa, Janete, Rosinha Amorim, Enaldo, Aílton, entre outros), fizemos um show memorável. Colombo, cuja idade não revela, comportou-se como um menino arteiro na comemoração do próprio aniversário: tocou e divertiu-se como nunca. Se me pedissem uma síntese da trajetória de Colombo, eu diria: um cidadão que dedicou a vida inteira a produzir beleza. Convenhamos que não é pouco.

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