Fogo morto,
romance vivo
Por Antonio Torres
romance vivo
Por Antonio Torres
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De Fogo Morto - José Lins do Rego |
São raras as obras literárias comparáveis aos diamantes, cujo brilho nunca se apaga. Fogo morto é, sem dúvida

Fogo morto tem por núcleo a pungente história de três personagens trágicos: o mestre José Amaro, homem do povo, de firmes convicções, condenado a um destino brutal; o major Luis César de Holanda Chacon, um citadino instruído e ocioso que, por laços matrimoniais, ascende à nobreza rural, vindo a se tornar um senhor de engenho truculento, cujo destino o condenaria a uma melancólica decadência; o patético capitão Vitorino Carneiro da Cunha, o Papa-Rabo, espécie de Quixote sertanejo, réprobo de suas fantasias de heroísmo – e uma criação literária simplesmente brilhante. Estes protagonistas, somados a um elenco de coadjuvantes igualmente memoráveis, compõem um amplo espectro da sociedade brasileira na transição entre a Escravatura e a Abolição.
Simbolizando o fim de uma era, Fogo morto expõe a vulnerabilidade de todo um ciclo econômico – o da cana-de-açúcar –, dependente do trabalho escravo. Com a Lei Áurea, até os senhores de engenho ficaram sem saber o que fazer de si mesmos. A trama do romance, portanto, envolve complexas tensões entre casa grande x senzala, homens x mulheres, brancos x pretos, cangaço x governo etc. E escancara uma realidade de violência, racismo, machismo e loucura, temas (ainda!) tão contemporâneos. Tudo isso entretela a sua abrangência histórica e alta significação literária.
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