terça-feira, 1 de dezembro de 2009

OS SALVADORES DA TERRA

Cineas Santos

De SOS Planeta Terra


No milênio passado, trouxeram a Teresina um sábio para discorrer sobre questões ambientais. O cidadão, autor de um livro referência sobre chuvas ácidas, era professor-doutor não sei exatamente em quê. Por mais de uma hora, o moço verteu sabedoria por todos os poros e terminou sua peroração com o chavão apocalíptico: “Lembrem-se de que temos pouco tempo para salvar nosso planeta”. Tive a compulsão de questioná-lo sobre o poder e a responsabilidade que ele nos atribuía. Salvar a Terra? Isso dito por uma professorinha de escola de periferia até que se entende, mas por um sábio... Ora, a Terra, com ou sem a nossa presença, vai continuar existindo e parindo novas formas de vida. Quanto a nosotros, o máximo que podemos fazer é, se tivermos bom senso, prorrogar por mais alguns anos a nossa permanência nesta casca de noz. Nada além. Como aprendi que não se devem questionar os sábios, permaneci calado no meu canto.

Por razões que ignoro, os organizadores do evento pediram que eu me manifestasse. Limitei-me a afirmar que as minhas preocupações ambientais estavam centradas no meu quintal, na minha rua, na minha aldeia. O sábio, com um misto de ironia e desprezo, perguntou: “Quer dizer que você não se preocupa com o macro?” Peguei de bate-pronto: tanto me preocupo, meu irmão, que estou cuidando do micro. E, só de sacanagem, acrescentei: eu também me interesso pela Via Láctea, mas, no momento, estou tentando entender o mecanismo que acende os vaga-lumes. E mais não disse por que não vinha ao caso.

A lembrança desse fato ocorreu-me quando fui procurado por um grupo de jovens que queria a minha participação na “Marcha pela salvação do Planeta”, que se realizará antes da Conferência de Copenhague. Segundo um dos organizadores, “Precisamos pressionar os Estados Unidos e a China para que eles estabelecerem metas concretas de redução das emissões de CO2”. O garoto falava com tal convicção que quase me convenceu a participar da passeata salvadora. Lembrei-me de que, na remota década de 80, eu também andei “salvando o Planeta” em manifestações do gênero. Como já não tenho aspirações tão ambiciosas, perguntei-lhe: meu jovem, não seria menos complicado tentar convencer os bem-nascidos de Teresina a não lavarem seus carrões e carrinhos na beira do Parnaíba? Veja bem: os Estados Unidos não costumam ouvir a ninguém; a China, por seu turno, é muito longe. Por que não “pensar globalmente e agir localmente”, como apregoam os corifeus da ecologia?

Os jovens me fuzilaram com olhares reprovativos e se retiraram sem se despedir. Um deles chegou a declarar: “Não adiante discutir com esse tipo de gente: são todos iguais. Ambiciosos e egoístas, não pensam no futuro da humanidade”. Ao ver aqueles jovens idealistas partirem desapontados e enfurecidos, experimentei (por que não confessar?) uma pontinha de arrependimento. Meu Deus, se o mundo acabar em 2012, como preveem alguns profetas, seguramente a culpa será minha. Minha e de mais ninguém.

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