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De Superinteressante Fev. 2010 |

Enquanto lia a reportagem de capa da Super, ocorreu-me a lembrança de um poema de Drummond - “O sobrevivente” – publicado em 1930. Lá pelas tantas, afirma o poeta: “Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples./Se quer fumar um charuto aperte um botão./Paletós abotoam-se por eletricidade./O amor se faz pelo sem-fio./Não precisa estômago para a digestão”. A ideia desse admirável mundo novo não parece fascinar o Gauche de Itabira, que afirma: “Mas até lá, felizmente, estarei morto”. Drummond comporta-se como um verdadeiro vate e conclui, pessimista: “Os homens não melhoraram/ e matam-se como percevejos./Os percevejos heróicos renascem./Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado/ E se os olhos reaprendessem a chorar, seria um segundo dilúvio”.
Drummond pôs o dedo na ferida: “inabitável, o mundo é cada vez mais habitado”. As estatísticas indicam que, em menos de 50 anos, o exaurido planeta Terra terá nada menos de dez bilhões de bocas para alimentar. Diante de desafio de tal monta, os sociólogos já pensam em exumar as teorias do velho Malthus: a humanidade morrerá de fome. O cientista James Lovelock, autor de A Vingança de Gaia, garante que, nesse ritmo, antes do final do século 21, 80% da população do Planeta terá desaparecido. “A vida, como a concebemos hoje, será praticamente impossível”, afirma. Não é preciso ser muito inteligente para perceber que essa equação não fecha. Há uma pergunta que não quer calar: em que planeta viverão os terráqueos imortais?
Como não sou egoísta, prometo ceder meu lugar, no momento oportuno, a quem se habilitar a ocupá-lo. E fecho esta arenga com outro poeta mineiro, Murilo Mendes: “Tenho pena dos que vão nascer”.
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