De Dia internacional da mulher |
O meu amigo Chuchu agia em consonância com o nome, sem se importar com o que pensavam os seus vizinhos, inclusive eu que, vez ou outra, cogitava lhe chamar a atenção para o fato, porém o mesmo fazia questão de viver sob a coleira da mulher. Uma simples decisão, como a de parar um instante no boteco ao lado de casa para molhar a garganta com os amigos, havia de passar pela permissão da cara-metade, mesmo estando ele morrendo de vontade de entrar. Ela era o fator determinante de sua personalidade e assim ele viveu (ou pensou que viveu) até o dia que ela, cansada de tanta submissão do marido e querendo ser dominada por um homem de verdade, arrumou as malas e fugiu com o pé de pano, deixando Chuchu com o ônus da desonra, além de ser objeto principal dos comentários jocosos da vizinhança por longo tempo, pois, soube-se depois, que o tinhoso ricardão era uma amiga do casal.
– Ele não era mole só nas atitudes. Ser corno de mulher é a pior coisa que pode acontecer a um homem – diziam as más e também boas línguas quando ele passava, cabisbaixo, soturno, como a carregar todo o peso do mundo nas costas.
Essa ocorrência data de trinta anos atrás e Chuchu morreu no ano passado sem se aventurar em novo casamento. A decepção fora tanta que seria compreensível se tivesse virado a casaca também, mas como já estava cheio de cabelos brancos, ia precisar de muita grana para poder arranjar um bofe de bons bofes.
O que aconteceu com ele foi só um exemplo dentre milhares, e por isso todo dia coloco minha barba de molho. Nenhuma relação se sustenta na dominação, seja de que lado for, embora minha cara-metade reclame, vez ou outra, do chip que coloquei na sua perna para mantê-la sob controle vinte e quatro horas por dia, via GPS. Que se há de fazer? Malandro que é malandro não dorme de touca. Canja de galinha e precaução não fazem mal a ninguém. Ou, como cantava o refrão daquele samba dos anos setenta: “A nega é minha, ninguém tasca, eu vi primeiro”.
Mulher bonita, boa e liberal faz o homem gemer sem sentir dor e, por causa desse axioma irrefutável, é a preferida nas cantadas e investidas de umas e outros nos bailes e bares da vida, independente de serem solteiras, viúvas, casadas ou que costuram para fora. Ficam na espreita feito caçador à espera da caça, aguardando o momento oportuno para darem o bote. São atenciosos, doces, melosos, e dizem ter a solução para todos os problemas da vida.
Nós, homens, precisamos reivindicar a criação de vários dias do homem ma-cho-cho, com direito a feriado nacional, divulgação na imprensa internacional e caminhada mais barulhenta e concorrida do que a parada gay. Lutemos pelo orgasmo múltiplo, livre, e distribuição gratuita de Viagra nos postos de saúde para que as mulheres se sintam incentivadas a escrever loas ao nosso dia, listando e enaltecendo nossas qualidades. O Governo deverá criar cotas para o Homem com agá maiúsculo nas universidades federais. E, finalmente, quando um casal hétero for barrado numa boate GLS, a casa deve ser fechada e os responsáveis processados por discriminar a minoria.
Fiquemos antenados porque a concorrência é acirrada e desleal, principalmente das mulheres com excesso de testosterona. Além de elas conhecerem melhor a alma feminina, pois, querendo ou não nasceram com uma, frequentam o mesmo banheiro do boteco, onde se desnudam sem o menor pudor e falam de suas intimidades em cumplicidade de amantes, embora a candidata a sandaliazinha não tenha malícia em suas ações e atenções, até então, inocentes, tal qual Chapeuzinho Vermelho sendo conduzida (e induzida) pelo lobo mau.
Portanto, tratemo-las com deferência, não só no dia internacional da mulher, mas nos trezentos e sessenta e quatro dias, seis horas e cinquenta segundos seguintes, sem esmorecer, porém. Como dizia o camarada Che: “Hay que endurecer sin perder la ternura jamás”. Quando sua mulher o chamar para lavar os pratos, grite bem abusado para que seus amigos e a vizinhança saibam quem é que fala mais alto na sua casa:
– Já vou, meu bem!
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