quarta-feira, 4 de julho de 2012

Luís Pimentel - O camelo e as alpercatas

O avô parecia um camelo,
com a corcova nas costas
e aquele nariz imenso,
sempre apontando para o sol. 

Madrugava montado nas alpercatas,
acordando as pedras e os tocos da estrada
que lhe diziam bom-dia,
ensinando acordes às cigarras. 

E pelo mato adentro o avô ficava
cochichando com o tempo,
desnudando nuvens e fumaças
que deixavam seu bigode amarelo.

E era sempre noite quando o avô chegava,
fedendo a suor, a cigarro e a queimada,
com seu abraço segredando a melodia
que nenhuma cigarra daquelas imaginava.

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