segunda-feira, 12 de setembro de 2011

QUE LÍNGUA NÓS FALAMOS?

No golpe de Estado aplicado aos portugueses pelo Primeiro-ministro Antonio Oliveira Salazar, em 1933, os paraquedistas da Força Aérea Portuguesa, quando se jogavam no vazio, em vez de contar até dez para abrir os paraquedas, eram obrigados a gritar: “Viva Salazar!” e depois puxar a cordinha. O treinamento seguia seu curso normal quando um deles desceu em queda livre e se estatelou no chão, voando pedaços do corpo para todos os lados. Houve uma correria geral para ver quem era o infeliz. Alguém o identificou:

– Coitado, era o soldado Gaguinho!

Nos negros anos em que a Ditadura brasileira promovia uma intensa caça aos intelectuais de esquerda, ou que assim presumisse, o escritor Antônio Torres se exilou voluntariamente em Portugal nos estertores do salazarismo. As colônias portuguesas viviam em ebulição de independência e a opinião pública internacional, traduzida pela ONU, condenava Salazar por manter políticas colonizadoras aos moldes da idade medieval. Em 1968, Salazar teve um derrame e foi substituído por Marcelo Caetano, destituído do poder em abril de 1974 por forte pressão popular, que ficou conhecida como “A Revolução dos Cravos”.

Jornalista e publicitário, Antônio Torres aproveitou a onda histórica para escrever sobre o salazarismo e assim nasceu o seu livro “Os Homens dos Pés Redondos”, que teve um grande sucesso editorial e boa repercussão entre os críticos, que viam nele um grande escritor pós-moderno, abalizado pelo best-seller “Um Cão Uivando Para a Lua”, lançado anteriormente. Por ocasião do lançamento do livro, em Salvador, eu quis saber o porquê dos “pés redondos”:

–  O salazarismo era um regime que andava em círculo, não indo a lugar nenhum, por isso “os pés redondos”.
– Só se for lá em Portugal – disse-lhe eu – porque, aqui, quem tem os pés redondos são os burros.  

Ele caiu em si. Em Portugal não era ofensa, mas aqui podia ser. Porém não havia mais jeito de refazer o título.

Que língua nós falamos, afinal? Quando chego à Bahia, minha terra natal, preciso de um intérprete para entender o meu povo. Certa vez, estava conversando com o meu sobrinho adolescente, na sacada do apartamento da minha irmã, passou um rapazola na rua e os dois entabularam conversa: “E aí, porra, como é que foi a porra?”, perguntou o meu sobrinho. O amigo respondeu: “A porra foi da porra, porra!” Não me contive e soltei uma sonora “porra” de estupefação.

O meu cunhado, dentro de casa, desistiu de satisfazer o desejo de minha irmã sob o claro e lógico argumento de que “a coisa não coisa, se ele não coisar, como ele não podia coisar naquele momento, a coisa não coisa”. 

E a coisa que não coisava era enfiar um prego na parede para pendurar um quadro.

Pois bem, vocês acham que Guimarães Rosas tem uma linguagem complicada, né? Então, vejam se entendem o cotidiano do linguajar baiano:

“Vamos bater uma caixa que hoje vou arriar o balaio e bater coxa sem cerca-lourenço. Se assunte que estou azuretado e badogueira comigo é caixão e vela, meu rei, mesmo tendo o balaio grande, corpo cevado e fatiotada feito penteadeira de puta. Não vou ficar cozinhando o galo em banho-maria com minha moral de jegue, pois tenho que paletar para a casa da porra para pegar um buzú. Se cair um cacau, no caminho, paro num cacete armado para não molhar meu roscófi nem meu arromba-peito; aproveito para comer água bruta, ceva com folha podre, acompanhado de chupa-molho de currute, como se tivesse solto na buraqueira, mesmo sem uma banda de conto para sustar a dolorosa, e se aparecer algum tirado a porreta tirando filipeta, dou uma dura, mando o sacrista se campar e toco o meu bonde pra lapinha, malmente descambixado e descalqueado, para encher o talo em outra visgueira, onde ninguém possa jogar as cajás pra cima de muá e eu possa comer rama até chamar Jesus de Genésio e cachorro de cacho. É taca, meu branco!” (tradução do baianês no rodapé)

Saio da Bahia diretamente para Maceió, capital das Alagoas. Um locutor esportivo conversa com o repórter de pista sobre uma confusão em campo. O repórter esclarece os ouvintes, empolgado, dizendo que “está havendo o maior “cu-de-boi” na área do CRB”. O locutor chamou a atenção do repórter para o palavreado empregado:

–  Olha o Português, Genésio!
– O Português vai entrar no lugar de quem, Val Rodrigues? – perguntou o repórter.

Há certas regiões do Brasil em que a gente pensa estar em outro país, de tão difícil que é a compreensão da linguagem oral, cuja corruptela causa verdadeiro estrago na chamada Língua Culta, para desespero e cólera dos puristas gramaticais, que querem que 170 milhões de habitantes falem a Última Flor do Lácio como se vivessem em Coimbra, sem considerar suas raízes étnicas, culturais, sociais e econômicas. Há gente “inocente” que pensa que a língua que se fala no Oiapoque é a mesma falada no Chuí, embora as duas regiões estejam regidas pela mesma Gramática.

E a Figura de Linguagem, inventada para dizer as palavras diferente da sua construção sintática, que povoa e enriquece a  nossa Língua, sendo que, no interior do Brasil, o povo usa e abusa de suas expressões, para gáudio dos defensores de um país livre do julgo linguístico de Portugal.

Dois matutos conversavam extasiados com a beleza de uma igreja. Um deles exclamou:

– Que igreja linda dos infernos!
– Quer ver o diabo? entre nela!      

 “O defeito está na vista” é uma antífrase para ressaltar a beleza de algo, nunca para indicar males ou defeitos ópticos. E foi baseado nessa figura de linguagem que José de Caturina comprou o alazão do seu compadre João das Mulas, negociante de cavalos, jegues e... mulas. Ao analisar o animal como qualquer comprador de cavalos faz, o seu compadre lhe disse que o defeito estava na vista. Realmente se tratava de um cavalo muito bonito e faceiro, com cara de trotador. Sem pestanejar, selou negócio e cavalo e no outro dia estava de volta, puxando o cavalo pelo cabresto, cara enfurecida, querendo desfazer a compra, alegando que fora enganado pelo compadre que lhe vendeu um cavalo cego de um olho.

– Não vou devolver seu dinheiro não! – esbravejou João das Mulas – Eu lhe avisei que o defeito estava na vista e você levou assim mesmo! Você não comprou enganado, portanto, não aceito devolução!
           
Quem gosta de ouvir as músicas de Elomar sabe que no encarte dos seus discos acompanha um glossário. Sem ele, algumas letras são incompreensíveis.

Nossos linguistas e gramáticos estão com razão quando brigam por desvincular nosso idioma do de Portugal. Não tem nada a ver. Persistir na teimosia de que ainda somos colônia d’além-mar, é como dar um paraquedas a um gago e mandar pular gritando vivas a El-rey.

Tradução do baianês: “Vamos conversar que hoje vou abrir o jogo e falar sem rodeios. Preste atenção que estou zangado e mulher feia comigo é assunto passado, meu amigo, mesmo tendo a bunda grande, corpo gordo, bem vestida e enfeitada. Não vou ficar enrolando com falsa moral, pois tenho que andar para longe para pegar um ônibus. Se chover, no caminho, paro num boteco para não molhar meu relógio nem meu cigarro; aproveito para beber uma cerveja com cachaça, acompanhado de guisado de costela de boi meio cru, como se não tivesse compromisso, mesmo sem dinheiro para pagar a conta, e se aparecer algum metido tirado a engraçadinho, corto conversa, mando o malandro pra porra e sigo em frente, desanimado e sem planos, para encher a cara de cachaça em outro bar, onde ninguém possa botar pra quebrar em cima de mim e eu possa beber até me embebedar. É fogo, meu amigo!”




sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Luís Pimentel - A mesma praça, o mesmo rio


(Uma homenagem à Praça Tiradentes)

Liberino pegou o quentão da Itapemirim, em Capim Grosso, e desembarcou na Rodoviária Novo Rio como uma mão na frente e outra atrás. A de trás escondia a gaiola, embarcada graças à simpatia do motorista, um conterrâneo. O coleirinho era amizade antiga, seu canto o acordava e dava forças, essas razões que o coração desconhece.

A mão da frente enxugava uma lágrima e coçava a cabeça. E foi assim, entre perdido e patético, que o anjo o encontrou. Leu a angústia nas gotas de suor e foi dizendo:

– Bora lá, irmão. Vou te levar pro Paraíso.

O Paraíso era um hotelzinho de placa caída e escadarias sujas, num beco de onde se ouvia o repique do Elite, sentia-se o cheio agridoce das meninas na Estudantina, e apreciava vestidos longos a caminho do João Caetano e bundas de fora na direção do Carlos Gomes. Liberino descansou a gaiola aos pés do Monumento a Pedro I. Contemplava as moças que seguiam pela Rua da Carioca, para ouvir João Nogueira e Moacyr Luz nos Encontros idem, antes do beijo no umbigo da vedete que soprava uma pena pequena no Cinema Íris, quando o Anjo reapareceu:

– Fica esperto, baiano. Foi aqui que enforcaram o Tiradentes!
Não foi ali, mas numa arapuca da Avenida Passos – o que não faz a menor diferença.

Daí a pouco, Liberino já estava no bar A Paulistinha, apreciando a mesa de luxo onde pontificavam Zinho, Manola, Aziz Ahmed, Arthur Rocha e Miranda Jordão. A Gomes Freire ainda não era de Segurança máxima, e na Lavradio imperavam os cabarés de bandidos (do bem); isto muito antes dos botecos dançantes e cantantes de grife, claro. Era ali que Nelson Cavaquinho entornava as últimas antes de embicar, os cabelos brancos nas gramas pretas, rumo aos cafofos da Barão de São Félix, por trás da Central.

Foi amor à primeira vista. Liberino encantou-se com a fauna que Deus põe variada exatamente para que o sol e a lua não briguem. Namorou uma mulher de louça, outra de tromba, amparou um menino que vendia a alma, rezou com uma cigana que não viu o seu destino. Ao fundo, sempre a Praça Tiradentes, Adão e Eva soltando os cachorros nos quartinhos do Paraíso.

Dia desses voltou por lá, para aplaudir Nilze Carvalho no Centro Cultural Carioca, e ficou comovido ao constatar que o progresso nem sempre é ruim; a praça estava um brinco, acha até que ouviu o coleirinho cantando aos pés do imperador. 


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Cineas Santos - Os muitos timbres das rabecas

Há coisa de cinco anos, o então governador Wellington Dias me falou de um projeto insólito, para dizer o mínimo. Pretendia realizar um festival de rabecas (isso mesmo) na região do médio Parnaíba. Embora não apostasse um níquel na viabilidade da iniciativa, não tentei dissuadi-lo. Aprendi com Millôr Fernandes que “toda palavra de desestímulo é uma má ação”. Deixei que o tempo se encarregasse disso. Um ano mais tarde, recebi o convite do deputado Fábio Novo para participar do Festival de Rabeca do Piauí, em Bom Jesus. Não podendo comparecer ao primeiro, fui ao segundo, em 2009. Para minha surpresa, o festival foi uma das mais belas manifestações culturais que já presenciei. A rabeca era pouco mais que um pretexto para uma festa rica e diversificada. Em vez de ceguinhos tocando toadas tristes, o festival nos propiciou um cardápio generoso: teatro, dança, literatura, gastronomia e música da melhor qualidade. O povo adonou-se do Festival e o mais veio em decorrência.

No início deste mês, voltei a Bom Jesus para a abertura da 4ª edição do Festival de Rabeca. Mais uma vez, surpreendi-me com a pujança do evento que já deveria chamar-se Festival Internacional de Rabeca de Bom Jesus. Lá estavam, além de representantes de 12 estados da Federação, um excelente grupo de gaiteiros de Portugal. Um dos momentos luminosos do festival foi a apresentação da bela e competente Renata Rosa, rabequeira pernambucana com agenda internacional. Acrescente-se a isso a soberba atuação do grupo Clã Brasil, formado por jovens instrumentistas paraibanos. O show de abertura ficou por conta do Peninha que, a exemplo dos bons vinhos, melhora com o passar dos anos.Por quase duas horas, cantou velhas e novas canções com a participação da plateia.

Ao lado das atrações nacionais, lá estavam os rabequeiros conhecidos de todos nós: Joaquim Carlota, Erondino, Pedro da Rabeca, Waldeci , Wanya e tantos outros. Coube ao sanfoneiro-mirim Isac do Acordeom abrir o festival, executando o Hino Nacional brasileiro. Com apenas 8 anos de idade, o pequeno Isac vai-se firmando como uma das estrelas da música piauiense: está em todas.

Para Fábio Novo, responsável pela realização do festival, “Além de resgatar um instrumento que foi largamente usado pelos sertanejos piauienses muito antes do aparecimento da sanfona, o Festival da Rabeca eleva a autoestima da nossa gente, dá visibilidade à nosso cultura e gera divisas para o município de Bom Jesus”.

Depois da festa de abertura do festival, que contou com a presença do governador Wilson Martins e de outros políticos de expressão, o senador Wellington Dias bateu no meu ombro e afirmou: “O próximo passo será a realização de um festival de pífaros no sul do Piauí. Você duvida?”. Decididamente, não. Depois do que vi em Bom Jesus do Gurgueia, estou mais do que convencido: tradição é o que cai no gosto do povo.


domingo, 4 de setembro de 2011

QUE FIM LEVOU ANA MARIA?



Compreendi a dor da solidão depois que os bárbaros tomaram de assalto a nossa casa e levaram a minha prima Ana Maria para um mundo além de nossa imaginação. Nessa hora o sol se escondia atrás do Cruzeiro dos Montes, formando um clarão avermelhado e triste. O Cruzeiro era uma tosca cruz de madeira, fincada no topo do morro mais alto e podia ser vista de mais de légua de distância. Ou, como diziam os primitivos, “até onde o olhar do homem pode enxergar as criações divinas”.

Naquela tarde as galinhas se aninharam mais cedo no poleiro. Os pássaros procuraram abrigo seguro entre as folhagens das árvores que resistiam ao verão inclemente. As cigarras cantaram réquiens metálicos como carpideiras em noite de luto.  Pareciam adivinhar a minha tragédia particular, embora não fossem elas insetos de mau agouro.

Ana Maria era a filha mais nova do meu tio Oduvaldo. Sua casa ficava perto da nossa, menos de meia légua, por isso suas visitas eram constantes, com ou sem companhia. Eram os tempos da inocência, não havia roubo nem violência física. Fomos criados unidos na mesma traquinagem e gozando da liberdade que o campo nos oferecia. Porém, naquela tarde, Ana Maria andava reticente e triste, sem seu riso brejeiro e a espontaneidade inocente da pré-adolescência.

–  Você está esquisita, Ana. Que bicho lhe mordeu?
–  Não sei, Tonico. Estou sentindo uma coisa no peito.
–  Como assim?
–  Minha mãe disse que virei mulher e terei que casar.
–  Casar? Você não tem nem namorado. Quer se casar comigo?
–  Ora! Deixe disso! Somos primos, se esqueceu? Minha mãe disse que primo que casa com prima os filhos nascem aleijados.
–  E como é que os filhos nascem?
–  Não sei. Ouvi minha irmã Maristela comentar que é por entre as pernas, onde a gente faz xixi.
–  E por que tia Florinda disse que você agora era mulher?
– Também não sei. Mas ela disse isso no dia que acordei de manhã e a cama estava empapada de sangue. Me assustei e gritei por socorro. Minha mãe apareceu sorrindo e disse que era o “chico” que tinha chegado e que todos os meses isso ia acontecer, que era coisa de mulher. Depois ficou cochichando com minhas irmãs e, quando meu pai chegou da roça, ela disse assim: “Oduvaldo, Ana Maria virou mulher e já pode se casar”. E ele fez uma cara de satisfação e disse: “Bom, nesse caso vou falar com Malaquias pra marcar a data do casamento”.
–  Malaquias? Quem é ele?
–  Não sei. Nunca ouvi falar.
–  Vamos brincar de pega-pega?
– Vamos. Você me pega primeiro. – disse e saiu correndo pelo terreiro, esquecida que virara mulher e podia se casar. A gente não entendia nada disso. E não queria entender. Tudo ao seu tempo, dizia meu pai. Crianças não precisam entender os problemas dos adultos. Como em Eclesiastes: “Há tempo para plantar e tempo para colher”.  Nosso tempo, embora não estivesse escrito nas Sagradas Escrituras, era só para brincar.

Havia três dias que Ana Maria estava lá em casa sem que eu atinasse o motivo dessa longa hospedagem. Isso só acontecia quando os meus tios viajavam e os meus primos ficavam sob os cuidados dos meus pais. Mas iam todos eles, do menor ao maior, no total de oito. A mais velha era Maristela, com dezessete anos. O mais novo dos homens era Edilson, e tinha uma enorme hérnia no umbigo, lembrando uma laranja de caroço. Havia também: Totonho, Jackson, Regina, Berivaldo e Raimundo, mais conhecido por Mundinho.

Ana Maria era da minha idade: doze anos. Nascemos no mesmo dia e mês. Comemorávamos nosso aniversário na mesma casa para não ter que dividir os convidados. Um ano era na minha, no outro, na sua. Diziam sermos primos-gêmeos.
–  Será que esse ano vem todo mundo pro nosso aniversário? – perguntei
–  Hein?! Ah! sim! Mas ainda está longe.
–  Eu sei. É que não estou aguentando esperar esse tempo todo.
–  A gente devia ter nascido com seis meses de diferença.
–  Por quê?
–  Assim não precisava esperar um ano pra reunir todos os primos.
–  É mesmo.

Nossa conversa fora interrompida por um chamado de minha mãe:

–  Ana Maria, venha aqui experimentar o vestido!
–  Que vestido?! – perguntei.
– O de noiva. Você não sabe que sua prima vai se casar amanhã? Ela está aqui porque estou costurando seu vestido.
–  Eu?! Estou sabendo agora. Não sabia nem que ela tinha namorado.
Ana Maria caiu em soluço. Daqueles três dias, somente naquele momento se dera conta de sua sorte.
–  Não quero me casar não, tia! Fale com minha mãe. Ainda sou muito nova e nem conheço meu noivo. Minhas irmãs são mais velhas que eu, por que não elas? Por favor, me ajude, tia!
Senti minha mãe hesitar. Amarelou penalizada. Abraçou Ana Maria e falou rouca de emoção:
–  Não posso, minha filha! Essa é a nossa sina de mulher. Conforme-se com seu destino e vamos entrar que Oduvaldo vem já lhe buscar.

Ana Maria caminhou trôpega, como se carregasse o mundo nas costas. Sentei-me no avarandado e fiquei matutando, tentando entender o que se passava. Não podia ser verdade. As duas estavam brincando, tentavam me assustar. Só podia ser isso. Diziam que Ana Maria ainda fazia xixi na cama, como era que podia se casar?  

Não queria imaginar a vastidão daquela campina sem as suas alegres peraltices. Desde quando nos entendíamos por gente que brincávamos ali, de pega-pega, peteca, pula-corda. No fim do dia sentávamos no oitão da casa para nos extasiar com o entardecer no horizonte. Como naquele momento, antes de sermos interrompidos pela minha mãe. Éramos crianças felizes e imaginávamos que assim seria para todo o sempre.

O fim veio a galope. Dois cavaleiros apearam à porta. À sombra da quase noite, lembravam dois bárbaros em missão de rapto da princesa na torre do castelo.

–  Ô de casa! Doralice!

Minha mãe saiu segurando a mão de Ana Maria. Ambas choravam.

–  Não me deixe ir, tia! – implorou minha prima.
– Nada há a se fazer, Ana. Você vai se acostumar. É só uma questão de tempo. Oduvaldo, converse com o noivo e peça pra ter paciência. Ana ainda é uma criança.
–  Já conversei, Doralice. Fique sossegada. Vamos, Ana! Antes, se despeça do seu primo Tonico. Esta será a última vez que vocês poderão conversar. Depois do casamento você vai pra longe.

Ana Maria correu ao meu encontro e me abraçou soluçando. Pediu-me para rezar por ela. Disse para eu não me esquecer dos nossos momentos porque eu estaria sempre em suas lembranças, principalmente no nosso aniversário. Montou na garupa do irmão enquanto o meu tio levava com extremo zelo o vestido de noiva. Antes de desaparecer no horizonte, virou-se e jogou um beijo. O primeiro e único de nossas vidas.

No dia seguinte acordei entre soluços. Sentia uma dor no peito, um nó na garganta, uma vontade de sair correndo gritando por ela. Levantei-me e a casa estava em alvoroço. Todo mundo se preparava para o casamento, cada um envolvido em cuidar de sua própria vaidade. Esqueceram-se de mim. Minha mãe levou um susto quando me viu.

– Tonico, você ainda está assim! Corra, vá se aprontar que o casamento é daqui a duas horas e ainda temos que ir pra rua!


A igreja estava enfeitada para o evento. Havia um tapete vermelho estendido até o altar. Chegamos a tempo de nos acomodarmos no banco da frente. Era o primeiro casamento que eu participava e tinha que ser justamente o dela. O mundo não era justo.

A organista dedilhou a marcha nupcial e o povo se levantou em obediência ao comando musical. Todos olhavam numa só direção: a porta da frente e a entrada compassada de Ana Maria. Parecia assustada dentro do vestido de noiva, que me lembrou uma mortalha. Caminhava trêmula, vacilante. Em suas mãos, em vez de um buquê de flores, a boneca de matéria plástica por mim arrematada no último leilão beneficente da igreja. Sua boca, ressecada pela desdita, sufocava um grito de agonia. Ao passar por mim seu olhar refletia a angústia aguda de quem está prestes a selar aliança com o próprio carrasco.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Edna Lopes - O crime compensa

Toda estória tem sempre algum vilão
Que no final se dá é bem
Novela de televisão, livro e cinema
O crime é a maior diversão
O crime compensa e recompensa
                           O crime compensa - Léo Jaime

Peço desculpas, meu Filho. Jamais ouvirá de sua mãe e de seu pai que O CRIME COMPENSA, mas 265 deputados federais disseram que sim ao negarem o pedido de cassação da deputada Jaqueline Roriz do DEM do DF, mesmo flagrada recebendo dinheiro do mensalão.

Peço desculpas, meu Filho, por esses 265 representantes do povo (?) afirmarem com sua ação conivente e criminosa que ter um mandato político é ter salvo conduto para a desonestidade, para a bandidagem de colarinho (nesse caso, quem sabe, gola rolê) branco. 

Peço desculpas pela defesa esfarrapada, o argumento pífio para justificar o ato desonesto proferido pelo advogado: "Ato praticado fora do exercício parlamentar não tem poder de configurar um ato atentatório ao decoro e à ética parlamentar”

Disse Rui Barbosa em discurso no senado em 1914: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

Jamais terei vergonha de ser honesta, de lutar pelo que é correto e justo, meu Filho. Não tenha também! Que as palavras do poeta Agostinho Neto encontrem eco no seu coração assim como encontra no meu:

"Não basta que seja pura e justa
a nossa causa.
É necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós."

Ps. Quem dera pudesse escrever só cartas de amor...


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Maurício Melo - A César o que é de César

O folclore político mineiro está repleto de historinhas do genial José Maria Alkmin. Político de longo curso, mais estrada tinha nas tiradas sempre bem humoradas. É dele um lema que constantemente adoto: “Reunião não resolve nada. A gente primeira decide depois se reúne”. No entanto sua frase talvez mais famosa, por conta dos ares filosofais, diz que “não importa os fatos, mas a versão dos fatos”.

Conta-se que um dia Gustavo Capanema teria cobrado de Alkmin a autoria da frase. E ele implacável: “Você pode ter dito lá nas grotas, no interior, mas aqui na capital fui eu quem disse primeiro, o que só confirma a verdade de nossa frase.” Tá explicado.

Esse negócio de autoria é sempre um complicador. Que o diga Gustavo Krause. Denunciado pelo seriíssimo hebdomadário Papa-Figo, do Recife, como proprietário de um certo Bank Krause sediado na Alemanha, o ex-ministro não perdeu a pose. Telefonou para Bione, proprietário, redator e office-boy do tal jornal, para oferecer empréstimos e outras vantagens financeiras. O repórter negou-se a receber qualquer propina do suposto banqueiro. E voltou a denunciá-lo no jornal, como qualquer jornalista probo, impoluto, cônscio de seu ofício.

Gustavo, boêmio assumido, sem nada de banqueiro, tem alma de poeta. Por isso acreditei ser de sua autoria uma frase belíssima. Depois de passar pelo Ministério do Meio Ambiente no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, foi convidado para continuar na equipe de ministros que estava se armando para o segundo mandato do sociólogo. Recusou o convite e provocado por um jornalista foi taxativo em dizer que não gostaria de morar em Brasília, pois “na terra em que o mar não bate, não bate meu coração”. Uma maravilha de frase.

Passei a repetir a frase citando o suposto autor. Tempos depois, ouvindo o primeiro LP de Gilberto Gil, Louvação, lançado em 1967, remasterizado em CD, estava lá uma impecável canção, Beira-Mar, com música de Gil sobre poema de Caetano Veloso, e logo no primeiro verso “na terra em que o mar…”
Engoli em seco. Sem qualquer autorização de Gustavo, creditava a ele um verso de Caetano. Essa minha mania de falar pelos cotovelos criava-me mais uma complicação, enfim.

Esta não foi minha única, nem certamente será a última confusão em creditar autorias. Às vezes confundo autores, digo de um histórias acontecidas com outro, uma confusão danada, um inesgotável repertório de equívocos, mas tudo em nome de uma boa conversa, tudo por conta de confiar numa memória que não é lá tão generosa. Por conta disso, desconfiado de mim mesmo, também escondo algumas descobertas e evito o constrangimento de passar por mentiroso.

Deu-se um fato desses quando, profundamente impactado pela leitura do Romance d’A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, isso lá pelo início da década de 1980. Durante semanas, eu, já um monotemático empedernido, só falava do livro. O sujeito contava de futebol e eu inventava como seria um partida com Quaderna, um outro dizia de política e eu salientava que o pior tinha se dado no sertão de Pernambuco. A obsessão era tanta que até Orlando Tejo perdeu a paciência e me encarou: “Maurício vou pedir ao Ariano para escrever outro romance, pois só assim você muda de assunto.”

Mudei, mas fiquei ruminando calado um erro desgraçado que tinha no livro. Domando meus impulsos, guardei segredo por anos. 

O diabo quando não vem manda o secretário, ensina o povo. Pois bem, o poeta Marcus Accioly fazia uma visita à casa de minha rapariga. Explico. Eu alugava uma sala onde guardava meus livros e dizia ser ali a casa de minha amante, pois somente me dava prazer e grandes baixas na conta bancária, como, aliás, acontece até hoje.

Voltando à visita, Marcus aponta o romance de Ariano e pergunta se eu tinha percebido o erro das mãos postas. Percebera sim.

Tiro o trecho da página 79 da quinta edição: “Em seguida, José Viera pega um filho de dez anos, coloca-o na Pedra dos Sacrifícios e decepa-lhe o braço do primeiro golpe. A vítima, ajoelhando-se, bradava-lhe, de mãos postas: ‘Meu Pai, você não dizia que me queria tanto bem?’”. Essa história do filho, com o braço decepado, rogar de mãos postas incomodava-me e eu não tinha coragem de falar do assunto até que apareceu o poeta, mas logo voltei ao meu silêncio.

O alívio só veio quando li Folk-Lore Pernambucano, de Pereira da Costa. Está lá a crônica de um autor anônimo sobre a Pedra do Reino com o famigerado trecho do braço decepado e das mãos postas.
Agora danou-se, seria Ariano um plagiário? Voltei ao romance. Antes de contar toda a saga, pela voz do narrador Quaderna, o mestre conta que para falar do episódio sangrento recorrera a outros autores, inclusive Pereira da Costa. Ou seja, tudo não passou de uma desatenção deste mau leitor que vos escreve.

Cada dia que passa convenço-me mais ainda que devo voltar urgentemente a reler a Bíblia. Moacyr Scliar dizia que ali que pescou muitas das histórias que contou, mas esta não seria minha motivação. Também não me estimula seus conceitos religiosos. Buscaria no livro o fantástico ensinamento de vida que encerra cada uma de suas páginas.

E também é lá que a gente aprende, enfim, a dar a César o que é de César.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O vento do mar [Ledo Ivo]


De Ledo Ivo - O vento do mar


O VENTO DO MAR - Por Fábio Coutinho 
"Como costuma dizer o jornalista Elio Gaspari, há um grande livro na praça. Pesquisado, selecionado e organizado pelas mãos competentes e caprichosas de Monique Cordeiro Figueiredo Mendes, O VENTO DO MAR reúne as memórias literárias e pessoais de Lêdo Ivo, o poeta, contista, romancista e ensaísta alagoano radicado no Rio de Janeiro desde 1943. A edição, belíssima, é resultado de uma feliz parceria da Contra Capa com a Academia Brasileira de Letras, para a qual Lêdo foi eleito, por unanimidade, em 1986.
Além da primorosa seleção de textos em prosa e verso, a obra expõe um rico acervo iconográfico, refletindo as incontáveis andanças do escritor pelo Brasil e pelo mundo, viajante culto, curioso e incansável que sempre foi. As capas de seus inúmeros livros, traduzidos em vários países e nos mais diversos idiomas, também figuram na edição, permitindo ao leitor percorrer um fascinante itinerário editorial, revelador do interesse alienígena por um dos nomes centrais de nossas letras contemporâneas.
Os perfis de confrades e amigos falecidos são simplesmente irretocáveis, confirmando a sentença irrecorrível de Antonio Candido, que certa feita advertiu que "Lêdo Ivo escreve num dos estilos mais belos e originais que possuímos". A seleta de ensaios (CARTILHA DE PASÁRGADA) sobre a poesia de Manuel Bandeira justificaria um livro à parte, assim como registro especial merece a história de amor vivida pelo poeta com Lêda, companheira de mais de meio século e mãe de seus três filhos, e a respeito de quem o marido eternamente apaixonado declara: "Eu a amei desde o primeiro instante em que a vi."
Há, ainda, uma antologia poética de tirar o chapéu, intitulada OS SINOS DE MACEIÓ, justa e incontida celebração da terra natal do grande vate. Nela, estão presentes o mar e os navios, o vento e as ruas tortas, o farol desaparecido e os caranguejos dos mangues, os morcegos e o mormaço, o porto e as lagunas. E, nas palavras do próprio Lêdo Ivo, "(...) um tesouro que não está escondido nas dunas: a nossa alagoanidade, a nossa maneira de ser e estar, amar e odiar, viver e morrer. E guardamos um segredo, um mistério, um encantamento, uma alegria e uma dor que são nossos, exclusivamente nossos, de quem nasceu em nossas terras moles ou junto às nossas águas. E o nosso emblema é o vento do mar."
Da generosa varanda de seu apartamento carioca da Rua Fernando Ferrari, contemplando a indescritível enseada de Botafogo, o colossal bardo alagoano ainda aspira, décadas após a partida sem volta, o vento do mar de Maceió."

Fabio de Sousa Coutinho, advogado e bibliófilo, é membro titular do PEN Clube do Brasil e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

VENTO DO MAR, O
Formato: Livro
Autor: IVO, LEDO
Organizador: MENDES, MONIQUE CORDEIRO FIGUEIREDO
Editora: CONTRA CAPA
Assunto: BIOGRAFIAS/AUTOBIOGRAFIAS/DIÁRIOS/MEMÓRIAS/CARTAS
ISBN: 8577400964
ISBN-13: 9788577400966
Idioma: Livro em português
Encadernação: Brochura
Dimensão: 22,5 x 16 cm
Peso: 0,930 kg
Edição: 1ª
Ano de Lançamento: 2011
Número de páginas: 312
Preço: 52 reais.


sábado, 27 de agosto de 2011

Cenas Urbanas

Cansado com o bater de pernas no shopping center, o velho roceiro sentou-se na escada rolante para descansar.

Esperou toda a manhã e mais uma parte da tarde até entender que Sete Portas era o bairro e não a quantidade de portas no ônibus.

Descobriu que atravessar a rua seguindo o guarda era mais seguro. Um dia o guarda atrasou e ele seguiu uma loira de farmácia que balançava os quadris. Do outro lado da rua ela o arrastou pelo braço e falou firme:

– Escuta aqui, ô meu: comigo é cinquenta pratas, morou?!
– Ah! É? Então vou esperar o guarda que vou de graça.

Engana-se quem pensa que o bairro do Pau Miúdo, em Salvador, tem origem nipônica.

Passou quinze dias na cidade grande e ao voltar pra roça estranhou a movimentação dos animais no terreiro:

– Manhê, que bicho é esse?!
– Ô, minha filha, vai dizer que não sabe mais o que é uma galinha?
– Nossa, mãe! Como as galinhas daqui são diferentes!


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Enquanto isso, pelas ruas da Velha Bahia...


De Pichação

Um continho pequenininho

Deu o dinheiro ao filho e ordenou:

– Amnésio, vá na venda de compadre Nelo e traga um quilo de açúcar. Açúcar, seu cabeça de vento! Não vá me trazer outra coisa como você faz! Vá falando até lá: açúcar, açúcar, açúcar...

Amnésio pegou o dinheiro e saiu em disparada, seguindo à risca o conselho da mãe:

– Açúcar, açúcar, açúcar...

Se Amnésio  morasse em Itabira, haveria uma pedra no meio do caminho. Mas no arraial do Junco havia mesmo era um cachorro metido a brabo no meio da rua:

– Cachorro, Cão, sai da frente e me deixa comprar o meu... sabão, sabão, sabão...


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cineas Santos - História de mil e um amores

Ao poeta Paulo Machado

Permitam-me iniciar esta arenga parafraseando Quintana: quem ama reinventa, a cada instante, a coisa amada. Gosto de reinventar Teresina, imaginando-a uma colcha de retalhos costurada, carinhosamente, por milhares de mãos, mãos de todas as cores e procedências. A mão fidalga de José Antônio Saraiva assinando o decreto de transferência da capital da província dos ermos sertões de dentro para a esplanada da Chapada do Corisco; a mão firme de mestre Isidoro França traçando o quadrilátero inicial, sob um rústico teto de palhas; as mãos suaves do vigário Mamede Antônio de Lima abençoando a pedra fundamental da igreja do Amparo; as mãos ásperas de centenas de escravos sulcando a terra para plantar nela sonhos que não eram seus... Reinvento uma cidade luminosa brotando do chão da chapada, sob o inclemente sol de agosto, para tornar-se maternal e acolhedora.

Mas essa história já foi contada e recontada por historiadores, poetas e cronistas de reconhecido brilho. Nada tenho a acrescentar. Falemos, pois, do menino velho que, numa esplendente manhã de maio do ano 65, foi despejado na Praça Saraiva onde ninguém o esperava. Falemos do sujo das estradas grudado nas retinas e do medo vazando por todos os poros. Falemos da cidade hostil onde mil esfinges gritavam em uníssono: “Decifra-me ou te devoro”. E o menino, atônito, indefeso e só, ajoelha-se, no adro da igreja de N. S. das Dores, à espera do golpe fatal que, felizmente, não veio. Em vez do cutelo, a cidade lhe ofereceu colo...

Mas deixemos o menino velho em suas deambulações e falemos, ao sabor das lembranças, de algumas figuras notáveis que deram um perfil e uma identidade a Teresina. Falemos de: A. Tito Filho, o cronista da “Cidade Amada”, com aquele amor possessivo, quase passional, capaz de inventar, para uso próprio, o verbo teresinar; de D. Avelar Brandão Vilela, o pastor de voz reconhecível que apascentava o rebanho da urbe com a “Oração por um dia feliz”; de Mons. Chaves, responsável pela imponência da Igreja do Amparo, o historiador que deu voz ao povo do Piauí; do Prof. Camilo Filho, a melhor tradução da cidade, com seu sorriso farto e a indeclinável vocação para o diálogo; de mestre Odilon Nunes, silencioso, encurvado sobre alfarrábios, na Casa Anísio Brito, colhendo pérolas que seriam lançadas aos próceres; de Wall Ferraz, o prefeito durão, com vocação para donatário; de Marcílio Flávio de Rangel Farias, o “forasteiro” que, ao descobrir que aqui jorrava água potável das torneiras, fez-se o mais apaixonado dos teresinenses; de mestre Manoel Luciano, autor da mais bela toada que já se fez para a cidade. Impossível, em espaço tão curto, falar de todos os que amaram e amam esta cidade, reinventando-a incessantemente.

Esqueçamos, de vez, o menino velho com sua arenga interminável. Passemos a palavra ao poeta Moura Rego, de saudosa memória: “Não quero flor nem brilhante/ Quero carinhos de amante/ Para o mais fino louvor. / A quem já nasceu prendada/ A ti minha namorada, / Teresina, meu amor”. 

Nota do blog: esta crônica era para ter sido publicada na semana passada, aniversário de Teresina, porém o blogueiro encontra-se em viagem e somente agora teve acesso à internet. Desculpas ao Cineas Santos e aos leitores.