quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Cineas Santos - Os muitos timbres das rabecas

Há coisa de cinco anos, o então governador Wellington Dias me falou de um projeto insólito, para dizer o mínimo. Pretendia realizar um festival de rabecas (isso mesmo) na região do médio Parnaíba. Embora não apostasse um níquel na viabilidade da iniciativa, não tentei dissuadi-lo. Aprendi com Millôr Fernandes que “toda palavra de desestímulo é uma má ação”. Deixei que o tempo se encarregasse disso. Um ano mais tarde, recebi o convite do deputado Fábio Novo para participar do Festival de Rabeca do Piauí, em Bom Jesus. Não podendo comparecer ao primeiro, fui ao segundo, em 2009. Para minha surpresa, o festival foi uma das mais belas manifestações culturais que já presenciei. A rabeca era pouco mais que um pretexto para uma festa rica e diversificada. Em vez de ceguinhos tocando toadas tristes, o festival nos propiciou um cardápio generoso: teatro, dança, literatura, gastronomia e música da melhor qualidade. O povo adonou-se do Festival e o mais veio em decorrência.

No início deste mês, voltei a Bom Jesus para a abertura da 4ª edição do Festival de Rabeca. Mais uma vez, surpreendi-me com a pujança do evento que já deveria chamar-se Festival Internacional de Rabeca de Bom Jesus. Lá estavam, além de representantes de 12 estados da Federação, um excelente grupo de gaiteiros de Portugal. Um dos momentos luminosos do festival foi a apresentação da bela e competente Renata Rosa, rabequeira pernambucana com agenda internacional. Acrescente-se a isso a soberba atuação do grupo Clã Brasil, formado por jovens instrumentistas paraibanos. O show de abertura ficou por conta do Peninha que, a exemplo dos bons vinhos, melhora com o passar dos anos.Por quase duas horas, cantou velhas e novas canções com a participação da plateia.

Ao lado das atrações nacionais, lá estavam os rabequeiros conhecidos de todos nós: Joaquim Carlota, Erondino, Pedro da Rabeca, Waldeci , Wanya e tantos outros. Coube ao sanfoneiro-mirim Isac do Acordeom abrir o festival, executando o Hino Nacional brasileiro. Com apenas 8 anos de idade, o pequeno Isac vai-se firmando como uma das estrelas da música piauiense: está em todas.

Para Fábio Novo, responsável pela realização do festival, “Além de resgatar um instrumento que foi largamente usado pelos sertanejos piauienses muito antes do aparecimento da sanfona, o Festival da Rabeca eleva a autoestima da nossa gente, dá visibilidade à nosso cultura e gera divisas para o município de Bom Jesus”.

Depois da festa de abertura do festival, que contou com a presença do governador Wilson Martins e de outros políticos de expressão, o senador Wellington Dias bateu no meu ombro e afirmou: “O próximo passo será a realização de um festival de pífaros no sul do Piauí. Você duvida?”. Decididamente, não. Depois do que vi em Bom Jesus do Gurgueia, estou mais do que convencido: tradição é o que cai no gosto do povo.


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