sábado, 8 de agosto de 2009
Escritor e Professor Aleilton Fonseca visita a terra e faz doação de livros à Biblioteca Antonio Torres
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Escritores e Professores Visitam o arraial do Junco
segunda-feira, 27 de julho de 2009
O Jogo do Contente
Por Mislene Lopes
“És precária e veloz, Felicidade. Custa a vir, e quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e para te medir, se inventaram as horas.
Felicidade és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para sempre a vida ficar triste.
Porque um dia se vê que as horas todas passam e um tempo despovoado e profundo persiste
(Cecília Meireles)
Entre os poucos livros que li na minha infância e adolescência posso dizer que “Pollyanna” foi uns dos meus preferidos. Trata-se da história de uma menina de onze anos, filha de um missionário pobre que, após ficar órfã, vai morar em outra cidade com uma tia rica e severa. Pollyanna ensina às pessoas na nova comunidade o jogo do contente, que havia aprendido com seu pai no dia em que esperava ganhar uma boneca e recebeu um par de muletinhas. Seu pai lhe explicou que não existia nada que não pudesse ter dentro qualquer coisa capaz de nos fazer contentes, e ela então ficou contente por não precisar das muletinhas. E depois desse dia criou o jogo de procurar em tudo que há ou acontece, alguma coisa que a faça contente, e o ensina sempre que encontra alguém triste, aborrecido ou mal-humorado.
Estar contente, estar feliz, é sentimentos que vão e vem sem pedir licença. Durante o tempo que vivi na pequena cidade de Sátiro Dias, passava os dias fazendo o jogo do contente, assim teria motivos para sorrir. Mergulhava a cara nos livros. A leitura não era um hobby e sim uma necessidade, eu precisava ocupar minha mente, dar um novo sentido para minha vida. Em poucos dias eu lia um livro e graças a Deus na cidade existia uma biblioteca publica, cujo nome homenageava um dos grandes escritores da terra: Antonio Torres.
Queria ter tempo para sentir tristezas. Durante o dia eu estudava e à noite eu lia à luz de candeeiro, forçando meus olhos, o que resultou num problema de visão. Os sons das cigarras faziam a trilha sonora. Meu lado imaginário me fazia esquecer a solidão. No período de seca e dificuldades, os livros eram meus companheiros de cabeceira. Meu pai não gostava muito, achava que eu lia livros de sacanagem ou que me colocaria em perdição. Por varias vezes me proibiu de ler, ameaçou destruir qualquer livro que eu levasse para casa. Acreditava que quanto mais eu me aprofundasse nas leituras, maiores seriam as chances de me tornar uma “mundana”. Porém eu lia escondido. Os livros eram meus melhores amigos em momentos de solidão e tristeza. Neles, dava asas à imaginação, viajava, conhecia outros mundos.
Solucei quando li “Meu pé de laranja-lima” uma obra juvenil de José Mauro de Vasconcelos. A pobreza, a solidão e o desajuste social visto pelos olhos ingênuos de uma criança de 6 anos. Nascido em uma família pobre, Zezé era um menino especial, que envolve o leitor ao revelar seus sonhos e desejos, por meio de conversas com o seu pé de laranja-lima, encontrando na fantasia a alegria de viver. Nenhum outro livro me fez chorar tanto. Ele me marcou com sua história comovente e emocionante, como a retratar a minha infância.
A cada três dias eu ia à Biblioteca Antonio Torres pegar um novo livro. As funcionarias se admiravam por eu ler um livro em tão pouco tempo, recorde para os padrões de leitura da terra. O ultimo livro que li da pequena biblioteca do Junco foi “Dança com lobos”, de Michael Blake. Meu pai já não morava mais conosco, tinha viajado para São Paulo em busca de trabalho. Quando isso aconteceu pude ler com mais calma, sem pressa, degustando as páginas dos livros.
Pela manhã eu acordava com meu pequeno nariz cheio de pó preto. Certo dia minha mãe me perguntou: “O que é isso em seu nariz? Está preto de tanto inalar fumaça de candeeiro. Você e seus livros! Pelo menos enquanto ler não pensa em namorar tão cedo”.
Namorar?! Quem iria querer namorar uma caipira como eu?
Eu era a leitora mais fiel, a mais freqüentadora da Biblioteca Antonio Torres. Busquei nos livros refúgio de anos difíceis. Venci minha timidez, pena que não dei continuidade depois que vim morar em São Paulo.
Em um dos livros que li na Biblioteca, não recordo o nome, mas na contra-capa dizia assim: “Felicidade é utopia, ela existe, não como prêmio, mas como conquista, não é uma estação aonde chegamos, é uma maneira de se viajar”. Pesquisei no Google e não obtive grande sucesso. Parece ser uma intertextualidade de Alzira Lopes e Roque Schneider. Nessas mesmas pesquisas no mundo virtual li uma citação de Cesar Romão que dizia o seguinte: “Felicidade não é algo que se conquista: é algo que acontece em nossa vida como prêmio pela maneira que vivemos”. Não é da maneira que vivemos que conquistamos a felicidade? Felicidade está longe de ser um prêmio, mas uma conseqüência, da mesma forma que o sofrimento jamais é um castigo e sim um resultado.
Voltaire disse que “A felicidade é a única coisa que podemos dar sem possuir”. Charles Chaplin disse que “Nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontra todos os segredos inclusive o da felicidade”.
Cada ser humano com seu ponto de vista resume o que pensa e o que acha a respeito da vida. Cada um é feliz ao seu modo, à sua maneira. Eu acredito que a felicidade é algo que se busca dentro de si. Às vezes ela vem como um orgasmo: intenso, porém curto, gostoso, porém passageiro.
Até hoje nunca encontrei nenhum livro que ensine alguém a ser feliz. Que fale sobre felicidade, sim. Para ser feliz só depende de nós mesmos, mas se para alguns ainda é difícil sentir tamanho sentimento, recomendo “o jogo do contente”. Pode dar certo.
sábado, 25 de julho de 2009
Antônio Torres escreve tratados de delicadeza
Eu nem vou me atrever a dizer que esse texto é uma resenha, porque não é. Ou que é uma biografia porque também não é. É só meu jeito arrevesado de partilhar achares e pensares, partilhar sabores e saberes. Só meu jeito de dizer o quanto gostei de ler e o quanto gosto de reler SOBRE PESSOAS, última publicação escrita de Antônio Torres.
Escrever sobre pessoas, sejam elas do meu afeto, das relações de trabalho ou sobre quem simplesmente admiro e respeito em determinado campo de atuação, embora goste de fazê-lo não é tarefa das mais simples. Causa-me certo acanhamento, certo temor, pois me exige um conhecer, uma capacidade de observação e perspicácia que estou longe de ter. Daí o meu encanto com o livro, por ser esse mergulho na alma humana, por ser esse tratado de gentileza e amorosidade ao ser humano. Encanto-me tanto que, volta e meia, venho re-visitar um ou outro personagem tão bem retratado pela alma generosa e carinhosa do autor.
Na primeira leitura que fiz em 2007, me emocionei muito com vários textos. Todos impecáveis, poéticos, sensíveis, mas como não chorar com a lembrança do querido João Saldanha após sua maravilhosa FOI BOM TE OUVIR, JOÃO? Confesso minha predileção pelo texto sobre Alexandre O' Neill e por A MÃE, AS PROFESSORAS E OS DIAS DE UM ESCRITOR, por motivos óbvios: Um é poesia da melhor qualidade e o outro é um memorial impecável sobre o ato de ler.
Totinho - É assim o tratamento carinhoso de sua mãe e irmãos e de tantos que lhe são caros - não disse antes, mas digo agora: SOBRE PESSOAS é o tipo do livro para se carregar pela vida afora. Digo também que lembro com carinho do primeiro livro seu que li, em 1978. ESSA TERRA, além da beleza poética, é também um tratado de delicadeza e humanidade. Seus personagens são tão humanos que reconheci neles pessoas caras, do meu mundo de menina da roça. Quando li, pensei no Mestre Graça e compreendi ainda mais a angústia e o fascínio desse universo tão presente em minha constituição de ser.
Minha admiração por sua escrita inteligente e intensa permaneceu ao longo de tantas coisas boas que li e quando, muitos anos depois a vida nos juntou, autor/leitora, cunhado/cunhada já éramos amigos. Aprendi e aprendo muito com o jeito humano com que trata seus personagens. Não os julga, não os demoniza, apenas expõe suas emoções com o filtro de sua sensibilidade e isso me encanta.
Tenho, confessadamente, o vicio das releituras. Mas não releio qualquer livro. Os que escolho para reler são os especiais, os raros, os que me tocaram o coração e alma por motivos dos mais diversos. Portanto meu caro, sempre que volto a SOBRE PESSOAS ou a qualquer dos seus livros, ou mesmo quando te leio na rede, reafirmo o quanto aprendo, o quanto gosto da escrita de Antônio Torres.
Abraço afetuoso extensivo a Sônia.
Saiba mais
Antônio Torres (Sátiro Dias, 13 de setembro de 1940) é um escritor brasileiro. Nasceu em 1940, num povoado chamado Junco (hoje a cidade de Sátiro Dias), no sertão da Bahia. Descobriu a vocação literária na escola rural de sua terra, incentivado pela professora. Logo começou a escrever as cartas dos moradores da cidade, a recitar poemas de Castro Alves na pracinha da cidade, a ajudar o padre a rezar missa em Latim. Estudou em Alagoinhas e Salvador, onde se tornou repórter do Jornal da Bahia. Foi jornalista e publicitário em São Paulo e em Portugal. Depois de muitas andanças pelo país e pelo mundo, radicou-se no Rio de janeiro onde reside em Itaipava (Petrópolis). Hoje é um dos escritores mais conhecidos de sua geração, com livros traduzidos na Itália, Argentina, México, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Bélgica, Holanda, Israel, Bulgária, entre outros.
Prêmios
Romance do Ano - 1996
Concedido pelo Pen Clube do Brasil.
Prêmio Hors Concours - 1998
União Brasileira dos Escritores
Chevalier des Arts et des Lettres - 1998
Condecorado pelo governo francês.
Prêmio Machado de Assis - 2000
Concedido pela Academia Brasileira de Letras.
Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura - 2001
Na 9ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo - RS.
Um Cão Uivando para a Lua (romance). Rio de Janeiro, Edições Gernasa, 1972; 3a ed., São Paulo, Ática, 1979.
Os Homens dos Pés Redondos (romance). Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1973; 3a ed., Rio de Janeiro, Record, 1999.
Essa Terra (romance) São Paulo, Ática, 1976; 15a ed., Rio de Janeiro, Record, 2001.
Carta ao Bispo (romance). São Paulo, Ática, 1979; 2a ed., São Paulo, Ática, 1983.
Adeus, Velho (romance). São Paulo, Ática, 1981; 4a ed., São Paulo, Ática, 1994.
Balada da Infância Perdida (romance). Prêmio em 1987, Pen Clube do Brasil, categoria "Romance". Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986; 2a ed., Rio de Janeiro, Record, 1999.
m Táxi para Viena D’Áustria por ter este livro e Essa Terra traduzidos na França, recebe, do governo francês, o título de "Cavaleiro das Artes e das Letras" em 1999. São Paulo, Companhia das Letras, 1991; 4a ed., Rio de Janeiro, Altaya/Record - Coleção Mestres da Literatura Portuguesa e Brasileira, 1999; 5a ed., Record, 2001.
Centro das Nossas Desatenções (crônica). Rio de Janeiro, RioArte/Relume-Dumará, 1996.
O Cachorro e o Lobo em 1999 ganha o Prêmio "Hors-concours de Romance" (para obra publicada) da União Brasileira de Escritores. Rio de Janeiro, Record, 1997; 2a ed., Rio de Janeiro, Record, 1998.
O Circo no Brasil (crônica). Rio de Janeiro/São Paulo, Funarte/Atração, 1998.
Meninos, Eu Conto (literatura para jovens). Rio de Janeiro, Record, 1999; 3a ed., Record, 2001.
Meu Querido Canibal (crônica). Rio de Janeiro, Record, 2000; 2a ed., Record, 2001.
O Nobre Sequestrador (romance). Rio de Janeiro, Record, 2003.
Pelo Fundo da Agulha (Romance). 2006, Rio de Janeiro, Record.
Minu, O Gato Azul (infantil) Rio de Janeiro, 2007.
Sobre Pessoas (Crônicas), Editora Leitura, Belo Horizonte, 2007.
Sobre o autor, fonte: Wikipédia
quinta-feira, 16 de julho de 2009
A CHEGADA DO HOMEM À LUA
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De A chegada do homem a Lua |
A Chegada do Homem à Lua
Em 1974 o Globo Repórter exibiu reportagem sobre o dia 20 de julho de 1969. Vale a pena rever esse momento histórico.
Antes de clicar no play do vídeo, dar pausa no player do blog, que fica abaixo da mensagem de boas vindas, canto direito superior.
sábado, 11 de julho de 2009
Arte Culinária É Com Minha Nêga
Quando conheci a minha cara-metade, vinte anos atrás, poder-se-ia dizer que ela não fora treinada nas prendas domésticas como são as mulheres do interior, cuja principal preocupação é a de arranjar marido. Sendo assim, se eu não tivesse atravessado o seu caminho, talvez ela continuasse solteira até hoje, haja vista o machismo brasileiro preferir a mulher que melhor serve petisco àquela com um bom papo-cabeça.
Para quem não goza da intimidade com a cozinha, fritar um ovo pode ser mais perigoso do que dar murro em ponta de faca. A verdade é que, nos primórdios dos tempos, quando ela voluntariamente se tornou aprendiz de cozinheira, levou um corte profundo no dedo, provocado por uma casca de ovo. Para a nossa felicidade, havia uma farmácia em frente de casa com um farmacêutico competente, que lhe costurou seis pontos e estancou a hemorragia.
Durante longos anos gozei a doce vida de solteiro, morando sozinho, e um curso intensivo de arte-culinária foi o caminho mais curto que encontrei para não passar fome. Rapidamente aprendi a interpretar o manual de sobrevivência na solidão da selva de pedra e em pouco tempo me tornei um expert em comida de baixo teor calórico, como feijoada, buchada, rabada, mocotó, sarapatel, dobradinha e todas as iguarias que um biriteiro precisa quando a ressaca aperta logo cedo da manhã.
Essas comidas, exceção apenas para o sarapatel, se guardadas devidamente na geladeira, duram sete dias sem alterar o sabor ou causar um estrago maior ao aparelho digestivo. Deste modo, seguindo na contramão da Criação do Mundo, mas honrando a saudável preguiça do baiano, cozinhava apenas um dia, e descansava os outros seis.
Dizem que o paulista vive para trabalhar, o carioca trabalha para viver e o baiano simplesmente vive. Não ousaria jamais contrariar essa máxima, vez que o cavalo, que trabalha pra burro, vive menos, bem menos, que uma tartaruga . O principal lema de um bom baiano é: não faça hoje o que pode ser feito amanhã. Baseado nessa premissa, nós levamos quinze dias para morrer de morte súbita. Por isso, a obrigação de cozinhar um dia na semana estava afetando meu estado mental. Consultado um analista, ele me sugeriu arranjar uma mulher de forno e fogão e aposentar meus manuais de culinária.
Obediente, saí à caça de uma fêmea à altura do meu paladar exigente e que pudesse chamar a minha mãe de sogra. Como a maioria das mulheres baianas só quer saber de festa de largo, pular de pipoca no bloco da Ivete Sangalo, soltar gritinhos histéricos no rebolado do Xande e esvaziar lata de cerveja na lavagem do Bonfim, embora vinte anos atrás ninguém soubesse quem era Ivete ou Xande, fui à caça em outros cantos, incluindo Maceió no roteiro. Em uma bela manhã de fevereiro, encontrava-me encostado no balcão de uma barraca na praia da Pajuçara, e achei engraçado o fato de duas banhistas fugirem da chuva que caiu de repente. Aproximei-me, ladino, e puxei conversa:
– Que interessante! Vocês duas estavam dentro d’água e saíram correndo para não se molhar na chuva! Que tal molhar a garganta agora?
Riram simpáticas e se declararam abstêmias. Após duas horas de conversa, descobri que nenhuma das duas sabia nada de fogão, eram apenas duas universitárias relaxando no fim das férias. Não perdi o rebolado por tão pouco, pois na minha terra também existe outro ditado dizendo que “quem não tem tu, vai tu mesmo” e não deixaria passar em brancas nuvens a minha estada em Maceió só porque as meninas não eram prendadas na arte do cozinhar. Nesta cidade deve existir bons restaurantes, pensei com os meus botões, apesar de trajar apenas uma sunga.
Não me senti no dilema “shakespeariano” e a minha escolha seguiu os preceitos da arte do melhor amar, apesar de ela trapacear a colega no jogo da porrinha. No amor e na guerra, vale tudo, se justificou inocentemente. Meses depois, por amor, ela se submeteu ao meu intensivo de culinária e hoje cozinha divinamente bem, a ponto de, incentivada por um compadre especialista em cozinha internacional, rascunhar um livro de receitas da comida alagoana, devidamente prefaciado pelo farmacêutico que costurou seu dedo quando se cortou na casca de ovo e mais outros pontos em suas mãos devido a cortes agudos no cabo da colher de pau.
Graças a esse seu gosto adquirido pelas prendas da cozinha, aprendemos a conjugar o verbo envelhecer juntos em sua plenitude: ela, tonalizando os cabelos de vez em quando; eu, deixando-os embranquecer naturalmente, pois, se é de agrado à vaidade feminina e do prazer masculino a mulher disfarçar a ação do tempo em produtos afins, ridículo se faz um homem renegar sua maturidade física manifesta nos cabelos brancos e sair por aí pingando tinta sobre os ombros, embora o Viagra possa negar a senilidade latente e nos tornar competentes amantes tais quais adolescentes que fomos um dia.