terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Adeus, Maria Helena Bandeira


 O blog  está de luto. Morreu, no último dia 06, no Rio de Janeiro, a nossa amiga e colaboradora Maria Helena Bandeira, vitimada por um câncer no intestino.

A Mhel, como era carinhosamente chamada por nós, era autora de FC, mas quando eu lhe pedia um texto para o blog, ela me dizia com seu jeito doce:

- Faço qualquer coisa por você, Tom Mix. Até mesmo escrever o que não sei.

E escrevia divinamente. E, para mim, fez muito mais do que escrever. Quando a minha filha Flávia foi se aventurar pela cidade carioca, Mhel tomou conta dela como se filha fosse.

A meu pedido, ela escreveu A Saga de Catende, o inverso da arribação nordestina, um texto em sete capítulos para ser lido e devorado por quem gosta de uma boa leitura. Catende é uma cidade de Pernambuco, terra de Ascenso Ferreira, Maurício Melo e da bisavó de Mhel. A saga conta a história da mocinha que é forçada a se mudar do Rio de Janeiro para a fazenda dos avós, em Catende, um lugar onde tomar banho de cuia era considerado luxo.

Abaixo, deixo o link para os textos da agora saudosa Maria Helena Bandeira, a irlandesa com sangue nordestino correndo nas veias, que cedo nos deixou para desvendar os mistérios do Universo que tanto aguçou os seus sentidos em vida

Descanse em paz, Mhel, e obrigado pela amizade. Sentirei saudades, mas qualquer dia a gente se encontra. Flavinha lhe manda um beijo de despedida.

LINK PARA OS TEXTOS DE MARIA HELENA BANDEIRA

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eu era feliz e não sabia




Depois de assistir ao constrangimento de Roberto Carlos cantando e dançando “Ai, se eu te pego!” no seu tão badalado programa, pensei cá com meus botões: “Deus do Céu, a que vexame vestiram o rei!”

Já não bastava o “segura peão!” de outros programas. Nem a Banda Apocalipse. Ou Marília Pera interpretar suas canções. Era preciso chegar ao fundo do mau gosto para provar quem mandava no pedaço. “Que rei sou eu, afinal?” deve ter pensado Roberto Carlos em algum momento de lucidez. Era visível o seu mal estar nos gestos obscenos que a poética da música pedia.

Bebi um gole d’água e pensei: “No segundo bloco ele se safa.” Mas qual o quê?! Simplesmente ridículo seu ensaio no camarim das Empreguetes. Diria a minha mãe: “Sem jeito mandou lembranças!” Ele sorria amarelo, talvez mais surpreso do que eu com a peça que lhe pregaram. O rei do iê-iê-iê, o rei do ritmo, o rei da jovem guarda, o rei da juventude, o rei dos reis, de repente mais um título usurpado de Odair José: o rei das empreguetes.

Triste fim de carreira. Nem mesmo a pirataria de DVD levou fé nesse especial de fim de ano. Sem mais coragem para ver o que vinha pela frente, desliguei a televisão. Não há nada mais constrangedor para um súdito do que ver seu rei com cara de bobo da corte.

“O que é que falta acontecer agora?”, pensei enquanto contava carneirinhos. Não demorei muito para saber.  “Escola de samba homenageará um cavalo”, foi a chamada do noticiário do dia seguinte. Deve ser o cavalo de Tróia, pensei. Engano. É mesmo um presente de grego que a Beija-Flor dará aos seus passistas e simpatizantes. Em vez de samba no pé, trotes e coices. O tema é “Amigo Fiel”, que não é o cão, Jesus Cristo e nem Erasmo Carlos. É o cavalo Manga-larga marchador. Só não sei dizer se o ritmo será em “samba de enredo” ou em “galope de enredo”.

Depois que o Estado tomou conta das favelas cariocas, as escolas de samba andam numa pindaíba só. Meio mundo de bicheiros e traficantes na cadeia, a ordem é “salve-se quem puder!” Das doze escolas do grupo especial, nove receberam ajuda de governos estaduais, paises ou de empresas. Vai se cantar a Alemanha, Coreia do Sul, homem do campo, Revistas de fofocas de famosos, Cuiabá, novelas da Globo e até mesmo o Rock in Rio virou tema de enredo.

Samba de uma nota só é Moraes Moreira cantando “Bestetu” com os Novos Baianos. Besta somos nós. Esse “desconjuro” das escolas de samba cariocas está fazendo Sérgio Porto revolver-se em seu túmulo tentando reescrever seu samba do crioulo doido.

Fui consolado por um amigo que me ligou de Salvador para dizer que estava me enviando um cd com as músicas que iriam “bombar” no carnaval baiano. Coisa boa, nada a ver com a mesmice dos parangos e parangolés. Abri um sorriso de orelha a orelha. Finalmente uma notícia venturosa. Deixei de frequentar o carnaval da minha terra por causa da baixaria musical dos últimos anos. Credita-se a mediocridade musical à axé music, mas um dia parei para observar e vi que não tem nada a ver. A axé music, invenção de Luiz Caldas, foi concebida com ritmo, harmonia e letra dentro dos padrões carnavalescos. Eram melodias trabalhadas, afinadas, dançantes, mas depois que os próprios artistas passaram a controlar as gravadoras e a mídia, se esqueceram do que era a música. Qualquer coisa que fizessem, bastava tocar no rádio, aparecer na tevê, que era sucesso garantido. Foi assim que a bunda da Karla Perez sobreviveu a tantos carnavais.

Finalmente chegamos aos finalmentes. Antes do ano novo recebi o cd de música carnavalesca baiana, tão cantado em prosa e verso. Reuni a família na sala para ouvir o novo ritmo que estava “bobando”, segundo um amigo. Devo confessar que coloquei o cd no aparelho sem a curiosidade de olhar a track-list, e, por causa desse pequeno descuido, os vizinhos chamaram a polícia mal acabara de ouvir a primeira música.

Cito aqui o nome de algumas músicas que estão bombando na minha terra: “Dança do enfia o dedo”, “largar de barriga”, “tchu, tchu, baranga”, “aquecimento do bumbum”, “po... po... popozão”, “as magrinhas que fazem gostoso” e “pegando a tua irmã”.

Fiz planos em passar o carnaval em Salvador, mas, diante desses clássicos musicais, tive que desarrumar minha mala das ilusões, agravado também pela beleza que será o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Pensei alto: “Vou ter que passar o carnaval fora do Brasil. Vou pra Sergipe!”

– Sergipe é no Brasil, mané! – disse minha cara metade, que tem o dom de ler meus pensamentos.

– Então vou pra Aracajú!

MORAL DA HISTÓRIA: Nunca pensei que um dia sentiria saudades de Luiz Caldas no carnaval da Bahia.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Luís Pimentel - 86 anos do maestro maior



  
     O carnaval se aproxima e enquanto os tamborins, os surdos e as cuícas são retirados dos armários e invadem as quadras das escolas, me lembro de uma imagem que põe o samba em dimensões amplas e diversas, do maestro Tom Jobim cantarolando que “mandou subir o piano pra Mangueira”. Na parceria com Chico Buarque, ressalvando que o seu samba “não é de levantar poeira”, mas que tem todo o direito de “entrar no barracão”, Tom expõe toda a delicadeza e sinceridade da relação – músico Zona Sul, cidadão do mundo – com as manifestações mais populares de sua cidade:

     – Barracão nunca foi fechado nem é restrito. E a cidade devia espiar o morro mais de perto.

     A Estação Primeira entendeu a mensagem e também passou a espiar Tom. E também Chico. Em 1992 cantou o nosso grande maestro na Avenida, com o enredo “Se todos fossem iguais a você”. Seis anos depois repetiu a dose com o autor dos versos do piano que sobe o morro e de tantos outros que fazem a música brasileira reinar soberana, e saiu do desfile campeã, depois de apresentar o enredo “Chico Buarque da Mangueira”.

     O carioquíssimo Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, uma das mais perfeitas traduções de Ipanema, o amigo do peito da fauna e da flora do Jardim Botânico, nasceu num mês de janeiro, dia 25, em 1927. Foi um dos gigantes de nossa música, compositor-chamego de Frank Sinatra, o melodista a quem grandes nomes da música universal se renderam, a até mesmo um letrista talentoso e inspirado – nos mostrou isto em mosaicos de palavras como aqueles montados em “Águas de março”.

     Tom subiu com o piano para a eternidade em 1994, deixando por aqui inúmeras canções de sucesso e uma grife de respeitabilidade poucas vezes alcançada por um artista. Tornou-se conhecido internacionalmente quando sua “Garota de Ipanema” (parceria com Vinicius de Moraes) ganhou o mundo. Mas foi desde sempre merecedor do enorme carinho de todos nós, um patrimônio das praias, da boemia, do asfalto e também dos morros.
    

domingo, 16 de dezembro de 2012

Cineas Santos - Repensar a cidade



                                            
          Em boa hora, por iniciativa do ICC, CAU/PI e IAB/PI, realizou-se em Teresina, na semana passada, a 2ª edição do Teresina Sustentável, tendo como objetivo “discutir os caminhos do urbanismo e da arquitetura na cidade”. O momento não poderia ser mais oportuno: no próximo mês, a capital do Piauí terá nova administração e a necessidade premente de pensar e realizar ações capazes de, pelo menos, minimizar os problemas que nos afligem.

          A exemplo de outras capitais brasileiras, Teresina não está crescendo; está inchando. Sem planejamento sustentável, a cidade incorre nos mesmos erros que inviabilizam as metrópoles do país. O problema mais visível é do trânsito: caótico, ruidoso, violento. Por falta de soluções  inteligentes, os gestores insistem na ideia superada de alargar ruas, rasgar novas avenidas, construir viadutos, o que  implica diminuir  os espaços destinados aos pedestres. A cada “requalificação” de uma praça ou avenida, subtrai-se uma nesga das áreas destinadas aos sem-carro. Foi assim na Praça Saraiva (que corre o risco de ser dividida), na Praça da Bandeira; na Praça do Marquês, para citar apenas alguns exemplos. A cidade está sendo deformada para “facilitar” o  fluxo dos  automóveis que disputam cada polegada de chão com a fúria de mil demônios.

           O Código de Postura parece ter sido elaborado para ser desrespeitado. Assim, casarões de relevante valor histórico ou arquitetônico desaparecem na calada da noite, dando lugar a edifícios modernosos ou estacionamentos. As calçadas, estreitas, irregulares, esburacadas, põem em risco a saúde dos transeuntes. Acessibilidade não passa de um vocábulo, recém-descoberto, levianamente empregado em discursos oficiais.

          Os problemas não param por aí: o tal “cinturão verde” de Teresina converteu-se num rosário de favelas, rebatizadas com o nome de “vilas”, como se o substantivo tivesse o condão de melhorar a vida dos que sofrem ali. A cobertura vegetal da cidade desaparece rapidamente engolida pela especulação imobiliária. O que resta do verde essencial, notadamente nos espaços públicos, apresenta problemas muito sérios: as árvores de Teresina estão doentes, infestadas de erva-de-passarinho, corroídas por cupins ou mutiladas por podas irresponsáveis. Quanto aos dois rios que banham a cidade, há bastante tempo, foram transformados em escoadouro de efluentes indesejáveis. Como se pode ver, em matéria de problemas Teresina está “bem servida”.

          Curiosamente, na conferência de abertura do Teresina Sustentável, no dia 6, não vi nenhum representante da Prefeitura de Teresina ou do Governo do Estado. A bem da verdade, não avistei ninguém com poder político para alterar coisa alguma. Um tantinho desencantado, pensei comigo: ou esses iluminados já sabem tudo ou não estão interessados em aprender nada.


         

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Antonio Torres - Flimar: o gol de letra do velho Capita


Foi bonita, simpática, leve, divertida e, sobretudo, inteligentíssima, a terceira edição da Flimar, a Festa Literária de Marechal Deodoro, criada, organizada e animada pelo secretário de Cultura dessa cidade, o admirável homem de letras Carlito Lima, o velho Capita, assim chamado, carinhosamente, por ter sido capitão do exército brasileiro.

Graças ao seu esforço e competência, hoje Marechal Deodoro está inserida na agenda nacional de eventos literários - feiras, bienais, festas e jornadas, realizadas regularmente de Passo Fundo, no Rio Grande Sul, a Manaus; e de Macapá, no extremo-norte, a Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira.

Acontecida do dia 28/11 a 1/12, a 3ª Flimar contou com uma variada programação de palestras, oficinas, saraus de poesia, concertos musicais, numa alegre e significativa festa da cultura.

 Frequentador de todas as suas edições até agora, este velho escriba assistiu em todas elas a palestras memoráveis, como as de Marina Colasanti, Ignácio de Loyola Brandão, Luiz Ruffato, Luís Pimentel, Affonso Romano de Sant’ Anna, Salgado Maranhão, etc., etc. No ano passado, porém, o maior destaque da Flimar foi ter o poeta e imortal Lêdo Ivo como o seu autor homenageado. Neste 2012, a honraria se estendeu a dois nomes: o do  folclorista alagoano Théo Brandão - rememorado pelo já citado Lêdo Ivo, assim como pelo jornalista Luiz Rosenberg e outros palestrantes -, e o do baiano que vos escreve, saudado pela professora Vanúsia Amorim, que, em nome de 1.700 alunos do IFAL de Palmeira dos Índios, e a três vozes (com os atores Chico de Assis e Paulo Poeta), leu um poema (Juncomigo) do estudante Lucas Rosendo, proporcionando um dos momentos mais emocionantes da festa.

 Além de Théo Brandão, Monteiro Lobato, Jorge Amado e Luiz Gonzaga, o rei do baião, também foram (bem) lembrados.

 Entre os que contribuíram para o brilho da Flimar 2012 figuram os nomes de Janaína Amado, Maurício Melo Júnior, Miriam Salles, Marília Arnaud, Ovídio Polli Júnior, Valéria Martins, Carla Nobre, Ricardo Cravo Albin, Ricardo Cabus... e o impagável Sebastião Nery – com o devido pedido de desculpas aos não lembrados aqui.          

Que a Flimar entre definitivamente no calendário cultural de Alagoas, para o bem de todos e felicidade geral da nação letrada.

 E palmas para o seu o comandante-em-chefe Carlito Lima, capitão das letras e das artes, semeador de cultura, cultor de amizades. 

 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Luís Pimentel - O ano em que perdemos Altamiro Carrilho

 
     Fluminense de Santo Antônio de Pádua e carioca de coração e de harmonia, o maior flautista de todos os tempos, gênio absoluto do seu instrumento, nasceu num mês de dezembro (dia 21), no ano de 1924. Com os sopros que encantaram pelo menos duas gerações de admiradores e de músicos brasileiros (boa parte deles solando canções de sua própria autoria), Altamiro reinou soberano nas melodias e nos arranjos até o dia 15 de agosto deste ano, quando complicações pulmonares encerraram a sua linda e duradoura carreira.

      Irmão do também flautista Álvaro e tio do genial violonista Maurício Carrilho, mestre Altamiro gravou quase uma centena de discos, deixou pelo menos duzentas obras autorais e esteve à altura de Pixinguinha como executor, mentor e divulgador do choro, no Brasil e no mundo inteiro. Artista de seu tempo, em tempo integral,  jamais parou de trabalhar. Em uma de suas últimas entrevistas, declarou:

      "Nem penso em parar. Ainda dependo do trabalho para sobreviver. Aposentadoria de músico é muito baixa. E eu também não soube guardar dinheiro quando tocava com frequência no exterior", admitiu, para logo emendar no estilo de quem sempre levou a vida com jovialidade e picardia: "Mas também não me arrependo, porque a vida é para ser vivida".

      Em 2009, a gravadora Biscoito Fino lançou a caixa de discos Poesia do Choro, com três CDs de Altamiro Carrilho. Foi um sucesso e aproximou o mestre de um público mais jovem, que ainda não conhecia sua obra. O surgimento ou ressurgimento, nos últimos anos, de experiências como a Escola Portátil de Música, no Rio, têm valorizado a produção de altíssimo nível que o pai da flauta deixou.

      Por ter convivido com a música desde muito pequeno, tocando tarol na banda Lira de Arion, em sua cidade, Altamiro ligou seu nome e existência, também, a choros seminais de outros compositores, como Pixinguinha (Carinhoso), Radamés Gnatalli (Rio antigo) e João de Barro (Urubu malandro),  que nos acordes de sua flauta ganharam roupagem e personalidade.

      Estará para sempre na pequena galeria composta por aqueles músicos que a música jamais esquecerá.

 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Quem sabe faz a hora




“Um mais um é sempre mais que dois”. Beto Guedes.

Quem participou do Fórum Nacional de Cultura sabe o quão difícil é se fazer cultura sem o apoio oficial e sem um bom mecenas a financiar a arte e as letras dos desprovidos de dinheiro para bancar o jabá midiático, tão comum hoje em dia.

Em Alagoas havia uma grita geral da classe artística local, principalmente dos músicos e compositores, a maioria com bons trabalhos gravados, mas sem a oportunidade de serem divulgados. Na seara das Letras, nem é bom se falar. Poucos, bem poucos, raros amigos do poder (ou do “quem indicou”), conseguiam publicação pelos órgãos competentes, verdadeiras máquinas de se misturar dinheiro público com o compadrio.

Em Palmeira dos Índios, cidade no sertão alagoano, na contramão dos contratempos está surgindo um movimento de escritores juvenis no Ifal (antiga Escola Técnica), capitaneado pela competente e dedicada professora de Literatura Vanúsia Amorim. Graças a esse movimento os estudantes estão tendo voz e vez na literatura local, apadrinhados pelo escritor baiano Antônio Torres, ídolo da garotada palmeirense.

Pelas bandas da minha terra, o arraial do Junco, existe outro “mecenas” da classe estudantil, uma professora, voz isolada dentro das quatro paredes que delimitam o espaço físico da escola. Mestra em Crítica Cultural pela UNEB, em Alagoinhas, não deixa passar em brancas nuvens os eventos culturais promovidos pelo aparelho estatal (e que são muitos, diga-se de passagem), principalmente os de cunho competitivo. Recentemente ela esteve envolvida no Primeiro Encontro Estudantil de Ciência, Arte e Cultura, cuja etapa final se deu na Praça das Artes, no Pelourinho, Salvador, Bahia.  Dez alunos de sua escola foram selecionados, mas nem todos puderam comparecer por motivos alheios à sua vontade.

Foram vários dias de integração da comitiva junquesa a outras da imensa Bahia, sem se falar no deslumbramento de se conhecer a velha capital pela primeira vez. Dormiam e acordavam vendo a Baía de Todos os Santos através da janela do hotel em que se hospedaram no Farol da Barra. A partir desse evento, seus olhares nunca mais serão os mesmos.

Vale dizer que, a ajuda do governo estadual com transporte, hospedagem e alimentação foi tão-somente no trajeto Alagoinhas-Salvador-Alagoinhas. Os alunos envolvidos no projeto só puderam completar o trajeto graças ao apoio das boas almas dos viventes intramuros da escola. O município, que gasta milhões com obras sem nenhum sentido ou com bandas de reboleichô-chô, não investe um centavo na promoção cultural nem no potencial estudantil em ebulição. Aliás, a atual gestão conseguiu uma grande mágica, daquelas de botar Mister-M no chinelo: fez sumir tudo aquilo que foi construído na área cultural ao longo das décadas. Para os operadores e observadores da área, esta foi uma gestão de terra arrasada. Literalmente.

Vanúsia em Palmeira dos Índios, Cristiana Alves no velho Junco, duas mulheres na vanguarda dos acontecimentos além dos limites de suas possibilidades, contando apenas com a cooperação dos colegas e o esforço dos seus alunos que, na maioria das vezes, são movidos apenas pelo desejo em dar a volta por cima de suas carências.

Por essas duas grandes mestras que fazem a diferença na terra dos desiguais, parabenizo a todos aqueles e aquelas que acreditam poder fazer a hora sem a agonia da espera.