A capa bem nordestina: a
xilogravura dos cordéis que encantavam o povo nas feiras livres ou na
boca de um ceguinho cantador ao pé do balcão, intercalando os acordes da
sanfona e um gole de cachaça com tira-gosto de salsicha tirada de uma
lata empoeirada na prateleira, onde, ironicamente, há uma imagem de
Santa Luzia bem ao lado, iluminada por uma lâmpada decorativa vermelha, e
o dono do boteco fala modestamente aos fregueses que trata-se de uma "luz de cinco velas".
Sentado em um banco de madeira de lei, o móvel mais luxuoso do estabelecimento, um senhor de barbas brancas sorve a dose de cachaça, pigarreia, cospe no chão, manda botar mais uma pro ceguinho e pede:
- Agora canta "A chegada de Lampião no Céu!"
Os presentes concordam, pedem uma pinga pra limpar os ouvidos e, infelizmente, o violeiro não pode ver que é o centro das atenções. Um cachorro vira-lata, que dorme na calçada, limpa os olhos com as patas, se levanta e vai lamber os pingos de cachaça que escorrem da boca do ceguinho.
Cenas comuns de um dia de feira nas pequenas cidades sertanejas.
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