domingo, 12 de outubro de 2025

Menino que fui, no sertão

Menino que fui, no sertão,
pelas ruas empoeiradas e dolentes
consumindo sonhos inocentes
nos dias e noites de solidão.
O que aprendi na voz da cigarra
é o que me orgulha em ser do agreste
e não a idiotice de se inventar o dia
do orgulho besta de ser do nordeste
e ser um pau-de-arara que não pia.
Quando fugi do sertão, seu moço,
não senti no peito o crepitar do coração;
senti orgulho de ter nascido em uma nação
sem cordas nem amarras no seu arcabouço.
o meu orgulho é ter nascido brasileiro!


A aurora boreal

 

Um dia um hippie me ofereceu um morrão fumegante e eu, cheio de vontade e medo, mais que depressa disse "não". A nicotina do pecado corroía as minhas entranhas em fumaça do Hollywood King Size Filter. A Souza Cruz era a minha salvação.
Hoje, pulmão enfisêmico (nem sei se existe essa palavra), coração pela hora da morte, fígado cirrótico, o baço perdeu a utilidade feito cabaço de rapariga, e o médico ainda tira sarro:
- Você devia ter fumado capim seco!
E agora, com cara de Maria Madalena Arrependida, corro o mundo atrás do hippie e não encontro nenhum vestígio. Nas minhas andanças em busca de algum sinal de fumaça, outro médico me anima:
- Agora não adianta mais. Você já morreu e se esqueceram de lhe avisar.
- Eu sei. Foi por isso que deixei a consulta fiado.
- Não entendi.
- Como o senhor é muquirana, vai fazer de tudo pra me ressuscitar!