terça-feira, 2 de setembro de 2025

Cume da memória 2

 

A banda Terceiro Mundo foi uma banda de Reggae da Bahia nos anos 80, na mesma época em que a Axé Music invadia o circuito Campo Grande - Praça da Sé, retornando para o Campo Grande, sob o comando do vocalista Dado Brazzawille.

Cume da memória 2 No cume da minha memória destroçada pelo tempo, eu abafei meu grito preso na garganta profana. Sinto os acordes da guitarra baiana rasgando a finitude das confluências das Avenidas escorrendo o metálico som pelo seu leito. O pierrô se perde nas águas do capeta e se enrosca nas coxas das foliãs mundanas. Ah, colombina, como te amei nas noites devassas, Para te perder nas penitências das manhãs de cinza! No alongar do tempo de esquecimentos e lembranças, enrolado nas serpentinas de nossas tranças, Eu fui para você um confete feliz... Pena que você não me quis.

Tom Torres

Cume da memória

Marquei minhas lembranças a fogo

No cume da minha memória
Onde as serras represavam sonhos E a liberdade batia asas. Onde está o meu pai agora Para me contar uma história E me pôr na cama ao dormir na mesa Depois de café moído a prosa? João! Raimundo! Décio! Acordem para rezar a ladainha De Nossa Senhora e outros santos! Kyrie Eleison! Nininho, encangue os bois E as meninas façam o café! Hoje é dia santo, Hoje é dia de São José! "E o Anjo do Senhor, em tanta agonia, veio anunciar-lhe a grande alegria. Fala o Anjo Santo: Que fazes, José?" A barra do dia avermelhou É o sinal de Nosso Senhor: Preparem a terra para o plantio. Este ano a safra será boa! E eu, menino de pés descalços, Brincando na lama do terreiro: Limpo de alma, sujo por inteiro. Vai pegar defruço, menino! Não peguei defruço, Mas a safra foi boa. Hoje não existe mais terreiro; Meu pai se foi, minha mãe resiste. Meus irmãos perderam-se pelo mundo Em busca de água de moringa e de sombra. Os amigos dissolveram-se nas estações De um tempo que resiste ao Tempo. E a liberdade além das serras Debilitou-se na minha agonia. Os meus sonhos foram enterrados ao lado do meu umbigo utópico No solo sagrado do curral, Debaixo de sete palmos Do esterco das vacas profanas E da lama do leite do terreiro Que me acolhia nos dias de chuva E me aquecia nas noites de Verão. Tom Torres