quinta-feira, 9 de julho de 2009

Títulos, inícios e finais de romances memoráveis.




Por Antônio Torres

Texto apresentado nas oficinas literárias Para gostar de ler (e escrever) romance, realizadas na Casa do Saber do Rio de Janeiro às terças-feiras de julho de 2009.


Imagem: www.adventistadapromessa.com.br/dijap/Palavra...


1.


Não soaria estranho, ou desnecessário, dizermos hoje que o primeiro romance moderno da literatura universal foi O Engenhoso Fidalgo D. Quixote da Mancha? Quatro séculos depois de vir ao mundo, o título de Cervantes consagrou-se de forma simplificada. Dom Quixote e pronto. Por mais (vá lá) engenhosa que tenha sido a criação original, a criatura dispensou o toque criativo do seu criador. E passou a cavalgar com suas próprias pernas através do tempo, vindo a ser memorizado sucintamente, de estalo. E mais: o emblemático Dom Quixote acabou sendo dicionarizado como um substantivo do qual derivaram alguns adjetivos. Assim:


Quixote 1. Aquele que age como Dom Quixote. 2. Pessoa sonhadora, ingênua, romântica.

Quixotesco 1. Que diz respeito a Dom Quixote, próprio ou característico de Dom Quixote. 2. Relativo a Quixote ou que envolve quixotada. 3. Fig. Diz-se do que ou de quem é generosamente impulsivo, sonhador, romântico.

Quixotismo 1. Comportamento próprio de ou semelhante ao de Dom Quixote. 2. Modo quixotesco de sentir ou agir. 3. Fanfarronice, bazófia.


Nem sempre títulos criativos se tornam memoráveis. Por exemplo: “O coração é um caçador solitário”, de Carson McCullers. Bonito, não? O romance rendeu um filme igualmente emocionante. Alguém aqui se lembra?


Vivo dizendo: “Meu reino por um título!” Umzinho assim: “Em busca do tempo perdido”, “Neste lado do paraíso”, “Suave é a noite”, “Reflexos num olho dourado”, “Balada do café triste”, “O som e a fúria” – este sacado por William Faulkner a partir de uma fala escrita por Shakespeare para Macbeth “É (a vida) uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, significando nada”. Outros de Faulkner que me encantam: “Enquanto agonizo”, “Luz em agosto”. Um tal de Dee Brown saiu-se com este: “Enterrem meu coração na curva do Rio”. Só matando esse cara. Os que mais me humilham: “Memórias póstumas de Brás Cubas”, “Grande sertão: veredas”, “Cem anos de solidão”, “Jornada de um imbecil até o entendimento” (Plínio Marcos), que parece parafrasear o célebre “Jornada de um dia para dentro da noite” (Eugene O’Neill). Um caso curioso: Graciliano Ramos deu ao que se tornaria mais lembrado de seus livros o seguinte título: “O mundo coberto de penas”. Foi o editor Augusto Frederico Schimit quem sugeriu que ele o trocasse para... “Vidas secas!” Este foi na mosca. Um título que não sai dos meus ouvidos: “Um país, o coração”, do poeta gaúcho Carlos Nejar. Outro: “A República dos sonhos”, de Nélida Piñon.


Alguém aqui ficaria com inveja dos autores de títulos como “Hamlet”, “Madame Bovary”, “O vermelho e o negro”, “Crime e Castigo”, “Anna Kariênina”, “Dom Casmurro”, “Ulisses”? Agora, roamos-nos.


Em casos assim, foram as obras que fizeram os títulos.


À parte isso, quais os ingredientes de um titulo genial?


Originalidade, significação, abrangência, ritmo, cadência, imprevisibilidade. O título surpreendente, que mata a pau, é um golpe de mestre. E um golpe de sorte, claro.


2.

Criar e coçar é só começar?


“No meio do caminho da vida, tendo perdido o caminho verdadeiro, achei-me embrenhado em selva tenebrosa”.


Em seu livro “E a história começa – dez brilhantes inícios de clássicos da literatura”, Amós Oz cita a primeira frase de “O Inferno” de Dante como possibilidade de um exemplo padrão para todas as histórias, argumentando que “No meio do caminho da vida” é, mais ou menos, onde todas as histórias começam.


“Então – ele prossegue -, você se senta e se pergunta o que deveria vir primeiro; como chegar a esse début do meio do caminho? Sentando-se. Rabiscando a página. Amassando-a. Jogando-a fora. Rabiscando a página seguinte: formas, flores, triângulos, losangos, uma casa com uma pequenina chaminé, um gato pelado. Amassando outra vez. Jogando fora. [...] Na verdade, isso acontece o tempo todo, não apenas com romancistas, mas com todos os que escrevem o que quer que seja”.


“É a espera” – assim começa “Os desencantados”, romance de Budd Schulberg baseado na relação de um jovem roteirista de Hollywood, aspirante a escritor, com uma estrela cadente da literatura norte-americana, facilmente identificável como Scott Fitzgerald. O que o narrador/personagem dessa história esperava? Talvez uma idéia salvadora para o roteiro de um filme que não estava conseguindo escrever.


Não foram poucas as vezes em que Clarice Lispector se viu diante de uma máquina de escrever se dizendo: “É a espera”. Ela achava que não havia outro jeito de começar, senão esperando, esperando, esperando, até que a primeira frase caísse em seu colo. Como se, enquanto você espera, seu subconsciente trabalha a seu favor.


Mas ora, o que conta é o começo salvador que baixa nas teclas como num passe de mágica, com o poder de fazer com que se leia o romance e dele nunca se esqueça, como aconteceu com este leitor quando, ainda na adolescência, bateu os olhos na primeira página do “Dom Casmurro” e levou um choque. Foi no momento em que Bentinho confabulava sobre o passageiro ao seu lado no bonde de volta para casa. A frase: “conhecia-o de vista e de chapéu”. Isto não provocara apenas um grande impacto no jovem leitor. Parecera-lhe uma verdadeira aula de texto literário, por seu modo de dizer tão diferente do que ele estava acostumado a ouvir. E onde estava a diferença: na linguagem e estilo desconcertantes de que aquela frase era apenas um começo.


Do “Dom Casmurro” e sua Capitu passemos a “Anna Kariênina”:


“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.


De cara, já adivinhamos a trama que desfolha todos os lençóis da história secreta de uma nação, no caso, a Rússia do século 19. A partir de um caso de adultério, Tolstoi pôs todo aquele século num romance que recentemente ganhou no Brasil uma tradução à altura, feita pelo caro romancista e contista Rubens Figueiredo, em primorosa edição da Cosac Naify.


- Suba, Kinch! Suba, seu jesuíta execrável!


O leitor aqui voltaria a se lembrar desta fala do começo do “Ulisses” ao fazer suas pesquisas sobre o Rio de Janeiro do século 16, para escrever o romance “Meu Querido Canibal”, e se deparar com o papel ambíguo dos jesuítas no Brasil, ao tempo da colonização portuguesa. Sobretudo o do padre José de Anchieta que, em selvas e águas de som, sonho e fúria, agia com um rosário numa mão e uma espada na outra, atuando, ao mesmo tempo, a serviço de Deus, para catequizar os silvícolas, e do rei de Portugal, ao consentir que fossem exterminados, em caso de resistência à sua catequese.


- Suba, Kinch! Suba, seu jesuíta execrável!


Conheceria James Joyce a história do José do Brasil?


De Joyce a Faulkner, em “Intruder in the dust” (“O intruso”, no Brasil, ou “O mundo não perdoa”, em Portugal):


“Era precisamente meio-dia nesse domingo quando o xerife chegou à cadeia com o Lucas Beauchamp embora toda a cidade (e todo o concelho, para falar a verdade) já soubesse desde a véspera à noite que o Lucas matara um branco”.


“O rapaz estava lá, à espera. Fora o primeiro a chegar e estava preguiçosamente a fingir-se ocupado ou pelo menos inocente...”


Bom, só são uns começos, para se gostar de ler os romances de que tratam.


3.


(Personagem: figura humana fictícia criada por um autor).


Na antiga Grécia ele era épico. Um arquétipo, um modelo, como Ulisses e Aquiles. Ou trágico como Édipo Rei. Esse herói clássico estava acima dos homens comuns, por ser nobre de sangue azul, mas sujeito às vicissitudes humanas, das quais o calcanhar de Aquiles serve de exemplo. Os épicos geraram o romance. Os trágicos, o teatro.


A partir do renascimento, entra em cena o herói moderno, no papel do homem-comum, cuja nobreza está no seu caráter, nas suas ações, na sua própria condição. No entanto, o que vai se consagrar na modernidade é a figura do anti-herói, que é patético. O primeiro deles fundou a literatura moderna. Precisa dizer de quem se trata?


4.


(Diálogos: falas fictícias, que podem ser mais convincentes do que as verdadeiras).


Do conto “O fim”, de Jorge Luis Borges. Cenário: uma bodega no pampa argentino. Personagem 1. Um negro a dedilhar um violão, numa longa espera (7 anos) do personagem 2, um cavaleiro que chega, sem que se saiba qual o conflito que existe entre os dois.


“Sem alçar os olhos do instrumento, onde parecia buscar alguma coisa, o preto disse com doçura”:


- Já sabia eu que podia contar com o senhor.

O outro, com voz áspera, replicou:

- E eu contigo, moreno. Uma porção de dias te fiz esperar, mas aqui vim.

Houve um silêncio. Por fim, o negro respondeu:

- Estou me acostumando a esperar. Esperei sete anos.

O outro explicou sem pressa:

- Mais de sete anos passei sem ver meus filhos. Encontrei-os naquele dia e não quis mostrar-me como um homem que vive às punhaladas.

- Já compreendi – disse o negro. – Espero que os tenha deixado com saúde.

- Dei bons conselhos a eles, que nunca são demais e nada custam.

- Fez bem. Assim não se parecerão a nós.

- Pelo menos a mim – disse o forasteiro e acrescentou como se pensasse em voz alta: - Meu destino quis que eu matasse e agora, outra vez, põe-me a faca na mão.

O preto, como se não ouvisse, observou:

- Com o outono se vão encurtando os dias.

- Esta luz que fica me basta – replicou o outro, pondo-se de pé. Perfilou-se diante do negro e falou-lhe como cansado:

- Deixa em paz o violão, que hoje te espera outra espécie de desafio.

Os dois encaminharam-se à porta. O negro, ao sair, murmurou:

- Talvez neste me vá tão mal como no primeiro.

O outro respondeu, com seriedade:

- No primeiro não te saíste mal. O que se deu é que querias chegar ao segundo.

Afastaram-se um pouco da casa, caminhando a par. Um lugar da planície era igual a outro e a lua resplandecia. De repente olharam-se, detiveram-se e o forasteiro tirou as esporas. Já estavam com o poncho no antebraço, quando o preto disse:

- Uma coisa quero pedir-lhe antes que cruzemos ferros. Que nesta briga ponha toda sua coragem e toda a sua manha, como naquela outra de há sete anos, quando matou meu irmão.

Talvez pela primeira vez em seu diálogo, Martim Fierro tenha ouvido o ódio. [...]

E assim, numa sequência de diálogos exemplares, numa construção labiríntica, e cuja tensão se assemelha a toques sutis em fios desencapados, Borges conta o fim do mais lendário bandoleiro argentino.


5.


(Tempo cronológico-tempo psicológico: o primeiro se processa num plano objetivo; o segundo, é subjetivo. A propósito deste, é ler “Ulisses”, de Joyce, “talvez a mais fiel radiografia jamais feita da consciência humana”, na abalizada opinião de Edmund Wilson).


Faulkner cruza os dois tempos o tempo todo na primeira parte de “O som e a fúria”, que tem sua ação centrada nas oscilações da memória de um oligofrênico, que mistura os acontecimentos que vivenciou com o que vivencia, dos três aos trinta e três anos de idade. Na segunda parte deste romance encontra-se tudo o que é preciso saber sobre a relação tempo cronológico-tempo psicológico, fluxo de consciência, monólogo interior:


“Quando a sombra do caixilho apareceu nas cortinas era entre sete e oito horas da manhã e então eu já me encontrava no tempo outra vez, e ouvia o relógio. Ele era do meu avô, e quando o pai o deu para mim disse: Quentin, eu lhe dou o mausoléu de toda esperança e de todo o desejo; é mais do que penosamente possível que você irá usá-lo para adquirir o reducto absurdum de toda a experiência humana [...] Eu o dou a você não para que se lembre do tempo, mas para que possa esquecê-lo por alguns momentos e não gaste todo o seu fôlego tentando conquistá-lo. Porque nenhuma batalha se vence ele disse. Elas não são nem ao menos disputadas. O campo de batalha revela ao homem somente a sua loucura e desespero, e a vitória não é mais do que uma ilusão de filósofos e loucos”.

(Em tempo: a mais recente tradução de “O som e a fúria” (muito elogiada, por sinal), é do querido poeta Paulo Henriques Brito, que ministra um curso de formação de escritores, na PUC - Rio).


6.


Por fim, um final antológico - de Scott Fitzgerald:


“Gatsby acreditava na luz verde, no orgiástico futuro, que ano após ano surgia e se afastava de nós. Se esse futuro nos iludiu, pouco importa: amanhã correremos mais depressa, ergueremos mais os braços... Até que uma bela manhã...


E assim, barcos contra a corrente, partimos em busca de um passado que não volta”.







quarta-feira, 8 de julho de 2009

Banda de Pífano da Bela Vista

A Banda de Pífano da Bela Vista faz apresentação especial para o blog no Casamento da Rosinha.


Afinal, quantos anos vai fazer Audálio Dantas?

Por Ricardo Kotscho

Audálio Dantas é um alagoano muito supimpa, como quase todos os alagoanos, e muito amigo do escritor Antonio Torres, colaborador deste blog. Por sugestão dele, do Tote de Irineu, hoje publico este texto-homenagem do Ricardo Kotscho, publicado originalmente em seu blog "Balaio do Kotscho".


FELIZ ANIVERSÁRIO, AUDÁLIO.




Nos últimos dias, comecei a receber e-mails de amigos comuns me perguntando se não iria escrever nada sobre os 80 anos do Audálio Dantas. Como sabem, aqui no Balaio o leitor é também pauteiro.


Nem eu, que sou amigo e parceiro deste grande jornalista e cidadão desde os anos 60 do século passado, sabia da iminência de tão importante efeméride.


Sabia que Audálio há tempos tinha passado dos 70, ainda em plena e produtiva atividade, mas não que estivesse próximo de se tornar um octogenário.


Para quem não sabe ou não se lembra, ele foi o líder dos jornalistas paulistas na resistência à ditadura militar e teve papel fundamental na resistência à ditadura militar naqueles trágicos dias do assassinato de Vlado Herzog. Foi dirigente sindical e deputado federal, mas nunca deixou de ser um repórter eternamente com ânimo de principiante.


Atualmente editor da revista Negócios da Comunicação, poderia escrever milhares de caracteres sobre a sua brilhante carreira, com passagens marcantes nos bons tempos das revistas O Cruzeiro e Realidade, ou como autor de um monte de livros, mas fiquei com aquela dúvida na cabeça: ele já vai mesmo fazer 80 anos?


Achei melhor consultar primeiro sua mulher, a onipresente e dedicada Vanira, mas ela também não me ajudou muito com sua enigmática resposta:


“Você me perguntou se ele vai fazer 80 anos (no dia 8 de julho). A resposta é não e sim. E aí é melhor que ele lhe explique ou lhe confunda mais”.


No dia seguinte, Audálio resolveu desfazer o mistério escrevendo-me de próprio punho a verdadeira história sobre a sua idade.


“Pois então, resolvo a questão. Confusão desse tipo é coisa lá de cima, tá aí o Lula que não me deixa mentir.


Seguinte: lá no Tanque d´Arca, onde nasci, tinha cartório, escrivão e tudo mais, porém meu pai, homem de muito capricho, achou que para o menino ficaria melhor um registro em Maceió, portentosa capital do Estado de Alagoas.


Foi deixando, foi deixando, e quando resolveu eu já estava taludinho e, segundo várias testemunhas, muito inteligente. Merecia até estudar.


Andava pelos 7 anos e, garantiam, poderia ter um brilhante futuro na Marinha Brasileira, onde poderia estudar de graça. E foi para apressar a possibilidade de ingresso na Escola de Aprendizes Marinheiros que me botaram mais três anos nas costas.


Assim, meu caro, tenho duas idades: a oficial, no papel, e a verdadeira, mas só consta da tradição oral, familiar.


Escolha aí a que você prefere festejar. Aceito presentes em duplicidade. A conclusão desta história é: a Marinha perdeu a oportunidade de contar com a minha contribuição.

Lá eu seria, no mínimo, capitão-de-mar-e-paz. Quem sabe, até um almirante daqueles cobertos de galões e medalhas. O mais provável, porém, seria pegar uma cana por considerar legítima a Revolta da Chibata…


Taí, escolha as armas.


Do seu amigo e ex-quase marujo


Audálio”




Nota do blog: Como vocês podem ver, nem só no arraial do Junco as atrapalhadas cartoriais acontecem. Eu mesmo fui registrado um mês antes de ter nascido, conforme pode ser lido em "Carta de Apresentação", publicada aqui como "Crônicas".





terça-feira, 7 de julho de 2009

O Casamento da Rosinha




Por Mislene Lopes






No dia 24 de junho realizou-se o maior casamento do ano, o mais esperado de todos e eu estava lá, de penetra, porque não recebi o convite. Saí de São Paulo às carreiras, voando, porque se fosse de jegue não chegaria a tempo.


Que encantamento! Que alegria! O sorriso da Rosinha deixou os meus olhos extasiados: que maravilha! Que Madona?! Que Mary Moore?! Nem Julia Roberts conseguiria tantos flashes como Rosinha no dia de seu casamento.

Revivi minha infância, me senti uma menina, voltei por alguns instantes a ser criança.


Rosinha, em sua carroça ricamente decorada em estilo rococó, seu noivo e o padre desfilam pelas ruas do arraial do Junco acompanhados por cavalos e cavaleiros, pelo povo – moradores e visitantes -, pelos políticos que abraçavam a multidão feito ave de rapina.

Essa pequena cidade no mapa do Sertão baiano me dá orgulho, porém quem faz com que nos orgulhamos dela são aqueles que a amam, que a honram, que não a negam, que a divulgam em suas andanças, em sua literatura. Cada verso, cada palavra escrita ou até mesmo dita, nos leva ao arraial do Junco, pois, para cada um dessas pessoas, essa terra foi o inicio, o meio e nunca será o fim.


O cortejo segue pelas principais ruas da cidade, parando nas escadarias do Quiosque do Jânio, no meio da Praça, onde acontecerá a cerimônia de casamento. Rosinha sobe ao altar para se casar sabendo que depois terá se divorciar, para que no próximo ano venha se casar novamente com o mesmo noivo ou outro qualquer. Seu casamento começou com uma brincadeira de Arizio Torres no dia de São João e se transformou em tradição regional, mantida com coragem pelo seu criador que ao longo dos anos pouca ajuda recebeu dos órgãos públicos.


Desfila Rosinha com seu longo vestido branco, a caminho do altar, acompanhada até de jega com batom, talvez querendo arranjar noivo também.


Fascinante o calor humano: abraços e mais abraços, apertos de mão, alegria e mais alegria, o bom soado bom dia! O prefeito todo sorriso no meio da multidão, cumprimentando o povo, angariando simpatia.


Desfila Rosinha, não em um cavalo branco, mas em sua carroça movida a pangaré, quase empacando no meio do caminho. Mas... esperem! Que vem lá no meio da multidão! Será miragem?! Não! É ele, meu amigo Tom, até então virtual: amado por uns, odiados por outros. É ele, em pele e osso, e o festejo está me proporcionando a felicidade de conhecê-lo pessoalmente. No casamento da Rosinha mais um junquês que faz nossa Sátiro Dias ter seu valor, uma jóia lapidada divulgando o nosso velho Junco com honra e amor.


Desfila Rosinha com todo seu cortejo e com ela os sonhos dos junqueses. São tantas as alegrias, mesmo com duração de um dia, fica acesa a chama da esperança eterna. E com a Rosinha e toda sua comitiva seguia minha saudade da menininha franzina cheia de sonhos e esperanças correndo pelas ruas vazias da cidade.


No Casamento da Rosinha revivi meu passado cheio de cores e alegria, reacendendo a fogueira do meu coração. No ano que vem estarei lá novamente, nem que tenha que viajar em lombo de jumento.









sexta-feira, 3 de julho de 2009

A intuição inventa e a técnica auxilia - Raimundo Carrero *

De Oficina literária



As pessoas, geralmente, fazem uma idéia equivocada do que seja uma Oficina de Criação Literária. Imaginam, quase sempre, ou sempre, que o escritor iniciante vai ser colocado numa camisa de força que se chama técnica e falta de espontaneidade. Não é nada disso. Muito pelo contrário, como se costuma dizer. A técnica é auxiliar. É uma forma de ajudar na intuição. Portanto, tudo começa com a intuição. Isso é definitivo.

Tanto é assim que na minha teoria da criação literária – digo isso com o máximo de cuidado para não me expor ao ridículo – coloco em primeiro lugar o Impulso – o desejo de escrever – e, em seguida, a intuição. Durante muito tempo imaginei, inclusive, que a intuição poderia vir em primeiro lugar. Questionei muito, até que me decidi pelo impulso – a inevitável força da escrita, o movimento inicial, o atirar-se no texto sem medo e sem pudor. E somente depois percebi a força da intuição.

Repito: a técnica é auxiliar. Durante a escrita o intelectual se deixa conduzir pela história – mínima que seja – e pelo personagem ou personagens. Não pergunta, não indaga, não reprime. Escreve sempre. Vai em frente. No entanto, seguidas vezes, encontra uma dificuldade, um problema, um questionamento. É aí que entra a técnica. Aliás, nunca se deve esquecer o primeiro e, por assim dizer, quase insuperável, manual de criação literária: “Cartas a um jovem poeta”, de Rilke. O que é que ele diz? Primeiro pergunte se você sobreviverá sem escrever. E pronto. Livro lido por gerações e gerações. Por isso recomendo-o sempre, com alegria.

Ora, se assim foi com Rilke, por que nós não devemos estudar? E aprender? A intuição é tão importante que até mesmo a técnica é, repito, intuitiva. Não há regras fixas. Nunca. Ao longo do trabalho, é da natureza humana perguntar: por que não faço isso? E por que não faço assim? Então entra a técnica. Mais uma vez: não é uma camisa de força porque você exercitou ou decorou uma série de regras e agora não sabe o que fazer com elas. De forma alguma. Quando o texto para e você pergunta por que não faço assim? Começou a se preocupar com a técnica. É isso.

De repente, o seu personagem precisa tomar uma decisão que você – escritor, narrador – questiona. Acabou de entrar no reinado da técnica. Sim, senhor. Você precisa encontrar uma saída para seduzir o leitor. Então acrescenta mais uma cena, corta outra, transforma em diálogo, muda uma palavra, corta outra. E, ao fazer isso, um caminho novo, luminoso, que você nem esperava, começa a surgir. Você percorre esse caminho e percebe que pode ir mais além. É isso. A técnica é sempre auxiliar da intuição. Às vezes – e quase sempre – a técnica é também intuitiva. Veja, por exemplo, o caminho da música. Dedilhando o violão, o músico toca muito bem, mas linearmente. De um momento para outro, percebe que um bemol ou um sustenido, uma pausa, ou um acorde, oferece outro tipo de beleza à melodia. E está aí a descoberta. Não é assim? Mas se ele, o músico, for também um estudioso de composição investirá, um pouco mais, nas técnicas já conhecidas e inventa outras. Basta conhecer também um pouco de harmonia. Com a oficina não é diferente.

E, na música, ocorre outras coisas ainda mais interessantes. Você vai assoviando, assoviando pela calçada enquanto caminha despreocupado e, de repente, surge um movimento diferente. E aí você diz: o que é isso? Volta ao acorde e percebe uma improvisação. E aquilo que é improvisação, passa a fazer parte da melodia. Em Pernambuco, por exemplo, há o frevo. Sim, o frevo, com todas as suas formas fixas. Mas em “Vassourinhas”, o belo trabalho de Mathias da Rocha, há uma brecha enorme para a criação, e todos criam da maneira que quer e da maneira que deseja. São tocadas as frases musicais que correspondem à forma física – paraparaparapa: tocada por todos os instrumentos, com resposta do naipe de palhetas – papaparaparapapa – e, logo depois, abre-se um espaço enorme para a improvisação. Maravilha.

A improvisação pode ser feita por um sax alto, um tenor, uma flauta; ou por um trompete, ou por trombone, ou por uma tuba, até. Se o maestro preferir, por uma caixa, pelos pratos, ou pelo bombo. O que é isso? A técnica da improvisação. Por quê? Porque o campo é livre. E isso não foi feito logo, imediatamente. Foi surgindo ao longo dos tempos. Em muitos casos, esse tipo de improvisação, nem era mesmo improvisação, vinha já escrito na pauta. Por decisão dos arranjadores, dos maestros e dos músicos, foi se alterando. E aquilo que era fixo, passa a ser móvel. É um direito do artista reinventá-lo. Mas só acontece porque o músico intui uma técnica. Daí a importância da intuição e da técnica. A técnica enriquecedora, porque se o músico não conhece a técnica da improvisação, não alcançará grandes resultados.

Na literatura, temos o eloqüente exemplo de Mario Vargas Llosa que estudou “Madame Bovary”, de Flaubert, até a exaustão. Ali ele encontrou os diálogos entrecruzados, nos comícios gerais. Tudo bem. Bastava ler e guardar. A emoção estética estava preservada. Ele verificou, ou intuiu, que aquela técnica poderia resultar em algo muito mais elaborado. Criou, então, os monólogos entrecruzados que é a força técnica de sua obra. E, é claro, de sua originalidade. Vejam agora o que um diálogo entrecruzado:

“Conjunto de boas culturas!, bradava o presidente.
- Há pouco, por exemplo, quando fui à sua casa...
“Ao Sr. Bizet, de Quincampoix:
- Podia eu saber que a acompanharia...

Percebe-se, então, que a fala marcada por aspas é do presidente dos comícios agrícolas. Aqueles marcados por travessões, são de Rodolfo, que está fazendo a corte a Ema.

O que fez Mario Vargas Llosa depois? Percebeu que cada fala poderia resultar num monólogo de várias páginas em tempos e espaços diferentes. Está entendendo? Aquela improvisação que já existia em “Vassourinhas” e que podia ser inventada e reinventada por cada músico, com a maior liberdade possível, recorre à intuição, sem com isso esquecer a intuição. Repetindo: porque a intuição também inventa a técnica; e a técnica é fruto da intuição. Nada que obrigue o criador a vestir uma camisa de força, talvez sem poder fazer movimentos.

Todos nós sabemos, também, que o monólogo interior foi criado por Eduard Dujardin, no século XIX, e não por Joyce, no século XX. Joyce, com toda sua genialidade aprofundou os estudos, foi mais longe, criou a sua própria marca, e até o fluxo da consciência. Por isso, o estudo é essencial e definitivo. A intuição atua e a técnica ajuda a percorrer outros caminhos. É assim. Simples. Ninguém precisa se preocupar. Deve, sim, fazer exercícios. Nem todo mundo tem facilidade de escrever. Fico, em geral, impressionado, e, é claro, triste, com as pessoas que pretendem ser escritoras e que não aceitar estudar. A oficina ajuda a refletir sobre o romance, que ainda oferece amplas possibilidades de renovação.

*Raimundo Carrero é jornalista e escritor pernambucano e, por possuir um coração de ouro, aceitou colaborar com o blog sem receber direitos autorais. E você, caro leitor, que também tem um coração reluzente, compre ao menos um dos seus livros, cujos títulos seguem abaixo:
As sombrias ruínas da alma
Os segredos da ficção
A história de Bernarda Soledade - A tigre do sertão (1975)
As sementes do sol - O semeador (1981)
A dupla face do baralho - Confissões do comissário Félix Gurgel (1984)
Sombra severa (1986)
Maçã agreste (1989)
Sinfonia para vagabundos (1992)
Extremos do arco-íris (1992)
Somos pedras que se consomem (1995)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O arraial do Junco ou Sátiro Dias



Localização Geográfica


Distante 205 Km de Salvador, o município de Sátiro Dias situa-se no litoral norte baiano, no nordeste da micro-região de Alagoinhas. Faz divisa, ao norte, com Tucano, Nova Soure e Olindina; ao sul, com Água Fria e Inhambupe; a leste, com Olindina e Inhambupe e a oeste com Biritinga e Araci. Seu principal acesso se dá pela BA-233, que liga a sede do município à BR-110, ao norte de Inhambupe.

Possui uma população aproximada de 20.000 habitantes. Sua economia é baseada em agricultura de subsistência, com pequeno destaque para a produção de maracujá, mandioca, feijão, milho, abóbora, laranja e melancia. Seu comércio é local, excetuando-se as segundas-feiras, quando acontece a feira-livre e há uma grande afluência de consumidores e negociantes das cidades circunvizinhas, resultando em considerável movimentação econômica e financeira.

Há exploração de floresta renovável, com exportação de madeira para outros estados e exportação de objetos de cerâmica para cidades próximas. O povoamento do sertão no nordeste da Bahia, de Inhambupe a Paulo Afonso, deveu-se, em primeiro lugar, aos jesuítas que adentraram o interior em sua missão catequética; depois, aos bandeirantes, principalmente os oriundos da Casa da Torre, como era conhecida a morada dos Garcia d’Ávila.

Inhambupe e Itapicuru são as duas cidades mais antigas da região e foram fundadas pelos jesuítas e franciscanos nos anos de 1572/82 e 1639, respectivamente.

Inhambupe nasceu de uma taba indígena à margem esquerda do rio Inhambupe, descoberta pelo Padre José de Anchieta e transformada numa colonização catequética. O português Alexandre Vaz Gouveia expulsou os índios, construiu habitações e a capela de Nossa Senhora da Conceição. Em 1624, fugindo da invasão holandesa à Bahia, o coronel Guilherme Dias d’Ávila, um dos herdeiros da Casa da Torre, armou acampamento na outra margem do rio Inhambupe e, com a desculpa de ter encontrado minas de salitre, obteve a posse das terras descobertas, uma sesmaria de seis léguas, compreendida entre os rios Inhambupe e Itapicuru.

Fazia parte dessas terras o território da hoje Sátiro Dias. Construiu uma igreja, com o nome de Divino Espírito Santo de Inhambupe, em torno da qual surgiram outras construções.

A Lagoa das Pombas

No início era uma lagoa. Um paraíso tropical no meio do caminho dos vaqueiros que se dirigiam de Bom Conselho (hoje Cícero Dantas) ao mercado emergente de Feira de Santana. Recebeu o nome de Lagoa das Pombas por ser um santuário dos columbídeos e ponto de encontro de outros animais. Os vaqueiros, passantes, errantes itinerantes tinham-na como um oásis no meio da aridez hostil da caatinga. Fazia parte da Fazenda Junco de Fora, uma sesmaria vinculada à Casa da Torre. Em meados do século XIX o Visconde da Torre doou suas terras ao Conselheiro Dantas, de Inhambupe, que, com seu tempo todo tomado pelo Engenho Itapororocas, contratou o vaqueiro João José da Cruz, um migrante de Bom Conselho, como administrador da fazenda.

João José da Cruz era filho do português Roque Gonçalves com uma índia, e, além de vaqueiro, administrava uma das fazendas do seu pai, a Fazenda Cruz, na região de Nossa Senhora do Bom Conselho dos Montes do Boqueirão. Por volta de 1850, talvez por morte do seu pai, a Fazenda Cruz foi vendida, o que gerou a migração da família Cruz para Inhambupe. Anos depois, com a decadência do Engenho Itapororocas e ascendência política, o Conselheiro Dantas vendeu uma parte de suas terras para João da Cruz e seus parentes.

Manoel José da Cruz, filho de João da Cruz, se casou com a filha de um português abastardo, recebeu um bom dote de casamento conforme costume da época, e empregou o dinheiro do dote na compra das terras da Fazenda Junco de Fora, ficando com o maior quinhão. Eram terras devolutas, ainda a serem exploradas, com pouco ou nenhum beneficiamento, sem meios de escoamento da produção e por isso não tinham o valor de mercado que têm hoje. As sedes das fazendas eram casebres de taipa, cobertura de pindoba e piso de chão batido.


Nasce um Arraial


De 1877 a 1879 houve uma terrível seca que assolou o Nordeste e causou grande destruição e a morte de 500 mil pessoas. Uma imensa massa de retirantes nordestinos, por contingência imperativa das necessidades, migrou para as lavouras de café, em São Paulo. A chegada ao eldorado sulista coincidiu com a multidão de italianos, imigrantes da Europa para as lavouras paulistas. Os fazendeiros daquela região deram preferência aos italianos, por terem mais conhecimento e técnica agrícola. À medida que o tempo passava, piorava a situação dos retirantes, que chegavam aos montes. A alternativa encontrada foi a de mudar o rumo da imigração para as selvas amazônicas, e lá se transformaram em seringueiros, invadiram terras bolivianas e fundaram o estado do Acre.


Manoel José da Cruz, filho de João José da Cruz, conhecido como Manezinho dos Pilões, foi o primeiro a sentir os efeitos da seca de 77. Quando o sol esquentou e a água rareou na Fazenda Pilões, teve a ideia de procurar abrigo às margens da Lagoa das Pombas. Capinou o lajedo existente onde hoje é a praça Juracy Magalhães Júnior e construiu sua casa, um pouco distante das enchentes, mas perto da água lagunar. O seu filho Manoel da Cruz, conhecido como Mané Moço, seguiu o seu exemplo e construiu ao lado. Com o prolongamento da estiagem, outros filhos foram obrigados a buscar abrigo à sombra das árvores que margeavam a lagoa, formando um aglomerado de três a quatro casas.


Era costume do povo de antigamente fincar uma cruz no ponto mais alto de suas terras, geralmente o topo de um morro. A cruz era o símbolo cristão por excelência, marco da fé e, ao mesmo tempo, guardiã da propriedade. Acreditava-se serem os morros o caminho mais curto para o Céu. Quanto mais alto, mais perto de Deus se estava e, por isso, a cruz era usada como ponto de penitência e orações. Sua proteção se estendia até a curva da linha do horizonte, onde fosse possível enxergá-la.

No ano de 1884, Manoel José da Cruz subiu no morro mais próximo do povoado, olhou para as quatro casas erguidas na planície e fincou uma cruz, invocando a guarda e a proteção divina para o seu povo.


Em 1887 a igreja de Inhambupe desmoronou e as missas passaram a ser celebradas em casas de orações. Manoel José da Cruz construiu uma ao lado do cruzeiro e o local ficou conhecido como Alto da Cruz da Boa Vista e era lá que o Cônego Maximiano Febrônio Esmeraldo, da paróquia de Inhambupe, ministrava o Sacramento Eucarístico para os moradores da região. Com a construção de uma capela em 1905, a casa de oração foi destruída, o cruzeiro substituído, e o local passou a se chamar conforme o conhecemos hoje, ou seja, Cruzeiro dos Montes.


Entre a lagoa e a casa de oração havia uma planície. Os fazendeiros locais foram construindo casas para descanso em dia de missa e assim surgiu um pequeno aglomerado de casas que foi batizado arraial do Junco, em alusão à Fazenda Junco de Fora.


Em 23 de junho de 1927 o arraial foi elevado à categoria de 4º distrito de Inhambupe, mudando seu nome para Sátyro Dias e assim permaneceu até o dia 14 de agosto de 1958, quando foi desmembrado de Inhambupe, tornando-se no município de Sátiro Dias.


O desmatamento provocado pela explosão demográfica dos novos assentados fez a lagoa minguar, definhar, secar, até a sua extinção total, deixando, em seu lugar, um vasto campo de lama. Aterrado, hoje se transformou num empreendimento imobiliário popular.

Sátyro de Oliveira Dias
Quem foi o bacana

Sátyro de Oliveira Dias foi um misto de médico-militar, abolicionista e político. Nasceu em 12 de janeiro de 1844, na cidade de Inhambupe, e, aos 22 anos, ingressou na vida pública ao se alistar no Exército, voluntariamente, como médico-estudante, para participar da Guerra do Paraguai. Retornou à Pátria 3 anos depois, em 1869, nos estertores finais da guerra, trazendo no peito o Hábito da Rosa e os galões de primeiro-cirurgião. Retornou aos estudos, na Faculdade de Medicina, e, no ano seguinte, concluiu o curso, sendo o orador da turma.


Casou-se em 1874. Participou da Assembléia Provincial em 1882. Foi presidente da Província do Ceará, em 1884, e aboliu simbolicamente a escravidão naquela província. Como a seca que assolou o Nordeste nos anos 1877 a 1879 obrigou os senhores de escravo do Ceará a libertá-los por não ter como alimentá-los, Sátyro Dias comprou quatro escravos em Pernambuco e, em seguida, os libertou, decretando o fim da escravidão naquela província. Em 1885 se elegeu deputado geral pela província do Amazonas.


Em 1889, participou do governo, na Bahia, como diretor-geral da Instrução Pública, sendo eleito, posteriormente, deputado-constituinte, onde foi o vice-presidente da primeira Assembleia Constituinte pós-República.


Em 1895, participou do Governo Rodrigues Alves como Inspetor Geral do Ensino, renunciando, posteriormente, para integrar o governo baiano de Luiz Viana como Secretário do Interior.

Em 1899, se aposentou da vida pública, mas não da política: foi eleito deputado em duas sucessivas eleições.


No dia 3 de maio de 1913, fez seu último discurso, em homenagem ao Descobrimento do Brasil, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, do qual era Vice-Presidente, vindo a morrer três meses depois, em 18 de agosto de 1913, em Salvador.


Em 13 de julho de 1927 o povoado do arraial do Junco foi elevado à categoria de distrito e, em sua homenagem, foi posto o seu nome, sabe Deus o porquê dessa honraria aos junqueses, vez que até hoje o povo de Inhambupe ignora a biografia de tão ilustre conterrâneo. A prova disso é que em 1941 os inhambupenses deram o seu nome às Escolas Reunidas, porém no currículo da Escola consta uma biografia totalmente equivocada.

Na cidade de Natal, RN, além de ser nome de rua, é também homenageado em três travessas e uma vila. Outras cidades também lhe renderam homenagens em forma de nome de rua. São elas: Alagoinhas e Guanambi (BA); Manaus (AM); Fortaleza (CE); Recife (PE) e Guarulhos (SP).



Do livro “Arraial do Junco: Crônica de Sua Existência”, desse escriba que vos fala.