Fim de tarde na agitada bienal do livro em Recife. A simpática repórter de um jornal local dirigiu-se à única mesa existente no stand onde molhávamos a garganta, puxou uma cadeira, sentou-se, ligou o gravador e perguntou ao grande homenageado da feira literária que bebericava um vinho português:
- Carrero, no seu entendimento, por que as pessoas devem vir à bienal?
Transeuntes andavam entre as centenas de stands de editoras e livrarias indiferentes aos motivos que os levaram até ali. Alguns carregavam pesadas sacolas cheias de livros. Pensei cá com os meus botões enquanto o escritor fazia suas alegações: “Ela, ao que parece, veio encher linguiça para o leitor da sua coluna”. Ao contrário da maioria necessitada de um bom ou mal motivo, eu estava ali a preencher a ociosidade do tempo com uma tragada de cultura e uma boa dose de cachaça envelhecida em barris de carvalho, gentilmente servida aos clientes especiais no stand de uma livraria-camelô, dessas que são montadas com o fim específico da feira, sem endereço fixo, CGC nem inscrição estadual.
Dentre os motivos que se deve ir a uma bienal, existe um que mexe diretamente no bolso do cidadão ou bolsa da cidadã: as promoções de livros. Bons livros que se pode comprar a cinco ou dez reais, uma pechincha perto do que se cobra numa livraria. Outro motivo não menos importante é a enxurrada de títulos à nossa disposição, sem que precisemos abusar da paciência às vezes não tão paciente assim do vendedor atrás de um balcão. Montanhas de livros ficam à nossa mercê, com preços à mostra, basta escolher e se dirigir ao caixa, que geralmente são rápidos no atendimento nas bienais. Também há um número grande de escritores, novos ou macacos velhos, desconhecidos ou famosos, autografando suas obras.
Numa bienal de tudo há um pouco, do clássico ao popular: cordelistas, violeiros, sanfoneiros, zabumbeiros, eruditos, menestréis, trupe representando alguma coisa, palhaços animando a garotada, palestras, oficinas para todos os gostos e, para quem ainda está na ativa, o velho flerte, principalmente da nossa linda juventude em uniforme escolar. Para seduzir ainda mais os clientes-leitores, parece que as editoras selecionam as funcionárias em concurso de beleza. Quanta gente bonita existe nos stands!
Nessa bienal em Recife teve até feira de artesanato misturada com livros e vendedores de castanha de caju, de caranguejo e outros produtos da terra, como cachaça e mel de abelha italiana e de uruçu. Só faltou a farinha de Araripina. Em uma ampla sala de alimentação improvisada do lado de fora do Centro de Convenções, bem organizada e refrigerada, se encontrava de tudo, desde carne de bode assada na brasa ao acarajé da Bahia.
Dos amigos que estiveram autografando, só encontrei o Raimundo Carrero. Como em sua terra ele é um cidadão popular e esteve presente diuturnamente à bienal, a justa homenagem que lhe fizeram quebrou o ritual sisudo dos escritores que se sentem deuses quando são homenageados, e só aparecem no primeiro dia e mesmo assim só dão atenção aos seus patrocinadores.
Aleilton Fonseca, vice-presidente da Academia Baiana de Letras, que também lançou seu livro na bienal, retornou um dia antes da minha chegada; Carlito Lima, o grande escritor alagoano e secretário de Cultura da cidade histórica de Marechal Deodoro, chegou exatamente no dia que peguei estrada de volta. Acho que nos cruzamos no meio do caminho, haja vista não haver vôo comercial entre Maceió e Recife.
No fim deste mês e início do outro acontece a bienal de Maceió, também no centro de convenções daqui. Como nas anteriores, participarei todos os dias, pois sempre há coisas interessantes a se ver e a se ouvir. Tal qual a bienal de Recife, cuja minha presença se deu por causa, principalmente, das oficinas de Raimundo Carrero, na daqui haverá também palestras de amigos ou conhecidos como Maurício Melo, Audálio Dantas e Ignácio de Loyola.
E o imperdível show de Jessier Quirino.
Um comentário:
Inveja boa de rever Recife, de circular e aproveitar as atividades da bienal...beijo!
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