terça-feira, 5 de janeiro de 2010

POR QUE AINDA ESTOU AQUI

Por Cineas Santos


De O secretário Cineas Santos

Ao longo dos últimos 60 anos, ou seja, durante toda a minha existência, sempre tive o cuidado de manter prudente distância do poder. E nem vou invocar o Lord Acton, que afirmava: “O poder tende a corromper”. O poder simplesmente não me atrai nem me fascina, a não ser o poder de divino, pleno, ilimitado. Parafraseando Paul Valéry, só o poder absoluto tem encanto. Mas deixemos de erudição barata, que o chão é minha praia. Convidado pelo Dr. Sílvio Mendes a integrar sua equipe de governo à frente da Fundação Municipal de Cultura Mons. Chaves, tive o cuidado de adverti-lo: Senhor Alcaide, acredito que sirvo melhor ao município de Teresina longe de qualquer instituição pública. O prefeito não me ouviu e aqui ( ainda) estou.

Dirigir a FMC é uma experiência complicada, para dizer o mínimo. Antes mesmo de sentar-me na cadeira da presidência, já um coro de ensandecidos pedia a minha cabeça. Em um ano de serviço público, já peguei mais cipoadas que durante toda a minha vida. Basta contrariar algum interesse, legítimo ou não, para que chovam bordoadas. Como me falta jogo de cintura, não consigo esquivar-me.

Assumi a presidência da FMC num ano difícil: a crise rondava as prefeituras do país, exigindo prudência, cortes, prudência e muita responsabilidade. A despeito disso, cumprimos rigorosamente o Calendário Cultural da Fundação e, sem estourar o orçamento, iniciamos alguns projetos bem-sucedidos. Ressuscitamos o Projeto Picoler, de grande alcance social; incorporamos o Festival Nacional de Violão do Piauí à programação da FCM; instituímos o Festival de Música de Teresina, cuja primeira edição se realizou no aniversário da cidade; criamos os projetos Música na Praça, Arte Itinerante e Teresina Visita, todos funcionando regularmente. É escusado afirmar que pretendíamos fazer mais, muito mais. Fizemos apenas o possível.

Em meio a muitos aborrecimentos, tivemos algumas alegrias: ampliamos o número de alunos inscritos nos projetos Musicalizando e Violão na Escola: hoje são mais de 700 crianças inscritas nos projetos; 50 delas, as mais adiantadas, já integram a Orquestra de Violões de Teresina. Impossível não esquecer a experiência do garoto Leonardo de Cáprio (9 anos de idade), que trocou um cabo de vassoura por um violão e, em menos de uma ano de estudo, já toca por partitura.É comovente e animador ver duas garotas, de 11 e 9 de anos idade, tocando sax e trompete, respectivamente, numa das bandas juvenis mantidas pela FMC. Estamos contribuindo para elevar a autoestima da molecada mais necessitada.

Mas as provocações persistem. Na semana passada um repórter me fez a seguinte pergunta:

- O que você vai fazer quando deixar a presidência da Fundação?

Resolvi dar o nó nos neurônios do impertinente. Respondi:

- Como faço há 40 anos: vou continuar briquitando em defesa da face luminosa do Piauí sem ter de aturar as aleivosias de néscios e apedeutas do seu jaez.

Consta que, desarvorado, o infeliz regressou à redação do jornal onde trabalha, gritando:

- Meu reino por um Aurélio!




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