quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O voto estético - Cineas Santos

De Vote ni mim


Irmãos e irmãzinhas, confesso - um tantinho envergonhado - que não tenho tido a necessária saúde cívica para acompanhar o horário eleitoral gratuito na TV. Eu até tento, mas são tantas as bocas dizendo as mesmas obviedades que parecem apenas vozes à procura de uma ideia. É certo que há muitos jovens, mas já parecem contaminados com os vírus da mesmice e dos clichês mastigados. Alguns apresentam como “plataforma política” nada mais que o fato de serem jovens como se juventude fosse uma conquista e não uma contingência. Pode-se argumentar, em defesa deles, que o tempo na TV é exíguo e os candidatos muitos. É verdade: dependendo da legenda, alguns mal conseguem declinar o próprio nome. Quando tentam dizer alguma coisa, comportam-se como louco comendo milho assado: mastigam nas palavras e expelem perdigotos. Um martírio.

Mas há coisas muito estranhas acontecendo. Dia desses, estava lendo um jornal quando tive a impressão de ter visto um fantasma na TV. Pensei comigo: devo ter surtado. Não é possível! Mas a figura do fantasma teimava em permanecer em minha mente. No dia seguinte, resolvi conferir. Assisti ao programa inteiro e descobri, aliviado, que não estava enlouquecendo. Lá pelas tantas, o morto apareceu e, com a voz típica dos fantasmas, fez um elogio patético a um candidato vivo, vivíssimo! Meu Deus, a quantas chegamos! À cata de votos, os políticos são capazes de tudo. Bons tempos aqueles em que um candidato afirmava que, para alcançar a vitória, seu adversário seria capaz de “pisar no pescoço da mãe”. O adversário retrucava: “Da tua”!

O tempo passa, o tempo voa, como naquela propaganda de um banco que faliu, e os vícios e as práticas antigas se repetem. Este ano, pelo país afora, há uma profusão de “ex-celebridades” tentando uma boquinha no Congresso Nacional. Há opções para todos os gostos: de boxeadores nocauteados pelo tempo a humoristas desengraçados, sem falar, naturalmente, nas mocinhas que, à falta de marido, querem ser sustentadas pelo povo brasileiro. Só de “ mulher-fruta” temos um pomar inteiro. Uma delas, a Mulher Chuchu, tem o melhor slogan da temporada: “ dá o ano inteiro”. Genial.

Entre nós, o fato novo é a presença marcante de mulheres disputando vagas na Assembleia Legislativa do Piauí. A melhor parte: mulheres bonitas, muito bonitas. Como o voto ideológico está fora de moda e o voto útil tornou-se uma excrescência, vou fazer minha opção pelo voto estético. Votarei na mais bonita, mesmo correndo o risco de encontrá-la na rua e não a reconhecer. Afinal de contas, não há beleza que não possa ser melhorada com o recurso do photoshop. Pago pra ver.



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