terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Cor da Palavra - Salgado Maranhão, por Edna Lopes




A Cor da palavra

Leia
e nessa viagem
oxalá A Cor da Palavra te provoque
o choro
A Cor da Palavra te ilumine
os olhos
A Cor da Palavra
te conquiste
o riso
A Cor da Palavra te emudeça
de encanto...

Talvez você não conheça o poeta Salgado Maranhão, não conheça ainda seus escritos cheios de intensa luz poética, mas, se alguma vez ouviu “Sem você a vida pode parecer um porto além de mim/coração sangrando caminhos de sol no fim...” seu coração certamente não esqueceu e saberá que o letrista Salgado Maranhão é um dos melhores desse país.

O poeta esteve em Maceió e junto com Geraldo Carneiro falaram durante a Bienal Alagoana do Livro de 2009 sobre os seus DESMANDAMENTOS, um manifesto poético fantástico.


Por ocasião da bienal esteve também em nossa casa, mas eu estava em viagem de trabalho e apenas Tom e Vinícius partilharam de sua companhia.

Mas quero ratificar aqui que a experiência de ler A Cor da Palavra, a antologia do poeta e compositor maranhense Salgado Maranhão, da editora Imago/FBN com poemas de seus livros publicados desde 1978, é única. É fazer uma viagem maravilhosa pelo encantamento da palavra bem escrita, afinal não foi à toa que ele ganhou um prêmio Jabuti e outro Ribeiro Couto por dois de seus livros.

Tudo é especial nessa antologia. O objeto em si e seu conteúdo. Os títulos dos poemas, os poemas, a musicalidade em aliterações de nos assombrar pela simplicidade e beleza, o cuidado com a palavra escrita, o cotidiano exposto por olhos poéticos, o sentimento de pertença a um lugar tão dentro de si, tão universal. E especial e de pura poesia é também a dedicatória ao dono do livro: “Ao meu querido amigo Tom Torres, esta dívida de afeto e poesia. Com a minha melhor estima, Salgado Maranhão, Rio, 30/09/2010.” Juro que fiquei roxa de inveja, mas Tom me disse: “o livro também é seu...” Enfim, coisas de Felicidade Clandestina...

Mas sabe aquele livro que você acha que não vai acabar nunca de ler, porque o lê e relê? Porque um poema lhe dá saudade de outro que já leu e precisa voltar a ele? A Cor da Palavra é assim. Loucura minha, talvez... Em mim a lucidez do sentimento de eternidade. Em mim o encanto, o choro, o riso e o reencontro com a beleza da palavra, poesia da vida.


Mais sobre o autor:

Poeta. Letrista. Jornalista.
Nasceu no povoado de Cana Brava das Moças, na cidade de Caxias, interior do Maranhão, onde morou trabalhando na roça.
Aos 15 anos, ainda adolescente, mudou-se com os irmãos e a mãe para Teresina, Piauí, onde foi alfabetizado. Escreveu artigos sobre música para um jornal local e conheceu Torquato Neto, que o incentivou a ir para o Rio de Janeiro, o que fez no ano de 1972. Torquato Neto também sugeriu que criasse um pseudônimo, segundo este, o nome José Salgado Santos parecia nome de arquivista e não de poeta.

Estudou Comunicação na Pontifícia Universidade Católica (PUC).
Terapeuta corporal, foi professor de tai chi chuan e mestre em shiatsu.

A partir de 1976 colaborou em várias publicações com artigos e poemas, como a revista "Música do Planeta Terra", a convite de Júlio Barroso, então editor da revista, na qual também colaboravam Sérgio Natureza, Caetano Veloso, Ronaldo Bastos, Jorge Mautner e Jorge Salomão, entre outros. Em 1978 foi um dos organizadores, com Sergio Natureza e Moacyr Félix, do livro "Ebulição da escrivatura - Treze poetas impossíveis" (Ed. Civilização Brasileira, 1978, RJ), coletânea que reuniu diversos poetas, como Sérgio Natureza (assinando Sérgio Varela), Antônio Carlos Miguel (sob o pseudônimo de Antônio Caos), Éle Semog, Mário Atayde, Tetê Catalão, entre outros.

Publicou poemas e artigos na revista "Encontro com a Civilização Brasileira" (1978). Nos anos seguintes, publicou "Aboio" (cordel/ Ed. Corisco -Teresina - 1984), "Punhos da serpente" (poesia/ Ed. Achiamé, RJ, 1989), "Palávora" (poesia - Ed. Sette Letras, RJ, 1995), "O beijo da fera" (poesia - Ed. Sette Letras, RJ, 1996) e "Mural de ventos" (poesia - Ed. José Olympio, RJ, 1998).

Em 1998, ganhou o prêmio "Ribeiro Couto", da União Brasileira dos Escritores (UBE), com o livro "O beijo da fera". No ano seguinte, com o livro "Mural de ventos", foi o vencedor do "Prêmio Jabuti", da Câmara Brasileira do Livro, dividido com Haroldo de Campos e Geraldo Mello Mourão.

Em 2007 sua poesia foi estudada na Universidade de Brown, em Providence, Rhode Island, nos Estados Unidos.

Tem poemas traduzidos para o inglês, holandês, francês, alemão e espanhol.
Sobre ele, declarou seu conterrâneo Ferreira Gullar: "Salgado é um dos mais brilhantes poetas de sua geração e possui um trabalho de linguagem muito especial". *
E certamente se você conhece a boa música que se faz nesse país, conhece letras de Salgado Maranhão, pois suas parcerias são com nada mais nada menos que Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Ivan Lins, Moacyr Luz, Zé Américo, Xangai, Herman Torres, Vital Farias, Mirabô Dantas e Carlos Pita. Constam entre seus intérpretes, além dos parceiros, Zizi Possi, Rita Ribeiro, Alcione, Elba Ramalho, Rosa Maria, Amelinha, Amélia Rabello, Selma Reis, Juliana Amaral, Zezé Gonzaga, O Terço, Gilberto Alves, Ney Matogrosso, Zé Renato, Zeca Baleiro e tantos outros em suas mais de 40 composições gravadas, além de inéditas com João Donato, Tunai, Zeca Baleiro, Renato Piau e Chico César.”**

As músicas? Há um cd maravilhoso, AMORÁGIO, com interpretações incríveis do projeto Poetas da Canção, selo SESCRIO.SOM, uma pequena amostra da genialidade do poeta, em canções maravilhosas. Leia o livro, ouça o cd.





Nota do blog - do poeta recebi o seguinte comentário: 

"Ah, meus queridos, vocês são demais! Das coisas que, recentemente, falaram sobre mim e o meu trabalho, essa foi a que mais me tocou. Pelo fato de que, quem fala, desfrutou (ou desfruta) verdadeiramente dos meus poemas: lendo, relendo, percebendo com a afetividade que a poesia exige, as sutilezas guardadas cuidadosamente para o leitor sensível. Desde já, meu querido Tom, agradeço, efusivamente, o carinho seu e da Edna, e só posso lhes dizer que eu sou de quem me ama. Beijão, Salgado Maranhão".

2 comentários:

Toninho disse...

Poxa com esta apresentação de quem ja deveria conhecer(depois de tanta referencia), criou uma vontade danada de ter este Cor da Palavra em maõs e fazer esta bela viagem.Que felicidade do Tom em recebe-lo e ter esta dedicatoria.Claro que Tom merece e claro que compartilha com voce esta felicidade que nao tem nada de clandestina.Eu quero ler, como faz?
Meu abraço sempre admirando voces.Beijo de luz no coração.

Anônimo disse...

Ler Edna é sempre uma alegria renovada.